KV62

Tumba de Tutancâmon
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A tumba KV62 (acrônimo de "Kings' Valley #62"), no Vale dos Reis, foi a tumba usada pelo faraó Tutancâmon e se tornou famosa por causa da riqueza e conservação dos tesouros encontrados em seu interior.[2] O primeiro degrau da tumba foi descoberto em 1922 por um menino chamado Housein, (mas a fama de ter descoberto ficou para Howard Carter ) sob ruínas de um acampamento de trabalhadores do Período Raméssida. Isto explica o porquê de a tumba ter escapado de roubos e depredações. Ao ser aberta, ela ainda continha peças de ouro, tecidos, mobília, armas e textos sagrados que revelam muito sobre o Egito de 3400 anos atrás. Os itens encontrados na tumba foram todos carregados para o Museu Egípcio do Cairo exceto um dos sarcófagos que ainda lá permanece.

KV62
Tumba de Tutancâmon
KV62
A máscara de ouro da múmia do faraó Tutancâmon, encontrada na KV62
Localização Vale dos Reis, ao lado da KV9
Extensão total 30,79 m[1]
Área total 109,83 [1]
Descoberta em 4 de novembro de 1922[1]
Escavada por Howard Carter (1922, 1923-32)[1]

A descoberta da Tumba Editar

Em 1907, logo após a descoberta da tumba de Horemebe, a equipe de Theodore M. Davis descobriu também um pequeno sítio contendo artefatos funerários com o nome de Tutancâmon. Assumindo que aquela era a tumba completa de Tutancâmon, Davis encerrou a escavação. Os detalhes das duas descobertas estão documentados em uma publicação de Davis de 1912, The Tombs of Harmhabi and Touatânkhamanou.

 
As decorações das paredes são modestas em relação a outras tumbas reais do Vale dos Reis.

O egiptólogo britânico Howard Carter (patrocinado por Lord Carnarvon) descobriu a tumba KV62 em 4 de novembro de 1922, próxima da entrada da tumba de Ramessés VI, fazendo aumentar novamente o interesse mundial pelo Egito Antigo. Carter junto com seu patrocinador foram os primeiros a entrar na tumba em 3000 anos. Depois de muitas semanas de uma cuidadosa escavação, em 16 de fevereiro de 1923, Carter abriu a câmara do sarcófago e foi o primeiro a ver o sarcófago e os vários itens funerários do faraó.

Cronologia Editar

  • 1922 – Foi encontrado o primeiro degrau da escada de acesso em 4 de novembro,[3] e no dia seguinte a escadaria completa já estava escavada. No final de novembro o corredor de acesso, a ante-câmara, o anexo e a câmara do sarcófago já tinha sido acessados.

O primeiro item foi retirado dia 27 de dezembro.[4] Em 29 de novembro, a tumba foi oficialmente aberta e o primeiro anúncio e coletiva de imprensa foi realizada.

 
Howard Carter e sua equipe no momento em que o túmulo santuário é aberto.
  • 1923 – Em 16 de fevereiro houve a abertura oficial da câmara[5] e em 5 de abril morre o Lord Carnarvon.
  • 1924 – Em doze de fevereiro a tampa de granito da caixa do sarcófago é erguida.[6] Em abril, Carter discute com o Serviço de Antiguidades do Egito e deixa a escavação para os Estados Unidos.
  • 1925 – Em janeiro Carter reassume as atividades na tumba e em 13 de outubro ele remove a cobertura do primeiro sarcófago, em 23 a segunda e em 28 a equipe remove a última e expõe a múmia. Em 11 de novembro, o exame da múmia é iniciado.
  • 1926 – É iniciado um trabalho no tesouro em 24 de outubro.
  • 1927 – Entre 30 de outubro e 15 de dezembro o anexo é esvaziado e examinado.
  • 1930 – Em 10 de novembro, 8 anos após a descoberta da tumba, os últimos objeto são removidos da tumba.

