Sérgio Camargo

jornalista e ex-presidente da Fundação Cultural Palmares

Sérgio Nascimento de Camargo é um jornalista e político brasileiro filiado ao Partido Liberal (PL).[1] Tornou-se conhecido por suas posições conservadoras e por ter exercido, entre 2019 a 2022, a presidência da Fundação Cultural Palmares, um órgão brasileiro de promoção da cultura afro-brasileira.[2][3][4]

Sérgio Camargo
Sérgio Camargo
Sérgio Camargo em 2020
Presidente da Fundação Cultural Palmares
Período 27 de novembro de 2019
até 31 de março de 2022
Antecessor(a) Vanderlei Lourenço
Sucessor(a) Marco Antonio Evangelista
Dados pessoais
Nascimento 15 de abril de 1965 (59 anos)
São Paulo, SP
Nacionalidade brasileiro
Progenitores Mãe: Florenice Nascimento de Camargo
Pai: Oswaldo de Camargo
Alma mater Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Partido Partido Liberal
Profissão jornalista

Biografia editar

Camargo é filho do escritor Oswaldo de Camargo[5] e irmão do produtor cultural e músico Oswaldo de Camargo Filho, mais conhecido como Wadico Camargo.[6] Em novembro de 2019, Camargo substituiu Vanderlei Lourenço no cargo da presidência da Fundação Cultural Palmares.[7] Antes de ocupar o cargo na Fundação Palmares, Camargo atuou como editor e repórter por veículos como Rádio Eldorado, CBN, Folha de São Paulo e Agência Estado.[8] Também trabalhou na edição, pesquisa e produção de obras literárias e como auxiliar particular de seu pai.[9]

Carreira editar

Presidente da Fundação Palmares editar

Em 27 de novembro de 2020, a Secretaria Especial da Cultura nomeou Sérgio Camargo para chefiar a Fundação Palmares, substituindo Vanderlei Lourenço.[10] A escolha de Sérgio Camargo foi feita pelo então secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim.[9][10] A nomeação causou uma onda de reações por conta de diversas publicações feitas por Camargo nas redes sociais, nas quais ele relativizava temas como a escravidão e o racismo no Brasil.[7][9] Em 11 de dezembro, a Justiça Federal do Ceará aceitou um pedido de ação popular e determinou a suspensão da nomeação de Camargo como presidente da Fundação Palmares.[9][11]

Em fevereiro de 2020, Sérgio Camargo voltou à presidência da Fundação Palmares.[12] No dia 10 de março de 2020, Camargo extinguiu sete órgãos colegiados (o Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares; a Comissão Permanente de Tomada de Contas Especial; o Comitê de Governança; o Comitê de Dados Abertos; a Comissão Gestora do Plano de Gestão de Logística Sustentável; a Comissão Especial de Inventário e de Desfazimento de Bens e o Comitê de Segurança da Informação) e revogou atos de nomeação dos integrantes desses comitês e comissões.[13]

Em 2021, Sérgio Camargo teve uma denúncia aberta no Ministério Público do Trabalho por crimes como assédio moral, perseguição ideológica e perseguição. As denúncias foram feitas por ex-funcionários da Fundação Palmares e o Ministério Público do Trabalho pediu pelo afastamento de Sérgio da função.[14]Em março de 2022, pediu exoneração do cargo para concorrer a uma vaga de deputado federal por São Paulo.[15]

Críticas ao movimento negro editar

Em 2019, Sérgio considerou como menores do que usualmente reconhecem-se as consequências da escravidão no Brasil, ao afirmar que "a escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes".[7] Afirmou ainda que o "Brasil tem racismo 'nutella'. Racismo real existe nos EUA. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda".[7][16][17][18][19][20] No entanto, estudos aprofundados sobre a questão demonstraram que a negação das consequências negativas da escravatura no Brasil é uma grave violência moderna por postergar a evolução social de milhões de crianças que ainda sofrem com a herança escravocrata no país.[21][22][23][24] Mesmo com a postura que vai na contramão das soluções históricas e étnico-raciais no Brasil, e depois de uma ação judicial ter afastado Camargo da função de presidente da fundação, o presidente Jair Bolsonaro insistiu em sua nomeação.[25]

