Ronald Levinsohn

empresário brasileiro
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Ronald Guimarães Levinsohn (Rio Grande, 9 de outubro de 1935 - Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 2020) foi um empresário e administrador brasileiro.

Ronald Guimarães Levinsohn
Nome completo Ronald Guimarães Levinsohn
Nascimento 9 de outubro de 1935
Rio Grande, Rio Grande do Sul
Morte 27 de janeiro de 2020 (84 anos)
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro

Era filho de pai judeu britânico e mãe argentina,[1] neto de um executivo da JBS-Swift Foods Company, que veio da Inglaterra para construir um imenso frigorífico na cidade portuária de Rio Grande.[2] Aos 17 anos foi morar em Nova Iorque.

Em 1975 foi sócio de Rodman Rockefeller (filho de Nelson Rockefeller) no empreendimento Cidade Vista Verde, na cidade de São José dos Campos, projetado para ser um bairro de classe alta, sem muros e com elevado grau de arborização. Hoje é um bairro próximo à refinaria da Petrobras de São José dos Campos. Ronald Levinsohn comprou o imóvel onde hoje estão localizados o condomínio Jardim Colinas, o Colinas Shopping e o Jardim do Golfe, um loteamento destinado à mais alta classe.[2] Segundo o livro "Seja feita a vossa vontade. A conquista da Amazônia: Nelson Rockefeller e o Evangelismo na Idade do Petróleo", dos jornalistas Gerard Colby e Charlotte Dennett, publicado em 1998 pela Editora Record, Nelson Rockefeller foi sócio de centenas de empresas no Brasil e dono da maior fazenda de gado.[3]

Foi dono do Grupo Delfin e de um dos mais rumorosos escândalos financeiros dos anos 1980. O Grupo Delfin era dono da maior caderneta de poupança do país, com 3,5 milhões de depositantes. No ramo imobiliário era a sétima empresa do mundo. Ronald Levinsohn pagou em dezembro de 1982 ao Banco Nacional da Habitação (BNH) uma dívida de Cr$ 60,8 bilhões com terrenos que valiam Cr$ 9,6 bilhões.[4] Ex-controlador do que foi a terceira maior universidade privada do Rio de Janeiro, o Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade), que contava com 35 mil alunos.

Ronald Levinsohn administrou o patrimônio do jornalista Paulo Francis, que morreu em 1997, que incluía dois apartamentos em Manhattan.[5] Paulo Francis prometeu doar quase cinco mil livros ao Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade), guardados em um apartamento em Nova Iorque.[6]

Ronald Levinsohn foi administrador da Colina Paulista, uma holding com negócios nas áreas da construção civil e da agricultura. Foi proprietário de várias fazendas na região de Barreiras, no oeste da Bahia, cuja área equivale a catorze vezes a cidade de Salvador.[7][8][9] Segundo Alberto Dines, Ronald Levinsohn, dono do antigo conglomerado financeiro Delfin, foi o responsável pelo grande escândalo financeiro que a ditadura militar não conseguiu encobrir.[10] O caso Delfin foi classificado pelo Banco Central do Brasil como estelionato e Ronald Levinsohn realizou o sonho da casa própria de importantes jornalistas e opinionistas em troca de uma cortina de silêncio.[11]

Ronald Levinsohn é pai das socialites Claudia Vieira Levinsohn e Priscilla Vieira Levinsohn.[12]

Controvérsias editar

Caso Delfin editar

Ronald Levinsohn começou seu negócio com uma informação privilegiada que antecipava uma mudança. Em 1964 Mário Henrique Simonsen disse ao Ronald Levinsohn que a ditadura militar iria mudar a lei que dava estabilidade aos empregos do setor privado. Em vez de empregos estáveis, os trabalhadores teriam o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Seriam alocados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) 8% dos recursos das folhas de pagamento do Brasil, que seriam usados para financiar habitações de classe média. Era uma montanha de dinheiro e Ronald Levinsohn vislumbrou um grande negócio, comprando cinco sociedades de crédito imobiliário. Nos anos 1970, quando surgiram as cadernetas de poupança, também com a finalidade de atrair recursos para a habitação, ele comprou a Delfim.

