Reivindicação coreana da ilha de Tsushima

A Reivindicação coreana sobre a ilha de Tsushima ou disputa de Tsushima refere-se a uma questão territorial sobre a Ilha de Tsushima (対馬), uma grande ilha no Estreito da Coreia entre a península coreana e a ilha de Kyushu, parte do Japão. A ilha também é conhecida como Daemado (대마도) em coreano.[1] A Coreia do Sul não reivindica oficialmente a ilha, embora alguns sul-coreanos afirmem que a Coreia tem uma reivindicação histórica em relação à ilha e passaram a adotar medidas para tentar fortalecer tal reivindicação.[2]

História editar

O Sanguozhi, os registros históricos oficiais do período dosTrês Reinos da China (220 a 280 d.C.) escritos no século três, registram que a ilha foi um território antigo de Wa (Japão). Da mesma forma, o Samguk sagi afirma que o Japão governava a ilha desde o ano 400 da Era Comum.[3]

Quando o antigo sistema jurídico Ritsuryō foi estabelecido no Japão (entre 645 e 701 d.C.), a Província de Tsushima tornou-se formalmente uma província japonesa. Desde então, a província faz parte do Japão, exceto pelos períodos de ocupação temporária do Império Mongol nas invasões mongóis do Japão (1274 e 1281).  

Embora a corte real da Dinastia Joseon da Coreia (1392-1897) reconhecesse que a ilha era habitada e controlada por japoneses, geralmente sustentava que a ilha era território coreano desde os tempos antigos e que, apesar da longa ocupação japonesa da ilha, ela pertencia fundamentalmente por direito à Coreia. A casa dos samurais de , vassalos leais de cada um dos sucessivos xogunatos que atuavam como governadores ou senhores de Tsushima desde o século XII, também foram reivindicados como vassalos pelos reis de Joseon e consistentemente se comportaram de acordo.[4]

A ilha foi descrita por Hayashi Shihei em Sangoku Tsūran Zusetsu, publicado em 1785. Como em muitas publicações japonesas da época, foi identificada como parte do Japão.[5]

Século XX editar

Em 1946 o Comandante Supremo das Forças Aliadas, Douglas MacArthur, estabeleceu que o território do Japão incluiria as quatro ilhas principais e aproximadamente 1000 ilhas próximas, incluindo Tsushima.[6]

Em 1948 a República da Coreia afirmou sua soberania sobre a ilha com base em "reivindicações históricas".[7] Em 1949, o Comandante Supremo rejeitou as alegações coreanas.

Em 1951 as negociações entre Estados Unidos e Coreia sobre o Tratado de São Francisco não mencionaram a Ilha Tsushima.[8] Após isso, o status de Tsushima como uma ilha do Japão foi confirmado pelos EUA.[9]

Em 1974 a Coreia e o Japão reafirmaram que Tsushima faz parte do Japão.[10]

Século XXI editar

Em 2008 uma pequena minoria de membros da Assembleia Nacional da Coreia do Sul propôs reivindicar Tsushima como parte da Coreia.[11] Haviam 50 membros neste grupo.[12]

Em 2010, alguns membros da Assembleia Nacional propuseram um estudo das reivindicações territoriais da Coréia em relação a Tsushima.[13] Haviam 37 membros neste grupo.[12]

Em 2013 um tribunal sul-coreano estabeleceu uma liminar que provisoriamente impedia que uma estátua budista roubada de um templo em Tsushima e enviada para a Coreia do Sul retornasse ao templo. Um documento encontrado na estátua mostrava que a mesma fora construída no templo coreano Buseoksa em 1330. Com base nesse registro, alguns coreanos assumem que a estátua foi levada ilegalmente da Coreia para o Japão por piratas japoneses no final do século XIV. Além disso, o templo Buseoksa declarou sua propriedade sobre a estátua.[14] Essa notícia provocou outra onda de raiva nos habitantes da ilha e em todo o Japão, pois se supunha que esse poderia ser um outro plano de ambição territorial coreana em relação à ilha.[15]

Linha do tempo editar

  • 1946: O Comandante Supremo das Forças Aliadas lista Tsushima como parte do Japão[6]
  • 1950: a Coreia reivindica a ilha[7]
  • 1951: A Coreia do Sul anula a reivindicação de Tsushima[8]
  • 1974: Tratado entre a Coreia do Sul e o Japão reconfirma Tsushima como ilha japonesa[10]
  • 2005: A cidade sul-coreana Changwon reivindica a ilha como território sul-coreano.[16][17]
  • 2008: 50 membros da Assembleia Nacional da República da Coreia propõem reivindicar Tsushima[11]
  • 2010: 37 membros da assembleia nacional da República da Coreia propõem estudo sobre a reivindicação da ilha[13]

Posição dos Estados Unidos editar

Um relatório dos Estados Unidos intitulado Recente Reivindicação da Coreia da ilha de Tsushima analisou a reivindicação coreana e afirmou:[18]

