Progressismo

ideologia política
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Progressismo refere-se a um conjunto de doutrinas filosóficas, sociais e econômicas baseado na ideia de que o progresso, entendido como avanço científico, tecnológicoeconômico e comunitário, é vital para o aperfeiçoamento da condição humana. Essa ideia de progresso integra o ideário iluminista e tem, como corolário, a crença de que as sociedades podem passar da barbárie à civilização, mediante o fortalecimento das bases do conhecimento empírico. O progressismo está ligado à ideia de "progresso infinito" mediante transformações da sociedade, da economia e da política. A ideia de progresso, por sua vez, é frequentemente relacionada com o evolucionismo e o positivismo.

O grande avanço da ideia de progresso surge na Europa com o Iluminismo, quando alguns filósofos entenderam que o próprio Homem, ao invés dos deuses, poderiam mudar a sociedade e seu modo de vida. Os iluminados acreditavam que o progresso tinha aplicação universal e que essas ideias se espalhariam da Europa para o mundo inteiro.[1] Segundo este conceito, o progresso teria um posicionamento universal metafísico, aplicável, portanto, a todas as sociedades e não apenas às europeias.

Correntes de progresso na história editar

A ideia de progressismo tem variado e sido abordada ao longo do tempo e de acordo com diferentes perspectivas.

No início do século XX, sociólogo Robert Nisbet define cinco "premissas cruciais" da concepção de progresso: o valor do passado; excelência da civilização ocidental; valor do crescimento econômico e tecnológico; fé na razão e no conhecimento científico e acadêmico obtido; importância intrínseca e valor da vida na Terra.[carece de fontes?]

Iluminismo editar

O Iluminismo foi um movimento intelectual e filosófico que dominou o mundo das ideias na Europa durante o século XVIII. O Iluminismo incluiu uma série de ideias centradas na razão como a principal fonte de autoridade e legitimidade e defendeu ideias como liberdade, progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e separação Igreja-Estado. O Iluminismo foi precedido e intimamente ligado à Revolução Científica. As ideias do Iluminismo desempenhariam um papel importante na inspiração da Revolução Francesa e na independência dos Estados Unidos.

Segundo Giambattista Vico (1668 – 1744), dado que as pessoas criaram sua própria sociedade, elas também poderiam entendê-la completamente. Isso deu origem a novas ciências, ou protociências, cuja finalidade era fornecer novos conhecimentos sobre o que é a sociedade e como se pode mudá-la para melhor.[2]

Immanuel Kant (1724 – 1804) identificou o progresso como sendo um movimento de saída da barbárie, rumo à civilização. O filósofo e cientista político Condorcet (1743 – 1794) previu que o progresso político envolveria o desaparecimento da escravidão, o aumento da alfabetização, a redução das desigualdades entre os sexos, a reforma das prisões e o declínio da pobreza.[3]

O liberalismo é uma doutrina política e moral que defende a liberdade individual, a igualdade perante a lei e a redução do poder do Estado. Essa doutrina surgiu no Iluminismo e se tornou popular entre os filósofos e economistas europeus e, mais tarde, na sociedade em geral. Os liberais buscaram eliminar a monarquia absoluta, os títulos nobres, o direito divino dos reis e a influência religiosa no governo de um estado buscando fundar um sistema baseado na democracia representativa. Os liberais acabaram com as políticas mercantilistas e as barreiras comerciais promovendo o mercado livre.[4] Os líderes da Revolução Francesa e da Independência dos Estados Unidos usaram o liberalismo para defender a rebelião contra a monarquia absoluta.

"Modernidade" ou "modernização" era a palavra-chave da ideia de progresso defendida pelos liberais clássicos nos séculos XIX e XX, que propunham a rápida modernização da economia e da sociedade como solução para remover os obstáculos tradicionais ao livre mercado e à liberdade de circulação das pessoas.[5]

Positivismo editar

O positivismo é uma corrente filosófica que afirma que o único conhecimento autêntico é o conhecimento científico e que tal só pode surgir da aplicação do método científico. O positivismo também afirma que a sociedade opera por leis gerais. O positivismo surgiria das mãos de pensadores como Comte, Mill e Saint-Simon no século XIX.

Segundo Comte (1798 – 1857), a evolução social passa por três fases: a fase teológica, a fase metafísica e a fase positiva.[6] Na fase teológica, vista da perspectiva da França como antes do Iluminismo, tudo girava em torno da ideia de um deus com a crença no poder sobrenatural. Na etapa metafísica, após a Revolução Francesa, as pessoas começam a raciocinar e investigar, questionando tudo, principalmente autoridade e religião. No estágio positivo ou científico, após a revolução francesa e Napoleão, as pessoas encontrariam soluções para os problemas sociais e a ciência estaria disposta a responder às perguntas. A ideia de Comte foi uma das primeiras teorias do evolucionismo social.[carece de fontes?]

