Raquel Lima

autora portuguesa de poesia, arte-educadora e investigadora de Estudos Pós-Coloniais

Raquel Lima (Lisboa, 29 de janeiro de 1983) é uma poeta portuguesa, de origem angolana e santomense, arte-educadora e investigadora de Estudos Pós-Coloniais.

Raquel Lima
Raquel Lima
Nascimento 29 de janeiro de 1983 (41 anos)
Lisboa
Cidadania Portugal, Angola
Alma mater
Ocupação escritora, poetisa, educadora, investigadora

Percurso editar

Licenciou-se em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e é aluna de Doutoramento do Programa Pós-Colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.[1][2]

Desde 2011, tem tido os seus trabalhos apresentados em eventos e performances em Portugal, Polónia, Brasil, Itália, França, Reino Unido, Bélgica, Estónia, Espanha, Holanda, Suécia, Suíça e São Tomé e Príncipe.[3] A sua participação no PortugalSLAM! de 2014 trouxe-lhe grande atenção mediática naquele país.[4] Em 2016, aparece pela primeira vez na televisão pública portuguesa como competidora de poesia slam erótica no programa 5 Para a Meia-Noite da RTP1.[4]

Também em 2011, funda a Associação Cultural Pantalassa, uma associação para a promoção das artes do espaço africano e afrodiaspórico de língua oficial portuguesa, constituída por jovens de diferentes países (Portugal, China, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo-Verde, São-Tomé, Senegal, França) que trabalham em rede com o propósito de fazer uma pesquisa alargada sobre manifestações culturais que estejam na base das relações entre diferentes países.[5][2]

Entre 2012 e 2017, foi coordenadora geral e directora artística do PortugalSLAM – Festival Internacional de Poesia e Performance,[2][3] em torno do poetry slam e da sua relação com outras artes.[3][6]

Em 2015, foi finalista do Rio Poetry Slam, que se realizou na favela do Morro da Babilónia, no Rio de Janeiro, Brasil, em 2019 participou na FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty e na FLUP - Festa Literárias das Periferias, no Rio de Janeiro.[7]

Em 2016 é convidada por Boaventura de Sousa Santos para fazer os resumos poéticos das suas aulas magistrais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.[8]

Entre 2016 e 2018, trabalhou como Gestora de Ciência e Tecnologia no Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.[2] Neste centro, fez também parte do projecto de investigação Feminismos e Dissidência Sexual e de Género no Sul Global do grupo de investigação da CITCOM - Cidadania, Cosmopolitismo Crítico, Modernidade(s), (Pós-)Colonialismo[2] e colabora com o projecto de investigação Post-Archive: Politics of Memory, Place and Identity.[9]

Em 2018, programou o ciclo Para nós, por nós: a produção afrodiaspórica em Portugal, organizado pelo projecto ARTAFRICA do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pelo portal BUALA, pela Associação Cuktural PANTALASSA e pela Associação Portuguesa de Antropologia, em conjunto com Clara Saraiva, Marta Lança e Raquel Schefer.[10]

Em julho de 2019 fez parte da comissão organizadora da Conferência Internacional Afroeuropeans: In/Visibilidades Negras Contestadas, realizado no ISCTE.[11][12]

Em 2020 fez parte da programação do evento organizado anualmente pelo Museu da Língua Portuguesa para celebrar o Dia da Língua Portuguesa. A slammer Roberta Estrela d'Alva encerrou o evento com uma rodada de slam, na qual participaram, além da poeta Raquel Lima, artistas como Wellington Sabino e Edyoung Lennon.[13][14]

Tem colaborado com vários músicos na procura de sonoridades que dialoguem com a sua poesia, como Tapete, Tsjinlûd, MpexPhado, Lisbon Poetry Orchestra, GUME, entre outros.[15][3]

Os seus poemas já foram publicados em diversas línguas e tem realizado performances e workshops em torno da poesia oral a nível nacional e internacional, destacando os workshops de poesia, raça e género: para uma escrita poética interseccional.[2]

