Tuaregues

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Os tuaregues (em árabe: الطوارق) ou imuagues (Imuhagh) são um povo berbere constituído por pastores seminômades, agricultores e comerciantes. No passado, controlavam a rota das caravanas no deserto do Saara. Maioritariamente muçulmanos, são os principais habitantes da região sahariana do norte da África,[7] distribuindo-se pelo sul da Argélia, norte do Mali,[8] Níger, sudoeste da Líbia, Chade e, em menor número, em Burkina Faso e leste da Nigéria. Podem ser encontrados, todavia, em praticamente todas as partes do deserto. Falam línguas berberes e preservaram uma escrita peculiar, o tifinague.[9] Estima-se que existam entre 1 e 1,5 milhões nos vários países que partilham aquele deserto. [10]

Tuaregue
Imuhaɣ - Imušaɣ - Imašeɣăn - Imajeɣăn[1]
Artesão tuaregue de Hoggar, na Argélia
População total

c. 4 milhões

Regiões com população significativa
Níger 2 596 634 [2]
Mali 704 814 [3]
 Burquina Fasso 406 271 [4]
 Argélia 150 000
 Líbia 100 000 [5]
Nigéria 30 000 [6]
Línguas
Tamajeg, tawellemmet e outras línguas tuaregues, além de árabe magrebino, francês e árabe hassani
Religiões
Islão sunita
Etnia
Berberes
Grupos étnicos relacionados
Hauçás

Etimologia editar

A palavra árabe "tuaregue" deriva de Targa, que é o nome berbere da província da Fazânia, no sul da Líbia. Originalmente, "tuaregue" designava os habitantes da Fazânia. O termo foi incorporado nas línguas inglesa, francesa e alemã durante o período colonial. Targa significa "canal de drenagem" e, por extensão, "terra arável, jardim". Aplicava-se à área de Uádi Alhaiate, entre Saba e Ubari. Em árabe, transformou-se em Bilad al-Khayr ("boa terra").[11]

Segundo Adalberto Alves, no seu Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, a origem da palavra "tuaregue" é a palavra árabe ṭwâriq, "salteadores". Existe também uma versão folclórica, muito difundida, que liga a palavra "tuaregue" a tawariq ("abandonado por Deus"). Basicamente, essa versão parece refletir a desaprovação dos muçulmanos mais ortodoxos ao animismo praticado pelos tuaregues.[11]

Os tuaregues chamam a si próprios de imuagues (Imuhagh; Imazaghan, Imashaghen ou Imazighan, "os homens livres"). A palavra para "homem" é Amajagh (variações: Amashegh, Amahagh) e, para "mulher", Tamajaq (variações: Tamasheq, Tamahaq, Timajaghen). Todas as variantes têm a mesma raiz linguística, expressando a noção de "homem livre", a qual exclui as castas de artesãos e escravos. Coletivamente, eles se identificam como Tamust - a nação. Outra autodesignação, de origem mais recente, é Kel Tamasheq ou Kel Tamajaq (em tifinague, ⴾⴻⵍ ⵜⴰⵎⴰⵌⴰⵆ), que significa "falantes de tamaxeque".[11] Também se encontram, na literatura etnográfica do início do século XX, as expressões Kel Tagelmust, "povo de véu"[12] e "homens azuis".

Origem dos tuaregues editar

A língua tamaxeque - mais do que a linhagem genética - é o principal elo comum entre os vários grupos e o que os caracteriza como povo. Provavelmente têm parentesco com egípcios e marroquinos, com quem compartilham traços culturais e a religião muçulmana. Mas não são árabes - são berberes e usam o alfabeto tifinague. Originalmente, habitavam a costa mediterrânea da África, quando povos asiáticos domesticaram os dromedários, o que possibilitou a travessia do deserto. Assim, começaram a se expandir para o sul, onde formaram vários impérios e civilizações, a ponto de, mesmo no lago Chade, em sua parte sul, no norte dos Camarões e Nigéria, o sangue tipo A, tido como marcador caucasoide, ser bastante comum até os dias atuais.

Costumes editar

 
Em linha tracejada, área onde um número significativo de tuaregues vive atualmente

Usam a linhagem materna embora não sejam matriarcais[carece de fontes?]. São os homens que não dispensam um véu azul-índigo característico, o Tagelmust, que usam mesmo entre os familiares. Dizem que os protege dos maus espíritos. Tem a função prática de proteger contra a inclemência do sol do deserto e das rajadas de areia durante suas viagens em caravana. Usam como um turbante que cobre também todo o rosto, exceto os olhos. As comunidades de tuaregues têm, por norma, oferecer chá de menta aos grupos de turistas.

Hierarquia editar

Têm uma distinta hierarquização formada por castas que descendem da tradicional rainha guerreira Tin Hinan e seu companheiro Takama.

A casta nobre, Imajeren, são os guerreiros. Portam a tradicional espada Takoba, cujo formato lembra muito as espadas medievais das cruzadas. Há pequenas distinções no formato e detalhes entre as espadas de acordo com a região de origem ou dos artesãos-ferreiros que as fazem. A lâmina larga de dois gumes tem um friso longitudinal e o punho é guarnecido por uma peça retangular que lembra uma cruz.

