Robert Prosinečki

futebolista croata

Robert Prosinečki (Villingen-Schwenningen, 12 de janeiro de 1969) é um ex-futebolista e treinador de futebol teuto-croata, também com parcial ancestralidade sérvia.[1]

Robert Prosinečki
Robert Prosinečki
Prosinečki em 2023
Informações pessoais
Nome completo Robert Prosinečki
Data de nasc. 12 de janeiro de 1969 (55 anos)
Local de nasc. Villingen-Schwenningen, Alemanha Ocidental
Nacionalidade croata
alemão
Altura 1,82 m
destro
Informações profissionais
Posição meia
Clubes de juventude
1974–1980
1980–1986
Stuttgart Kickers
Dínamo Zagreb
Clubes profissionais
Anos Clubes Jogos (golos)
1986–1987
1987–1991
1991–1994
1994–1995
1995–1996
1996–1997
1997–2000
2000
2000–2001
2001–2002
2002–2003
2003–2004
Total
Dínamo Zagreb
Estrela Vermelha
Real Madrid
Real Oviedo
Barcelona
Sevilla
Dínamo Zagreb
Hrvatski Dragovoljac
Standard de Liège
Portsmouth
Olimpija Ljubljana
Zagreb
0002 000(1)
0157 00(37)
0073 00(12)
0032 000(5)
0026 000(2)
0022 000(4)
0075 00(28)
0004 000(1)
0023 000(5)
0035 000(9)
0027 000(4)
0027 000(5)
0505 0(113)
Seleção nacional
1987
1989–1991
1993–2002
Iugoslávia Sub-20
Iugoslávia
Croácia
0005 000(1)
0015 000(4)
0049 00(10)
Times/clubes que treinou
2006–2010
2010–2012
2012–2014
2014–2018
2018–2019
2019–2020
2020
2022
Croácia (assistente)
Estrela Vermelha
Kayserispor
Azerbaijão
Bósnia e Herzegovina
Kayserispor
Denizlispor
Olimpija Ljubljana

No auge era um meio-campista de estilo extremamente vertical,[2] tendo inicialmente projeção como o jogador eleito como o melhor da Copa do Mundo FIFA Sub-20 de 1987, vencida pela Iugoslávia: embora não pudesse participar da final devido a uma suspensão, marcou de falta, aos 44 minutos do segundo tempo, o gol de vitória de virada por 2-1 que permitira à sua seleção eliminar o Brasil nas quartas-de-final.[1] Ainda no início da carreira, também destacou-se no título da Liga dos Campeões da UEFA de 1990-91 com o Estrela Vermelha.[2]

Na sequência defendeu a dupla Real Madrid e Barcelona, mas sem manter o mesmo sucesso da juventude.[1] Com o tempo, notabilizou-se também por ser oficialmente o primeiro - e, ainda hoje, único - jogador a marcar gol por dois países diferentes nas Copas do Mundo: pela Iugoslávia na Copa do Mundo FIFA de 1990 e pela Croácia na Copa do Mundo FIFA de 1998.[3]

Ele também é um dos seis que oficialmente defenderam dois países em Copas, ao lado de Luis Monti, Attilio Demaría (que jogaram ambos a de 1930 pela Argentina e a de 1934 pela Itália), Ferenc Puskás (1954 pela Hungria e 1962 pela Espanha), José Santamaría (1954 pelo Uruguai e 1962 pela Espanha) e José João "Mazzola" Altafini (1958 pelo Brasil e 1962 pela Itália).[nota 1][nota 2]

Na antiga Iugoslávia editar

Prosinečki nasceu na então Alemanha Ocidental, na fronteira com a Suíça, como filho de pai croata e mãe sérvia.[1] Ainda na Alemanha, chegou a defender os juvenis do Stuttgart Kickers, eventualmente migrando com seus pais no retorno destes à Iugoslávia. Com a família instalada na então república iugoslava da Croácia, ele juntou-se ao Dínamo Zagreb, mas acabou reprovado pelo treinador Miroslav Blažević.[2]

Curiosamente, o mesmo Blažević seria no futuro o treinador de Prosinečki na Copa do Mundo FIFA de 1998, mas a relação entre ambos acabaria marcada por atritos.[4] Uma vez dispensado do Dínamo, Prosinečki foi oferecido pela família ao antigo craque Dragan Džajić, símbolo do rival Estrela Vermelha.[2]

O alemão de origem servo-croatas acabou aprovado rapidamente na equipe da capital Belgrado, após um único teste:[2] o clube chegara inclusive a requisitar sua presença na Copa da UEFA de 1987–88 enquanto Prosinečki estava ocupado com a seleção iugoslava sub-20 no Mundial da categoria em 1987.[1] No Estrela, Prosinečki inicialmente compunha dupla com Dragan Stojković no meio-campo para municiar o artilheiro Darko Pančev.[2]

