Crise político-militar na Armênia em 2021

suposta tentativa de golpe militar na Armênia

A crise político-militar na Armênia em 2021[1][2] teve inicio em 25 de fevereiro de 2021 com um memorando emitido pelo alto comando das Forças Armadas da Armênia, liderados pelo Chefe do Estado-Maior General Onik Gasparyan,[3] exigindo a renúncia do gabinete e do primeiro-ministro Nikol Pashinyan.[4] Pashinyan rechaçou a exigência dos militares e acusou Gasparyan e os outros oficiais militares do alto escalão de tentar um golpe militar.[5] O Serviço de Segurança Nacional da Armênia emitiu uma declaração pedindo às pessoas que se abstenham de atos "que possam ameaçar a segurança nacional".[6]

Como resposta a interferência dos militares, o primeiro-ministro decidiu demitir o chefe das Forças Armadas, entretanto o presidente armênio Armen Sarkissian rejeita aferir o decreto de demissão o que provoca um conflito politico entre o primeiro-ministro e o presidente.[7]

Antecedentes editar

Protestos contra o governo armênio pedindo a demissão do primeiro-ministro Nikol Pashinyan estavam ocorrendo na Armênia desde a derrota do país na Guerra no Alto Carabaque em 2020.[8]

Em 23 de fevereiro de 2021, Pashinyan deu uma entrevista na qual, em resposta às alegações feitas pelo ex-presidente Serzh Sargsyan, lançou dúvidas sobre a eficácia dos mísseis 9K720 Iskander fornecidos pela Rússia, sugerindo que eles foram ineficazes quando usados durante a guerra contra o Azerbaijão.[9] No dia seguinte, o primeiro subchefe do Estado-Maior, General Tiran Khachatryan, deu uma entrevista na qual riu zombeteiramente da afirmação de Pashinyan sobre a eficácia dos mísseis; Khachatryan foi demitido de seu posto horas depois.[10]

Eventos editar

Em 25 de fevereiro de 2021, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Armênia, Onik Gasparyan, disse em uma declaração assinada por quarenta oficiais de alto escalão, que Pashinyan e o governo, "não são mais capazes de tomar decisões adequadas neste momento fatídico de crise para o povo armênio", acrescentando que sua demanda foi desencadeada pela demissão por Pashinyan do primeiro chefe adjunto do Estado-Maior General Tiran Khachatryan um dia antes.[11][12]

Pashinyan respondeu à declaração chamando-a de uma tentativa de golpe militar e convocou seus aliados a se reunirem na Praça da República em Yerevan, a capital do país.[13] Enquanto Pashinyan reunia seus partidários na Praça da República, a coalizão da oposição chamada Movimento de Salvação da Pátria realizou uma manifestação paralela na Praça da Liberdade em apoio à declaração dos generais.[14] Durante seu discurso aos seus apoiadores, Pashinyan novamente sugeriu eleições antecipadas como a solução para a crise política, mas afirmou que apenas renunciaria a pedido do povo armênio.[14]

Manifestantes liderados pelo Movimento de Salvação da Pátria barricaram as ruas ao redor do parlamento durante a noite e montaram tendas para pressionar o governo a se demitir.[15][16]

Dois dias depois, o presidente armênio, Armen Sarksyan, recusou a ordem do primeiro-ministro Nikol Pashinyan de demitir Onik Gasparyan, dizendo que partes do decreto violavam a constituição. Pashinyan imediatamente se ressentiu da moção do presidente para não demitir Gasparyan.[17] Em 27 de fevereiro, mais de 15.000 protestaram na capital Yerevan pedindo a renúncia de Pashinyan.[18]

Em 1 de março, partidários do primeiro-ministro e a oposição realizaram novamente comícios rivais. Pashinyan acusou Onik Gasparyan de traição e alegou que ele emitiu a declaração exigindo a renúncia do primeiro-ministro por sugestão do ex-presidente Serzh Sargsyan.[19] Ao mesmo tempo, manifestantes invadem um prédio do governo em Yerevan para exigir a renúncia de Nikol Pashinyan.[20] O líder da segunda maior facção de oposição no parlamento, Edmon Marukyan, sugere um acordo entre o governo e a oposição parlamentar pelo qual o governo iniciaria eleições antecipadas, mas pararia as tentativas de demitir Onik Gasparyan de seu posto.[19][21]

