Reações internacionais à Guerra Civil Síria

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As reações internacionais à guerra civil da Síria têm sido diversas, feita por organizações mundiais, governos estrangeiros, instituições internacionais e empresas transnacionais de fora da Síria. No Ocidente, a resposta contra a postura do regime do presidente sírio Bashar al-Assad tem sido quase universal, com vozes pedindo sua renúncia e o fim da repressão política e da violência. Já no Oriente Médio, houve uma reação mista, em quanto alguns governos e organizações apoiavam a oposição síria, outras fações demonstraram simpatia pelo regime Assad. Países como Rússia e Irã, declararam abertamente apoiar, militar e financeiramente, o governo sírio. Enquanto a República Popular da China adota uma posição ambígua, condenando a violência, porém ao mesmo tempo vetando qualquer sanção pesada no Conselho de Segurança da ONU contra o regime de Damasco.[1]

Organizações editar

A Liga Árabe, a União Europeia, Nações Unidas[2] e vários outros governos e organizações ocidentais condenaram a violência perpetrada pelo governo sírio pelo país e demonstraram apoio ao direito dos opositores de se expressar.[3] Tanto a Liga Árabe quanto a Organização da Conferência Islâmica suspenderam a Síria do seu grupo.[4]

Propostas de paz editar

Várias iniciativas de paz e planos para resolver a crise na Síria foram apresentadas, sem muito sucesso. Entre algumas das principais tentativas de negociação, foi à proposta da Liga Árabe lançada em dezembro de 2011 que foi considerada um fracasso. A Rússia também tentou propor uma saída, mas não conseguiu nada.

No começo de 2012, a iniciativa "Amigos da Síria" foi estabelecida, que resultou numa conferência multinacional na Tunísia. Também houve várias reuniões na Turquia em abril. Nesta iniciativa a Rússia, China e o Irã não participaram por considerá-la unilateral e a favor da oposição, chamada de "inimigos da Síria" pelo regime de Assad.[5][6] Em fevereiro, Kofi Annan, ex-Secretário Geral da ONU, propôs um novo plano de paz.[7] Este plano foi chamado de o mais promissor para resolver o conflito, cuja prioridade era um cessar-fogo imediato e bilateral em abril de 2012. O regime sírio anunciou que aceitava a proposta e que faria seu exército recuar, porém os militares do governo reiniciaram a ofensiva e não demonstraram sinais de que retrocederiam em seu avanço. A oposição síria, a ONU, ativistas de direitos humanos e governos ocidentais denunciaram que Bashar al-Assad, o presidente sírio, desrespeitou o plano de paz que ele próprio havia aceitado semanas antes e desobedeceu o cessar-fogo declarado por ele mesmo, no prazo estabelecido pela ONU, ao retomar os ataques à áreas controladas pela oposição, em abril de 2012.[8][9] Por sua vez o governo sírio exigiu "garantias por escrito" da oposição para retirar as tropas e após o prazo estabelecido acusou a oposição de violar o acordo com "ataques terroristas", apesar do emissário Kofi Annan concluir que o fim das hostilidades aparentava estar sendo respeitado.[10][11] Segundo Ban Ki-moon, atual Secretário Geral da ONU, uma "frágil paz" teria coberto a Síria.[12] No dia 12 de abril, dois dias após o prazo final para imposição do cessar-fogo, um civil e um soldado morreram na cidade de Hama, durante uma nova ofensiva do governo.[12]

Em 15 de agosto de 2012, Kofi Annan foi dispensado do cargo de mediador da ONU para a questão síria.[13] Dois dias depois, o posto foi dado ao diplomata argelino Lakhdar Brahimi.[14]

 
Médicos sírios tratando de rebeldes e civis feridos em Alepo.