Em 8 de maio de 2020, xingou um jornalista da agência de notícias Alma Negra. Camargo se referiu a Pedro Borges como alguém que "defende bandidos". Em 2022, a justiça de São Paulo tentou intimar Camargo no endereço informado ao TSE durante sua candidatura à Câmara dos Deputados. No entanto, ele não foi encontrado no local.[26]

Em 25 de junho de 2020, Camargo declarou que o movimento negro é um "conjunto de escravos ideológicos da esquerda".[27] Em áudio divulgado em maio de 2020, Camargo xingou a mãe de santo Adna dos Santos, chamando-a de "uma filha da puta de uma macumbeira",[27] e prometeu demitir diretores daquela autarquia que não tiverem como "meta" a demissão de um "esquerdista".[28] Ele ainda classificou o movimento negro como "escória maldita", que abrigaria "vagabundos", e chamando Zumbi dos Palmares de "filho da puta que escravizava pretos".[28] No mesmo áudio, Camargo também manifestou desprezo pela agenda da "Consciência Negra".

Revisionismo histórico editar

À frente da presidência da Fundação Palmares, retirou nomes da lista de homenageados como Benedita da Silva, Marielle Franco e o próprio Zumbi dos Palmares.[27] Em 2021, afirmou que as obras do acervo da Fundação passariam por uma “rigorosa avaliação” com o objetivo de excluir as que não faziam parte “do contexto dedicado à temática negra”. O levantamento seria disponibilizado no chamado “Primeiro Relatório Público Detalhado” e as obras que fossem sobre outros temas seriam doadas inicialmente. Posteriormente, a Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou que Camargo não doasse os livros, sob pena de multa, apesar dele dizer que já não era sua intenção: ‘Não se doa o que não presta’.[29]

Punição editar

Em 17 de abril de 2024, a Controladoria-Geral da União (CGU) puniu Sérgio Camargo por assédio moral. As denúncias foram reveladas pelo "Fantástico", da TV Globo, em junho de 2021, quando ele ainda estava à frente da entidade. A decisão da CGU determinou a inelegibilidade de Sérgio Camargo por oito anos, devido às infrações disciplinares. Ele também fica impedido de ser indicado, nomeado ou de tomar posse para cargos em comissão ou funções de confiança no governo federal.[30]

Política editar

No dia 29 de março de 2020, Sérgio Camargo se filiou ao Partido Liberal (PL).[31] Camargo se candidatou a deputado federal por São Paulo em 2022.[31][32] Com 13 mil votos, ele não foi eleito.[33]