No final de 1982 veio à tona uma reportagem-denúncia do jornalista José Carlos de Assis expondo a quitação da dívida da empresa Delfin com o Banco Nacional da Habitação (BNH). O Grupo Delfin era a maior empresa privada de crédito imobiliário da época (mais de três milhões de depositantes),[13] porém possuía elevados endividamentos junto ao Banco Nacional da Habitação (BNH). No ano de 1982, um acordo previa a entrega de dois terrenos como forma de saldar os Cr$ 60 bilhões devidos. No entanto, os terrenos valiam Cr$ 9 bilhões, cerca de um sexto da dívida. Este acordo fraudulento envolveu os nomes dos ministros Mário Andreazza (Interior), Delfim Netto (Planejamento) e Ernane Galvêas (Fazenda), que chegaram a ser acusados judicialmente por causa do acordo, mas, até hoje, nenhum tipo de punição foi aplicada aos culpados que lesaram milhares de contribuintes com os chamados títulos de "poupalização".[14][15][16]

A reportagem foi publicada no dia 30 de dezembro de 1982 e vinte dias depois acabou levando à falência o grupo Delfin pela retirada de fundos realizada pelos seus clientes. A clientela, da classe média em sua grande maioria, que possuía caderneta de poupança no Grupo assustou-se com a possibilidade de um desfalque e, imediatamente, sacou seu dinheiro.[17]

Em 1983 o Banco Central do Brasil decretou intervenção nas sociedades de crédito imobiliário do Grupo Delfin, que tinha mais de três milhões de depositantes, até que o grupo Delfin pagasse o que restava da dívida de Cr$ 80 bilhões ao Banco Nacional da Habitação (BNH). Mesmo com a intervenção do Banco Central do Brasil, a empresa não conseguiu se manter viva por muito tempo e faliu em 1984, agravando a crise no mercado imobiliário brasileiro, que se estendeu pela década de 1980. A intervenção foi decidida pelo Ministério do Interior, por proposta do Banco Nacional da Habitação (BNH), com o intuito de que as contas dos depositantes fossem transferidas para agências da Caixa Econômica Federal, até que o grupo pagasse o que restava da dívida. O Presidente João Figueiredo hesitou em autorizar a intervenção na Delfin para evitar uma repetição dos traumas financeiros provocados pela intervenções feitas pelo governo Geisel no Banco Halles[18] e na sociedade de crédito imobiliário Vitória Minas. Em abril de 1982, porém, o Chefe da Casa Civil da Presidência, Ministro Leitão de Abreu, considerou preferível a intervenção.[13]

Em 1991 o empresário fechou um acordo com o Banco Central do Brasil que o permitia levar o que havia sobrado da Delfin, aproximadamente R$ 300 milhões, e pagar a dívida em 13 anos com dois anos de carência. O empresário não pagou nenhuma parte do previsto. O montante da dívida já é maior que um R$ 1 bilhão.

Em 2002 o Superior Tribunal de Justiça (STJ) indeferiu o pedido da Delfin Capitalização S/A, empresa do Grupo Delfin, de extinguir a ação que ela responde na Justiça, sem que fosse julgado o mérito. A decisão foi unânime. Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, já era do conhecimento público que o Grupo Delfin, incluindo a empresa, foi submetido à liquidação da sentença em janeiro de 1984, chegando a publicar um edital avisando aos credores que começaria a pagar o passivo. Em 1989 o Banco Central do Brasil converteu a liquidação extrajudicial em ordinária, mas sem que tenha havido o integral ressarcimento dos credores de títulos de capitalização.[19]

Em 16 de março de 2006 o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu como justo e apropriado o pagamento com os dois imóveis em questão da dívida da Delfin com o Banco Nacional da Habitação (BNH), fechando assim, perante os olhos da Justiça, o caso Delfin.

Ronald Levinsohn evitava viajar em companhias aéreas nacionais para não encontrar brasileiros.[20] A quebra da Delfin pode ter deixado a imagem do empresário marcada, mas não abalou seu potencial financeiro. Continuou com grande influência no meio empresarial. Tal mancha na imagem pode ter aumentado a reclusão de Ronald Lehvinsohn, que morava em uma mansão no bairro Gávea, no Rio de Janeiro, sem sair de casa, em meio a 8.000 metros quadrados de Mata Atlântica. Em uma estante abarrotada de documentos sobre o escândalo financeiro do qual foi o personagem principal, Ronald Levinsohn guardava quatrocentas fitas cassetes de gravações com supostos esquemas de corrupção comandados pelos interventores da Delfin.[7]

