A Serra Arana ou Serra Harana é um maciço montanhoso que faz parte da cordilheira Subbética situada no coração da províncias de Granada, Andaluzia, Espanha. Embora a designação habitual se aplique usualmente a uma área mais restrita, alguns autores consideram que outras serras, como a de Cogollos, Yedra, Alfacar e Víznar, também fazem parte da Serra Arana.[1]

Serra Arana
—  acidente geográfico  —
Serra Arana
A Peña Cruz, o ponto mais alto da Serra Arana (2 027 m), visto de Puerto de la Mora (Huétor Santillán)
Localização
Serra Arana está localizado em: Espanha/relevo
Serra Arana
Localização da Serra Arana na Península Ibérica
Coordenadas 37° 20' N 3° 28' O
Continente
País Espanha
Comunidade autónoma Andaluzia
Província Granada
Municípios Cogollos Vega, Darro, Deifontes, Diezma, Huélago, Huétor Santillán, Iznalloz, La Peza, Morelábor e Píñar
Características gerais
Tipo
Cordilheira Subbética
Cume(s) mais alto(s) Peña de la Cruz (2 027 m), Orduña (1 940 m), Arana, Telégrafo ou Cerro de los Pelados (1 976 m), Bogarre (1 621 m)
Orientação oeste-sudoeste — este-nordeste
Dimensões
Área c. 200 km²
Comprimento 28 km
Largura 5 a 7 km km
Geologia
Geologia Orogénese

Geografia e geologia editar

Na toponímia tradicional, a Serra Arana é um maciço retilíneo situado a norte duma série doutras formações montanhosas que limitam a Veiga de Granada e a Hoya de Guadix. Estas serras fazem quase todas parte do Parque Natural da Serra de Huétor, criado em 1989, onde apenas uma pequena parte da Serra Arana está incluída. A norte situa-se a comarca de Los Montes. A serra estende-se pelos municípios de Cogollos Vega, Darro, Deifontes, Diezma, Huélago, Huétor Santillán, Iznalloz, La Peza, Morelábor e Píñar.

Geologia editar

Os limites tradicionais coincidem com materiais e formas características das zonas externas das Cordilheiras Béticas. Os materiais predominantes estão associados ao setor Subbético interno, com calcários e dolomitos do Jurássico e margas do Cretáceo em estratos inferiores (zonas topograficamente mais baixas). Geomorfologicamente observa-se um anticlinal prolongado na direção oeste-sudoeste — este-nordeste que dá origem aos cumes mais altos (Cerro Orduña, Cerro ou Peñón de la Cruz ou Cerro del Jinestral). O predomínio de materiais carbonatados supõe a presença de formas cársticas como lapiás, caleiras, dolinas ou cavidades endocársticas (algares e cavernas). As formações de dolinas apresentam grande densidade na zona da lomba da Carihuela, perto da aldeia de Síllar Baja (município de Diezma), chegando a atingir 16 dolinas por quilómetro quadrado. Entre as cavidades cársticas destacam-se a Cueva del Agua de Sierra Arana e a Cueva del Agua de Prado Negro.[2]

Hidrografia editar

A predominânica de materiais porosos e carbonatados fazem com que a serra constitua um extenso aquífero carbonatado. As principais ressurgências são as nascentes de Faucena e Periate e, principalmente, a nascente de Deifontes, com um caudal de 31,5 Hectômetro cúbico hm3/ano, que alimenta o rio Cubillas, cujo vale confronta a serra a norte e a oeste. A sul, o rio Blanco, afluente do Cubillas, nasce a cerca de 1 600 m de altitude e separa numa pequena extensão a Serra Arana da serra de Cogollos. Há ainda diversos ribeiros que nascem na Serra Arana, como o de Prado Negro, que formam a cabeceira do rio Fardes.

Clima editar

O clima é temperado quente de tipo mediterrânico de montanha, caracterizado por verões quentes e secos. Os invernos são frios, devido à altitude e também relativamente húmidos — a serra é uma "ilha pluviométrica", pois regista precipitações bastante mais altas do que as áreas em sey redor. As precipitações diminuem à medida que se avança de oeste para leste. Os níveis climáticos existentes vão desde o mesomediterrânico até ao oromediterrânico (muito limitado nos cumes mais altos), passando pelo supramediterrânico.