Raquel Lima também trabalhou como produtora cultural no Brasil, em Paris e em Portugal, em dança contemporânea, teatro, cinema, video arte, entre outros.[16]

Em 2021, Raquel Lima, juntamente com Isabél Zuaa, Cléo Diara, Nádia Yracema, Cláudia Semedo, entre outros, cria a associação UNA - União Negra das Artes. Esta associação visa divulgar e promover a representatividade negra, nas artes e cultura, em Portugal. [17]

Reconhecimentos, Bolsas e Prémios editar

  • Em 2011, Lima foi a vencedora da terceira edição do Poetry Slam Portugal,[3] concurso realizado como parte do Festival Silêncio, evento artístico dedicado às artes da palavra realizado em Lisboa.[3][18][19]
  • Foi bolseira da 1ª edição do Programa INOV-ART, organizado pela Direcção Geral das Artes / Ministério da Cultura, no Rio de Janeiro, Brasil (2009) e bolseira Leonardo Da Vinci em Paris, França (2010). Em 2020 é bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia, com uma bolsa de doutoramento centrada no estudo da oratura, escravatura e movimentos afrodiaspóricos.[1]
  • Em 2020 recebeu o prémio aRi[t]mar Galiza e Portugal na secção melhor poema português com Liberdade mais cruel (Ingenuidade Inocência Ignorância, Animal Sentimental e BOCA - palavras que alimentam, Lda, 2019).[20]
  • Em 2023 foi uma das artistas portuguesas escolhida para representar Portugal, na 35.ª Bienal de São Paulo.[21][22] No mesmo ano, foi eleita uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia, pela Power List anual da revista Bantumen.[23]

Obra editar

Depois de publicar seus poemas em coletâneas como Edições Côdeas, Fazedores de Letras, Poetas do Povo, ‘3,2,1,SLAM!’ – 1ª colectânea de Poetry Slam em Portugal, e na fanzine feminista PPKDanada,[3] Lima publicou o seu primeiro livro em 2019, intitulado Ingenuidade Inocência Ignorância, lançado pelas editoras BOCA e Animal Sentimental num formato que inclui áudio narrado pela própria autora e acompanhamento musical feito pelo artista essuatiniano Yaw Tembe.[1][24] Em 2020 publicou a colectânea de poesia Godwits, juntamente com três poetas de Portugal e da Frísia, focada em tradução e biodiversidade ambiental, linguística e cultural.[25]

Dentro de seu trabalho acadêmico, Lima publicou em 2018 na 16ª edição da revista Cabo dos Trabalhos, da Universidade de Coimbra, o artigo intitulado Afrofuturismo: A construção de uma estética [artística e política] pós-abissal e em 2020 o artigo intitulado O esvaziamento da noção de subalternidade, a sobrevalorização da fala e os silêncios como resistência na revista online BUALA.[1]

  • 2018 - Afrofuturismo: A construção de uma estética [artística e política] pós-abissal em Cabo dos Trabalhos nº 16. Universidade de Coimbra. (obra disponível online)
  • 2019 - Ingenuidade Inocência Ignorância. BOCA, ISBN 978-989-8421-43-2. (obra disponível online)
  • 2020 - O esvaziamento da noção de subalternidade, a sobrevalorização da fala e os silêncios como resistência em BUALA. (obra disponível online)
  • 2020 - Pandemic Solidarity: Mutual Aid during the Covid-19 Crisis. Editado por Marina Sitrin e Colectiva Sembrar. Pluto Press. ISBN 978-0-7453-4320-4[26]