"Embora muitos coreanos possam estar convencidos da validade de sua reivindicação, é óbvio que as demandas do governo e o apoio popular a elas não estão baseados em uma análise racional e legal da questão. As demandas parecem ambas um reflexo e um apelo calculado ao nacionalismo e aos sentimentos anti-japoneses que prevalecem por toda a República."
"Não há questão em relação ao status de Tsushima como uma dependência do Japão após 1668. A reorganização japonesa do governo de Tsushima após a Restauração Meiji antagonizou os coreanos, mas eles só podiam expressar desaprovação em relação ao assunto. Nenhum outra nação tentou desafiar o controle do Japão desde 1668. Assim, com base na informação disponível, a reivindicação da Coreia não parece ter bom fundamento. Apesar da Coreia aparentemente possuir uma posição dominante na ilha antes de 500 d.C., sua alegação sobre o controle nos períodos subsequentes não é apoiada pelos fatos disponíveis. Pelo contrário, há pouca duvida de que durante pelo menos 350 anos o Japão exerceu controle completo e efetivo sob Tsushima."

Referências

  1. "S. Korea hits Japan in escalating territorial dispute," USA Today, 18-3-2008; acesso em 2013-4-3.
  2. "Ordinance of Day of Daemado in Changwon". Enhanced Local Laws and Regulations Information System (em coreano).
  3. «(Samguk Sagi, Chapter 28)», A History of the Early Korean Kingdom of Paekche, together with an annotated translation of the Paekche Annals of the Samguk sagi, ISBN 9781684174232, Harvard University Asia Center, 2006, pp. 370–416, doi:10.2307/j.ctt1tg5q8p.13 
  4. Jeong-mi Lee, “Chosŏn Korea as Sojunghwa, the Small Central Civilization,” International Christian University Publications 3-A, Asian Cultural Studies 国際基督教大学学報 3-A,アジア文化研究 36 (2010), 308.; James Lewis, Frontier Contact between Chosŏn Korea and Tokugawa Japan, Routledge Curzon, 2003.
  5. Klaproth, Julius. (1832). San kokf tsou ran to sets, ou Aperçu général des trois royaumes, p. 96; excerpt, "... et vis-à-vis de l'île de Toui ma tao (Tsou sima) qui fait partie du Japon ...."
  6. a b Schoenbaum, Thomas J. (2007). Peace in Northeast Asia: Resolving Japan's Territorial and Maritime Disputes with China, Korea and the Russian Federation, p. 108.
  7. a b "U.S. State Department, Report from the Office of Intelligence Research: Korea´s Recent Claim to the Island of Tsushima (prepared on March 30, 1950)"; retrieved 2013-4-2.
  8. a b "Memorandum of Conversation, by the Officer in Charge of Korean Affairs in the Office of Northeast Asian Affairs (Emmons)," Arquivado em 2018-10-07 no Wayback Machine Foreign Relations 1951, Vol. VI, pp. 1202-1203; excerpt, "Mr. Dulles noted that paragraph 1 of the Korean Ambassador's communication made no reference to the island of Tsushima and the Korean Ambassador agreed that this had been omitted."
  9. US Bureau of the Census. (1965). Foreign Commerce and Navigation of the United States, p. lv.
  10. a b Charney, Jonathan I. and Lewis M. Alexander. (1998). International Maritime Boundaries, p. 141 n75.
  11. a b "Japanese island haunted by turbulent ties with Korea," Agence France-Presse (AGF). 21 August 2008; retrieved 2012-4-3.
  12. a b Nota: Há 300 membros na Assembleia Nacional da Coreia do Sul -- ver Kim, Tae-jong. "A Look at Election Through Numbers," Korea Times, 9 de Abril de 2008; retrieved 2013-4-2.
  13. a b 대마도는 우리땅" 여야 의원 37인, 국회 정식포럼 창립, Chosun Ilbo (ROK). 28 September 2010; retrieved 2013-4-3.
  14. An illegally returned Buddhist statue (절도범이 반입한 불상) Arquivado em 2013-11-04 no Wayback Machine, "Hankuk Ilbo" (ROK). 9 de outubro de 2013; acesso em 2013 11-03.
  15. «Tsushima Journal: An Icon and a Symbol of Two Nations' Anger». The New York Times. Consultado em 13 de agosto de 2013 
  16. "S Korea not calmed by Japan's statement in territorial dispute," Taipei Times. 19 March 2005; retrieved 2013-4-2.
  17. «Ordinance of Day of Daemado in Changwon». Enhanced Local Laws and Regulations Information System (em coreano). 28 de dezembro de 2012. Consultado em 1 de janeiro de 2015 
  18. Korea's Recent Claim to the Island of Tsushima (OIR Report No. 4900), Division of Research for Far East, Office of Intelligence Research, Department of State, 30 de março de 1950 

Ligações externas editar

Notas editar