Revolução industrial editar

Charles Fourier (1772 – 1837) iria propor uma comunidade de produção, consumo e residência chamada falanstério, que teria um caráter agrícola onde a competitividade, os salários e a propriedade privada fossem abolidos.[7] A ideia dessas comunidades partiu de cada indivíduo trabalhando naquilo que é apaixonado, todos participando da posse da terra e dos meios de produção.[7]

Robert Owen (1771 – 1858), por sua vez, rejeitaria o conceito de luta de classes, propondo uma forma reformista e interclassista de substituir a sociedade capitalista. Seguindo a teoria do valor-trabalho, ele considerava o trabalho como a fonte de "toda a riqueza nacional" que, se "bem administrada", poderia "produzir uma quantidade maior do que as necessidades essenciais da humanidade".[8]

É fundamental a contribuição do filósofo idealista Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831) para a difusão da ideia de progresso na filosofia europeia. Hegel rejeita concepções do tipo cíclico ou linear da história, propondo uma concepção teleológica e dialética. A história da Humanidade, entendida como o progresso da liberdade, seria governada pela razão.[9] A história corresponderia, portanto, à trajetória da razão em direção à liberdade consciente do espírito universal (encarnado no Estado), ainda que esse devir histórico não se constitua mediante uma sucessão harmoniosa de acontecimentos, mas pela constante geração e superação de contradições e conflitos. Karl Marx (1818 – 1883), a partir da dialética hegeliana, concebeu o materialismo histórico e dialético como método de análise e crítica do capitalismo, incluindo as relações sociais por ele engendradas, no contexto da industrialização europeia, no século XIX.[carece de fontes?]

Marxismo editar

A revolução industrial trouxe como consequência o surgimento do proletariado, dando origem a novas ideologias que exigiam uma melhoria nas condições de vida das classes mais desfavorecidas. Segundo Marx, o progresso social resulta do desenvolvimento das forças produtivas, processo que, por sua vez, engendra o estabelecimento de novas relações de produção: "Nenhuma ordem social é destruída antes que todas as forças produtivas para as quais ela é suficiente tenham sido desenvolvidas, e as novas relações de produção superiores nunca substituem as mais antigas antes que as condições materiais para a sua existência tenham amadurecido dentro da estrutura da antiga sociedade." [10] Ainda segundo o marxismo, o capitalismo, na sua busca de lucros mais altos e de novos mercados, inevitavelmente irá lançar as sementes de sua própria destruição, sendo substituído pelo socialismo e, afinal, pelo comunismo.

Na cultura ocidental, a concepção comum de progressismo emerge justamente das grandes mudanças sociais provocadas pela industrialização do final do século XIX, e da crença de que o progresso estava sendo obstruído pela imensa desigualdade entre ricos e pobres, pelo capitalismo laissez-faire, pelas condições degradantes do trabalho nas fábricas, o que suscitava conflitos, muitas vezes violentos, entre trabalhadores e capitalistas.[11] As ideias propostas por diversos autores seriam postas à prova em meados do século XIX e ao longo do século XX.

Darwinismo social editar

O pensamento progressivo não era homogêneo. No final do século XIX, houve quem aceitasse as teses do chamado racismo científico em sua base supostamente científica - que mais tarde se provaria falsa.[11][12][13] Em contraste, surgiram os movimentos abolicionistas que lutaram pelo fim da escravidão.

O surgimento do racismo científico ocorreu durante o período do neoimperialismo (1880 – 1914) como meio de justificar o imperialismo europeu. Muitos progressistas defenderiam o colonialismo e o imperialismo.[11][14][15]

A teoria do darwinismo social serviu para argumentar que os mais fortes deveriam aumentar sua riqueza e poder. Herbert Spencer (1820 – 1903) apoiaria a ideia do capitalismo laissez-faire com base em sua crença de que a luta pela sobrevivência estimulava o auto-aperfeiçoamento que poderia ser herdado.[16]

As ideias do darwinismo social seriam usadas para justificar a escravidão, o autoritarismo e o imperialismo, bem como para fundamentar doutrinas como o fascismo e o nacional-socialismo.[17][18]

