Vetkopers e Schieringers

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Os Vetkopers e Schieringers foram duas facções opostas na política frísia do período medieval. Responsáveis por uma guerra civil sangrenta que durou mais de um século (13501498) e acabou levando ao fim da chamada liberdade frísia.

Esses partidos chegaram ao poder devido à queda na economia que teve início na Frísia em meados do século XIV. Acompanhado de um declínio nos monastérios e outras instituições comunais, a discórdia social levou ao surgimento de nobres sem título chamados hoofdelingen (do neerlandês que significa "pessoas importantes"), ricos donos de terras que possuíam grandes propriedades e casas fortificadas.[1] Os hoofdelingen adquiriram sua nobreza não por terem terras ou títulos conferidos pelo rei ou imperador, mas após a queda dos condes neerlandeses, que perderam seu poder antes deles.[2]

Os hoofdelingen assumiram o papel judiciário e ofereceram proteção aos habitantes locais. Lutas internas entre líderes regionais resultaram em grandes conflitos e no alinhamento de regiões entre dois partidos opostos: os Schieringers e os Vetkopers.

O escritor frísio Worp van Thabor atribuiu a causa a uma disputa entre os irmãos das ordens de Cister e Premonstratense (ou norbertina).

Schieringers em Medemblik, pedindo proteção a a Alberto, duque de Saxe, em março de 1498, de Julius Scholz (1825-1893), exposto no museu Albrechtsburg Meissen, na Alemanha.

Contemporâneo a esses acontecimentos, o combatente da liberdade frísios Jancko Douwama (1482 - 1533) escreveu em seu livro de memórias, intitulado Boeck der Partijen ("Livro dos Partidos") sobre as origens da discórdia entre os partidos beligerantes e deu sua definição sobre os termos Schieringer e Vetkoper. De acordo com Jancko, os Vetkopers ("compradores gordos") eram assim chamados porque tinham muitas posses e podiam comprar produtos caros. Os pobres adotaram o nome Schieringers ("oradores"), porque tentavam discutir antes de apelar à violência.[3]

Na segunda metade do século XV, a cidade Vetkoper de Groninga, que havia se tornado a força dominante na Frísia, tentou interferir nos negócios da Média Frísia.[4] Essa intromissão encontrou forte oposição em Westergo, dominada pelos Schieringers, e terminou em clamor por ajuda estrangeira.

Em 21 de março de 1498,[5] um pequeno grupo de Schieringers de Westergo encontrou-se secretamente com o general-stadthouder dos Países Baixos Alberto, duque de Saxe, em Medemblik, pedindo sua ajuda.[6] Alberto, que havia obtido reputação como um comandante militar formidável, aceitou a proposta e logo conquistou toda a Frísia. O imperador Maximiliano I de Habsburgo designou Alberto como Podestà hereditário e governador da Frísia em 1499.[7]

Em pouco tempo, a ocupação do duque e suas tropas de Lansquenês tornou-se inaceitável para muitos frísios das duas facções e, com o apoio do Duque de Gueldres, eles tentaram, sem sucesso, reobter sua antiga liberdade e pôr um fim no controle da Frísia.

A dominação saxã acabou com a independência municipal frísia. Apesar de ainda ser falada à época, a língua frísia não tinha qualquer aceitação oficial. A Frísia desapareceria dos documentos oficiais; o último registro escrito nessa língua foi em 1573.[8] A Frísia foi substituída pelos Países Baixos e não retornaria até cerca de 1800.[9]

Referências

  1. Medieval Germany: An Encyclopedia, John M. Deep (2001), Alemanha.
  2. N.E. Algra, Frisia, the Empire and the Eighth Statute. in: Rolf H. Bremmer (ed.), Approaches to Old Frisian Philology (1998), p. 65.
  3. Boeck der Partijen' (Livro dos Partidos), de Jancko Douwama.
  4. Evolution of the Money Standard in Medieval Frisia, de Dirk Jan Henstra, pub. 2000, p. 229
  5. Markus Meumann, Jörg Rogge (Hg.) Die besetzte "res publica" Zum Verhältnis von ziviler Obrigkeit und militärischer Herrschaft in besetzten Gebieten vom Spätmittelalter bis zum 18. Jahrhundert (2006), p. 137
    Papéis de uma conferência ocorrida em 20 e 21 de setembro de 2001, na Martin-Luther-Universität Halle-Wittenberg. ISBN 3825863468
  6. The New Encyclopedia Britannica, publicada por Encyclopaedia Britannica Inc. (1993), p. 214.
  7. The Dutch Republic in the Seventeenth Century: The Golden Age (2005), de Maarten Prak.
  8. Frisian (Trends in linguistics) de Thomas L Markey, Mouton Publishers (1981), p. 50. ISBN 9027931283
  9. Germanic Standardizations: Past to Present, editado por Ana Deumert, Wim Vandenbussche (2003), ISBN 9027218560.
    Páginas 193 – 195, "Frisian - Standardization in progress of a language in decay".