Tao-Clarjétia[1] ou Tao-Clarjeti[2] (em georgiano: ტაო–კლარჯეთი; romaniz.:Tao-Klarjeti), chamado também de Reino dos Georgianos (em georgiano: ქართველთა სამეფო),[3] foi um reino e principado medieval georgiano sucessor do Principado da Ibéria na região que hoje é parte das províncias de Província de Erzurum, Artvin e Kars no nordeste da Turquia.

ტაო–კლარჯეთი
Tao-Clarjétia

Principado / Reino
(Império Bizantino)


888 – 1008
Localização de Tao-Clarjétia
Localização de Tao-Clarjétia
Tao-Clarjétia em meados do século X (em laranja)
Continente Eurásia
Região Cáucaso
Capital Artanuji
Língua oficial Georgiano
Religião Cristianismo
Governo Monarquia
Príncipe presidente / rei
 • 813–ca. 826 Asócio I (primeiro príncipe)
 • 888–ca. 891 Gurgenes I (último príncipe)
 • 888–923 Adarnases IV (primeiro rei)
 • 994–1008 Gurgenes da Geórgia (último rei)
Período histórico Alta Idade Média
 • 888 Fundado por Asócio I
 • 888 Adarnases IV se declara "rei dos georgianos"
 • 1008 Pancrácio III funda o Reino da Geórgia

Tao e Clarjétia eram originalmente apenas nomes das duas principais províncias do território georgiano que se estendiam do "Desfiladeiro Georgiano" (em turco: Gürcü Boğazı) no sul até o Cáucaso Menor no norte.

Historicamente, a área abrangia as seguintes províncias: para oeste dos Montes Arsiani (Yalnızçam Dağları) estavam Tao, Clarjétia, Nigali e Xavexécia; para o leste, Mesquécia, Eruxécia, Javaquécia Superior, Atona e Cola. O cenário era marcado por montanhas e pelos sistemas fluviais do Coroqui (Çoruh) e o Mtkvari (Cura).

A localização de Tao-Clarjétia entre os grandes impérios do oriente e do ocidente e a passagem de um dos trechos da Rota da Seda por seu território resultaram numa grande quantidade de influências externas na região. Entre os séculos IX e XI, Tao-Clarjétia foi governado pela dinastia Bagrationi e a região teve um papel preponderante na unificação de toda as terras georgianas num único estado, o Reino da Geórgia, em 1008.

História editar

Idade Média editar

Os principados que formavam Tao-Clarjétia emergiram do tumulto resultante da conquista muçulmana do Cáucaso nos séculos VII e VIII que destruíram o antigo Reino da Ibéria.

A nova era em Tao-Clarjétia começou em 813, quando o príncipe georgiano (erismtavari) Asócio I, dos Bagrationi, fez de Clarjétia sua base para lutar contra a ocupação árabe. Depois de reconhecer a suserania bizantina, Asócio recebeu o prestigioso título de curopalata (em grego: κουροπαλάτης). Ele lutou contra os árabes dali e foi, gradualmente, incorporando as terras vizinhas de Tao, Cola, Atona e Xavexécia (e outras menores) às suas, livrando-as do domínio árabe. Em seus domínios, Asócio passou a incentivar o reassentamento de georgianos e patrocinou a vida monástica, iniciando com proeminente clérigo Gregório de Khandzta (759–861), em Clarjétia, efetivamente transformando a região sob seu controle num abrigo da cultura georgiana e um dos mais importantes centros religiosos da Geórgia na época.

Os sucessores de Asócio continuaram a lutar pelas terras de Ibéria (Kartli), disputando ainda com o dinastia Abecásia da Geórgia ocidental (Egrisi), com o Emirado de Tbilisi e até mesmo com o Caquécia (um reino na Geórgia oriental) e monarcas armênios. Porém, disputas internas, frequentes no principado, atrapalhavam frequentemente a expansão do reino. Uma guerra civil depois do assassinato de David I (r. 876–881) resultou na vitória de Adarnases I (r. 881–923) sobre seu grande rival, Nasra, o assassino de David, permitindo que ele fosse coroado "rei dos georgianos" em 888. Durante o reinado do filho de Adranse, David II (r. 923–937), os georgianos também tiveram que se defender contra uma invasão bizantina. Porém, a dinastia Bagrationi não conseguiu manter a integridade do reino, que foi dividido entre os três principais ramos da família, com o principal dominando Tao e o título de "rei dos georgianos". Os demais passaram a controlar Clarjétia e, nominalmente pelo menos, reconheciam a soberania do rei. O reino incluía ainda diversos principados menores mais ou menos dependentes da coroa de Tao.

