Soundpainting é uma língua de sinais criada pelo compositor novaiorquino Walter Thompson para músicos, atores, bailarinos, poetas e artistas visuais. Atualmente, a língua é composta por mais de 1200 gestos que são sinalizados pelo compositor/regente - conhecido como Soundpainter, indicando o tipo de material que deseja que seja realizado pelo(s) executante(s). A direção da composição é definida pelos parâmetros de cada sinalização dada pelo compositor. [1]

A estrutura do Soundpainting editar

Os gestos do Soundpainting são agrupados em duas categorias básicas: gestos de função (do inglês Function Gestures) e gestos "de esculpir" (do inglês Sculpting Gestures). Os gestos de esculpir indicam Que tipo de material será executado e também Como ele será executado. Os gestos de função indicam Quem irá executar e Quando irá começar a agir.

A sintaxe do Soundpainting obedece à ordem Quem, Quê, Como, Quando. Para isso, as duas categorias básicas são divididas em seis subcategorias: identificadores, conteúdo, modificadores, entradas, modos e palhetas.

1 – Identificadores estão na categoria dos gestos de função e indicam Quem. Desses, podemos citar: todo o grupo, madeiras, metais, atores, bailarinos, grupo (grupo 1, grupo 2, grupo 3 etc.), resto do grupo, etc.

2 – Gestos de conteúdo estão na categoria dos gestos de esculpir e identificam Que tipo de material deve ser executado, como, por exemplo, pontilhismo, minimalismo, nota longa, etc.

3 – Modificadores estão na categoria dos gestos de esculpir e indicam Como um material deve ser tocado. São exemplos os faders de volume e de tempo.

4 – Gestos de entrada estão na categoria dos gestos de função e indicam Quando iniciar ou Quando parar.

5 – Modos estão na categoria dos gestos de esculpir e são gestos de conteúdo que englobam parâmetros específicos para a execução. Scanning, Point to Point e modo de lançamento são exemplos de Modos.

6 – Paletas estão na categoria dos gestos de esculpir. A princípio são gestos de conteúdo (embora possam indicar também outros parâmetros) que identificam algum material composto ou ensaiado de antemão. [2]

História do Soundpainting editar

Em 1974, depois de frequentar alguns anos a Berklee College of Music, Walter Thompson mudou-se para a casa de campo de sua família, em Woodstock (Nova Iorque). Ali ele ganhou uma bolsa do National Endowment on the Arts para estudar composição e instrumentos de madeira com Anthony Braxton. Durante esse período, ele também estudou improvisação de dança com Ruth Ingalls.

Woodstock nos anos 70 era foi um grande núcleo de produção musical. A Creative Music School (CMS), fundada por Karl Berger, Don Cherry e Ornette Coleman convidou compositores e intérpretes como John Cage, Ed Blackwell, Carlos Santana, Don Cherry, Anthony Braxton e Carla Bley para dar uma oficina de duas semanas aos estudantes. A CMS ficava fechada durante o verão, mas muitos dos seus estudantes permaneciam em Woodstock. Então, Thompson organizava jam sessions com esses estudantes. A partir dessas sessões, Thompson formou sua primeira orquestra e produziu uma série de concertos em Woodstock. O foco da orquestra era em improvisação jazzística em grupo. Nessa época, Thompson começou a experimentar com sinais gestuais. Foram criados gestos básicos que indicavam, por exemplo, improvisação com notas longas ou com estilo pontilhista.

Thompson mudou-se para Nova Iorque em 1980 e formou a Walter Thompson Orchestra (na época, chamada The Walter Thompson Big Band) em 1984. Durante o primeiro ano da orquestra, ao regê-la numa performance no Brooklyn, Thompson precisou comunicar com a orquestra no meio de uma música. Eles estavam tocando uma seção de improvisação em que o trompete 2 estava a executar um solo. Thompson queria que, durante o solo, os demais trompetistas criassem um background. Não querendo imitar regentes que costumavam gritar ou falar alto com a orquestra, Thompson decidiu usar os mesmos sinais que havia criado em Woodstock. Então sinalizou: Trompete 1, Background, com, 2 compassos, feel; olhe-me, 4 tempos (no original: Trumpet 1, Background, With, 2-Measure, Feel; Watch Me, 4 Beats). Tentou, mas o grupo não respondeu. No próximo ensaio, os membros da orquestra perguntaram o que eram aqueles sinais e ele lhes contou. Com ajuda da orquestra, Thompson continuou a desenvolver a linguagem. Nos dez anos que se seguiram Thompson transformou o Soundpainting numa linguagem de sinais que permite criar composições inteiras ao vivo. Ele continuou a desenvolver novos gestos e no inícios dos anos 1990 expandiu a linguagem para incluir atores, bailarinos, poetas e artistas visuais. [3]

Desde o fim da década de 1990 Thompson tem se dedicado a difundir o Soundpainting sem, contudo, deixar de continuar desenvolvendo a língua.