Meio ambiente editar

Flora editar

 
Cedro-de-espanha (Juniperus oxycedrus) no município de Deifontes, Serra Arana

A vegetação predominante é do tipo mediterrânico, sendo a azinheira (Quercus rotundifolia) a espécie arbórea predominante. A oeste, perto de Deifontes e Iznalloz, predominam os pinhais de pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis), plantados artificialmente. Nas zonas mais altas, devido à topografia e às rochas carbonatadas (principalmente calcário), observa-se um forte desenvolvimento dos chamados "desertos cársticos". A estas altitudes, não obstante, há vastas populações de sabinas rasteiras (Juniperus sabina), bem como de pequenas formações de pilreteiros (Crataegus monogyna), Berberis vulgaris e Erinacea anthyllis.

Em locais mais frescos observam-se outras espécies florestais, como o carvalho-português (Quercus faginea) e o teixo (Taxus baccata), este último quase desaparecido, apesar da existência de topónimos que denunciam uma presença mais forte no passado. Há também vegetação ribeirinha em linhas de e cursos de água como o rio Blanco, com espécies do género Populus (choupos), principalmente o álamo-branco (Populus alba), ou Salix (salgueiros), nomeadamente o salgueiro-branco (Salix alba) e vimieiro (Salix fragilis). Entre as espécies arbustivas e herbáceas destacam-se as rosas, o tomilho (Thymus zygis''), alecrim (Rosmarinus officinalis), junco-da-provença (Ulex parviflorus), giesta (Genista) e o cedro-de-espanha (Juniperus oxycedrus). Abundam também os cogumelos, em particular os míscaros (Lactarius deliciosus), razão pela qual exist um museu micológico em Iznalloz.

Fauna editar

Na fauna local destaca-se a presença de algumas espécies cinegéticas como o coelho (Oryctolagus cuniculus), rola-brava (Streptopelia turtur), tordo (Turdus philomelos), perdiz (Alectoris rufa). Há também algumas espécies de caça grossa, como o javali ou a o íbex ibérico (Capra pyrenaica), para as quais são organizadas batidas pontuais controladas. Outros mamíferos representativos são a raposa-vermelha (Vulpes vulpes), gato-bravo (Felis silvestris), gineta (Genetta genetta), doninha (Mustela nivalis), fuinha (Martes foina), bem como pequenos roedores como a toupeira-ibérica (Talpa occidentalis), musgaño de Cabrera (Neomys anomalus), o rato-do-campo (Apodemus sylvaticus), leirão (Eliomys quercinus) ou o esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris).

Principalmente nas zonas mais altas, são muito frequentes as comunidades de morcegos, como por exemplo o morcego-lanudo (Myotis emarginatus), que aproveitam a grande quantidade de cavernas. Além das aes cinegéticas, em algumas zonas da serra aparecem diversas rapaces como o peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus), gavião-da-europa (Accipiter nisus), açor (Accipiter gentilis), falcão-peregrino (Falco peregrinus), alguns casais de águias-reais (Aquila chrysaetos) e águias-de-bonelli (Aquila fasciata). Entre as aves mais pequenas cabe referir a calhandrinha-comum (Calandrella brachydactyla), cotovia-montesina (Galerida theklae), cotovia-pequena (Lullula arborea), chasco-preto (Oenanthe leucura), felosa-do-mato (Sylvia undata), pega-azul (Cyanopica cyanus) e ainda a andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestris), melro-azul (Monticola solitarius), melro-preto (Turdus merula), pombo-torcaz (Columba palumbus) e poupa-eurasiática (Upupa epops). Em áreas elevadas próximas da Cueva del Agua pode ouvir-se os grasnos da colónia de gralhas-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) existente nesses cumes.[3]

O invertebrado mais interessante é um caranguejo fluvial, o Austropotamobius pallipes, autóctone dos ribeiros que nascem em zonas elevadas, além duma borboleta, a Euphydryas aurinia que não é muito difícil de ver, sobretudo a grandes alturas.

