Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho

A Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, Lda. (SAPT) foi uma empresa com interesses agroindustriais de longo alcance na colónia de Timor Português, com foco no cultivo de café para exportação.[1][2]

Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, Lda. (SAPT)
Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho
Antigo edifício da SAPT em Colmera, Dili
Sociedade por quotas
Fundação 1897; há 126 anos
Fundador(es) José Celestino da Silva
Destino Extinta após a invasão indonésia de Timor-Leste
Encerramento Anos 70
Sede Dili, Timor Português
Área(s) servida(s) Timor Português
Proprietário(s) Ver artigo
Produtos Café e outros produtos agrícolas

História editar

O governador José Celestino da Silva (no cargo 1894–1908) fundou a SAPT em 1897. Durante o seu mandato, foi proprietário ou esteve envolvido em quase todas as empresas privadas de plantação, e a SAPT praticamente agia como um estado dentro de um estado.[1][3] Juntamente com as suas subsidiárias, a Empresa Agrícola Perseverança e a Empresa Agrícola Limitada Timor, a SAPT era a única empresa agrícola em Timor Português com alguma importância.[4] A SAPT frequentemente apropriava-se de terras e então contratava os ex-proprietários espoliados enquanto trabalhadores a salários de subsistência.[2]

No final da década de 1920, a SAPT produzia 200 toneladas de café em Timor Português e comprava outras cem toneladas para exportação. Com Portugal perto da falência na Grande Depressão dos anos 1930, a SAPT teve 47,62% das suas ações transferidas para o Banco Nacional Ultramarino (BNU). Em 1940, Sachimaro Sagawa, membro do conselho da empresa japonesa de desenvolvimento estratégico Nan'yō Kōhatsu, comprou 48% da SAPT por um milhão de libras esterlinas.[3] Como resultado, o Dr. Sales Luís, que tinha vendido as ações à Nan'yō Kōhatsu, foi proibido de regressar a Timor Português por ser um "mau patriota".[4]

A partir de 1941, a SAPT tornou-se a única grande plantação e empresa comercial da colónia. A SAPT também controlava o comércio com Portugal e o Japão, assim comandando 20% de todo o comércio de Timor Português. A empresa detinha o monopólio da compra do café Arábica, a melhor e mais importante variedade cultivada em Timor,[3] e também produzia cacau e borracha.[4]

Após a Segunda Guerra Mundial, os japoneses perderam as suas acções: 40% da SAPT (as antigas acções detidas por japoneses) passaram a pertencer ao Estado português, 52% à família Silva e 8% ao BNU. No negócio de importação/exportação, a SAPT e a Sociedade Oriental de Transportes e Armazéns (Sota) foram as únicas empresas que ficaram fora do alcance da população local chinesa.[3] Em 1948/49, o novo edifício administrativo da SAPT foi erguido na esquina da Rua Sebastião com a Rua Dom Fernando (hoje Rua da Justiça/Rua de Moçambique), em frente ao Liceu Dr. Francisco Machado, como um dos primeiros novos edifícios de Díli após a Segunda Guerra Mundial. Acima da antiga entrada principal, o nome da empresa "SAPT" ainda é reconhecível sob a nova camada de tinta. Parte do edifício foi inicialmente utilizada pelo BNU até que um novo edifício do BNU foi construído na década de 1960. Hoje, o antigo edifício da SAPT abriga várias empresas, tais como serviços de engenharia ou distribuição de alimentos.[5]

Após a invasão indonésia de Timor-Leste em 1975, oficiais indonésios assumiram o controle das propriedades da SAPT, para ganho pessoal. Depois de Timor-Leste se tornar independente em 2002, o novo governo foi incumbido da complexa responsabilidade de decidir o que fazer com as extensões de terra anteriormente propriedade da SAPT. Em Fevereiro de 2012, o Parlamento Nacional aprovou três leis para lidar com tal questão, que foram controversas, pois muitos em Timor-Leste sentiram que tinham sido concebidas mais para ajudar os investimentos empresariais do que para proteger os indivíduos.[2]

Referências

  1. a b Clarence-Smith, W.G. (Março de 1992). «Planters and small holders in Portuguese Timor in the nineteenth and twentieth centuries» (PDF). Indonesia Circle. 57: 9–10. Consultado em 27 de Novembro de 2018. Cópia arquivada (PDF) em 2 de Fevereiro de 2010 
  2. a b c «Country plots: Reassuring the little coffee growers proves hard». The Economist. 5 de Maio de 2012. Consultado em 28 de Novembro de 2018 
  3. a b c d Gunn, Geoffrey C. (1999). Timor Loro Sae: 500 years. Macau: Livros do Oriente. pp. 248, 250, 253 
  4. a b c Lee, Robert (2000). «Crisis in a Backwater. 1941 in Portuguese Timor». Lusophonies Asiatiques, Asiatiques en Lusophonies: 175-189. Consultado em 28 de Novembro de 2018 
  5. Miranda; Boavida, eds. (2015). Património Arquitetónico de Origem Portuguesa de Dili/Patrimoniu Arquitetoniku Origem Portuguesa Dili nian/Architectural Heritage of Portuguese Origins of Dili (em português, tétum, e inglês). Dili: Secretária de Estado da Arte e Cultura. ISBN 9789892060200. Consultado em 28 de Novembro de 2018