Testamento de Afonso II

O Testamento de D. Afonso II é o testamento do Rei D. Afonso II de Portugal, escrito em Coimbra e datado de 27 de junho de 1214.[1][2] É o mais antigo documento régio escrito em galego-português em existência.[2]

Testamento de Afonso II de Portugal. Manuscrito na Torre do Tombo.

Chegou aos nossos dias através de dois[1] manuscritos, um deles enviado ao arcebispo de Braga[1] e atualmente na Torre do Tombo.[3]

Datação e importância histórica editar

O testamento de Afonso II, redigido em 27 de junho de 1214 é o documento mais frequentemente apontado e celebrado como o primeiro texto escrito em português.

Existem porém diversos manuscritos possivelmente mais antigos (a maioria, porém, de datação imprecisa) que já evidenciam muitas das características do que viria a ser considerada a língua românica diferente do latim, como o "Pacto dos irmãos Pais" (ca. 1175)[4][5] e a Notícia do torto (ca. 1214).[1]

Não obstante, o carácter régio do documento e o fato, diferentemente de outros documentos da época, ter uma datação indiscutível e ser indiscutivelmente escrito em uma língua diferente do latim, torna-o, na opinião de alguns autores, um ponto de referência de maior importância para a datação da língua.[2][6] Assim, no ano de 2014, juntamente com o oitavo século do documento, foi também comemorado o aniversário da língua portuguesa,[6] uma celebração envolta em grande controvérsia,[7][8] o que é compreensível quando se considera que ainda era uma variante do galego-português e que só em 1536 com a publicação de Grammatica da lingoagem portuguesa de Fernão de Oliveira o idioma entrou na sua fase madura ou moderna.[9]

Texto editar

Seguem-se dois excertos do testamento com a grafia modernizada:
Em o nome de Deus.

Eu, rei Dom Afonso, pela graça de Deus, rei de Portugal, sendo são e salvo, temente o dia de minha morte, a saúde de minha alma e a prol de minha mulher, rainha Dona Urraca, e de meus filhos, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz minha manda, por que depois minha morte, minha mulher, e meus filhos, e meu reino, e meus vassalos e todas aquelas cousas que Deus me deu em poder estejam em paz e em folgança.

Primeiramente, mando que meu filho, infante Dom Sancho, que hei da rainha Dona Urraca, haja meu reino inteiramente e em paz.

E mandei fazer treze cartas como aquesta, tal uma como a outra, que por elas toda minha manda seja cumprida; das quais tem uma o Arcebispo de Braga, a outra o Arcebispo de Santiago, a terceira o Arcebispo de Toledo, a quarta o Bispo do Porto, a quinta o de Lisboa, a sexta o de Coimbra, a sétima o de Évora, a oitava o de Viseu, a nona o mestre do Templo, a décima o prior do Hospital, a undécima o prior de Santa Cruz, a duodécima o abade de Alcobaça, a terça-décima faço eu guardar em minha reposte.

E foram feitas em Coimbra, quatro dias por andar de junho, Era MCCLII.[Nota 1]

 
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Túmulo de D. Afonso II no Mosteiro de Alcobaça.

Notas e referências

Notas

  1. O ano presente na carta, MCCLII (1252), segue a Era hispânica, calendário usado em Portugal na altura. Corresponde ao ano de 1214 A. D.

Referências

  1. a b c d Instituto Camões (2001). «Os mais antigos textos escritos em português». Consultado em 23 de junho de 2013 
  2. a b c José Ribeiro e Castro (2014). «Língua portuguesa: porquê 27 de Junho?». Consultado em 23 de junho de 2013 
  3. Arquivo Nacional Torre do Tombo. «Testamento de D. Afonso II». Consultado em 23 de junho de 2013 
  4. «O Pacto dos Irmãos Pais, um dos mais antigos escritos portugueses». DicionarioeGramatica.com. 15 de novembro de 2016. Consultado em 15 de novembro de 2016 
  5. Queirós, Luís Miguel (maio de 2002). «Descoberto o mais antigo texto escrito em galego-português». Público 
  6. a b Maya, Maria José (junho de 2014). «A língua portuguesa tem mais de 800 anos!». Ciberdúvidas 
  7. Castro, Ivo (julho de 2014). ««Não têm vergonha cívica de apoiar iniciativas diletantes?»». Jornal de Letras Artes e Ideias (1166) 
  8. Venâncio, Fernando (maio de 2014). «Originalidades da língua portuguesa». PGL 
  9. Frias e Gouveia, Maria Carmen de (2005). «A categoria gramatical de género do português antigo ao português actual» (PDF). Faculdade de Letras da Universidade do Porto 

Referências

Ligações externas editar

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