Saade Almostaim

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ʾAbu Nácer Saade ibne Ali ibne Iúçufe (em árabe: أبو نصر "المستعين" سعد بن علي بن يوسف; romaniz.:ʾAbū Naṣr al-Mustaʿīn Saʿd ben ʿAlī Ben Yūsuf, cognominado Almostaim (em árabe: مستعين, "que é apoiado [por Deus]") e conhecido como Ciriza, Cidi Sad ou Mulei Zade nas crónicas castelhanas (m. 1465) foi o 20º rei nacérida de Granada em duas ocasiões entre 1455 e 1464. Era neto de Iúçufe II e sobrinho de Iúçufe III (r. 1408–1417), e sucedeu a Maomé XI (El Chiquito), que derrubou com o apoio de Castela. O seu reinado foi interrompido durante alguns meses em 1462 pelo seu irmão Abu Alhajaje Iúçufe (Iúçufe V). Foi sucedido pelo seu filho Alboácem Ali (Mulei Alboácem ou Mulhacém), que o destronou em 1464.

Saade Almostaim
Emir ou rei de Granada

Brasão do Reino de Granada
Reinado 1455agosto de 1464
Antecessor(a) Maomé XI
Sucessor(a) Alboácem Ali
Morte 1465
Dinastia Nacéridas
Filho(s) Alboácem Ali

Ascensão ao trono editar

Durante a última parte do seu reinado, a partir de 1451, senão antes, Maomé IX Alaiçar partilhou o trono com Maomé XI, que nomeou seu sucessor e com quem casou com a sua filha. Quando Maomé IX morreu em 1453, Maomé XI assumiu sozinho o trono. No início de 1454, os Abencerragens,[a] que tinham começado por não se opôr à sua proclamação, resolvem procurar um novo candidato ao trono, acabando por escolher Abu Nácer Saade que proclamam rei em Archidona em julho, mas Maomé el Chiquito continua a controlar a capital e as cidades mais importantes do reino.[1]

Entretanto, em Castela, Álvaro de Luna, o valido do rei João II, tinha perdido a confiança deste e foi executado a 2 de junho de 1453 em Valladolid. João II morre a 21 ou 22 de julho de 1454, pouco depois da proclamação de Saade em Archidona, sucedendo-lhe Henrique IV. Alguns dias depois da coroação de Henrique, chega à sua corte Alboácem Ali, filho de Saade, que vai ficar como refém do rei castelhano juntamente com mais 350 granadinos em troca do apoio pedido pelos Abencerragens a Castela para colocar Saade no trono de Granada.[1]

Henrique IV prossegue e amplifica a política de assédio na fronteira do reino de Granada e atiça as divisões internas na dinastia nacérida. As incursões castelhanas em território nacérida repetem-se todos os anos, embora sem grandes consequências, aparentemente servindo mais para entreter os nobres e evitar que tenham ideias de rebelar-se e para justificar o dinheiro recebido por conta da cruzada decretada pelo Papa Calisto III, pois segundo um cronista da época, Henrique gastou muito pouco com a "guerra dos mouros".[1]

Na primavera de 1455, o emirado granadino encontrava-se dividido em três: Maomé el Chiquito controlava Málaga, Guadix e Almeria; Saade continuava em Archidona e tinha sob as suas ordens a guarnição africana de Ronda; por fim, os castelos de Íllora e de Moclín, bem como a importante posição estratégica de Gibraltar encontravam-se sob o controlo dos antigos apoiantes de Maomé Alaiçar.[b] Henrique IV entrou na Veiga de Granada com um poderoso exército, os granadinos mantiveram-se fiéis a Maomé XI. Em maio de 1455, as forças castelhanas penetram até Málaga, que resiste sob o comando de [[ibne Albar e ibne Cumasa. Saade encontra-se com o rei castelhano para lhe prestar homenagem.[1]

Saade Almostaim, apoiado pelos Abencerragens e por Castela, toma o poder em Granada ainda em 1455.[c] Maomé XI refugia-se nas Alpujarras.[1]

