Seduction of the Innocent

Seduction of the Innocent é um livro do psiquiatra alemão Fredric Wertham, publicado em 1954, que alertou os leitores sobre a tese das revistas em quadrinhos serem um forma ruim de literatura popular e um sério fator da delinquência juvenil. O livro causou um rebuliço entre os pais americanos e influenciou uma campanha para a censura desse tipo de publicações. Ao mesmo tempo, o Congresso americano lançou uma investigação tendo como foco a indústria de quadrinhos. Logo após a publicação de Seduction of the Innocent, o Comics Code Authority ou Código dos quadrinhos foi elaborado pelos próprios editores, que passaram a regular o conteúdo do setor e se autocensurarem.

Seduction of the Innocent
Seduction of the Innocent
Autor(es) Fredric Wertham
Idioma Inglês
País Estados Unidos
Lançamento 1954
Edição brasileira
ISBN ISBN 85-336-0292-8
Capa de revista de horror, um dos alvos de Whertam.

Seduction of the Innocent traz inúmeras citações de revistas publicadas, que aludiriam a violência, sexo, uso de drogas e outros assuntos adultos, reunidos todos sob o jargão usado pelo autor de "quadrinhos de crime" — que servia para que Wertham incluísse além das populares histórias de gângster/assassinatos, também super-heróis e horror.

Os quadrinhos, especialmente os de crime/horror publicados pioneiramente pela EC, tiveram os desenhos largamente reproduzidos por Wertham, que disse que os mesmos "feriam os olhos".[nota 1] Várias outras conjecturas foram feitas sobre as imagens e enredos, particularmente os que supostamente traziam menções sobre sexo (é sempre lembrada a alusão de que Batman e Robin mantivessem uma relação homossexual). Wertham também afirmou que a Mulher Maravilha tinha um subtexto de "servidão sexual" que foi bem documentado, com o próprio criador William Moulton Marston admitindo essa possibilidade; contudo, Wertham também disse que a força e a independência da Mulher Maravilha a caracterizavam como lésbica. Tradicionalmente, a heroína sempre foi mostrada como heterossexual e virgem.[1] Outro herói a ser comentado foi o Superman, que foi definido como fascista e antiamericano.

Wertham criticou as relações comerciais envolvendo as editoras e o mercado de varejo. Ele simpatizava com os varejistas que não queriam vender quadrinhos de horror mas eram compelidos a isso pelos distribuidores.


Desde 1948, Wertham escreveu artigos e palestrou sobre o assunto, discutindo sobre os efeitos prejudiciais que a leitura dos quadrinhos tiveram sobre os jovens.[2]


Repercussão editar

 
Capa da Planet Comics número 53 (março de 1948), arte de Joe Doolin., um dos títulos citados por Wertham em Seduction of the Innocents[3].

A fama angariada por Seduction of the Innocent transformou Wertham em celebridade e lhe deu a reputação de perito nesses assuntos, o que levou a que fosse chamado para testemunhar no Subcomitê do Senado que investigava a delinquência juvenil, liderado pelo cruzado anticrime Estes Kefauver. Num longo depoimento diante do comitê, Wertham repetiu seus argumentos escritos no livro e apontou os quadrinhos como a maior causa dos crimes juvenis. A testemunha seguinte a ser ouvida foi o editor da EC, William "Bill" Gaines, indagado sobre os quadrinhos violentos que Wertham havia descrito. O comitê apresentou um relatório final que não culpava os quadrinhos pelos crimes mas recomendava aos empresários do setor que mudassem o conteúdo voluntariamente. Possivelmente tomada como uma ameaça velada de intervenção, fez com que os editores resolvessem aprovar o Comics Code Authority, se autocensurando. O texto aprovado não somente bania as imagens violentas, mas também proibia o uso de várias palavras e conceitos, tais como "terror" e "zumbis", além de determinar que os criminosos fossem sempre punidos. O código acabou com a maioria dos títulos do estilo EC, permanecendo apenas os de super-heróis, bastante "higienizados", que se tornaram o principal gênero das revistas em quadrinhos. Wertham contudo achava que o Código era inadequado como proteção da juventude.