Em 29 de novembro, o Comitê Nacional de Coordenação para Mudança Democrática, único grupo de oposição "tolerada" pelo regime de Assad, que "repudia a interferência estrangeira nos assuntos internos sírios" e alega querer instaurar uma democracia na Síria, informou, em uma reunião com a Rússia, que estava disposta a negociar com as autoridades sírias uma mudança no sistema político do país e propôs utilizar "agentes externos", mas apenas para conseguir frear a violência no país.[15] Ainda em novembro, o mediador internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, se encontrou com membros do regime e da oposição para tentar fechar um acordo de paz entre as partes e acertar a instauração de um governo de transição, sem exigir a renúncia imediata do presidente Bashar al-Assad, que é a principal exigência da organização autointitulada Coalizão Nacional Síria, grupo este formado pela união das principais frentes opositoras a Assad.[16] Em 16 de dezembro, o governo iraniano apresenta um plano de paz de 6 pontos para a questão síria exigindo o fim imediato a todas as ações armadas, um processo da ONU de monitoração da transição, que o governo de Damasco e a oposição cooperem com a ONU e seu comitê especial para parar operações armadas especialmente nas áreas residenciais para restaurar a paz e estabilidade, uma distribuição imediata, séria e justa de ajudas humanitárias para os cidadãos sírias, o fim das sanções econômicas contra o povo da Síria, a fim de preparar o terreno para o retorno de todos os refugiados sírios para sua terra natal, a retomada dos diálogos nacionais abrangentes por diferentes partidos opositores políticos e sociais e Damasco rapidamente formar uma comissão de reconciliação nacional; a fim de formar um governo de unanimidade de transição, uma eleição livre e justa para a formação de um novo Parlamento e do Senado e da composição de uma constituição e a libertação imediata de todos os presos políticos de todos os partidos do governo e os grupos de oposição, e criação de um tribunal de justiça competente para investigar os casos de pessoas que cometeram crimes no país que o governo sírio assumiu que aceitaria acata-lo.[17][18][19] Cinco dias depois, a oposição síria anunciou que rejeitaria o plano de paz, sob a alegação de que "o regime de Assad estava caindo e que ele e suas nações aliadas tentavam lançar propostas furadas para evitar o inevitável".[20] A oposição voltou a falar que rejeitaria qualquer proposta de paz imposta a eles que não tirasse Assad imediatamente do poder.[20]

Frente a uma série de derrotas militares, em 6 de janeiro de 2013, Assad fez sua primeira aparição em público depois de três meses e conclamou seus apoiadores a resistir.[21] No discurso, feito diante de uma plateia da simpatizantes, o presidente sírio propôs um novo plano de paz, com uma "conferência de reconciliação" mas alertou que não convocaria para as negociações aqueles que, segundo ele, "traíram a Síria" e voltou a chamar a oposição de "terroristas"[21] e disse que a maioria dos combatentes não são sírios, mas sim extremistas ligados a Al-Qaeda, comparando a situação atual da Síria ao do Afeganistão durante a guerra afegã-soviética na década de 1980.[22] Apesar de abrir espaço para o diálogo, o presidente não citou no discurso qualquer possibilidade de renunciar.[21] Enquanto Irã e Rússia aprovaram o discurso de Bashar al-Assad, líderes da oposição e das potências ocidentais o chamaram de "fraco e fora da realidade". O líder da Coalizão nacional síria disse que "o ditador está cercado e ficando sem opções".[23] Uma nova reunião, de iniciativa dos governos russo e americano, foi marcada para tentar resolver o conflito pacificamente, mas não tem uma data definida para acontecer.[24] Os rebeldes anunciaram que boicotariam a reunião, a não ser que recebam mais apoio (em armamentos) dos países aliados no ocidente.[25] Em 22 de janeiro, foi organizada uma nova conferência de paz chamada Genebra II, com a participação de representantes de diversos países, da ONU, da Liga Árabe, da União Europeia e da Organização da Conferência Islâmica e, naturalmente, das duas partes diretamente envolvidas no conflito. Enquanto a oposição impõe como pré condição para conversas a saída de Assad do poder para que um governo de transição assumisse, o regime negou a possibilidade da renúncia do líder e afirmou que a oposição a ele não é legitima.[26]