Caso Baumgarten editar

Alexandre von Baumgarten foi um escritor e jornalista brasileiro assassinado em outubro de 1982. Alexandre von Baumgarten, a esposa Janete Hansen e o barqueiro Manoel Valente foram sequestrados na Praça XV, no Rio de Janeiro, e executados em alto mar. O corpo de Alexandre von Baumgarten foi encontrado na Praia da Macumba no Recreio dos Bandeirantes, com três tiros na cabeça e um no abdômen, no dia 25 de outubro de 1982. A esposa Janete Hansen e o barqueiro Manoel Valente desapareceram.[21] Dois corpos carbonizados, apontados como sendo de Janete Hansen e do barqueiro Manoel Valente, localizados em Teresópolis, não foram identificados pelo Instituto Médico Legal.[22] O apartamento onde Alexandre von Baumgarten morava era na Rua Paul Redfern, n.º 20, no bairro de Ipanema, e pertencia ao proprietário do Grupo Delfin, Ronald Levinsohn.[23]

Dois dias antes de morrer, Alexandre von Baumgarten compôs um dossiê que envolvia membros do Serviço Nacional de Informações (SNI) em um plano para assassiná-lo. O dossiê foi divulgado na Veja uma semana após a intervenção federal na Delfin.[24] Um dos expedientes usados por Ronald Levinsohn para cultivar amizades, sobretudo de jornalistas, era a cessão de apartamentos e de casas em condições especiais de financiamento e de aluguel.[24] A participação de oficiais do Serviço Nacional de Informações (SNI) e de Ronald Levinsohn no assassinato de Alexandre von Baumgarten nunca foi comprovada.[25]

Alexandre von Baumgarten havia escrito o livro Yellow Cake,[26] supostamente de ficção, sobre uma operação de tráfico de urânio a partir do Brasil para o Oriente Médio. O livro foi publicado em 1985 como um encarte especial na revista Status, da Editora Três. Do manuscrito original, algumas páginas desapareceram após a morte do autor.[27] Yellowcake é um material composto de urânio, já livre de impurezas, que serve para fins de produção de energia nuclear, obtendo nesse processo entre 70 % e 80 % de urânio puro. O livro detalhava a operação clandestina, executada pelo então governador Paulo Maluf e por oficiais do Serviço Nacional de Informações (SNI), para contrabandear yellowcake para o Iraque. Apesar de conter elementos de ficção, a estória é inteiramente baseada em fatos verídicos.[28]

Companhia Melhoramentos do Oeste da Bahia (CMOB) editar

A Fazenda Austrália, da Companhia Melhoramentos do Oeste da Bahia (CMOB), que atua também com mineração na região, mantinha 39 trabalhadores escravos que catavam raízes para viabilizar a produção de soja. Entre os 39 trabalhadores libertados na catação de raízes para a produção de soja na Fazenda Austrália, em outubro de 2005, havia três mulheres e um jovem de 16 anos. A soja é o principal produto cultivado pela propriedade.

Por causa da violação dos direitos trabalhistas, a empresa desembolsou uma rescisão de R$ 38,2 mil. Por trás da Companhia Melhoramentos do Oeste da Bahia (CMOB) está o empresário Ronald Levinsohn, sócio da Colina Paulista[7] e proprietário de várias fazendas na região de Barreiras, no oeste da Bahia, em nome da Delfin Rio.[29]

UniverCidade editar

Segundo Alberto Dines, Ronald Levinsohn comprou uma fabulosa cobertura com vista para o Central Park em Nova Iorque, nos Estados Unidos. No Brasil o Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade) foi usado para lavagem de dinheiro, encobrindo a origem ilícita da fortuna do empresário Ronald Levinsohn.[10]

Ronald Levinsohn foi reitor do Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade), que com a Universidade Iguaçu (UNIG) e a Universidade Candido Mendes (UCAM) foram citadas no pedido de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) para apurar denúncias gestões fraudulentas, enriquecimento ilícito, desvios de recursos públicos, lavagem de dinheiro, precarização das relações de trabalho, assédio moral, repressão às representantes de professores, alunos e servidores, criação de monopólios, deterioração da qualidade de ensino, entre outros.[21] O Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade) foi fundado em 1969 e mantido pela Associação Educacional São Paulo Apóstolo, entidade filantrópica controlada por Ronald Levinsohn.

