Rodoviária Nacional

Rodoviária Nacional foi a empresa pública de autocarros em Portugal, resultado da nacionalização, em 1975, dos maiores operadores no país; o critério usado para nacionalizar foi o tamanho da frota: mais de 100 veículos. Foram nacionalizadas ao todo 94 empresas rodoviárias. A RN iniciou a sua actividade efectiva a 1 de Junho de 1976, tendo até esta data sido gerida por uma Comissão Instaladora.[3]

Rodoviária Nacional, E. P.
Rodoviária Nacional
Rodoviária Nacional
Autocarro da RN em Lisboa (Martim Moniz), em 1982
Empresa Pública até 06-01-1990, depois Sociedade Anónima[1]
Atividade Transportes
Fundação 12 de Junho de 1975
Fundador(es) Estado Português
Encerramento 15 de Julho de 1995 (como Rodoviária Nacional, Investimentos e Participações, SGPS, S. A.)[2]
Sede Lisboa, Portugal
Accionistas Estado Português (100%)
Sucessora(s) Rodoviária Nacional, Investimentos e Participações, SGPS, SA

Estrutura da Rodoviária Nacional editar

Centros Operacionais editar

Os serviços foram organizados em nove Centros de Exploração de Passageiros (CEPs) de acordo com as diferentes regiões (e operadores nacionalizados) em que a Rodoviária Nacional passou a operar.

 
Autocarro da D.G.R.L. em Lisboa (Martim Moniz), em 1982.

Em 1977, o CEP 10 foi criado para gerir serviços especiais e alugueres em Lisboa, foi também a partir deste que se estabeleceram ligações entre Lisboa e na maioria das cidades do país, carreiras estas que foram designadas de Expresso e que estão na base da chamada Rede Nacional de Expressos. Em 1984, o CEP 10 passou também a explorar corredores de Torres Vedras, Ericeira/Mafra, Arruda dos Vinhos e Alenquer/Vila Franca de Xira, dos quais o primeiro pertencia ao CEP 4, o segundo ao CEP 5 e os restantes ao CEP 6[4].

Em 1984, o restante dos CEPs 5 e 6 tornou-se na Direcção Regional da Grande Lisboa (DGRL), dividida em quatro Centros Operacionais de Passageiros (COPs)[4].

A secção de carga também foi criada, operando sob diferentes nomes, tais como a RNTrans, para além de Centros de Exploração de Mercadorias (CEMs).

Numeração editar

A frota de autocarros foi contada com quatro dígitos, correspondendo o primeiro ao CEP onde o veículo foi afetado (se o veículo pertencia ao CEP 8, o número da frota seria 8xxx). Para a frota do CEP 10, o primeiro dígito era um 0 (0xxx), enquanto que no sistema de numeração da DGRL era de três dígitos, precedido pela letra L (Lisboa) ou CS (Cascais e Sintra) (L-xxx , CS-xxx), com a numeração estritamente distribuída pelo fabricante do chassis:

Lisboa Cascais e Sintra fabricante
L-100 a L-339 CS-750 a CS-879 AEC
L-340 a L-399 CS-880 a CS-899 Leyland
L-400 a L-749 CS-900 a CS-999 Volvo, outros

Ultrena editar

Essa divisão foi criada para gerir outras actividades de empresas nacionalizadas, tais como o negócio de floricultura Arboricultora (de Caneças), empresas de aluguer de automóveis (caso de uma subdivisão da Claras), bem como para gerir as oficinas.

Criação da RNIP editar

Com o objectivo de privatizar o operador, em 1990 a RN, EP tornou-se na RNIP, SA (Rodoviária Nacional Investimentos e Participações, SA), e os CEP foram separados da RN da seguinte forma:

  • CEP 1 - Rodoviária d'Entre Douro e Minho, SA (REDM), com sede em Braga;
  • CEP 2 - Rodoviária da Beira Litoral, SA (RBL), com sede em Coimbra;
  • CEP 3 - Rodoviária da Beira Interior, SA (RBI), com sede em Castelo Branco;
  • CEP 4 - Rodoviária do Tejo, SA (RT), com sede em Torres Novas;
  • CEP 7 - Rodoviária do Sul do Tejo, SA (RST), com sede no Laranjeiro;
  • CEP 8 - Rodoviária do Alentejo, SA (RA), com sede em Azeitão;
  • CEP 9 - Rodoviária do Algarve, SA (RA), com sede em Faro;
  • CEP 10 (partes outrora constituintes dos CEPs 4, 5 e 6) - Rodoviária da Estremadura, SA (RE) com sede em Lisboa (Casal Ribeiro).
  • DGRL (partes não integradas (no CEP 10) dos CEPs 5 e 6) - Rodoviária de Lisboa, SA (RL), com sede em Lisboa (Avenida do Brasil);

Os Centros de Exploração de Mercadorias transformaram-se na empresa Transporta, Transportes Porta a Porta, SA, com sede em Lisboa. A RN Trans deu lugar à Rodocargo, Transportes Rodoviários de Mercadorias, SA, com sede também em Lisboa.

A Ultrena divide-se e nascem a UIC - Unidade de Indústria Automecânica do Centro, com sede na Sertã e na EIS - Empresa de Indústria Mecânica do Sul, com sede em Lisboa, e à qual passa a estar ligada a oficina da Ameixoeira.