Em 2 de março, o presidente Armen Sarksyan declarou mais uma vez sua decisão de não assinar a moção para demitir Gasparyan[22] e realizar um recurso separado ao Tribunal Constitucional da Armênia em relação à decisão.[23] No entanto, como não encaminhou a moção ao Tribunal Constitucional para revisão, a demissão de Gasparyan entrou em vigor por força de lei.[24] De acordo com a Constituição Armênia, Gasparyan deve ser dispensado de seu cargo em 4 de março, embora o Estado-Maior tenha anunciado que Gasparyan permanecerá em suas funções por oito dias depois que o presidente efetuar seu recurso ao Tribunal Constitucional.[25] Em 5 de março, Andranik Kocharyan, presidente do comitê do parlamento armênio sobre defesa e segurança, afirmou que as responsabilidades de Gasparyan estavam sendo cumpridas pelo ministro da Defesa, Vagharshak Harutiunyan.

Em 28 de março, o primeiro-ministro Nikol Pashinyan anunciou que renunciaria em abril, afirmando que sua renúncia seria para realizar eleições antecipadas em junho.[26]

Referências

  1. Tensão político-militar na Arménia - Euronews 27 de fevereiro de 2021
  2. Crise na Armênia opõe premiê a Forças Armadas. - BOL (25/02/2021)
  3. «Moscow follows crisis in Armenia with 'concern'». Anadolu Agency 
  4. «Armenian PM warns of coup attempt after army demands his resignation» (em inglês). Reuters. 25 de fevereiro de 2021 
  5. «Live Updates: Situation in Armenia After Military Demands That Prime Minister Resign» (em inglês). Sputnik. 25 de fevereiro de 2021 
  6. «Armenia's NSS urges citizens refrain from actions threatening national security» (em inglês). www.aysor.am 
  7. «Desavença entre premiê e presidente da Armênia acentua crise política no país». Diálogos do Sul. 15 de março de 2021 
  8. «Protestos aumentam pressão sobre premiê da Armênia após derrota militar». Folha de São Paulo. Consultado em 25 de fevereiro de 2021 
  9. «Armenian armed forces demand PM's resignation». JAMnews (em inglês). 25 de fevereiro de 2021 
  10. Babayan, Aza (1 de março de 2021). «Pashinian Blames Other Officials For 'Wrong' Claim About Russian Missile». Azatutyun (em inglês) 
  11. Roth, Andrew (25 de fevereiro de 2021). «Armenian prime minister accuses military of attempted coup». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 25 de fevereiro de 2021 
  12. «Três meses após guerra, Exército da Armênia exige renúncia de premiê, que denuncia golpe militar». Folha de São Paulo. Consultado em 25 de fevereiro de 2021 
  13. «Primeiro-ministro da Armênia denuncia tentativa de golpe de Estado». Estado de Minas. 25 de fevereiro de 2021. Consultado em 25 de fevereiro de 2021 
  14. a b «Thousands Rally For, Against Armenian PM». Azatutyun (em inglês). 25 de fevereiro de 2020 
  15. «Armenian protesters camp outside parliament demanding PM's resignation». france24. 26 de fevereiro de 2021 
  16. «Several hundred protesters continue blocking Yerevan's central street». tass.com. 26 de fevereiro de 2021 
  17. «Sarkissian Defends Opposition To Army Chief's Sacking». Azatutyun (em inglês). 1 de março de 2021 
  18. News, A. B. C. «Armenia's president refuses order to dismiss military chief». ABC News 
  19. a b Ani Avetisyan (2 de março de 2021). «Pashinyan to opposition: 'I challenge you to support new elections'». oc-media.org 
  20. «Armenia: Protesters storm gov't building amid political crisis». www.aljazeera.com 
  21. «No Agreement on Elections Between Pashinyan, Opposition Leader». asbarez.com. 4 de março de 2021 
  22. «Armenian president rejects army chief's dismissal again». Anadolu Agency 
  23. «Onik Gasparyan will be relieved of his post by force of law». www.1lurer.am (em inglês). Public Television Company of Armenia. 2 de Março de 2021 
  24. «Army chief considered dismissed from post by virtue of law – PM». Public Radio of Armenia. 10 de março de 2021 
  25. «Onik Gasparyan to stay General Staff chief until 8-day term expires – statement». 3 de março de 2021 
  26. «Armenian prime minister to step down in April». DW. 28 de março de 2021