A religião fica a cargo dos Ineselmen, que significa "os Muçulmanos". Eles cuidam da observação das leis do Corão. Desde o século XVI, os Tuaregues têm sido muçulmanos. Exercem-no, contudo, sem muito rigor, devido principalmente ao nomadismo, que os impossibilita de seguir algumas obrigações, como a do Ramadã. Combinam a tradição Sunita (Maliki madhhab) com algumas crenças pré-islâmicas animísticas, como a presença dos espíritos Kel Asuf e a divinização do Corão.

Os "Homens Livres" (Imrad) são a maioria e se dizem descendentes de Takama. Imrad significa "povo das cabras". Podem ter sido Berberes que viviam nas regiões de Ajjer, Ahaggar e Adrar-n-Iforas e que foram dominados pelos Imunan quando sua própria nobreza, os Uraren, se rebelou contra os Imunan.

Os escravos, chamados de Iklan, são compostos por descendentes dos antigos cativos. Desde a dominação francesa em finais do século XIX, não é permitida a escravidão. Mesmo assim, eles permanecem em quantidade considerável e têm as suas próprias subcastas.

Revoltas editar

Antes de se tornarem pacíficos como são atualmente, os Tuaregues cobravam pedágios altíssimos dos outros viajantes, assaltando e massacrando os que deixavam de pagar. Em 1946, com a chegada de novos governos, eles entraram em guerra por sua liberdade (o que acabou com aproximadamente quarenta mil Tuaregues mortos, incluindo mulheres e crianças).[carece de fontes?] Agora, dedicam-se principalmente à música, ao artesanato e ao pastoreio de animais como os dromedários.

Genética editar

Cromossomo Y (ADN-Y) editar

Os haplogrupos do cromossoma Y humano passam ​​exclusivamente através da linha paterna e foram encontrados com as seguintes frequências em tuaregues:

População A/B E1b1a E-M35 E-M78 E-M81 E-M123 F K-M9 G I J1 J2 R1a R1b Outros Estudo
1 Tuaregues da Líbia 47 0 42,5% 0 0 48,9% 0 0 0 0 0 0 0 0 6,4% 2,1% Ottoni et al. (2011)[13]
2 Tuaregues do Mali 11 0 9,1% 0 9,1% 81,8% 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pereira et al. (2011)[14]
3 Tuaregues do Burkina Faso 18 0 16,7% 0 0 77,8% 0 0 5,6% 0 0 0 0 0 0 0 Pereira et al. (2011)
4 Tuaregues do Níger 18 5,6% 44,4% 0 5,6% 11.1% 0 0 0 0 0 0 0 0 33,3% 0 Pereira et al. (2011)
 
Commons
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Referências

  1. http://imuhar.eu/site/en/imuhartuareg/designation.php
  2. «The World Factbook». Central Intelligence Agency. Consultado em 8 de outubro de 2016 , Níger: 11% of 23.6 milhões
  3. «Africa: Mali - The World Factbook - Central Intelligence Agency». www.cia.gov. 27 de abril de 2021. Consultado em 1 de maio de 2021 , Mali: 1.7% of 20.1 million
  4. «The World Factbook». Central Intelligence Agency. Consultado em 12 de outubro de 2021 , Burkina Faso: 1.9% de 21.4 milões
  5. Adriana Petre; Ewan Gordon (7 de junho de 2016). «Toubou-Tuareg Dynamics within Libya» (PDF). DANU Strategic Forecasting Group. Consultado em 1 de novembro de 2020. Arquivado do original (PDF) em 25 de novembro de 2020 
  6. Pongou, Roland (30 de junho de 2010). «Nigeria: Multiple Forms of Mobility in Africa's Demographic Giant». migrationpolicy.org (em inglês). Consultado em 29 de outubro de 2020 
  7. «Q&A: Tuareg unrest». BBC. 7 de setembro de 2007. Consultado em 4 de janeiro de 2008 
  8. «I. CASE BACKGROUND». Consultado em 12 de março de 2017. Arquivado do original em 24 de janeiro de 2017 
  9. Enciclopédia Barsa - Vol. 15, pgs. 225-226. Encyclopædia Britannica Consultoria Comercial Ltda. São Paulo (1994).
  10. «Who are the Tuareg?». Smithsonian Institution. Consultado em 3 de novembro de 2007 
  11. a b c Lopes, Margarida Santos (7 de Abril de 2012). «Tuaregues: quem são os homens que dividiram o Mali». Público. Consultado em 7 de Abril de 2012 [ligação inativa]
  12. Rodd, Francis James Rennell People of the veil. Being an account of the habits, organisation and history of the wandering Tuareg tribes which inhabit the mountains of Air or Asben in the Central Sahara, London, MacMillan & Co., 1926 (repr. Oosterhout, N.B., Anthropological Publications, 1966)
  13. Ottoni C, Larmuseau MH, Vanderheyden N, Martínez-Labarga C, Primativo G, Biondi G, Decorte R, Rickards O., Deep into the roots of the Libyan Tuareg: a genetic survey of their paternal heritage, Am J Phys Anthropol. 2011 May;145(1):118-24. doi: 10.1002/ajpa.21473. Epub 2011 Feb 10
  14. Pereira et al., Y chromosomes and mtDNA of Tuareg nomads from the African Sahel , European Journal of Human Genetics (2010) 18, 915–923; doi:10.1038/ejhg.2010.21; published online 17 March 2010
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