O capital da RNIP continuou a pertencer na sua totalidade ao Estado. A RN preprava-se desta forma para a privatização.

Privatização editar

Em 1992, o processo de privatização é iniciado a 10 de Março com a alienação da Rodoviária do Algarve que foi adquirida pela Joaquim Jerónimo, Lda. (grupo Barraqueiro e CGEA ― Compagnie générale d'entreprises automobiles (fr)) com 74,3% das acções, a seguradora Mundial Confiança e a Evicar; a Rodoviária d'Entre Douro e Minho (REDM) é adquirida em partes iguais pelo grupo RENEX - Joaquim Jerónimo, Lda. (Barraqueiro) com o grupo Caima e o grupo Resende; já a Rodocargo, SA e a Transporta, SA, são adquiridas pela TERTIR.

Em 1993, a Rodoviária do Tejo é vendida ao consórcio Internorte; a Rodoviária da Beira Interior é adquirida pelo grupo JOALTO, a Rodoviária da Beira Litoral pelo consórcio constituído pelos grupos RENEX, Resende, e CAIMA (que passou a gerir a RBL) e a Rodoviária do Alentejo pelo consórcio Joaquim Jerónimo (70%) e família Belo (30%), que recupera assim a empresa que tinha sido nacionalizada.

Em 1994, é a vez da Rodoviária da Estremadura se tornar também propriedade da Barraqueiro.

A 10 de Janeiro de 1995, a Rodoviária do Sul do Tejo é vendida à Joaquim Jerónimo (45%), administradores (45%) e Covas e Filhos (10%).

A 15 de Maio, dá-se por fim a privatização da Rodoviária de Lisboa, SA. É adquirida igualmente pelo Grupo Barraqueiro, associado ao grupo escocês Stagecoach e à Vimeca. A RL divide-se em 3: a Vimeca fica com a zona ocidental e corredor da Amadora/Queluz; a Stagecoach fica com a área de Cascais e Sintra, vendendo posteriormente a frota de alugueres, ficando a Rodoviária de Lisboa, parte do grupo Barraqueiro, a explorar os corredores de Odivelas/Loures, Bucelas e Vila Franca de Xira.[4]

A 15 de Julho de 1995, tendo a RNIP SGPS, SA (sucessora da RN) alienado todas as suas empresas associadas, deixa de existir.[5]

Pós-Privatização editar

A Rodoviária do Algarve foi imediatamente rebaptizada como EVA, lembrando a nacionalizada Empresa de Viação Algarvia, e pertence ao grupo Barraqueiro.

A Rodoviária Sul do Tejo tornou-se, no final dos anos 90, na TST - Transportes Sul do Tejo. Desde 2003, é de propriedade do grupo Arriva, que entrou no mercado Português em 2000, ao adquirir algumas operadoras de médio porte no noroeste de Portugal.

A Rodoviária do Alentejo tornou-se na Belos Alentejana, Belos Ribatejana e Belos Setubalense, depois da família Belo ter deixado o consórcio com a Barraqueiro (no início de 2000), a Belos Alentejana tornou-se novamente na Rodoviária do Alentejo (na sua frota é identificada simplesmente como Rodoviária), a Belos Ribatejana tornou-se na Ribatejana e as operações da Setubalense fazem agora parte dos TST.

A Rodoviária da Estremadura - identificada como apenas Estremadura - é agora uma marca para excursão ou como contratação de serviços do grupo Barraqueiro (junto com a marca própria Barraqueiro), com alguns dos seus autocarros afectados à Rede Nacional de Expressos. Os corredores foram renomeados para Boa Viagem (Vila Franca de Xira, Alenquer, Sobral de Monte Agraço, Arruda dos Vinhos), Mafrense (Mafra e Ericeira), Barraqueiro Oeste (Torres Vedras, Lourinhã e Cadaval) e Barraqueiro, com operações em Frielas.

Em 2002 as operações da Rodoviária de Entre Douro e Minho e da Rodoviária da Beira Litoral, pertencentes ao grupo Caima (família Neves) foram adquiridas pela Transdev, tendo sido designadas, entre 2002 e 2003, respectivamente, como Transdev Norte e Transdev Centro[6].

A RBI é actualmente propriedade da Transdev, depois do grupo Joalto (que viria a ser adquirida na totalidade pela Transdev em 2010) ter cedido metade do grupo à operadora francesa em 2008.

A Stagecoach vendeu as suas operações em 2002 e daí surgiu um novo operador, a Scotturb.

Referências

  1. Decreto-Lei 12/90, de 6 de Janeiro
  2. Decreto-lei 235/95, de 13 de Setembro
  3. Decreto-Lei 288-C/75, de 12 de Junho[ligação inativa]
  4. a b c Portuguese Buses Volume Three - Rodoviária Nacional (RN) 1975-1995 - The Portuguese National Bus Company, de Ian Manning
  5. Decreto Lei 235/95, de 13 de Setembro
  6. Portuguese Buses Volume Four - The Bus Fleets of the Successors to Rodoviária Nacional - As Rodoviárias depois da Rodoviária 1992-2011, de Ian Manning

Ligações externas editar