Segundo a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), as principais denúncias contidas no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) são atrasos e falta de pagamentos aos funcionários, assim como do imposto sindical, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); no ensino à distância, suspeita de fraude e venda de diplomas e ausência de regulamentação por parte da Câmara dos Deputados; grupos estrangeiros e sociedades anônimas comandando as universidades privadas no Rio de Janeiro; irregularidades em relatórios financeiros; sistemas de bolsas, como o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), conferidos a instituições com conceitos baixos pela avaliação do Ministério da Educação; aumento abusivo das mensalidades; e convênios com prefeituras sem licitações públicas.[30]

Referências

  1. Longe dos holofotes. Revista Veja, 1º de março de 2000.
  2. a b «Polêmico? Ronald Levinsohn diz que só quer o bem de S. José». O Vale. 16 de dezembro de 2012. Consultado em 2 de janeiro de 2015 
  3. Milton Pomar (31 de março de 2014). «Os lucros e os crimes da ditadura militar no Brasil 1964/1985». Sul 21. Consultado em 4 de janeiro de 2015 
  4. [1] Arquivado em 27 de dezembro de 2014, no Wayback Machine.. 8 de janeiro de 1984.
  5. Lúcio Flávio Pinto (4 de maio de 2010). «Paulo Francis e a bomba esquecida». Observatório da Imprensa. Consultado em 4 de janeiro de 2015 
  6. Lucas Ferraz (7 de maio de 2013). «Na cova da fera». Observatório da Imprensa. Consultado em 4 de janeiro de 2015 
  7. a b c Longe dos holofotes. Revista Veja, 1º de março de 2000.
  8. Ronald Levinsohn recebe título de Rio-Grandino Ilustre. Jornal Agora, 3 de abril de 2011.
  9. Em terras da Companhia Melhoramentos do Oeste da Bahia (CMOB), que atua tradicionalmente com mineração na região, foram libertados 39 trabalhadores que catavam raízes para viabilizar a produção de soja, em outubro de 2005.
  10. a b Carta aberta aos alunos e professores da UniverCidade Arquivado em 20 de dezembro de 2014, no Wayback Machine.. Alberto Dines, 20 de Dezembro de 2014.
  11. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/circo/cir050899.htm
  12. «A pista da festa da Priscilla foi a Glória!». Revista Vogue. 30 de novembro de 2014. Consultado em 2 de janeiro de 2015 
  13. a b «21 de janeiro de 1983 – BC intervém no Grupo Delfin». Consultado em 16 de dezembro de 2014. Arquivado do original em 16 de dezembro de 2014 
  14. «Conheça dez histórias de corrupção durante a ditadura militar - Notícias - Política». Política 
  15. «Ditadura Militar e corrupção: os crimes que precisam ser investigados - MariaFrô». MariaFrô. 24 de novembro de 2014 
  16. «Folha de S.Paulo - Advogados do caso Delfin vão recorrer contra ação - 10/9/1994». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  17. Escândalo Delfin, o resumo. O Caso Delfin, 30 de novembro de 2009.
  18. Em 1974, por decisão do governo federal, o Banco do Estado da Guanabara (BEG) incorporou o Banco Halles.
  19. STJ mantém ação de ressarcimento de depósitos contra a Delfin Capitalização S/A. Empresa Brasil de Comunicação S/A, 27 de março de 2002.
  20. Políticos e empresários envolvidos em grandes escândalos não foram julgados e continuam esbanjando. Revista ISTOÉ, 28 de julho de 1999.
  21. a b Denuncias a serem investigadas pela Comissão da Verdade. Sindipetro AL/SE.
  22. Como morreu Baumgarten. ISTOÉ, 24 de março de 2004.
  23. Mundo, Diario do Centro do (3 de março de 2021). «Corrupção e morte na ditadura: o caso Capemi/Baumgarten, segundo o autor do furo de reportagem». Diário do Centro do Mundo. Consultado em 6 de setembro de 2021 
  24. a b http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mt201299.htm
  25. Como morreu Baumgarten. Revista ISTOÉ, 24 de março de 2004.
  26. http://www.consciencia.org/docs/yellowcake.pdf
  27. «Arquivo Veja - Sarney arma seu ciclo». Consultado em 24 de dezembro de 2014. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2009 
  28. http://www.arqanalagoa.ufscar.br/pdf/recortes/R05135.pdf
  29. Fazenda Estrondo coleciona crimes trabalhistas e ambientais. Repórter Brasil, 26/11/2009.
  30. CPI das Universidades pede indiciamento de seis pessoas no Rio. Último Segundo, 19 de abril de 2013.

Ver também editar