Riachos urbanos são cursos de água que seguem através das cidades. Os riachos urbanos passam por uma série de modificações, que são causadas pelo processo de urbanização. Essas modificações alteram as condições da água e a sua morfologia, ocasionadas por diferentes tipos de poluição.

Poluição nos riachos urbanos editar

Diferentes ações antrópicas são responsáveis por essas mudanças percebidas nos riachos que percorrem as cidades. Essas diferentes formas de poluição ocorrem por meio de más condições de planejamento urbano, que não levam os riachos urbanos em consideração. Essas alterações nos riachos podem ocorrer devido: ao despejo de esgoto, à construção de superfícies impermeáveis; ao despejo de esgoto e resíduos sólidos, ao desmatamento de matas ciliares, entre outros.

Superfícies impermeáveis editar

 
Rio Tamanduateí, localizado em São Paulo. Esse é um exemplo de riacho urbano retificado através da construção de superfícies impermeáveis nas cidades.

Muitos efeitos da poluição gerados pela urbanização são percebidos nos riachos urbanos.[1] Em países desenvolvidos e em desenvolvimento, esses efeitos da poluição estão relacionados com as superfícies impermeáveis, que são construídas pelas pessoas nas cidades.[2] As superfícies impermeáveis são estruturas construídas de concreto e asfalto, como ruas, estradas, prédios, entre outros.[3] Assim, quando chove, a água se acumula, formando a chamada água de escoamento superficial. Essa água chega escorre para os riachos através dos sistemas de drenagem das cidades.[4][5]

A água de escoamento superficial concentra substâncias como nitrogênio, carbonatos, fosfatos, sulfatos e outros compostos. Essa água escoa para os riachos urbanos, alterando a qualidade da água, através de mudanças físico-químicas[6], o que pode gerar impactos ambientais. Alguns desses efeitos da poluição causada pela presença de superfícies impermeáveis são: alta concentração de sólidos suspensos na água, variação na temperatura da água, variação no volume dos riachos e a velocidade da correnteza. Todas essas variações também acontecem nos ambientes preservados, afetando os riachos. Porém, nas cidades, esses eventos são considerados poluidores porque ocorrem numa frequência e velocidade muito maiores. Por esse motivo, eles afetam os ecossistemas de riachos urbanos presentes nas cidades. Todas essas formas de poluição alteram a forma como as pessoas percebem os riachos nas cidades.[7]

Despejo de esgoto ilegal editar

 
Rio Carioca, localizado em Cosme Velho, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Este é um riacho urbano localizado na cidade do Rio de Janeiro. Ao longo de sua extensão, esse corpo d'água recebe alterações morfológicas como canalização para captação de esgoto, e despejo ilegal de esgoto e resíduos sólidos.

Nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, além desses efeitos mencionados acima, também são percebidos outros efeitos da poluição urbana nos riachos. No Brasil, por exemplo, o principal agente poluidor são os efluentes sanitários, também conhecidos como “esgoto”. Segundo o IBGE, somente metade dos municípios brasileiros possui rede coletora de esgoto.[8]

Isso ocorre devido ao elevado processo de urbanização, onde as cidades se expandem de maneira desordenada, sem levar em consideração as condições ambientais e, consequentemente, sem um planejamento efetivo para o controle dos efluentes e águas urbanas. Assim, o despejo de efluente ilegal ocorre quando o esgoto doméstico é lançado diretamente nos riachos. Por causa desse despejo de esgoto, com o passar dos anos, tornou-se comum que as pessoas chamassem negativamente os riachos como “valão”. Assim, muitas pessoas sequer conseguem entender que os valões são, na verdade, riachos.

