Sinhazinha é o título de um romance publicado em 1929 do escritor brasileiro Afrânio Peixoto, que retrata a vida nos sertões baianos de Caetité, palco, no século XIX, de feroz luta travada entre os familiares de Castro Alves e as famílias Moura e Pinheiro Canguçu. Luta essa ocorrida precisamente no então município de Bom Jesus dos Meiras, atual cidade de Brumado[1][nota 1] "O ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, neste livro, remete-nos para uma situação do "pós-guerra", com o casamento de descendentes daqueles que, um dia, digladiaram-se por causa dum amor proibido".[2] Fernando Sales registrou que "Afrânio Peixoto ouvindo descendentes dos dois lados, cada qual narrando a sua versão, concebeu a sua Sinhazinha, a seu modo, baseado na vindita entre Mouras e Canguçus, situando sua condição de autor à de ouvinte dos dramas que se sucederam entre as margens do Paraguaçu e do Rio de Contas."[3][nota 2] Licurgo Santos Filho, autor de "Uma comunidade rural do Brasil antigo (Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX)" acusa outros autores de fantasiar demasiadamente uma história real, quebrando assim, segundo ele, a essência verídica do acontecimento que ocorreu precisamente na então fazenda Campo Seco, na Serra das Éguas, município de Brumado.[1] Foi publicado originalmente em 1929 pela Companhia Editora Nacional.[4] É o último romance do escritor.[5]

Sinhazinha
Sinhazinha
Capa da 1ª edição
Autor(es) Afrânio Peixoto
Assunto drama romântico
Gênero romance
Linha temporal Século XIX
Localização espacial sertão da Bahia
(Caetité, Brumado)
Editora Companhia Editora Nacional
Lançamento 1929
Páginas 304

Sinopse editar

 
Casa da Câmara e Cadeia, de Caetité, citada no romance.

Sinhazinha retrata os períodos posteriores às lutas decorrentes do drama vivido pela tia do poeta Castro Alves, Pórcia de Castro, filha do Major Silva Castro, herói da Guerra de Independência da Bahia, raptada por Leolino Pinheiro Canguçu - fazendo constante menção a este episódio: "aqui sobrevivem amor e ódio, num mundo onde os donos de vastas terras dominam os sentimentos e fazem jorrar o sangue da vingança; é a luta na defesa dos valores do sertão brasileiro, onde a beleza da mulher traz a paixão súbita e a vingança que se arrasta por gerações."[6]

Muito bela e jovem, Pórcia hospedara-se com a família em casa da família de Leolino, no povoado de Bom Jesus dos Meiras (atual Brumado).

 
O Sobrado do brejo era moradia da Família Canguçu.

Apesar de casado, Leolino toma-se de amores por ela e, a tudo abandonando, realiza o rapto que engendrou a luta familiar, que se arrastou por anos.[1][6]

Já o romance de Peixoto começa numa festa de São João que transcorre no terreiro da casa-grande da Fazenda Campinho, pertencente a João Pinheiro Canguçu, quando ali chega o jovem Juliano que, estudante na capital baiana, se vê obrigado a abandonar os estudos em razão do falecimento do pai, e forçando-o a buscar o sustento da família tornando-se mascate.[3]

Apaixonando-se por Sinhazinha, a filha do proprietário que está prometida por alianças familiares a um descendente dos Mouras, Juliano ouve do capataz Tomé a história das lutas familiares, sendo ele mesmo oriundo de uma das famílias inimigas de sua amada, forçando-o a vencer os obstáculos para que ambos fiquem juntos.[3]

Crítica editar

Em seu História Concisa da Literatura Brasileira Alfredo Bosi diz que "em Sinhazinha, seu último romance, Afrânio Peixoto, seguindo ainda o rico veio de Alencar, deu um exemplo de reconstituição histórica, narrando as lutas sangrentas entre duas famílias tradicionais do Alto São Francisco;[nota 3] mas aquele mesmo mundanismo diplomático que lhe desviriliza os primeiros romances o impediu aqui de ascender à epicidade bronca que o argumento propiciava."[7]

Lúcia Miguel Pereira, depois de situar Sinhazinha entre os "livros roceiros" de Afrânio Peixoto, destaca que na sua literatura "as cenas bucólicas são aquelas em que mais à vontade se sentia".[8]

Notas e referências

Notas

  1. O drama real é revivido em várias obras, dentre as quais:
  2. Aqui se nota o desconhecimento geográfico do comentarista: o drama se desenrola entre o Rio São Francisco e o Rio de Contas, mais precisamente ao afluente deste, o Rio Brumado, antigamente chamado de "Rio de Contas Pequeno".
  3. Esta afirmação revela aqui também o desconhecimento geográfico do crítico literário: Caetité e Brumado, nas partes que tocam à história narrada em Sinhazinha, fazem parte da Bacia do Rio de Contas, não do São Francisco.

Referências

  1. a b c Licurgo Santos Filho. «Uma comunidade rural do Brasil antigo. Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX». Consultado em 2 de fevereiro de 2018 
  2. André Koehne (2005). O romance e a história se encontram in: "Idílio de Pórcia e Leolino", Dário Teixeira Cotrim. [S.l.]: Papel Bom. 180 páginas. CDD 869.935 
  3. a b c Osmar Barbosa. "Introdução" ao romance Sinhazinha. [S.l.]: Ediouro. ISBN 8500406879 
  4. Afrânio Peixoto (1929). «Sinházinha: Romance». Companhia Editora Nacional. Consultado em 25 de dezembro de 2017 
  5. Temístocles Linhares. História crítica do romance brasileiro, 1728-1981. Editora Itatiaia; 1987.
  6. a b Afrânio Peixoto. Sinhazinha. [S.l.]: Ediouro. ISBN 8500406879 
  7. Alfredo Bosi (1994). História Concisa da Literatura Brasileira. [S.l.]: Cultrix. ISBN 978-85-316-0189-7. Consultado em 25 de dezembro de 2017 
  8. Minas Gerais: Suplemento literário. Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais; 1975.