Nova esquerda editar

Entre os anos 1960 e 1970, um amplo movimento político se desenvolveria no mundo ocidental conhecido como Nova Esquerda, que abrangeria questões sociais como direitos civis e políticos, feminismo, direitos homossexuais, protestos contra a Guerra do Vietnã e pacifismo, o questionamento dos papéis de gênero, aborto e reformas das políticas antidrogas.[19] Essa esquerda se diferenciaria da esquerda tradicional, que estava focada no ativismo trabalhista, ao assumir uma posição mais ampla sobre o ativismo político, comumente conhecido como ativismo social. O movimento começou a perder força na década de 1970, quando ativistas ou se engajavam em projetos partidários, desenvolviam organizações de justiça social ou se tornaram inativos no movimento.[20]

 
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Ver também editar

Referências

  1. Rieber, Alfred J. (2003). "Enlightenment Phantasies: Cultural Identity in France and Germany, 1750-1914" (em inglês). [S.l.]: Cornell University. p. 157 
  2. J. B. Bury The Idea of Progress, 1920 :

    The history of the idea of Progress has been treated briefly and partially by various French writers; e.g. Comte, Cours de philosophie positive, vi. 321 sqq.; Buchez, Introduction a la science de l'histoire, i. 99 sqq. (ed. 2, 1842); Javary, De l'idee de progres (1850); Rigault, Histoire de la querelle des Anciens et des Modernes (1856); Bouillier, Histoire de la philosophie cartesienne (1854); Caro, Problemes de la morale sociale (1876); Brunetiere, "La Formation de l'idee de progres", in Etudes critiques, 5e serie. More recently M. Jules Delvaille has attempted to trace its history fully, down to the end of the eighteenth century. His Histoire de l'idee de progres (1910) is planned on a large scale; he is erudite and has read extensively. But his treatment is lacking in the power of discrimination. He strikes one as anxious to bring within his net, as theoriciens du progres, as many distinguished thinkers as possible; and so, along with a great deal that is useful and relevant, we also find in his book much that is irrelevant. He has not clearly seen that the distinctive idea of Progress was not conceived in antiquity or in the Middle Ages, or even in the Renaissance period; and when he comes to modern times he fails to bring out clearly the decisive steps of its growth. And he does not seem to realize that a man might be "progressive" without believing in, or even thinking about, the doctrine of Progress. Leonardo da Vinci and Berkeley are examples. In my Ancient Greek Historians (1909) I dwelt on the modern origin of the idea (p. 253 sqq.). Recently Mr. R. H. Murray, in a learned appendix to his Erasmus and Luther, has developed the thesis that Progress was not grasped in antiquity (though he makes an exception of Seneca) - a welcome confirmation.

  3. Nisbet, Robert (1980). History of the Idea of Progress. New York: Basic Books. ch 5
  4. Gould, p. 3.
  5. Joyce Appleby, Lynn Hunt e Margaret Jacob. Telling the Truth about History (Norton, 1995) p. 78
  6. Giddens, Positivism and Sociology, 1
  7. a b «Diccionario de Historia». Larousse. San Salvador: SPES EDITORIAL. 2003. p. 112 
  8. Bravo, 1976, p. 235-237; 239.
  9. HEGEL, G.W.F. Prefácio à "Fenomenologia do Espírito", 1807.
  10. Marx, Karl. «Preface». Critique of political economy 
  11. a b c Nugent, Walter (2010). Progressivism: A Very Short Introduction. [S.l.]: Oxford University Press. 2 páginas. ISBN 9780195311068 
  12. Thompson, Amanda. «Scientific Racism: The Justification of Slavery and Segregated Education in America» (PDF). Texas A&M University: Phi Alpha Theta. Arquivado do original (PDF) em 19 de março de 2015 
  13. Sankar-Gorton, Eliza. «The Surprising Science of Race and Racism». Huffington Post 
  14. Indre Viskontas, Chris Mooney. «The Science of Your Racist Brain». Mother Jones. Consultado em 1 de agosto de 2015 
  15. Smith, Erica. «Wash U. anthropologist: Race doesn't really exist». St. Louis Public Radio. Consultado em 1 de agosto de 2015 
  16. Bowler 2003, pp. 301–02
  17. Bowler 2003, pp. 298–299
  18. Leonard, Thomas C. (2009). «Origins of the myth of social Darwinism: The ambiguous legacy of Richard Hofstadter's Social Darwinism in American Thought» (PDF). Journal of Economic Behavior & Organization 
  19. Carmines, Edward G.; Layman, Geoffrey C. (1997). Issue Evolution in Postwar American Politics. [S.l.: s.n.] 
  20. Rossinow, Doug (1998). The Politics of Authenticity: Liberalism, Christianity, and the New Left in America. [S.l.]: Columbia University Press 

Ligações externas editar