Projeto de Boruch Milman, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves para o Plano Piloto de Brasília

O Projeto de Boruch Milman, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves para o Plano Piloto de Brasília foi um dos projetos submetidos ao Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil. Milman, um engenheiro, liderava a equipe recém-formada chamada de "Arquitetos Associados", que fez a proposta de número 2.[1][2]

A proposta de Milman foi a segunda colocada no concurso.

O projeto da equipe de Milman terminou o concurso no segundo lugar entre 26 propostas submetidas, o que foi uma surpresa para a equipe e para os que avaliaram posteriormente os resultados. O concurso foi vencido pela proposta 22 de Lúcio Costa, que foi elogiada por Milman, que via semelhanças entre as propostas e considerou "uma maravilha" ter chegado em segundo numa competição vencida pelo famoso arquiteto e urbanista. Ele gostou do resultado final e da experiência do concurso.[3]

Antecedentes editar

A transferência da capital federal do Rio de Janeiro para uma nova cidade no Planalto Central havia se tornado a meta-síntese do governo do presidente Juscelino Kubitschek. Tendo vencido as resistências políticas e as burocracias, o presidente pediu a Oscar Niemeyer, seu arquiteto de confiança, que projetasse a nova capital. Entretando, Niemeyer não quis fazer o projeto urbanístico, ficando apenas com os edifícios. Para projetar a cidade, ele sugere a criação de um concurso nacional com a participação do Instituto de Arquitetos do Brasil, o que é aceito por Juscelino.[4]

Assim, em 1956 foi criada a Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Nova Capital Federal, que anunciou o Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, com o edital da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) estabelecendo as regras que incluíam, por exemplo, que a cidade fosse projetada para 500 mil habitantes e a localização da área de cinco mil quilômetros quadrados. 62 concorrentes participaram do concurso, com 26 propostas apresentadas, entre elas a da recém-formada equipe liderada pelo engenheiro Boruch Milman, que foi a proposta de número 2.[4]

Proposta editar

 
O Plano Piloto de Milman.

A proposta fazia uma divisão por setores definidos por função, que era típica da arquitetura moderna e tinha várias ideias influenciadas pelos Congresso Internacional da Arquitetura Moderna (CIAM) - o que repetia em quase todos os projetos. Em entrevista a Folha de S.Paulo, Milman comentou as semelhanças entre a proposta da sua equipe e a vencedora: "Tinha o eixo monumental, as superquadras e a divisão por setores residencial, comercial e industrial".[3] Os eixos em cruz, de fato, são semelhantes, mas a proposta de Milman era mais ortogonal e rígida. As superquadras tinham áreas de serviços e lazer para a socialização dos moradores, mas com residências de variadas extensões, o que era diferente do que foi feito no projeto de Lúcio Costa. A equipe de Milman se dedicou também a questões de salubridade nas possíveis futuras habitações, levando em conta questões como a luz do sol nas unidades, dedicando uma parte grande do trabalho para isto.[5][6]

As cidades-satélite tinham um projeto modular similar ao do plano piloto, mas de crescimento ilimitado, diferente dele. A proposta defendia o controle da parte governamental e o crescimento indefinido das satélites, confiando a organização na própria sociedade que ocuparia o território, prevendo o que realmente aconteceu com a transformação de Brasília no centro de uma região metropolitana. Com tudo isso, o plano previa uma população de 750 mil pessoas - bem mais que o exigido pelo edital.

O zoneamento funcional dividia a cidade em três parte definidas e separadas. O setor governamental ficaria um retângulo próximo ao Lago Paranoá, ficando ao centro de duas superquadras residenciais. Um cinturão verde separaria esta área da próxima, um centro comercial isolado e cercado pela área verde. No ponto mais distante, estaria o setor industrial, com um setor residencial para os trabalhadores entre as partes comercial e industrial, que do qual viria a mão de obra para ambas as áreas. O centro de transporte - que concentraria transportes aéreos, ferroviários e rodoviários - ficaria na parte mais alta da cidade.

Um grande eixo deveria conectar as área industrial e governamental, seguindo por uma ponte que conectava as penínsulas do Paranoá - foi uma das poucas propostas que usava o lago. Estas seriam usadas para mais um setor residência e para a cidade universitária. Ainda haveria um setor esportivo, um setor militar e uma base aérea.[7][8][9][10]

Críticas editar

Júri editar

O júri gostou dos estudos populacionais da equipe, com uma densidade bastante exata, mas criticou bastante o isolamento da parte comercial, cercada por um cinturão verde e com poucos acessos. Também foi criticada a falta de aproveitamento da parte alta da cidade, a posição dos hotéis e das zonas habitacionais - apesar dos elogios ao setor localizado na península - e a questão da expansão das cidades satélite, que poderia crescer infinitamente.

Dentre os resultados finais, chamou atenção o segundo lugar dos "Arquitetos Associados", por serem um grupo praticamente desconhecido perto de outros nomes concorrentes que foram premiados sob acusações de parcialidade.[1][11]

Milman editar

Diferente de outros participantes, Milman ficou feliz com o resultado. Em entrevista, ele comentou que "foi uma grande maravilha ser o segundo colocado num concurso vencido por Lúcio Costa", exaltando as qualidades do projeto vencedor e se mostrando grato com a experiência ganha pela participação. Para ele, o relatório justificativo de Costa foi o principal fator para a vitória do carioca.[3]

Referências editar

  1. a b «Concurso para o Plano Piloto de Brasília - Boruch Milman (2º lugar)». Cronologia do Pensamento Urbanístico. Consultado em 23 de julho de 2020 
  2. «Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil - Participantes». brazilia.jor.br. Consultado em 22 de julho de 2020 
  3. a b c «Para segundo lugar, relatório "mítico" venceu». Folha de S.Paulo. 20 de abril de 2010. Consultado em 23 de julho de 2020 
  4. a b Tavares, Jeferson (julho de 2007). «50 anos do concurso para Brasília – um breve histórico (1)». vitruvius. Consultado em 22 de julho de 2020 
  5. Tavares, Jeferson. «Projetos para Brasília e a cultura urbanística nacional» (PDF). Teses USP 
  6. Tavares, Jeferson. «Projetos para Brasília e a cultura urbanística nacional» (PDF). Teses USP 
  7. BRAGA, Aline. (IM)POSSÍVEIS BRASÍLIAS: Os projetos apresentados no concurso do Plano Piloto da Nova Capital Federal. São Paulo: Alameda, 2011. 402p.
  8. «Brasília, 55 anos: conheça os projetos que pensaram a capital do país». EBC. 21 de abril de 2015. Consultado em 21 de julho de 2020 
  9. «As Brasílias que não saíram do papel». Agência CEUB. 19 de abril de 2015. Consultado em 22 de julho de 2020 
  10. «Os Projetos para Brasília e a Construção da Identidade Nacional» (PDF). Jeferson Cristiano Tavares. Consultado em 6 de agosto de 2020 
  11. Braga, Milton (2010). O Concurso de Brasília. Rio de Janeiro: Cosac e Naify. ISBN 978-8575038963 
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