Referências

  1. "Syria's Crisis and the Global Response". Página acessada em 5 de agosto de 2013.
  2. «UN chief slams Syria's crackdown on protests». Al Jazeera. 18 de março de 2011 
  3. «Canada condemns violence in Yemen, Bahrain, Syria». Agence France-Presse. Consultado em 22 de março de 2011 
  4. "Syria suspended from Arab League". Página acessada em 17 de maio de 2014.
  5. oglobo.globo.com (1 de abril de 2012). «Soldados da oposição passarão a receber salário na Síria». Consultado em 12 de abril de 2012 
  6. gazetadopovo.com.br (2 de abril de 2012). «Rússia critica grupo "Amigos da Síria"». Consultado em 12 de abril de 2012 
  7. «Syria's armed opposition chiefs form military council to unite ranks». English.alarabiya.net. 24 de março de 2012. Consultado em 12 de abril de 2012. Arquivado do original em 10 de outubro de 2017 
  8. The Tripoli Post (6 de abril de 2012). «UN Security Council Backs UN-Arab League Envoy's Ceasefire Deadline in Syria». Consultado em 12 de abril de 2012 
  9. The Guardian. «Syria: Annan pushes ceasefire deadline back two days (Government attacks continue as first deadline passes)». Consultado em 12 de abril de 2012 
  10. BBC (8 de abril de 2012). «Síria exige 'garantias' da oposição para cessar-fogo». Consultado em 12 de abril de 2012 
  11. terra.com.br (12 de abril de 2012). «Síria: governo e oposição se acusam de violar o cessar-fogo». Consultado em 12 de abril de 2012 
  12. a b «Dois mortos na Síria fragilizam cessar-fogo». Consultado em 14 de abril de 2012 
  13. Estado de S.Paulo (15 de agosto de 2012). «Sírios dizem aceitar argelino como novo mediador da ONU». Consultado em 19 de agosto de 2012 
  14. Ron DePasquale (17 de agosto de 2012). «"UN: Algeria's Brahimi will replace Annan in Syria"». Associated Press. Consultado em 17 de agosto de 2012  Parâmetro desconhecido |republicado= ignorado (ajuda)
  15. TASS (29 de novembro de 2012). «"Internal" opposition against foreign interference in Syrian affairs». Associated Press. Consultado em 17 de janeiro de 2013  Parâmetro desconhecido |republicado= ignorado (ajuda)
  16. «Brahimi se reúne com oposição síria em meio a novos combates». Agence France-Presse. 14 de setembro de 2012. Consultado em 17 de janeiro de 2013  Parâmetro desconhecido |republicado= ignorado (ajuda)
  17. «Syria will respond to any initiative to solve crisis through talks: PM» (em inglês). Press TV. Consultado em 31 de dezembro de 2012. Arquivado do original em 15 de agosto de 2014 
  18. «Iran's six-point plan only solution to Syria unrest: Official» (em inglês). Press TV. Consultado em 30 de dezembro de 2012 
  19. «Iran announces new 6-point peace plan for Syria» (em inglês). Trend. Consultado em 16 de dezembro de 2012 
  20. a b «Syrian Opposition Rejects Iran's Peace Proposal». Uskowioniran.com. 21 de dezembro de 2012. Consultado em 19 de maio de 2013 
  21. a b c «Presidente propõe 'conferência de reconciliação' na Síria». G1. Consultado em 8 de janeiro de 2013 
  22. «"President al-Assad : Out of Womb of Pain, Hope Should Be Begotten, from Suffering Important Solutions Rise"» (em inglês). SANA. 7 de janeiro de 2013. Consultado em 17 de janeiro de 2013  Parâmetro desconhecido |republicado= ignorado (ajuda)
  23. «"Oposição despreza 'plano de paz' do presidente da Síria"» (em inglês). SANA. 7 de janeiro de 2013. Consultado em 7 de janeiro de 2013  Parâmetro desconhecido |republicado= ignorado (ajuda)
  24. «U.S., Russia plan peace conference to resolve Syrian civil war» (em inglês). The Globe and Mail. Consultado em 6 de junho de 2013 
  25. «Syrian Opposition to Sit Out Any Talks Unless Arms Are Sent, General Says» (em inglês). The New York Times. Consultado em 8 de junho de 2013 
  26. «What is the Geneva II conference on Syria?» (em inglês). BBC. Consultado em 25 de janeiro de 2014 

Ver também editar