Roger Peyrefitte
Roger Peyrefitte (Castres (Tarn), 17 de Agosto de 1907 – Paris, 5 de Novembro de 2000) foi um escritor e diplomata francês.
Roger Peyrefitte | |
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Studio Harcourt, 1947 | |
Nascimento | 17 de Agosto de 1907 |
Morte | 5 de novembro de 2000 |
Nacionalidade | França |
Ocupação | Escritor |
Prémios | Prémio Renaudot 1944 |
Serviço militar | |
País | França |
Assinatura | |
Vida e obra
editarNascido em Castres (Tarn) no seio de uma família de comerciantes abastados, Peyrefitte foi aluno de colégios internos de Jesuítas e Lazaristas, e estudou línguas e literatura em Toulouse. Licenciou-se na Ecole des Sciences Politiques em 1930, tendo sido o primeiro classificado do seu curso, após o que trabalhou como secretário da embaixada em Atenas entre 1933 e 1938. De regresso a Paris, foi obrigado a demitir-se do serviço diplomático em 1940 por razões pessoais (possivelmente devido a acusações de colaboração com as forças de ocupação alemãs), tendo sido reintegrado em 1943 para terminar a sua carreira diplomática passados apenas dois anos.
Nos seus romances tratou frequentemente temas controversos, e as suas obras colocaram-no em rota de colisão com a Igreja Católica. Escreveu abertamente sobre as suas experiências homossexuais no colégio interno (As Amizades Particulares, no original Les amitiés particulières, 1944) o que lhe valeu o cobiçado Prêmio Renaudot em 1945. O livro foi adaptado ao cinema em 1964, mantendo o mesmo nome. Durante a rodagem do filme Peyreitte conheceu o jovem aristocrata Alain-Philippe Malagnac d'Argens de Villele, então com 14 anos, que se tornaria seu amante. Peyrefitte descreve essa relação nos romances Notre amour, (1967) e L'Enfant de cœur (1978). Malagnac casaria mais tarde com a cantora Amanda Lear (alegadamente transexual).
Peyrefitte atacou também a Santa Sé e o papa Pio XII em Les Clés de saint Pierre (1953), o que lhe valeu a alcunha de "Papa dos Homossexuais". A publicação deste livro foi o ponto de partida para uma discussão acesa e prolongada com François Mauriac, Prémio Nobel de literatura em 1952. Mauriac ameaçou deixar de escrever para o jornal L'Express, com quem colaborava na altura, se este não retirasse a publicidade ao livro. Esta quezília foi exacerbada pela estreia do filme Les amitiés particulières e culminou numa virulenta carta aberta de Peyrefitte em que este acusava Mauriac de esconder as suas tendências homossexuais e o apelidava de Tartufo.
No livro As Embaixadas (Les Ambassades), 1951, Peyrefitte descreve os segredos escondidos da diplomacia. Muitos, se não a maioria, dos seus livros tem um tom de fundo pederasta, e nalguns ele explora livremente essa faceta da sua personalidade. Talvez mais do que os seus amigos André Gide ou Henry de Montherlant, Peyrefitte utilizou os seus dotes literários em defesa da pederastia.
Peyrefitte escreveu também sobre o exílio do Barão Jacques d'Adelswärd-Fersen em Capri (L'Exilé de Capri, 1959) e traduziu a partir do grego o poema de amor pederástico (La Muse garçonnière, Flammarion, 1973).
Apesar de ser largamente conhecido, Peyrefitte foi acusado de valorizar mais o sucesso comercial dos seus livros do que as suas qualidades literárias. Na opinião de um crítico anónimo do L'Express: "Nos tempos em que escreveu As Amizades Particulares, tinha algo a dizer. Hoje só tem algo a vender."
