Raymond Cantel (1914 - Paris, 1986)[1] foi um importante pesquisador francês de estudos sobre as línguas portuguesas e da literatura popular brasileira. Foi diretor da Faculdade de Letras e Línguas na Universidade de Poitiers, onde também foi professor de língua espanhola.

Raymond Cantel
Nascimento 1914
Morte 1986 (71–72 anos)
Ocupação escritor

Doutor em Letras Portuguesas, encerrou sua vida acadêmica na Universidade de Paris, em 1978, quando dirigia o Instituto de Estudos Portugueses e Brasileiros da Sorbonne Nouvelle.

Morreu em Paris, aos 72 anos, depois de uma vida dedicada aos estudos portugueses e brasileiros.

Foi agraciado com os seguintes graus das Ordens Honoríficas portuguesas: Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique (3 de maio de 1961), Comendador da Ordem da Instrução Pública (23 de setembro de 1971) e Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a título póstumo (27 de janeiro de 1992).[2]

Pesquisas editar

Mesmo não tendo uma bibliografia extensa, ela é muito valiosa. Suas duas teses de doutorado são fundamentais, uma delas é acerca do messianismo e do profetismo na obra de Padre António Vieira.

Cantel dedicou-se a investigações sobre a literatura popular brasileira, tendo publicado numerosos ensaios que analisam textos de poesias e de prosa impressos em folhetos de cordel.[3]

O professor começou a viajar para o Brasil em 1959.[4] Nessa época teve contato, a partir do Ceará, com poetas populares, cantadores e xilógrafos. Segundo as narrativas que tecem sobre a passagem de Cantel, o francês estaria interessado em conhecer Lampião. E foi um folheto sobre o rei do cangaço que o levou diretamente ao mito, contado de uma forma que parecia perdida.

Durante as visitas, Cantel comprava e ganhava folhetos. Formava uma coleção valiosa.

A partir daí, passou a se interessar pela literatura popular em versos, na qual ele via um pouco da tradição europeia medieval. Em suas viagens, o pesquisador não se limitava só à compra dos folhetos de feira e de xilogravuras, mas também gravava cantorias e narrativas populares. Foi Cantel quem levou a obra de Patativa do Assaré (1909-2002) para ser estudada na Cadeira Popular de Literatura Universal da Sorbonne, nos fins dos anos 70.

O professor fez diversas visitas ao Brasil e desempenhou papel decisivo na compreensão, divulgação e valorização desta modalidade de escritura, tanto em sua atividade de pesquisador quanto na docência.

Poetas populares, como Apolônio Alves dos Santos, diziam que a denominação Literatura de Cordel só apareceu na década de 1970, com as pesquisas de Raymond Cantel. Manoel Monteiro, poeta de Campina Grande, diz que foi o francês o primeiro a dizer que os folhetos de feira eram pendurados em barbantes e cordas. Na realidade, a literatura popular em versos (ou, o folheto), inicialmente, era vendida no chão, espalhados sobre lonas.

Acervo Cantel editar

Hoje, na Maison des Sciences de l’Homme et de la Société (Universidade de Poitiers), o Centre de Recherches Latino-Américaines trabalha com vários acervos, um deles é o Acervo Raymond Cantel de Literatura de Cordel, o maior da Europa. Desde 2007, o acervo passou a integrar o programa Archives Virtuelles Latino-Américaines da instituição.

O Fundo Raymond Cantel é uma das mais ricas coleções de folhetos de cordel do mundo.[4] Desde sua criação, desempenhou um papel importante no intercâmbio entre o Brasil e a França. Estudantes e especialistas do mundo inteiro utilizam essa coleção como objeto de teses e contribuem assim para a valorização e preservação dessa importante manifestação da cultura brasileira.

Obras editar

  • Trentesix Images Exemplaires (1986)
  • Précis de Grammaire Portugaise (1984)
  • Prophétisme et Messianisme Dans L´oeuvre D´antonio Vieira (1960)

Referências

  1. O «cordel do cordel»: deambulações pelo acervo Raymond Cantel
  2. «Entidades Estrangeiras Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Raymond Cantel". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 1 de agosto de 2020 
  3. Luzdalva S. Magi (2014). «Das cantigas trovadorescas ao cordel». Editora Escala. Conhecimento Prático Literatura (54): 44-49. ISSN 1984-3674 
  4. a b França tem obras dos anos 50 e 60
Bibliografia
  • Manuela Fonseca Santos. Literatura de Cordel
  • Pina Martins. Raymond Cantel: uma grande figura que desaparece
  • Site Ano do Brasil na França
  • Gilmar de Carvalho. Cantel - por nome Raimundo.

Ligações externas editar