Planta da tumba Editar

Com relação ao design, a tumba aparenta ter sido iniciada para uso privado e não para uso de um faraó.[7] Há algumas evidências de que a tumba teve de ser terminada apressadamente para um ocupante real durante a sua escavação. Isto se apóia no fato de que apenas as paredes da câmara do sarcófago foram decoradas, diferente da maioria das tumbas reais nas quais quase todas as paredes são decoradas com cenas de livros como o Livro dos Mortos.

 
Planta da KV62.

Escadaria Editar

Começa em uma pequena plataforma e tem 16 degraus terminando na primeira porta interna que estava selada e rebocada, embora ela tenha sido perfurada por ladrões pelo menos duas vezes.

Entrada e corredor Editar

Depois da primeira porta, um corredor descendente dá para a segunda porta selada, e então, para uma sala que Carter chamou de Antecâmara. Esta foi usada originalmente para portar o material deixado do funeral e os materiais associados com o embalsamento do faraó. Após alguns roubos, os antigos egípcios moveram esse material para uma tumba própria, ou para a KV54.

Antecâmara Editar

A antecâmara não decorada foi encontrada totalmente desorganizada, em estado de caos, e continha aproximadamente 700 objetos (artigos 14 a 17 no catálogo de Carter) entre eles 3 camas funerais, placas em formato de hipopótamo (a deusa Taweret) de leão e de vaca (a deusa Hator). Talvez, o mais notável item nesta câmara eram os componentes empilhados de quatro bigas, uma usada provavelmente para a caça, uma para a guerra e as outras duas para desfiles.

Câmara do sarcófago Editar

 
Secção tranversal de santuários e sarcófagos da KV62

Decoração Editar

Esta era a única sala decorada na tumba, com cenas do ritual de Abertura de Boca mostrando Ay, o sucessor de Tutancâmon, agindo como o filho do faraó, apesar de ser mais velho que ele, Tutancâmon com a deusa Nut na parede norte, a primeira hora de Amduat na parede oeste, uma passagem do Livro dos Mortos na parede leste e representações do faraó com vários deuses (Anúbis, Isis, Hator e outros que não se consegue ver mais) na parede Sul. A parede norte mostra Tutancâmon sendo seguido por seu ka e sendo recebido no Além-Mundo por Osíris.[8]

Conteúdo Editar

 
Um dos santuários dourados, agora em exposição no Museu do Cairo.

A câmara inteira estava ocupada com uma série de santuários de madeira dourada. Os santuário mais externo media 5,08 m X 3,28 m X 2,75 m e 32mm de espessura, quase enchendo a câmara inteiramente sobrando apenas 60cm nas extremidades e 30 cm nas laterais. Fora dos santuários estavam 11 remos para a Barca do Sol, recipientes para incenso, lanternas decoradas com imagens do deus Hapy (filho de Hórus).

O último santuário mais interno tinha 2,90 m de comprimento e 1,48 m de largura. As paredes estavam decoradas com o processo funerário do faraó e Nut estava pintada no teto abraçando com suas asas o granito exterior do sarcófago.

O sarcófago de Tutancâmon Editar

A caixa de pedra do sarcófago ([A] na figura acima) foi feito em granito. O corpo principal e a tampa foram esculpidos em pedras de diferentes cores em cada canto, o que aparente ter sido construído por um outro dono e depois reesculpido para Tutancâmon, a identidade do dono original não foi preservada.[8] Em cada canto um deus protetor faz a proeção (Ísis, Néftis, Sélquis e Neite).

Dentro do sarcófago de pedra, o corpo do faraó foi colocado dentro de três outros sarcófagos com formato de múmia, o mais interno tornou-se famoso composto de 110,4 kg de ouro puro.[9] Dentro dele a múmia estava vestida com uma famosa máscara de ouro. Essa famosa máscara foi provada que era feita de ouro, lápis-lazúli, Cornalina, Quartzo, Obsidiana, Turquesa e vidro (pesando 11 kg[10]).

