Ukulele

Membro da família da guitarra, instrumento havaiano contendo 4 cordas

Ukulele ou uquelele[1] (ukulele, /ˈʔu.ku.ˈlɛ.lɛ/, em português: "pulga saltitante", "presente que veio de muito longe"), é um instrumento musical de cordas (cordofone) originário do estado norte-americano do Havaí tocado pelo uquelelista, inspirado em instrumentos portugueses (machete, braguinha e cavaquinho). É formado por um corpo oco e chato, em forma de oito, encontrado em vários tamanhos e formas (sopraninho, soprano, concert, tenor, barítono e baixo), tem um braço que possui trastes que o torna um instrumento temperado, composto de quatro cordas (de tripa ou com materiais sintéticos como náilon, nylgut, fluorocarbono),

Ukulele
Ukulele
Um ukulele
Informações
Classificação Hornbostel-Sachs 321.322
Instrumentos relacionados
Cavaquinho
Violão
Guitarra
Banjo

O uquelele é composto por: mão ou cabeça, casas, braço, trastes, boca, cavalete, corpo, cordas, pestana e tarrachas.

História editar

O ukulele tem sua origem no século XX, tendo como ancestrais o braguinha, o machete e o rajão, instrumentos levados pelos madeirenses, nomeadamente João Fernandes, quando emigraram para o Havaí para trabalhar no cultivo da cana-de-açúcar naquelas ilhas.

No idioma havaiano, ʻukulele quer dizer, dentre as interpretações possíveis, “pulga saltitante”, por causa do movimento das mãos de quem toca o instrumento. Já na interpretação da rainha Liliʻuokalani, significa "presente que veio de muito longe", numa referência às origens do instrumento. Outra hipótese é que a palavra ʻukulele seja derivada de ʻūkēkē, um arco musical nativo do Havaí.[2][3][4]

Além de ser utilizado na música tradicional havaiana, o ukulele foi bastante utilizado na música popular norte-americana. No pré-Segunda Guerra Mundial, foi utilizado por músicos de vaudeville como Roy Smeck e Cliff Edwards. Por ser portátil e relativamente barato, foi muito popular entre jovens músicos amadores durante a década de 1920, evidenciado pela impressão de diagramas de acorde para o instrumento nas partituras de música popular publicadas na época.

No pós-guerra, Mario Maccaferri produziu em larga escala ukuleles de baixo custo feitos inteiramente de plástico. Muito da sua popularidade foi cultivada pelo apresentador de TV e cantor Arthur Godfrey. Tiny Tim também se tornou um ícone do ukulele ao se apresentar com “Tiptoe Through the Tulips”.

O interesse no ukulele caiu até meados dos anos 90, quando sua popularidade voltou a crescer. O conjunto Ukulele Orchestra of Great Britain, formado no final dos anos 80, faz versões de músicas pop no ukulele. O músico havaiano Israel Kamakawiwo'ole também ajudou a popularizar o instrumento, especialmente com seu pot-pourri de "Over the Rainbow" e "What a Wonderful World". George Harrison era um grande apreciador do ukulele, especialmente da sua variedade banjolele, e o utilizou nas gravações de algumas faixas do seu último disco, Brainwashed. Paul McCartney, que utilizou o ukulele na música Ram On, e hoje em seus shows homenageia George Harrison com uma performance de "Something" no seu Gibson tamanho tenor.

Um dos maiores virtuoses do ukulele foi o norte-americano John King (1953–2009), célebre por suas interpretações de obras de Johann Sebastian Bach (como a partita BWV 1006 completa) e pela aplicação da técnica de campanella.[5][6][7] King também escreveu sobre a história do instrumento.[8][9]

Atualidade editar

Destaca-se atualmente o ukulelista e compositor havaiano Jake Shimabukuro (nascido em Honolulu em 1976), que ficou famoso executando a composição de George Harrison intitulada "While My Guitar Gently Weeps". Shimabukuro publicou vários CDs, DVDs e livros, pelos quais recebeu numerosos prêmios.[10]

Músicos ukulelistas editar

No Brasil editar

O ukulele tem alguma popularidade no Brasil hoje, sendo mais conhecido por causa da banda Beirut. Alguns músicos e conjuntos brasileiros o utilizaram nas composições, como a cantora Marisa Monte, no disco Universo ao Meu Redor, o cantor Tiago Iorc, na música “It's a Fluke” do cd Zeski, e a A Banda Mais Bonita da Cidade na música Oração, Clarice Falcão, Evandro Mesquita, Lulu Santos, Zeca Baleiro, Tato (Falamansa) e a atriz Carolina Dieckmann. [11]

O músico James Hill fez alguns workshops no ano de 2012 no país. Também presente em quase todas as músicas da extinta banda TRI. Em 2016 aconteceu o primeiro grande festival e congresso online de ukulele — a Semana do Ukulele, idealizada pelo Mestre Vinícius Vivas (autor da primeira dissertação de Mestrado sobre ukulele no Brasil).[12] O evento contou com 1200 inscritos e palestrantes de diversos estados.