Seduction of the Innocent foi ilustrado com reproduções de quadrinhos, mostrados como evidências da tese do livro, acompanhados de legendas em que Wertham fazia comentários sarcásticos. A primeira edição do livro tinha uma lista bibliográfica das revistas das quais foram copiadas as ilustrações, porém, com receio de processos judiciais por parte das editoras, a página foi arrancada das edições em circulação. Os livros com essa lista se tornaram raros e disputados pelos colecionadores. Entre esses aficionados, aliás, as histórias cujas cenas foram usadas ou citadas no livro passaram a ser referidas como uma das "sedutoras", o que valorizava a referida revista.

Wertham sempre negou que fosse a favor da censura ou era contra os quadrinhos, e em 1970 ele se concentrou o seu interesse sobre os aspectos benignos da subcultura do fandom de quadrinhos e ficção científica; em seu último livro, The World of Fanzines (1974), ele concluiu que fanzines eram "um exercício construtivo e saudável de impulsos criativos".[4]

Falsificação de informações editar

Wertham "manipulou, exagerou, comprometeu, e fabricou provas em apoio das alegações expressas em Seduction of the Innocent.[5] Suas descrições de conteúdos quadrinhos eram frequentemente enganosas. Ele comparou o Besouro Azul para um pesadelo kafkiano, deixando de mencionar que o Besouro Azul é um homem e não, de facto, um inseto.[6]

Cultura popular editar

  • Will Eisner na revista The Spirit lançou uma história (provavelmente escrita por seu assistente Jules Feiffer) que parodiava a histeria anti-quadrinhos. Escrita e ilustrada no estilo da EC, tendo como narrador um professor acadêmico, mencionado de passagem como o professor de psiquiatra Dr Wolfgang Worry que conduz uma "queima semanal de livros".[7]

Notas

  1. como os notáveis desenhos de Jack Cole em "Murder, Morphine and Me" que apareceu em True Crime Comics Vol.1 #2 de maio de 1947.

Referências

  1. Wertham, Fredric (1954) Seduction of the Innocent., pp. 192, 234-235, Reinhart & Company, Inc.
  2. «A grande cruzada contra os quadrinhos». Consultado em 22 de abril de 2017. Arquivado do original em 22 de abril de 2017 
  3. Ivy Press (2006). HCA Heritage Comics Auction Catalog. [S.l.]: Heritage Capital Corporation. 189 páginas. 1599670933, 9781599670935 
  4. Christensen, William; Seifert, Mark (fevereiro de 1997). «Anos terríveis». Editora Globo. Wizard (7): 38-43 
  5. L. Tilley, Carol (2019). «Os leitores de histórias em quadrinhos no meio das mentiras de Fredric Wertham». USP. 9ª Arte. 8 (1): 9–17. ISSN 2316-9877 
  6. Sérgio Codespoti (20 de dezembro de 2013). «Fredric Wertham manipulou dados do livro Sedução do Inocente». Universo HQ 
  7. N. C. Christopher Couch e Stephen Weiner (2004). The Will Eisner Companion: The Pioneering Spirit of the Father of the Graphic Novel. [S.l.]: DC Comics. 67 páginas. 9781401204228 
Bibliografia
  • Beaty, Bart (2005). Fredric Wertham and the Critique of Mass Culture. Imprensa da Universidade de Mississippi, ISBN 1-57806-819-3.
  • Nyberg, Ami Kiste (1998). Seal of Approval: The History of the Comics Code, Imprensa da Universidade do Mississippi, ISBN 0-87805-975-X.
  • Wright, Bradford W. (2001). Comic Book Nation: The Transformation of Youth Culture in America, Johns Hopkins University Press, ISBN 9780801865145
  • Christensen, William; Seifert, Mark (fevereiro de 1997). «Anos terríveis». Editora Globo. Wizard (7): 38-43 
Web