Primeiro reinado (1455-1462) editar

Saade Almostaim, apoiado pelos Abencerragens e por Castela, toma o poder em Granada em 1455. No mesmo ano, Henrique IV de Castela cerca Álora mas não chega a conquistá-la. Em 1456, os adversários de Henrique retomam Estepona, Jimena de la Frontera e Benalmádena, que abandonam pouco depois. Os habitantes de Benalmádena refugiam-se em Mijas e voltam à sua terra em seguida, para a reconstruirem. A trégua com Castela termina em 1461 e Castela conquista Fuente de Piedra. O governador castelhano de Xaém, Miguel Lucas de Iranzo, faz duas incursões no reino de Granada; estas entradas audaciosas causam grande agitação entre os granadinos.[1]

A 11 de abril de 1462, o príncipe herdeiro de Granada, Alboácem Ali, derrota Luis Pernia, governador de Osuna, e Rodrigo Ponce de León, filho do conde de Arcos, numa batalha travada em El Madroño. A 28 de julho de 1462, Pedro Girón, grão-mestre da Ordem de Calatrava, conquista Archidona.[2] A 16 de agosto, o duque de Medina Sidonia, Juan Pérez de Guzmán e o conde de Arcos tomam Gibraltar graças à ajuda dum muçulmano convertido ao cristianismo.

Em Granada, Saade Almostaim tenta desculpar-se destas ameaças castelhanas pondo as culpas nos Abencerragens, que são quem na realidade dirigem o reino, acusando-os de gastarem os impostos e de não pagarem o tributo a Castela. Saade tenta libertar-se da tutela dos Abencerragens que o tinham colocado no poder e para se proteger da fúria popular, ordena a prisão de alguns deles e manda assassinar os membros mais poderosos daquela família.[2]

Interregno (1462) e segundo reinado (1462-1464 editar

Os restantes Abencerragens fogem para Málaga e fomentam uma rebelião contra Saade. Em outubro de 1462, este refugia-se em Almeria. Os legitimistas tentam repor no trono Maomé XI el Chiquito. Este cai numa armadilha montada por Alboácem Ali, filho de Saade Almostaim, e acaba degolado na Alhambra juntamente com os seus filhos.[1] Finalmente Abu Alhajaje Iúçufe V chega a Granada na companhia dos Abencerragens e com o apoio de Castela é assume o trono.[1]

No verão de 1463, Alboácem Ali entra em Granada, fazendo com que Iúçufe V fuja para Íllora com os Abencerragens. Alboácem devolve então o trono ao seu pai Saade. Iúçufe V morre pouco depois. Em agosto de 1464 Saade é deposto pelo seu filho Alboácem, que entretanto se tinha aliado aos Abencerragens.[1]

Notas editar


[a] ^ Os Abencerragens eram um poderoso clã árabe que tinha tido um papel fundamental nas lutas pelo poder de Alaiçar (que subiu ao trono derrubando o rei legítimo Maomé VIII Almotamassique, primeiro em 1419 e depois em 1429.


[b] ^ José Tapia Garrido refere apenas que El Chiquito controlava a maior parte das cidades, Saade controlava Archidona e Ronda e Almeria se encontrava controlada por um filho de Ciriza chamado Maomé Alzagal, o qual era apoiado pelo seu sogro ibne Celim Anaiar.[1] Esta última situação parece estar em contradição com a estimativa do filho de Ciriza conhecido como el Zagal, futuro Maomé XIII (r. 1485–1487) ter nascido em 1444. Ibne Celim Anaiar é também o nome pelo qual é conhecido pelos castelhanos um dos reis de Granada.


[c] ^ Tapia Garrido não indica o ano exato em que Saade se apoderou de Granada, referindo apenas que «o rei Chiquito deve ter sido acabado por ser destronado, por el Zagal, num documento lavrado em 1456 em Almeria intitula-se rei de Granada».[1]
  1. a b c d e f g h i j k Tapia Garrido, p. 245-246
  2. a b Shamsuddín Elía 2006.

Bibliografia editar

Precedido por
Maomé XI
Rei de Granada
1455-1462
Sucedido por
Iúçufe V
Precedido por
Iúçufe V
Rei de Granada
1462-1464
Sucedido por
Alboácem Ali ben Saade