Sapatão
Os termos sapatão, sapatona (português brasileiro) ou fufa (português europeu) são gírias ou calões usados como substantivo que significam lésbica ou sáfica[1][2] e como adjetivo que descreve coisas associadas à lesbiandade e a saficidade.[3][4] Originou-se como um palavrão lesbofóbico (homofóbico e misógino) para uma menina ou mulher masculinizada,[5] butch ou andrógina.[6] Enquanto o uso pejorativo da palavra ainda existe, o termo sapa foi reivindicado por lésbicas e sáficas fora do armário e que expressam orgulho sáfico e lésbico,[7][8] implicando assertividade e resistência, ou simplesmente como sinônimo comum para lésbica/sáfica.[9][10][11]

Em inglês, dyke é a gíria mais semelhante ao uso de sapatão,[12] gouine em francês, sendo gouinage usado semelhante a frot,[13][14] no Brasil, para uma posição sexual em que a pessoa prefere sexo sem penetração, como termo alternativo a ativo, passivo e versátil.[15][16][17]
História
editarNo Brasil, a marchinha de carnaval intitulada de Maria Sapatão ajudou a difundir o termo na década de 1980,[18][19] no entanto o termo terá origem dentre a década de 1920 ou 1930,[20][21] quando algumas lésbicas, descartando os delicados calçados femininos, optavam por sapatos masculinos,[22] sendo eles proporcionalmente muito grandes, acabavam sendo chamadas de sapatões.[23][24][25][26][27]
Em Portugal, o termo pejorativo é intitulado "fufa", relacionado a mulheres homossexuais.[28]
A frase "Sapatonas! Eu sinto longe o cheiro de couro", dita pela vilã Nazaré Tedesco, interpretada por Renata Sorrah na telenovela Senhora do Destino (2004), viralizou no milênio III. Couro faz referência aos sapatos de couro.[29][30]
Em certos países colonizados por portugueses, algumas mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) eram deportadas para Portugal quando tiradas do armário.[31][32][33]
Uso
editarEmbora sapatão e fufa sejam usados majoritariamente implicando mulheridade,[34] monossexualidade, alossexualidade e cisgeneridade,[22][35] outros grupos também reivindicam a expressão para si como identificação autônoma.[36][37]
O termo vem sido adotado por pessoas trans e não-binárias também.[38][39] Sapatrans é usado como um termo para descrever lésbicas trans e sáficas trans,[40][41] geralmente transfemininas e travestis,[42] entretanto alguns indivíduos transmasculinos[43][44] e neutrois estão incluídos.[45][46] Há também o uso de sapatransviade,[47][48] usando neolinguagem em transviado.[49][50] O termo sapadrão foi popularizado no TikTok.[51][52][48]
Algumas mulheres bissexuais e pansexuais reivindicam a identidade sapa,[7][53][54] muitas já foram chamadas de sapatão[55] ou fufa e percebem que o termo é usado biopoliticamente,[56][57] independente de sua orientação sexual.[58][59] Em inglês é possível encontrar gírias específicas, como byke e bi-dyke.[60][61][62]
A palavra sapatão é frequentemente traduzida para o inglês, seja de forma humorística ou como filtro de palavra (em inglês: wordfilter), para big shoes, significando sapato grande em inglês.[63][64]
Ver também
editarReferências
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