Com a saída de Stojković ao Olympique de Marselha em 1990, Prosinečki passou a conduzir sozinho as ações ofensivas de um elenco marcado por ainda reunir representantes das diferentes etnias da Iugoslávia em meio à crise política já palpável antes da dissolução do país: em meio aos sérvios, Pančev era macedônio, Dejan Savićević era montenegrinos,[2] ao passo que Siniša Mihajlović, colega de Prosinečki no "quinteto mágico" que incluía estes nomes junto a Vladimir Jugović,[1] era mais um mestiço: sérvio nascido na Croácia, filho de pai sérvio e mãe croata.[5]

Em 18 de maio, com a Guerra de Independência da Croácia já em andamento, o clube foi eliminado precisamente pelo Dínamo Zagreb na Copa da Iugoslávia ao perder de virada por 3-2 um jogo em que vencia por 2-0 dentro de Zagreb, em revés atribuído a temores quanto à segurança - apenas onze dias depois, contudo, o elenco consagrou-se vencedor da Liga dos Campeões da UEFA de 1990-91.[2]

O título europeu, único da uma equipe iugoslava, curiosamente deu-se justamente contra o Olympique de Marselha onde atuava Stojković. A final foi decidida em pênaltis, com Prosinečki convertendo sua cobrança.[2] A conquista não pôde apaziguar a tensão política: a neutralidade que Prosinečki procurava manter na Guerra Civil Iugoslava tampouco impedia-o de ser ameaçado e ele logo aceitou proposta do Real Madrid.[2] Ainda em 1991, foi um dos 10 jogadores que figuraram na lista dos Melhores Jogadores do Mundo pela FIFA: ficou na 4ª colocação, atrás do alemão Lothar Matthäus (1º), do francês Papin (2º) e do inglês Gary Lineker (3º).

Na Espanha editar

Chegou no Real Madrid na metade de 1991, permanecendo no clube merengue até 1994. A passagem de Prosinečki, contudo, acabaria marcada pela falta de títulos em meio a um inédito tetracampeonato seguido do rival Barcelona em La Liga precisamente entre 1991 e 1994 - com os madridistas chegando a perder duas vezes seguidas o título em surpreendentes derrotas na rodada final para o modesto Tenerife. Isso se deu nas edições de 1991-92 (derrota dramática por 3-2, em virada contra a vitória inicial madrilenha por 2-0) e 1992-93 (derrota de 2-0), nas quais os blancos eram líderes isolados à altura do último jogo e, diante das derrotas, acabaram ultrapassados pelo arquirrival.[6]

Após passagem pelo Real Oviedo, Prosinečki veio a transferir-se ao Barcelona. Porém, igualmente não logrou êxito,[1] em parte por ocupar vaga de extracomunitário por na época não ser considerado cidadão da União Europeia - em contexto no qual os catalães estavam repletos de outros extracomunitários que puderam ter sucesso instantâneo, notadamente os brasileiros Ronaldo e Giovanni; chegou-se ao ponto de cogitar-se mesmo uma negociação de Prosinečki com o Santos como parte da conclusão do negócio por Giovanni, contratação pactuada de forma parcelada. Em meados da temporada 1996-97, na pausa de janeiro, o próprio croata pediria para ir embora do Camp Nou.[7]

Prosinečki viria a ser negociado com o Sevilla. Também não conseguiu destaque significativo ali;[1] ainda em 1997, acertou regresso ao Dínamo Zagreb (àquela época, chamado "Croatia Zagreb"), onde permaneceu até 2000, jogando a partir daí em clubes de menor porte da Europa.

Final da carreira editar

Aos 31 anos, Prosinečki assinou contrato com o Portsmouth, depois de curtas passagens por Hrvatski Dragovoljac e Standard de Liège. Foi um dos herois do Pompey no final da temporada 2001-02, livrando o clube de um rebaixamento praticamente certo.

Depois de deixar o Portsmouth, Prosinečki, já em reta final de carreira, assinou com o Olimpija Ljubljana, onde jogou por uma temporada (23 partidas, três gols marcados) antes de retornar à Croácia para jogar pelo NK Zagreb, atuando ainda em nível considerado satisfatório para um atleta de sua idade (tinha 34 anos quando chegou ao clube) - em 26 partidas, foram cinco gols marcados. Ao final da temporada, Prosinečki pendurou as chuteiras e foi escolhido diretor-esportivo do NK Zagreb.

Surpreendentemente, em 2005, Prosinečki retornou aos gramados para jogar no Savski Marof, time amador da Quarta Divisão croata. Teve ainda uma curta experiência no Donaufeld, agremiação austríaca que também disputa campeonatos amadores. Depois do término do contrato, Prosinečki se aposentou definitivamente como jogador.

