Seretse Khama

Primeiro presidente do Botswana

Seretse Khama, KBE, foi rei da Bechuanalândia e, posteriormente, o primeiro presidente do Botswana, cargo que ocupou desde a independência do país (conquistada por ele) em 1966 até sua morte.

Seretse Khama
Seretse Khama
Seretse Khama, Rei da Bechuanalândia
1Presidente do Botswana
Período 30 de setembro de 1966
a 13 de julho de 1980
Vice-presidente Quett Masire[1]
Sucessor(a) Quett Masire[1][2]
Primeiro-Ministro de Botswana
Período 3 de março de 1965
a 30 de setembro de 1966
Antecessor(a) Cargo criado
Sucessor(a) Cargo abolido
Dados pessoais
Nascimento 1 de julho de 1921
Serowe, Bechuanalândia
Morte 13 de julho de 1980 (59 anos)
Gaborone, Botswana
Alma mater Universidade de Fort Hare
Balliol College, Oxford
Cônjuge Ruth Williams
Partido Partido Democrático do Botswana
Religião Cristão
Profissão Barrister

Nascido na vila de Serowe, no então protetorado britânico da Bechuanalândia, em 1.° de julho de 1921, Khama era originário de uma das famílias reais mais poderosas do país. Depois de educar-se na vizinha África do Sul e no Reino Unido, retornou ao seu país natal para liderar o movimento pela independência da Bechuanalândia. Em 1962, fundou o Partido Democrático do Botswana e, em 1965, tornou-se primeiro-ministro. No ano seguinte, o Botswana conquistou a independência e Khama tornou-se presidente. Em 13 de julho de 1980, faleceu na capital Gaborone, vítima de um câncer pancreático. Durante sua presidência, o país experimentou um rápido desenvolvimento econômico e social.[3][4][5]

Primeiros anos e educação editar

 
Khama III, avô paterno de Seretse Khama.

Seretse Khama nasceu no dia 1° de julho de 1921 na vila de Serowe, no então Protetorado britânico da Bechuanalândia. Filho de Sekgoma Khama e neto de Khama III, o kgosi ("chefe") dos bamanguatos, ele recebeu o nome de Sretse ("a argila que une") em referência à recente reconciliação entre seu pai e seu avô. A mãe de Seretse, Tebogo Kebailele, foi escolhida pelo kgosi Khama para ser a nova esposa do já idoso Sekgoma. Quando Sekgoma falece em 1925, Seretse, na época com apenas quatro anos de idade, é proclamado kgosi. Seu tio Tshekedi Khama torna-se regente e mais tarde seu único guardião.[3][4][5]

Seretse estudou em internatos na União Sul-Africana. Em 1944 gradua-se bachelor of arts pela Universidade de Fort Hare. No ano seguinte, é enviado à Inglaterra para estudar direito. Após um ano no Balliol College (Oxford), ele matricula-se no Inner Temple em Londres, a fim de tornar-se barrister.[3][4][5]

Casamento e exílio editar

Em 1947, Seretse Khama conhece uma mulher inglesa de sua idade, chamada Ruth Williams e com a qual casa-se em setembro de 1948. Ruth Williams era filha de um oficial de reserva do exército britânico e, durante a Segunda Guerra Mundial, serviu no Women's Auxiliary Air Force como motorista de ambulâncias. Tshekedi Khama ordena que Seretse retorne à Bechuanalândia a fim de repreendê-lo e exigir o divórcio. Seretse volta imediatamente e é recebido por Tshekedi com as seguintes palavras: "Você, Seretse, voltou para cá arruinado pelos outros, não por mim".[nt 1] No entanto, após uma série de kgotlas ("reuniões públicas") realizadas em Serowe, Seretse volta a opinião pública contra Tshekedi, e em 21 de junho de 1949 é declarado kgosi, e sua nova esposa é calorosamente recebida. Tshekedi reconhece a derrota e em seguida parte para um auto-exílio.[3][4][5]

 
Seretse Khama exilado na Grã­‐Bretanha, com a sua esposa inglesa, Ruth Williams, e a sua filha, em março de 1952. (Foto: The Hulton­‐Deutsch Collection, Londres).

O matrimônio entre um chefe tribal negro e uma mulher branca teve repercussão para além das fronteiras da Bechuanalândia, e em especial na União Sul-Africana, que, tendo instituído o apartheid, não desejava, em um território vizinho, um casamento inter-racial que pudesse repercutir no país.[6] O Reino Unido necessitava do ouro e do urânio da África Austral e, diante da pressão sul-africana, Seretse Khama é obrigado a exilar­‐se na Grã­‐Bretanha em 1951 e tem que renunciar a qualquer direito na chefatura, para ele e para a sua descendência. O governo trabalhista de Clement Attlee nega estar se curvando diante do racismo, e um inquérito judicial é forjado com a alegação de que Khama seria incapaz de exercer suas funções (um segundo inquérito, que atesta a aptidão de Seretse, é mantido sob sigilo por mais de trinta anos). Em 1952, o novo governo conservador de Winston Churchill declara o exílio permanente.[3][4][5]