No contexto da Rede Natura 2000, a serra está classificada como Lugar de Interesse Comunitário (código: ES6140006), uma figura que serve de base para a proteção da diversidade biológica da zona.[3] Os habitats mais importantes segundo essa classificação são as charnecas oromediterrânicas endémicas de Ulex parviflorus[4] e azinheira (Quercus ilex).[5]

Presença e atuação humana editar

A presença humana na Serra Arana é muito antiga, existindo vestígios que remontam ao Paleolítico em cavernas como a Cueva Horá (no município de Darro) e Cueva del Agua de Prado Negro (que sofreu extensas espoliações). Na Cueva del Agua de Sierra Arana há vestígios do Neolítico. Estas cavernas estão classificadas como "Bem de Interesse Cultural", à semelhança do que acontece com duas atalaias (torres defensivas) medievais hispano-muçulmanas da época nacérida, uma em cada extremo da serra: a Torre de Huélago a este-nordeste, nos municípios de Darro y de Huélago, e a Atalaia de Deifontes, nos municípios de Cogollos Vega e Deifontes, a oeste-sudoeste.

As atividades económicas têm sido principalmente extrativas (pedreiras de carbonato de cálcio), pecuária (principalmente extensiva, de cavalos ou bovinos nas partes mais altas e ovinos e caprinos nas zonas baixas) e agricultura (cerejeira e oliveira). Atualmente regista-se também um grande uso recreativo, especialmente no stor ocidental (Iznalloz e Deifontes). A existência de infraestruturas relacionadas com este uso recreativo desenvolveu-se sobretudo em Iznalloz (Paraje de El Sotillo), onde existem vários estabelecimentos hoteleiros e também um museu micológico. Entre as atividades recreativas é especialmente popular o ciclismo de montanha. Na região são organizadas duas provas amadoras dessa modalidade, uma com partida de Iznalloz[6] e outra com partida em Deifontes.[7]

Notas e referências editar

  1. Pezzi Ceretto 1977, p. 243.
  2. Pezzi Ceretto 1977, p. 253.
  3. a b «Red Natura 2000. LIC ES6140006 Sierra de Arana» (PDF). www.magrama.gob.es (em espanhol). Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente. Consultado em 13 de janeiro de 2013 
  4. «Ficha de los brezales y matorrales mediterraneos» (PDF). www.mma.es (em espanhol). Red Natura 2000 en España. Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente [ligação inativa] 
  5. «Ficha de los bosques esclerófilos mediterraneos» (PDF). www.mma.es (em espanhol). Red Natura 2000 en España. Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente [ligação inativa] 
  6. «Trofeo La Giganta MTB». www.trofeogiganta.com (em espanhol). Consultado em 13 de janeiro de 2013 
  7. «Trofeo Atalaya». www.trofeoatalaya.es (em espanhol). Consultado em 13 de janeiro de 2013. Arquivado do original em 7 de dezembro de 2009 

Bibliografia editar

  • Galindo Zaldívar, Jesús; Jabaloy Sánchez, Antonio; Sanz de Galdeano, Carlos (2008), Guía geológica, ISBN 9788478074686, Granada. Guías de la naturaleza. Volume 32 de Los Libros de la estrella (em espanhol) 
  • Molero Mesa, Joa1989quín (1989), Guía de los ecosistemas de la Provincia de Granada (em espanhol), Granada: Caja Provincial de Ahorros de Granada, consultado em 13 de janeiro de 2013 
  • Pezzi Ceretto, Carlos Manuel (1977), «Morfología kárstica del sector central de la Cordillera Subbética», Editorial Universidad de Granada, Cuadernos geográficos de la Universidad de Granada, Serie monográfica (em espanhol) (2) 
  • Rubio Campos, Juan Carlos (2006), Guía de manantiales de la provincia de Granada, ISBN 978-84-7807-426-6 (em espanhol), IGME. Diputación Provincial de Granada, consultado em 13 de janeiro de 2013 
  • Mapa geológico de España 1:50 000. Hoja 1009, Granada Memoria descriptiva. (em espanhol), Madrid: Servicio de Publicaciones del Ministerio de Industria y Energía.Instituto Geológico e Mineiro de Espanha (IGME), 1988 

Ligações externas editar

 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Serra Arana