Biodiversidade nos riachos urbanos editar

Ao contrário do que se pode imaginar, é possível encontrar biodiversidade animal e vegetal em riachos urbanos. Porém, os efeitos da urbanização percebidos nos riachos urbanos possuem influência sobre as espécies que ocorrem nesses riachos. O processo de urbanização causa profundas mudanças no habitat, o que faz com que apenas poucas espécies sobrevivam às condições criadas ambientais nos riachos, por consequência das alterações geradas pela urbanização. Logo, como poucas espécies de animais e plantas prosperam nas cidades, devido a sua tolerância às rápidas mudanças provocadas, uma grande abundância delas é observada. Esses fatores, somados aos efeitos da urbanização nas qualidades ambientais dos riachos, ajudam a causar distúrbios ecológicos graves, podendo inclusive levar a processos de extinção de espécies mais frágeis aos efeitos da urbanização. Esse problema é agravado, também, pela introdução de espécies exóticas, que são introduzidas nos riachos. Esse fenômeno pode ser observado em ao redor do mundo.[9][10]

Referências

  1. Walsh, Christopher J.; Roy, Allison H.; Feminella, Jack W.; Cottingham, Peter D.; Groffman, Peter M.; Morgan, Raymond P. (1 de setembro de 2005). «The urban stream syndrome: current knowledge and the search for a cure». Journal of the North American Benthological Society (3): 706–723. ISSN 0887-3593. doi:10.1899/04-028.1. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  2. Huang, Qingyu; Wang, Jun; Li, Mengya; Fei, Moli; Dong, Jungang (1 de junho de 2017). «Modeling the influence of urbanization on urban pluvial flooding: a scenario-based case study in Shanghai, China». Natural Hazards (em inglês) (2): 1035–1055. ISSN 1573-0840. doi:10.1007/s11069-017-2808-4. Consultado em 17 de outubro de 2021 
  3. Li, Longwei; Lu, Dengsheng; Kuang, Wenhui (março de 2016). «Examining Urban Impervious Surface Distribution and Its Dynamic Change in Hangzhou Metropolis». Remote Sensing (em inglês) (3). 265 páginas. doi:10.3390/rs8030265. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  4. Bell, Colin D.; Tague, Christina L.; McMillan, Sara K. (2019). «Modeling Runoff and Nitrogen Loads From a Watershed at Different Levels of Impervious Surface Coverage and Connectivity to Storm Water Control Measures». Water Resources Research (em inglês) (4): 2690–2707. ISSN 1944-7973. doi:10.1029/2018WR023006. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  5. Huang, Qingyu; Wang, Jun; Li, Mengya; Fei, Moli; Dong, Jungang (1 de junho de 2017). «Modeling the influence of urbanization on urban pluvial flooding: a scenario-based case study in Shanghai, China». Natural Hazards (em inglês) (2): 1035–1055. ISSN 1573-0840. doi:10.1007/s11069-017-2808-4. Consultado em 25 de outubro de 2021 
  6. Pereira, Régis. «DA SILVA PEREIRA, Régis. POLUIÇÃO HIDRICA: CAUSAS E CONSEQUENCIAS.». Régis da Silva Pereira. Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSUL) - Campus Pelotas: http://www.vetorial.net/~regissp/pol.pdf 
  7. Walsh, Christopher J.; Roy, Allison H.; Feminella, Jack W.; Cottingham, Peter D.; Groffman, Peter M.; Morgan, Raymond P. (1 de setembro de 2005). «The urban stream syndrome: current knowledge and the search for a cure». Journal of the North American Benthological Society (3): 706–723. ISSN 0887-3593. doi:10.1899/04-028.1. Consultado em 17 de outubro de 2021 
  8. «Pesquisa Nacional de Saneamento Básico | IBGE». www.ibge.gov.br. Consultado em 26 de outubro de 2021 
  9. Garcia, Diego Azevedo Zoccal; Pelicice, Fernando Mayer; Brito, Marcelo Fulgêncio Guedes de; Orsi, Mário Luís; Magalhães, André Lincoln Barroso de (16 de junho de 2021). «PEIXES NÃO-NATIVOS EM RIACHOS NO BRASIL: ESTADO DA ARTE, LACUNAS DE CONHECIMENTO E PERSPECTIVAS». Oecologia Australis (2). 587 páginas. ISSN 2177-6199. doi:10.4257/oeco.2021.2502.21. Consultado em 26 de outubro de 2021 
  10. Deacon, Amy E.; Magurran, Anne E. «How Behaviour Contributes to the Success of an Invasive Poeciliid Fish: The Trinidadian Guppy (Poecilia reticulata) as a Model Species». Cambridge: Cambridge University Press: 266–290. Consultado em 26 de outubro de 2021