 
Vaso de alabastro da tumba.

A Maldição da Tumba Editar

Em torno da abertura do túmulo e de acontecimentos posteriores gerou-se uma lenda relacionada com uma suposta "maldição", lançada por Tutancâmon contra aqueles que perturbaram o seu descanso eterno. O mecenas de Carter, Lord Carnarvon, faleceu a 5 de Abril de 1923, não tendo por isso tido a possibilidade de ver a múmia e o sarcófago de Tutancâmon. No momento da sua morte ocorreu na capital egípcia uma falha elétrica sem explicação e a cadela do lorde teria uivado e caído morta no mesmo momento na Inglaterra. Nos meses seguintes morreriam um meio-irmão do lorde, a sua enfermeira, o médico que fizera as radiografias e outros visitantes do túmulo. Para além disso, no dia em que o túmulo foi aberto oficialmente o canário de Carter foi engolido por uma serpente, animal que se acreditava proteger os faraós dos seus inimigos. Os jornais da época fizeram eco destes fatos e contribuíram de forma sensacionalista para lançar no público a ideia de uma maldição. Curiosamente, Howard Carter, descobridor do túmulo, viveu ainda durante mais quinze anos.

Atualidade Editar

A partir de 2007 a tumba foi aberta para turistas, com uma taxa a parte daquela que já se paga para entrar no Vale. Foi anunciado que o número de visitantes iria ser limitado a 400 por dia, a partir de maio de 2008.[11]

Referências

  1. a b c d «Theban Mapping Project (em inglês)». Consultado em 12 de setembro de 2008. Arquivado do original em 12 de dezembro de 2007 
  2. «Tutankhamun». University College London. Consultado em 10 de junho de 2007 
  3. «Howard Carter's diaries (28 October to 31 December, 1922)». Consultado em 4 de junho de 2007. Arquivado do original em 30 de junho de 2007 
  4. «A. C. Mace's personal diary of the first excavation season (27 December, 1922 to 13 May, 1923)». Consultado em 4 de junho de 2007. Arquivado do original em 30 de junho de 2007 
  5. «Howard Carter's diaries (1 January to 31 May, 1923)». Consultado em 4 de junho de 2007. Arquivado do original em 7 de abril de 2007 
  6. «Howard Carter's diaries (3 October, 1923 to 11 February, 1924)». Consultado em 4 de junho de 2007. Arquivado do original em 7 de abril de 2007 
  7. «KV 62 (Tutankhamen)». Consultado em 10 de junho de 2007. Arquivado do original em 12 de dezembro de 2007 
  8. a b «KV 62 (Tutankhamen): Burial chamber J». Consultado em 10 de junho de 2007. Arquivado do original em 27 de setembro de 2007 
  9. «Note concerning the 3rd Coffin». Consultado em 10 de junho de 2007 [ligação inativa]
  10. Alessandro Bongioanni & Maria Croce (ed.), The Treasures of Ancient Egypt: From the Egyptian Museum in Cairo, Universe Publishing, a division of Ruzzoli Publications Inc., 2003. p.310
  11. «400 visitors to Tutankhamun's tomb». Egypt State Information Service. Consultado em 13 de novembro de 2007 
  • The Discovery of the Tomb of Tutankhamen, by Howard Carter, Arthur C. Mace.
  • The Complete Tutankhamun: The King, the Tomb, the Royal Treasure, by C. N. Reeves, Nicholas Reeves, Richard H. Wilkinson.
  • Reeves, N & Wilkinson, R.H. The Complete Valley of the Kings, 1996, Thames and Hudson, London
  • Siliotti, A. Guide to the Valley of the Kings and to the Theban Necropolises and Temples, 1996, A.A. Gaddis, Cairo

Ver também Editar

Ligações externas Editar

 
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