Primeiro Golpe de Mobutu

O primeiro golpe de Mobutu ocorreu em 14 de setembro de 1960 no contexto da crise congolesa. Joseph-Désiré Mobutu, então comandante-em-chefe das forças armadas em um Congo enfraquecido por secessões em grande parte de seu território juntamente com um impasse político entre o primeiro-ministro Patrice Lumumba e o presidente Joseph Kasa-Vubu, suspende as funções destes últimos.[1]

Mobutu em 1960.

Este primeiro golpe de Estado, onde Mobutu devolveria rapidamente o poder a um governo civil de acadêmicos (o dito Collège des commissaires généraux), contribuiria largamente para a ausência de resistência durante o seu segundo golpe de Estado cinco anos mais tarde, na sequência de uma nova crise política, no qual observou-se um grande número de líderes políticos, religiosos e acadêmicos congoleses felicitá-lo. Mobutu estabelece desta vez uma ditadura autoritária que durará até 1997, transformando profundamente o jovem país.

Contexto editar

Eleições de maio de 1960 editar

As eleições legislativas, senatoriais e provinciais foram realizadas de 11 a 22 de maio de 1960 no Congo Belga, atual República Democrática do Congo. As eleições logo precederam a independência da Bélgica em 30 de junho de 1960. Os resultados das eleições foram assembleias nacionais e provinciais fortemente fragmentadas, com os partidos políticos quase todos se estabelecendo apenas em seus redutos eleitorais. A partir dessa fragmentação, uma coalizão liderada pelo Movimento Nacional Congolês de Patrice Lumumba consegue garantir a maioria nas duas câmaras. Lumumba foi assim nomeado primeiro-ministro e formou o primeiro governo do Congo independente, enquanto Joseph Kasa-Vubu da Alliance des Bakongo foi eleito seu primeiro presidente pelo parlamento.

Crise Congolesa editar

 
Mapa das áreas controladas pelos participantes da crise congolesa: em azul, o governo de Léopoldville; em vermelho o governo rebelde baseado em Stanleyville; em verde o Catanga autônomo; em amarelo o Cassai independente.

O despreparo do país para a independência o conduziria rapidamente a uma crise de extremas proporções. A violência étnica alastrou-se à medida que o exército se amotinava contra a sua hierarquia branca,[2] levando à rápida promoção do Coronel Joseph-Désiré Mobutu ao cargo de Chefe do Estado-Maior e, em 24 de junho, Secretário de Estado do governo Lumumba, este último sob a sua tutela.[3] As tendências centrífugas do imenso país acentuadas pelos dirigentes das formações políticas provinciais em busca de cargos governamentais levam à secessão em 11 de julho do Estado de Catanga liderado por Moïse Tshombe seguido no início de agosto por Cassai do Sul liderado por Albert Kalonji, ambos com o apoio dos ocidentais e das empresas de mineração. Lumumba rompe relações diplomáticas com a Bélgica e traz uma missão de manutenção da paz da ONU ao território congolês.[4]

A crise é agravada pela rivalidade entre Kasa-Vubu e Lumumba. A virulência do antiocidentalismo deste último lhe rendeu acusações de simpatia comunista na época, exacerbada por sua desconfiança em relação às tropas onusianas, as quais suspeitava protegerem os estados secessionistas pró-ocidentais, pois o general Dag Hammarskjöld se recusava a atacá-los em cooperação com o exército congolês. O incidente então leva Lumumba a solicitar assistência da União Soviética, que envia conselheiros. A crise se transforma em um impasse político em 5 de setembro, quando Kasa-Vubu demite Lumumba e o substitui por Joseph Ileo, um moderado.[2] Lumumba reage declarando o procedimento inconstitucional e, em contrapartida, anuncia a deposição de Kasa-Vubu. As pretensões dos dois homens permanecem verbais, o impasse continuou por vários dias antes que o parlamento terminasse em 13 de setembro, votando com plenos poderes em Lumumba, ao mesmo tempo em que determinava que os dois homens deveriam manter seus respectivos cargos.[5] No dia seguinte, Kasa-Vubu nomeia Mobutu Comandante-em-Chefe do exército.

Golpe de Estado editar

Na mesma noite de 14 de setembro, às 20h50, Joseph-Désiré Mobutu executou seu primeiro golpe, anunciando a “neutralização” dos dois homens que que foram colocados em prisão domiciliar.[2]

O Exército Nacional Congolês decidiu neutralizar o Chefe de Estado, os dois governos rivais presentes, bem como as duas câmaras legislativas até 31 de dezembro. Isso permitirá que os políticos tenham tempo para tentar chegar a um acordo, a fim de melhor servir os interesses primordiais deste país.

Declara a "neutralização" dos políticos, dizendo que "não se trata de um golpe de Estado, mas de uma simples revolução pacífica para restabelecer a ordem". O presidente Kasa-Vubu é oficialmente mantido na liderança do país. O vice-ministro das Relações Exteriores da URSS (Valerian Zorin) protesta junto ao secretário-geral das Nações Unidas enquanto Patrice Lumumba denuncia o golpe de Estado. Em resposta, Mobutu fecha as embaixadas da União Soviética e vários países socialistas, dando aos seus diplomatas 48 horas para deixar Léopoldville.[5][2] Ele rapidamente confiou o governo a acadêmicos trintenários que formaram o Collège des commissaires généraux até o poder ser entregue a um governo constitucional em janeiro de 1961.[4]

Resultado editar

Lumumba, fugindo para Stanleyville, foi preso no início de dezembro por Mobutu e entregue a Moïse Tshombe que o assassinou em 17 de janeiro de 1961.[4][1] Um governo pró-Lumumba rival foi formado nesse meio tempo no leste do país, liderado por Pierre Mulele e Antoine Gizenga e apoiados pela URSS. Com a ajuda de forças da ONU e antigos oficiais brancos, Mobutu conseguiu recapturar todo o território nos anos seguintes. Mulele é morto e Gizanga preso enquanto Moïse Tshombe é exilado. Novas eleições finalmente ocorrerão no país apenas em 1965, após o estabelecimento da constituição da primeira república, conhecida como Constituição de Luluabourg, adotada por referendo em 10 de julho de 1964.

Notas editar

Referências