O tratamento dado pelos governos britânicos ao casal Khama recebeu cobertura da imprensa mundial, e manifestações de indignação e solidariedade vieram de várias partes do mundo: da Escócia e da África Ocidental, passando por nacionalistas indianos, ativistas pelos direitos humanos, comunistas ingleses, e até mesmo de conservadores, apoiadores da herança aristocrática. Finalmente, em 1956, o novo ministro das Relações com a Comunidade de Nações adota uma nova postura de distanciamento do racismo institucionalizado da África do Sul, e decide permitir que Seretse e Ruth retornem à Bechuanalândia como cidadãos privados.[5]

De volta à sua terra natal, apesar de ainda ter o respeito e o reconhecimento de seu povo, Khama é geralmente encarado como sendo um homem defasado e anacrônico. Ele não consegue ser bem sucedido em sua tentativa de tornar-se pecuarista, e sua saúde, que inspirava cuidados desde a infância, degradou-se até ser diagnosticado diabético em 1960. Surpreendentemente, Seretse Khama emerge em 1961 como um destacado político nacionalista.[3][5]

Independência e presidência editar

"Estamos praticamente sozinhos na África Austral em nossa crença de que uma sociedade não racial pode funcionar agora, e há aqueles entre nossos vizinhos que ficariam muito satisfeitos em ver nosso experimento falir".[nt 2]

— Seretse Khama, sobre a independência do Botswana.

Seretse Khama funda em 1962, junto com Quett Masire, o Partido Democrático da Bechuanalândia (após a independência, Partido Democrático do Botswana, BDP).[7] Entre os principais temas da agenda promovida por Khama estavam a defesa de uma sociedade não racial, democrática e tradicional, onde os chefes e os tribunais tradicionais gozariam de um importante papel, e a necessidade de um governo responsável como primeiro passo para a independência do protetorado. Ao mesmo tempo, Seretse pressionava as autoridades britânicas no sentido de um processo de independência, que se apresentaria como desafiador.[4][8] Em 1965, a capital da Bechuanalândia é transferida de Mafiking, na África do Sul, para a recém-fundada Gaborone.[nt 3] Neste mesmo ano, o liberal-democrático BDP conquista 28 das 31 cadeiras eletivas da Assembleia Nacional, derrotando os seus oponentes pan-africanistas e socialistas nas eleições que antecederam a independência.[8][9] Em 30 de setembro de 1966, a Bechuanalândia conquista sua independência, e Seretse Khama torna-se o primeiro presidente da República do Botswana.[3][4][5]

Notas de rodapé editar

[nt 1] ^ No original: "You, Seretse, come here ruined by others, not by me".[10]
[nt 2] ^ No original: "We stand virtually alone in Southern Africa in our belief that a non-racial society can work now, and there are those among our neighbors who would be only too delighted to see our experiment fail".[11]
[nt 3] ^ A cidade sul-africana de Mafiking (atual Mafikeng) foi a capital da Bechuanalândia entre 1894 e 1965, dando origem à curiosa situação de um território administrado a partir de uma capital localizada em um outro país.[8][12]

Referências

  1. a b Morton, Ramsay & Mgadla 2008, p. 208.
  2. «Botswana». World Statesmen. Consultado em 28 de outubro de 2014 
  3. a b c d e f g «President Seretse Khama». South African History Online. Consultado em 28 de dezembro de 2014 
  4. a b c d e f g «Biography of the African statesman: Sir Seretse Khama». About.com. Consultado em 28 de dezembro de 2014 
  5. a b c d e f g h «Sir Seretse Khama». University of Botswana History Department. Consultado em 28 de dezembro de 2014 
  6. Chanaiwa 2010, p. 317.
  7. Leonard 2005, p. 907.
  8. a b c «Botswana: History». The Commonwealth. Consultado em 13 de dezembro de 2015 
  9. Shillington 2005, pp. 288-290.
  10. Dutfield 1990, p. 55.
  11. African-American Institute 1966, p. 19.
  12. «History». Mahikeng Local Municipality. Consultado em 13 de janeiro de 2015 

Bibliografia editar

  • African-American Institute (1966). Africa Report. Nova Iorque: African-American Institute. ISSN 0001-9836 
  • Behnke, Alison (2009). Botswana in pictures. Minneapolis: Twenty-First Century Books. 80 páginas. ISBN 9780810854673 
  • Dutfield, Michael (1990). A marriage of inconvenience: the persecution of Ruth and Seretse Khama. Gaborone: Pula Press. pp. xiii, 223. ISBN 9991261958 
  • Chanaiwa, David. A África Austral (2010). Mazrui, Ali A. (ed.), ed. História geral da África, VIII: África desde 1935. Brasília: UNESCO. 1272 páginas. ISBN 9788576521303 
  • Leonard, Thomas M. (ed.). Encyclopedia of the developing world. 2. Nova Iorque: Routledge. ISBN 0415976634 
  • Morton, F.; Ramsay, J.; Mgadla, P. T (2008). Historical dictionary of Botswana. Lanham: Scarecrow Press. pp. xxxv, 472. ISBN 9780810854673 
  • Shillington, Kevin (ed.) (2005). Encyclopedia of African history. Nova Iorque: Fitzroy Dearborn. ISBN 1579582451 
  • Williams, Susan (2006). Colour bar: the triumph of Seretse Khama and his nation. Londres: Penguin Books. pp. xxiii, 407. ISBN 9780713998115 

Ligações externas editar

 
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Sir Seretse Khama
(1921-1980)
Precedido por
 
Presidente da República do Botswana
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Sucedido por
Quett Masire