Em 2013 foi criada a Federação Internacional de Soundpainting, com sede em Lyon (França). Entre os seus objetivos está a criação de um curriculum acadêmico para o ensinamento do Soundpainting.

Uma Língua Viva editar

O Soundpainting é uma língua viva e em constante crescimento. As línguas faladas estão mudando e crescendo a todo o tempo. Seja por necessidade ou por passagem entre as gerações, o homem inerentemente cria novos conceitos e modifica os velhos para adaptar-se à contemporaneidade. Novas palavras são criadas, as velhas caem no desuso, gírias e abreviações são desenvolvidas, etc. O Soundpainting também segue esse padrão de desenvolvimento. Para encaminhar corretamente as necessidades de crescimento e evitar que a língua se divida em centenas de dialetos e patois, todos os anos os soundpainters experientes se reúnem a fim de desenvolver a linguagem num evento chamado Soundpainting Think Tank. Cada Think Tank é uma conferência anual em que Walter Thompson convida Soundpainters do mundo inteiro para compartilhar ideias e ajudar a desenvolver a linguagem em todas as disciplinas por ela abrangidas. Em 2011, houve 16 Think Tanks.[4] O Soundpainting tem crescido e se tornou uma linguagem gestual internacional para composição ao vivo, usada em vários países ao redor do mundo, tanto com objetivos profissionais, quanto educacionais.

Festivais editar

Além dos Think Tanks, muitos lugares têm realizado festivais de soundpainting, como, por exemplo, o Soundpainting Festival,[5] que acontece em França. Há também uma conferência internacional de soundpainting que reúne soundpainters experientes em torno de processos e idéias mais elaborados.

Soundpainting no Brasil editar

No Brasil o soundpainting foi introduzido pelo flautista Bruno Faria, primeiro brasileiro a ter uma certificação oficial na linguagem [6]. Faria introduziu o soundpainting na UFES e na UFJF, universidades em que lecionou. Em Vitória, fundou a Orquestra Brasileira de Soundpainting, primeiro grupo dedicado à linguagem na América Latina [7].

Em 2011, após a passagem de Walter Thompson por Belo Horizonte, por ocasião do primeiro FIMPRO - Festival Internacional de Improvisação, foi criado o Soundpainting BH, grupo multidisciplinar dedicado à linguagem, coordenado por João Paulo Prazeres[8].

Em 2013, surgiu o Soundpainting Rio, organizado pelo soundpainter Taiyo Omura[9]. Desde então, o soundpainting tem se expandido no país e, atualmente, diversas cidades brasileiras contam com núcleos artísticos destinados ao estudo e prática do Soundpainting. Notadamente podemos citar - além de Belo Horizonte e Rio de Janeiro - Curitiba, Cachoeira , Salvador e São Paulo.

Referências editar

  1. Duby, Mark (20 de maio de 2006). «Soundpainting as a system for the collaborative creation of music in performance» (PDF). Consultado em 4 de abril de 2011 
  2. THOMPSON, Walter. The Soundpainting Workbook. Edição do autor. New York: 2006.
  3. «A história do Soundpainting (em inglês)». Consultado em 4 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2012 
  4. «AKDT > Stages - Musique - Soundpainting Think Tank - Walter THOMPSON». Consultado em 5 de Dezembro de 2011. Arquivado do original em 22 de março de 2012 
  5. Sítio oficial do Soundpainting Festival (em francês)
  6. «Soundpainting». www.soundpainting.com. Consultado em 19 de outubro de 2017  Texto " Certified Soundpainters" ignorado (ajuda)
  7. «Currículo Lattes de Bruno Faria». Consultado em 19 de outubro de 2017 
  8. Sobre o Soundpainting BH no Sítio Oficial do Soundpainting BH
  9. Sítio Oficial do Soundpainting Rio

Ligações externas editar