Referências

  1. Mônica Bergamo. «Presidente da Fundação Palmares filia-se ao PL». Folha de S.Paulo. Consultado em 29 de março de 2022. Cópia arquivada em 30 de março de 2022 
  2. «Presidente da Fundação Palmares repudia Zumbi, que dá nome à instituição». Notícias. UOL. 14 de maio de 2020. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  3. «Novo presidente da Fundação Palmares nega a existência de racismo no Brasil e manda artistas 'de volta para África'». Estado de Minas. 27 de novembro de 2019. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  4. «Decretos de 30 de março de 2022». Diário Oficial da União. 31 de março de 2022. Consultado em 31 de março de 2022 
  5. «Nomeado para Palmares que ataca movimento negro é filho de escritor ativista». Folha de S. Paulo. 28 de novembro de 2019. Consultado em 4 de junho de 2020 
  6. «'Tenho vergonha de ser irmão desse capitão do mato', diz Wadico Camargo sobre presidente da Fundação Palmares». Época. 28 de novembro de 2019. Consultado em 3 de junho de 2020 
  7. a b c d «Novo presidente da Fundação Palmares minimiza racismo no Brasil em post; entidades criticam». G1. 28 de novembro de 2019. Consultado em 3 de junho de 2020 
  8. «Curriculum – Sérgio Camargo». Fundação Cultural Palmares. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  9. a b c d «Após decisão da Justiça, governo suspende nomeação do presidente da Fundação Palmares». G1. 12 de dezembro de 2019. Consultado em 28 de junho de 2022 
  10. a b Soares, Ingrid (27 de novembro de 2019). «Presidente da Fundação Palmares nega racismo, e pede fim do movimento negro». Correio Braziliense. Consultado em 28 de junho de 2022 
  11. «Governo recorre da decisão que suspendeu nomeação de Sérgio Camargo para Fundação Palmares». G1. 9 de dezembro de 2019. Consultado em 28 de junho de 2022 
  12. «Com futuro incerto, Sérgio Camargo volta à Fundação Palmares». Exame. 27 de fevereiro de 2020. Consultado em 28 de junho de 2022 
  13. «Presidente da Fundação Palmares exclui órgãos e passa a concentrar decisões». Folha de S. Paulo. 10 de março de 2020. Cópia arquivada em 4 de maio de 2020 
  14. «Ministério Público do Trabalho pede afastamento de Sérgio Camargo da Fundação Palmares». Extra Online. Consultado em 30 de agosto de 2021 
  15. «'Chora, negrada vitimista', diz Camargo após sair da Fundação Palmares». www.uol.com.br. Consultado em 18 de abril de 2024 
  16. «Presidente da Fundação Palmares nega racismo, e pede fim do movimento negro». Correio Braziliense. 27 de novembro de 2019. Consultado em 2 de agosto de 2020 
  17. Araújo, Thalis (27 de novembro de 2019). «Presidente da Fundação Palmares nega escravidão no Brasil e exige fim do movimento negro». JC. Consultado em 2 de agosto de 2020 
  18. «'Negro de direita', presidente da Fundação Palmares disse que escravidão foi benéfica». Folha de S. Paulo. 27 de novembro de 2019. Consultado em 22 de outubro de 2021 
  19. Testi, Fabiola (27 de novembro de 2019). «Novo presidente da Fundação Palmares nega existência de racismo». Metrópoles. Consultado em 22 de outubro de 2021 
  20. Soares, Jussara; Gullino, Daniel (27 de novembro de 2019). «Novo presidente da Fundação Palmares nega existência de racismo e pede fim do movimento negro». O Globo. Consultado em 22 de outubro de 2021 
  21. Freyre, Gilberto (2003). Fonseca, Edson Nery da; Tuna, Gustavo Henrique, eds. Sobrados e mucambos : decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano 14ª rev ed. São Paulo: Global. OCLC 55938210 
  22. Freyre, Gilberto (2003). Fonseca, Edson Nery da; Tuna, Gustavo Henrique, eds. Casa-grande & senzala : formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal 49ª ed. São Paulo: Global Editora. OCLC 55103981 
  23. «A herança da escravidão para o Brasil». Notícias do Jardim São Remo. Consultado em 2 de agosto de 2020 
  24. «Trabalho infantil negro é maior por herança da escravidão». Trabalho Infantil SP. Consultado em 2 de agosto de 2020 
  25. «Bolsonaro garante chefia da Fundação Palmares a Sérgio Camargo». Metrópoles. 13 de dezembro de 2019. Consultado em 2 de agosto de 2020 
  26. almapreta. «Sérgio Camargo não é localizado pela justiça por ataque à jornalista da Alma Preta». Terra. Consultado em 18 de abril de 2024 
  27. a b c «Movimento negro é conjunto de escravos ideológicos da esquerda, diz Camargo». Notícias. UOL. 16 de junho de 2020. Consultado em 2 de agosto de 2020 
  28. a b «Presidente da Fundação Palmares: movimento negro é "escória maldita". Ouça». Metrópoles. 2 de junho de 2020. Consultado em 3 de junho de 2020 
  29. «"Não se doa o que não presta", diz Sérgio Camargo sobre livros "comunistas"». MSN. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  30. Fábio Amato e Pedro Alves Neto (17 de abril de 2024). «CGU pune Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Palmares, por assédio moral». G1. Consultado em 17 de abril de 2024 
  31. a b «Sérgio Camargo sai da presidência da Palmares e se lança candidato a deputado». Folha de S.Paulo. 31 de março de 2022. Consultado em 28 de junho de 2022 
  32. Maquiavel (15 de junho de 2022). «Sergio Camargo ataca Wagner Moura por investigação do caso Dom e Bruno». VEJA. Consultado em 28 de junho de 2022 
  33. Maia, Gustavo (3 de setembro de 2022). «O fiasco eleitoral de Sergio Camargo em São Paulo | Radar». VEJA. Consultado em 30 de outubro de 2022