Referências

  1. a b c d Sociais, CES-Centro de Estudos. «Raquel Lima». CES - Centro de Estudos Sociais. Consultado em 8 de março de 2020 
  2. a b c d e f «Raquel Lima». 9 de novembro de 2012. Consultado em 8 de março de 2020 
  3. a b c d e f g «Raquel Lima». Portugal.SLAM!. 12 de abril de 2016. Consultado em 8 de março de 2020 
  4. a b «Raquel Lima | VÍDEOS». Portugal.SLAM!. 31 de outubro de 2016. Consultado em 8 de março de 2020 
  5. «Raquel Lima - Portugal :: Borderlines». www.borderlinespoetry.com. Consultado em 8 de março de 2020 
  6. «Raquel Lima». www.flip.org.br. Consultado em 8 de março de 2020 
  7. Gomes, Kathleen. «Quando a poesia europeia foi à favela e perdeu». PÚBLICO. Consultado em 8 de março de 2020 
  8. Lima, Raquel (1 de dezembro de 2017). «Disparem sobre a utopista!». Revista Crítica de Ciências Sociais (114): 245–248. ISSN 0254-1106. doi:10.4000/rccs.6852. Consultado em 13 de fevereiro de 2024 
  9. w4h. «Raquel Lima conversa com artistas do Alkantara Festival». Alkantara. Consultado em 13 de fevereiro de 2024 
  10. «"Para nós, por nós": produção cultural africana e afrodiaspórica em debate | BUALA». www.buala.org. Consultado em 6 de janeiro de 2021 
  11. Henriques, Joana Gorjão. «Racismo: "Ainda não furámos a barreira de vidro mas estamos a ir contra ela e vamos quebrá-la"». PÚBLICO. Consultado em 15 de junho de 2020 
  12. Henriques, Joana Gorjão. «Centenas debatem racismo e o que é ser negro na Europa "nos seus próprios termos"». PÚBLICO. Consultado em 15 de junho de 2020 
  13. «Fique em casa: Museu da Língua Portuguesa tem programação online para celebrar o idioma». Guia Folha. 2 de maio de 2020. Consultado em 15 de junho de 2020 
  14. «Museu da Língua Portuguesa faz lives para festejar o nosso idioma». O Globo. 3 de maio de 2020. Consultado em 15 de junho de 2020 
  15. «GUME + Raquel Lima». Musicbox. Consultado em 8 de março de 2020 
  16. «Creative Conversations: Raquel Lima on poetry, performance, and social justice». Europe and Me (em inglês). 1 de janeiro de 2021. Consultado em 6 de janeiro de 2021 
  17. «União Negra das Artes promove diversidade étnico-racial | DGARTES». www.dgartes.gov.pt. Consultado em 4 de julho de 2023 
  18. Público. «Festival Silêncio! 2011 - Lisboa Capital da Palavra». Guia do Lazer. Consultado em 8 de março de 2020 
  19. «Alguén que respira. Dossier de prensa» (PDF). Consultado em 8 de Março de 2020 
  20. «Sumando premios. Carlos da Aira gaña o certame aRi[t]mar Galiza e Portugal, no apartado de galego, con "Nas noites de luar"». La Voz de Galicia. 28 de maio de 2020. Consultado em 3 de junho de 2020 
  21. Salema, Isabel (29 de junho de 2023). «Carlos Bunga e Raquel Lima, dois afrodescendentes, são os artistas portugueses na Bienal de São Paulo». PÚBLICO. Consultado em 4 de julho de 2023 
  22. Salema, Isabel (7 de setembro de 2023). «A máquina de escrever salazarista que Raquel Lima levou à Bienal de São Paulo». PÚBLICO. Consultado em 28 de outubro de 2023 
  23. «Raquel Lima – POWERLIST100 BANTUMEN». Consultado em 13 de fevereiro de 2024 
  24. «Ingenuidade Inocência Ignorância | BOCA - palavras que alimentam». boca.pt. Consultado em 8 de março de 2020 
  25. «Godwits - Raquel Lima, Nuno Piteira, Elmar Kuiper, Jan Kleefstra, Joana Guerra, Romke Kleefstra». Explore the North (em inglês). Consultado em 13 de fevereiro de 2024 
  26. Rebecca, Solnit (2020). Pandemic Solidarity: Mutual Aid during the Covid-19 Crisis. [S.l.]: Pluto Press 

Ligações externas editar