Seleção Iugoslava editar

Em 1987, apesar de reprovado no Dínamo Zagreb, Prosinečki foi incluído no Mundial sub-20 daquele ano.[2] Em meio ao torneio, chegou a ser desejado de volta pelo Estrela Vermelha, que em paralelo disputava a Copa da UEFA de 1987–88 - sendo necessária a intervenção dos colegas (muitos deles, futuras estrelas de seleções futuramente rivais na década de 1990) e da própria FIFA para que o meio-campista permanecesse no Chile, sede do Mundial.[1]

Com a permanência assegurada, Prosinečki protagonizou a classificação sobre o Brasil nas quartas-de-final: os canarinhos venciam por 1-0 e Predrag Mijatović eventualmente empatou. Aos 44 minutos do segundo tempo, Prosinečki executou com grande qualidade a cobrança de falta que resultou no gol da virada e da vitória iugoslava. Porém, pelo acúmulo de cartões amarelos na semifinal contra a Alemanha Oriental, acabaria suspenso da decisão, o que chegou a gerar até mesmo teoria de conspiração naquele momento. Mesmo ausente da final, foi premiado como melhor jogador do torneio.[1]

Após consagrar-se com a equipe sub-20, logo tornou-se nome frequente também da equipe principal. Participaria da Copa do Mundo de 1990, tendo sido o mais jovem na seleção dos melhores jogadores do torneio. Marcou um gol na primeira fase, no final do jogo contra os Emirados Árabes. Os iugoslavos caíram nas quartas-de-final, na disputa por pênaltis contra a Argentina. Prosinečki acertou sua cobrança, mas acabou não sendo suficiente.

Em 1991, Prosinečki foi membro ativo da classificação iugoslava à Eurocopa 1992. Contudo, com a Guerra de Independência da Croácia ocasionou na retirada dos croatas da seleção convocada à Euro e,[1] em lista que chegou a manter jogadores macedônios, eslovenos e um bosníaco junto aos sérvios e montenegrinos. Por fim, na própria eliminação da Iugoslávia dias antes do torneio começar.[8][9]

Seleção Croata editar

Voltaria a uma Copa oito anos depois, no mundial da França, agora atuando pela Croácia, sendo, ao lado de antigas promessas do título iugoslavo no mundial de juniores em 1987 - como Zvonimir Boban, Robert Jarni, Igor Štimac e o artilheiro Davor Šuker, um dos líderes da equipe que terminou em uma surpreendente terceira colocação (e que por pouco não chegou à final).[10]

Nesse mundial, Prosinečki marcou dois gols (contra Jamaica, na primeira fase; e Países Baixos, na partida pelo terceiro lugar, abrindo o placar na histórica vitória do bronze, por 2-1), o que o faz ser considerado oficialmente o único que marcou gols por duas seleções diferentes em Copas. Seu desempenho no torneio teve altos e baixos: nem sempre foi titular,[1] e não escondeu as desavenças com o treinador Miroslav Blažević (o mesmo que havia desdenhado de Prosinečki quando este começava a carreira, no Dínamo Zagreb) ao não ter sido escalado na semifinal.[4] O desafeto deixaria o cargo de técnico da seleção ao não classificar-se à Eurocopa 2000,[11] marcada pela eliminação precisamente em duelo contra a rival Iugoslávia.[5]

Para buscar vaga na Copa do Mundo FIFA de 2002, a Croácia teve como técnico Mirko Jozić,[11] precisamente o treinador da Iugoslávia campeã da Copa do Mundo FIFA Sub-20 de 1987.[1] A classificação ao Mundial veio mesmo com um elenco envelhecido: Mario Stanić já tinha 30 anos, ao passo que Prosinečki (33) integrava lista de remanescentes da Copa do Mundo FIFA de 1990 junto a Jarni (também 33 anos), Šuker (34 anos) e Alen Bokšić (32).[12] A seleção quadriculada não repetiu o sucesso de quatro anos antes e terminou eliminada na fase de grupos. Prosinečki tampouco teve brilho: foi utilizado somente na estreia, uma derrota para o México, na qual foi considerado o segundo pior croata em campo, à frente apenas do expulso Boris Živković, a ponto de ser substituído no intervalo (por Milan Rapaić).[13]

Carreira como técnico editar

Sua primeira experiência em comissões técnicas foi como assistente na Seleção Croata, dirigida pelo seu ex-companheiro dos tempos de jogador, Slaven Bilić. Posteriormente, assinou com o clube onde exercerá pela primeira vez o cargo de técnico: a antiga equipe sérvia do Estrela Vermelha.[14] No final de 2014, acertou com a Seleção do Azerbaijão, na qual pretende levar a equipe pela primeira vez para uma Copa do Mundo como país independente.