Morreu aos 93 anos, após uma longa batalha com a doença de Parkinson, e não sem antes receber os últimos sacramentos da Igreja Católica que tão fortemente atacara durante a sua vida. Após a sua morte, a cidade de Capri descerrou uma placa em sua memória próximo da Villa Lysis cuja inscrição indica: A Roger Peyrefitte autore de L'esule di Capri per aver esaltato e diffuso il mito, la cultura e la bellezza dell'isola nel mondo. — "A Roger Peyrefitte, autor de O Exilado de Capri, por ter exaltado e difundido o mito, a cultura, e a beleza desta ilha no mundo."[1]
Bibliografia
editarLista das suas principais obras por ordem cronológica:
- As Amizades Particulares (Les Amitiés particulières, Editions Flammarion, 1944) romance, Ulisseia, Lisboa, 1965, tradução de Liberto Cruz
- Mademoiselle de Murville, romance, Editions Jean Vigneau 1947
- Le Prince des neiges, drama em 3 actos, Editions Jean Vigneau 1947
- L'Oracle, romance, Editions Jean Vigneau 1948 (edição definitiva em 1974)
- Les Amours singulières, romance, Editions Jean Vigneau 1949
- La Mort d'une mère, Editions Flammarion 1950
- As Embaixadas (Les Ambassades, Editions Flammarion 1951), romance, Minerva, Lisboa, 1960, tradução de João Salgueiro
- Les Œuvres libres - Roger Peyrefitte, etc. Editions Arthème Fayard 1951
- Du Vésuve à l'Etna, conto, Editions Flammarion 1952
- O Fim das Embaixadas (La Fin des ambassades, Editions Flammarion, 1953), romance, Ulisseia, Lisboa, 1973, tradução de Orlando Neves
- Les Amours, de Lucien de Samosate (tradução do original grego), Editions Flammarion 1954
- As Chaves de S. Pedro (Les Clés de saint Pierre, Editions Flammarion, 1955), romance, Júpiter, Rio de Janeiro, 1961, tradução de Heitor Martins
- Jeunes Proies, Editions Flammarion 1956
- Les Chevaliers de Malte, Editions Flammarion 1957
- L'Exilé de Capri, Editions Flammarion 1959
- Le Spectateur nocturne, diálogo dramático, Editions Flammarion 1960
- Les Fils de la lumière, ensaio sobre a Maçonaria, Editions Flammarion 1961
- La Nature du Prince, Editions Flammarion 1963
- Les Secrets des conclaves, Editions Flammarion 1964
- Les Juifs, Editions Flammarion 1965
- Notre Amour, Editions Flammarion, 1967), Ulisseia, Lisboa, 1969, tradução de Manuel Crespo
- Os Americanos (Les Américains, Editions Flammarion, 1968), romance, Bertrand, Lisboa, 1969, tradução de Rogério de Lima
- Des Français, romance, Editions Flammarion 1970
- La Coloquinte, romance, Editions Flammarion 1971
- Manouche, conto, Editions Flammarion 1972
- L'Enfant Amour, ensaio, Editions Flammarion 1972
- Un Musée de l'Amour, fotografias da sua colecção de arte pederástica, por Marianne Haas, Editions du Rocher 1972
- La Muse Garçonnière, (Musa Paidika) tradução do original grego, Editions Flammarion 1973
- Tableaux de chasse, ou la vie extraordinaire de Fernand Legros, Editions Albin Michel 1976
- Propos secrets (volume 1) - Editions Albin Michel 1977
- Trilogy about Alexander the Great - Editions Albin Michel
- #La Jeunesse d'Alexandre, 1977
- #Les Conquêtes d'Alexandre, 1979
- #Alexandre le Grand, 1981
- Propos secrets (volume 2) - Editions Albin Michel 1980
- L'Enfant de cœur, Editions Albin Michel 1978
- Roy, romance, Editions Albin Michel 1979
- L'Illustre écrivain, Editions Albin Michel 1982
- Henry de Montherlant - Roger Peyrefitte - Correspondance (1938-1941), introdução e notas por by R. Peyrefitte and Pierre Sipriot, Editions Robert Laffont 1983
- La Soutane rouge, Edition du Mercure de France 1983
- Doucet Louis, raconté par... fotografias por Rosine Mazin, Editions Sun 1985
- Voltaire, sa jeunesse et son temps, biografia, Editions Albin Michel 1985
- Voltaire et Frédéric II, Editions Albin Michel 1992
- Réflexions sur De Gaulle, Paris, Editions régionales 1991
- Le Dernier des Sivry, romance, Editions du Rocher, Monaco 1993
- Retours en Sicile, Editions du Rocher, Monaco 1996
Ver também
editarReferências
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 25 de julho de 2007. Arquivado do original em 28 de abril de 2003
Ligações externas
editar- "The Importance of Being Peyrefitte" (em inglês), artigo da Guide Magazine por Roger Moody, Maio de 2002
- Roger Peyrefitte: Alexander is my Destiny (em inglês), por B. John Zavrel, 1996
- Ribaldry in Rome (em inglês) — 1957 Time magazine artigo sobre o livro The Keys of St. Peter
- The Rothschilds & The Mind (em inglês) — 1965 Time magazine artigo sobre o livro The Jews