Em 958, Pancrácio II Regueni, "o Simples" (r. 958–994), foi coroado "rei dos georgianos" e herdou o norte de Tao ("Amier Tao"), enquanto David III (r. 961–1001) recebeu o título de curopalata e as terras do sul de Tao (Imier-Tao). Um governante justo e amigo da Igreja, David se aliou ao imperador bizantino Basílio II na Batalha de Pancaleia contra o rebelde Bardas Esclero (976–979) e foi recompensado com grandes faixas de terras que fizeram dele o mais poderoso monarca no Cáucaso Meridional: seus domínios incluíam diversas províncias georgianas e armênias e se estendiam até o Lago de Vã. Com a firme intenção de reunir todas as terras georgianas, David adotou o príncipe Pancrácio (futuro rei Pancrácio III), um neto de Pancrácio Regueni e também o herdeiro aparente da Abecásia. David o nomeou príncipe presidente na Ibéria (975), rei da Abecásia (978) e ajudou o pai dele, Gurgenes, a ser coroado rei dos georgianos depois da morte de Regueni (994), tornando assim Pancrácio monarca de dois e herdeiro aparente do terceiro estado georgiano. O único revés em sua estratégia foi o conflito fracassado entre 987 e 989 contra os bizantinos que acabou forçando David a ceder seus domínios ao imperador Basílio II como herança após sua morte. Apesar disso, Pancrácio conseguiu reunificar o território georgiano depois da morte de seu pai em 1008 e fundou o Reino da Geórgia.

História posterior editar

A região continuou parte do território georgiano e era administrado pelos príncipes de Samtsche-Saatabago até a conquista pelo Império Otomano em 1551. Durante o período otomano, uma política de islamização foi implementada e muitas igrejas foram convertidas em mesquitas. Depois da Guerra russo-turca de 1877-1878, a maior parte do território de Tao-Clarjétia foi cedida ao Império Russo, mas foi recuperado pelos turcos pelos termos do Tratado de Brest-Litovsk com a URSS em 1918. A derrota otomana na Primeira Guerra Mundial permitiu que a recém-criada República Democrática da Geórgia reconquistasse a região. O distrito de Olti, que foi muito disputado entre georgianos e armênios, permaneceu sob controle turco. Porém, a independência da Geórgia rapidamente foi solapada pelo avanço do Exército Vermelho em fevereiro de 1921, que abriu a oportunidade para a Turquia reconquistar a região, um fato reconhecido pelo Tratado de Moscou firmado por turcos e russos em 16 de março de 1921.

Monarcas bagrátidas de Tao-Clarjétia editar

Bagrátidas da linhagem ibérica (principal) editar

Bagrátidas da linhagem de Tao editar

Bagrátidas da segunda linhagem de Tao editar

Bagrátidas da linhagem de Clarjétia editar

Referências

  1. Nagel Travel Guide Series: Turkey. [S.l.]: McGraw-Hill. 1968 
  2. Pagnoni, F. (1857). Geografia storica moderna universale corografica, politica, statistica, industriale e commerciale scritta sulle tracce di Adriano Balbi ... [et al.]: 3, Volume 1. [S.l.: s.n.] p. 276 
  3. Silogawa & Shengelia, History of Georgia, 2007, p. 63

Bibliografia editar

 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Tao-Clarjétia
  • Estêvão de Taraunitis: Histoire Universelle par Étienne Asolik de Taron, transl. F. Macler, 2e partie, livre III (888-1004), Paris 1917
  • Constantino Porfirogênito: Sobre a Administração Imperial, ed. G. Moravcsik and R.J.H. Jenkins, Dumbarton Oaks 1967
  • Aristakes Lastivert: Récit des malheurs de la nation arménienne, transl. M. Canard and H. Berberian, Brussels 1973
  • João Skylitzes: Ioannis Scylitzae Synopsis historiarum, ed. I. Thurn, Berlin – New York 1973
  • Elishe: History of Vardan and the Armenian War, transl. R.W. Thomson, Cambridge, Mass. 1982
  • The Life of Kartli: Das Leben Kartlis. Eine Chronik aus Georgien. 300-1200, ed. G. Pätsch, Leipzig 1985
  • Life of John and Euthymius: B. Martin-Hisard, “La Vie de Jean et Euthyme: le statut du monastère des Ibères sur l'Athos”, Revue des Études Byzantines 49 (1991), 67-142
  • Yahyā ibn Sa‘īd al-Antākī: “Histoire de Yahya-Ibn-Sa‘ïd d’Antioche”, ed. and transl. I. Kratchkovsky and A. Vasiliev, Patrologia Orientalis 18 (1924), 700-833
    • “Histoire de Yahya-Ibn-Sa‘ïd d’Antioche”, ed. and transl. I. Kratchkovsky and A. Vasiliev, Patrologia Orientalis 23 (1932), 347-520
    • “Histoire de Yahyā ibn Sa‘īd d’Antioche”, ed. I. Kratchkovsky, transl. F. Micheau and G. Troupeau, Patrologia Orientalis 47 (1997), 373-559
  • Giorgi Merchule: Georgi Mertschule. Das Leben des Grigol von Chandsta, transl. S. Sardshweladse and H. Fähnrich, Jena 2000
  • Yovhannes Drasxanakertci: Histoire d'Arménie, transl. P. Boisson-Chenorhokian, Leuven 2004
  • Bruno Baumgartner, Studien zur historischen Geographie von Tao-Klarjeti, PhD-Dissertation, 2 Volumes, Vienna 1996 ("Studies on the historical Geography of Tao-Klarjeti", in German)