Gols pela Seleção Croata editar

Na coluna RESULTADO os gols da Croácia correspondem ao primeiro número, que aparece à esquerda.
# Data Local Adversário Resultado Competição
1 23 de Março, 1994 Valência, Espanha   Espanha 2-0 Amistoso
2 25 de Março, 1995 Zagreb, Croácia   Ucrânia 4-0 Elim. Euro 1996
3 26 de Abril, 1995 Zagreb, Croácia   Eslovênia 2-0 Amistoso
4 2 de Abril, 1997 Split, Croácia   Eslovênia 3-3 Elim. Copa do Mundo 1998
5 3 de Junho, 1998 Rijeka, Croácia   Irã 2-0 Amistoso
6 6 de Junho, 1998 Zagreb, Croácia   Austrália 7-0 Amistoso
7 14 de Junho, 1998 Lens, França   Jamaica 3-1 Copa do Mundo de 1998
8 11 de Julho, 1998 Paris, França   Países Baixos 2-1 Copa do Mundo de 1998
9 5 de Setembro, 2001 Serravalle, San Marino   San Marino 4-0 Elim. Copa do Mundo 2002
10 5 de Setembro, 2001 Serravalle, San Marino   San Marino 4-0 Elim. Copa do Mundo 2002

Títulos editar

Estrela Vermelha
Real Madrid
Dínamo Zagreb
Olimpija Ljubljana
  • Copa da Eslovênia: 2002–03
Iugoslávia Sub-20

Prêmios individuais editar

Notas editar

  1. A FIFA não considera como distintas as seleções de Alemanha Ocidental e Alemanha; União Soviética e Rússia; e Iugoslávia antes e depois do início de sua dissolução, Sérvia e Montenegro e Sérvia.
  2. Josef Stroh, Franz Wagner, Willibald Schmaus e Rudolf Raftl (Áustria em 1934 e Alemanha em 1938), Davor Šuker, Robert Jarni (Iugoslávia em 1990 e Croácia em 1998 e 2002) e Alen Bokšić (Iugoslávia em 1990 e Croácia em 2002) também foram a Copas por países distintos, mas entraram em campo por apenas um ou mesmo nenhum deles.

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m STEIN, Leandro (27 de outubro de 2017). «A Iugoslávia Sub-20 que conquistou o mundo, encantou a todos e ainda hoje atiça a imaginação». Trivela. Consultado em 11 de março de 2024 
  2. a b c d e f g h i j k STEIN, Leandro (29 de maio de 2016). «A Há 25 anos, Estrela Vermelha conquistava a Champions em meio a um cenário bélico». Trivela. Consultado em 15 de março de 2024 
  3. "Recordes atualizados", Placar número 1141, julho de 1998, Editora Abril, págs. 86-87
  4. a b STEIN, Leandro (8 de fevereiro de 2023). «O adeus a Ciro Blazevic, o grande mentor do futebol da Croácia e um dos idealizadores do 3-5-2». Trivela. Consultado em 14 de março de 2024 
  5. a b STEIN, Leandro (16 de dezembro de 2022). «Falece Sinisa Mihajlovic, um jogadoraço de ilustres conquistas, uma inspiração pelo amor ao futebol e à vida diante da leucemia». Trivela. Consultado em 11 de março de 2024 
  6. BRANDÃO, Caio (7 de junho de 2022). «30 anos do Tenerifazo: quando um nanico de colônia argentina tirou dois títulos do Real Madrid e os deu ao Barcelona». Futebol Portenho. Consultado em 15 de março de 2024 
  7. BRANDÃO, Caio (4 de fevereiro de 2022). «Nos 50 anos de Giovanni, relembre como o Messias brilhou no Barcelona». Trivela. Consultado em 15 de março de 2024 
  8. STANKOVIC, Vladimir (27 de maio de 1992). «Pancev también renuncia a la Eurocopa» (em espanhol). Mundo Deportivo. Consultado em 11 de março de 2024 
  9. STANKOVIC, Vladimir (29 de maio de 1992). «Los 'plavi' ya están en Suecia y dicen: "Tenemos derecho a jugar"» (em espanhol). Mundo Deportivo. Consultado em 11 de março de 2024 
  10. "Artilheiro e reserva", André Fontenelle, Especial Placar - Os Craques do Século, novembro de 1999, Editora Abril, pág. 108
  11. a b «A desunião faz a força». Placar n. 1220, pp. 128-131. Maio de 2002. Consultado em 11 de março de 2024 
  12. «A desunião faz a força». Placar n. 1220, pp. 128-131. Maio de 2002. Consultado em 11 de março de 2024 
  13. «A Itália sofre. O México vibra». Placar n. 1221, p. 106. Julho de 2002. Consultado em 16 de março de 2024 
  14. Prosinečki é o novo treinador do Estrela Vermelha[ligação inativa]