Atualmente, tem-se como um dos propagadores do ukulele o músico João Tostes, criador do site Toca Ukulele[13], que posteriormente tornou-se um canal do youtube. Em seu site disponibiliza cifras, tablaturas e vídeos sobre teoria musical, entrevistas, 'unboxings, entre outros. João Tostes atua como artista instrumental mundialmente[14][15], com shows e palestras em português e inglês, reconhecido como precursor do ukulele no país[16] e já tendo representado o Brasil em 4 diferentes continentes[17][18][19][20][21][15], além de fomentar a criação de vários grupos pelo Brasil através de seu projeto educacional, por intermédio de seu site e redes sociais, convocando outros músicos ou amadores que apreciem o "encantado instrumento das 4 cordinhas mágicas", como ele o caracteriza. Tostes também lançou o primeiro álbum brasileiro dedicado totalmente ao instrumento, chamado naturæ[22]. João Tostes passou a ser reconhecido por grandes nomes da música brasileira, como Nelson Faria e Mozart Mello[14]. João Tostes é o único músico brasileiro presente em listas dos maiores ukulelistas de todos os tempos no mundo, reconhecido como um dos grandes mestres do ukulele mundial[23][24][25]. Além dos trabalhos artísticos, ele também atua como escritor, já tendo lançado mundialmente dois livros relacionados ao ukulele[26][27].

Anualmente também é realizado o Festival Brasileiro de Ukulele, também organizado por João Tostes, com 3 edições já realizadas (2017, 2018 e 2019) em São Paulo (SP)[28][29].

Em Portugal editar

Em 1998, por ocasião da Exposição Mundial de Lisboa, organizou-se pela primeira vez em cem anos um espectáculo com músicos do Havaí e da Madeira, no projecto Father and Son, apresentado nos palcos da EXPO'98 e organizado pela editora madeirense Almasud.

Detalhes técnicos editar

Construção editar

O ukulele normalmente é feito de madeira, entretanto existem alguns que são feitos inteiramente de plástico ou outros materiais. Os ukuleles mais baratos são feitos de madeira compensada laminada, sendo em alguns casos com o tampo feito de uma madeira superior maciça, como o abeto ou o mogno. Outros, mais caros, são feitos inteiramente de madeiras maciças, como mogno ou Koa.

Usualmente os ukuleles têm o formato tradicional de um violão. Também existem outros formatos diferentes, como o “pineapple” (abacaxi), inventado pela oficina havaiana Kamaka Ukulele. Existem também os “Flea” e “Fluke” , que têm o fundo de plástico e o tampo de madeira laminada. Também há o banjo-ukulele (ou banjolele), muito utilizado no Reino Unido por músicos como George Formby e Tessie O'Shea, que é um híbrido entre o banjo e o ukulele.

Tamanhos editar

Quatro tamanhos de ukulele são os mais comuns: soprano, concert, tenor e barítono. Existem também os menos comuns sopranino, com uma escala mais curta do que a do soprano e os ukuleles baixo, nos extremos do espectro.

O soprano, com a escala de 33 cm, também chamado de standard é o original e também mais tradicional. O concert, com escala de 38 cm, foi criado na década de 1920, como uma modificação do soprano, com um braço mais longo. O tenor, que tem a escala com comprimento de 43 cm, foi desenvolvido logo em seguida. O barítono, que tem a escala de 48 cm foi o último a ser inventado, na década de 1940.

O ukulele soprano possui 12 trastes, enquanto que os modelos maiores possuem 18 trastes.

Afinação editar

A afinação mais comum do ukulele soprano no seu auge na década de 20 era a em ré5 [D6]: (lá3 A4, ré3 D4, fá#3 F#4, si3 B4), mas hoje em dia a mais popular é a em dó5 [acorde C6] (sol3 G4, dó3 C4, mi3 E4, lá3 A4). Para os tamanhos concert e tenor a afinação mais usual também é aquela num acorde de C6. Uma característica do instrumento é a utilização da afinação reentrante, em que a quarta corda é mais aguda do que a terceira, também conhecida como "high G" (sol alto). No entanto, uma quarta corda sol grave pode ser utilizada (afinação linear), também chamada "low G".[30] O ukulele barítono normalmente é afinado linearmente em ré sol si mi (DGBE), como as 4 cordas mais agudas de um violão. O ukulele tenor, na época de sua criação também tinha essa afinação como recomendada.

 


 


 

Como aprender editar

Existem diversas escolas de música espalhadas pelo país que ensinam ukulele. Isso tem se tornado comum, sendo fácil encontrar uma escola que dê aulas ou esteja interessada em começar uma turma para ensinar. Para aprender sozinho, já foi publicado no Brasil o livro "Ukulele para Leigos" que vem com um CD de áudio e explicações focadas em iniciantes e pode ser encontrado em livrarias online. Também é possível aprender gratuitamente através de canais do youtube em português como Ukulele Fácil para Todos, Toca Ukulele, ProAlex, Uke4Fun, Jô Pires, Quatro Cordas,Ukulele Fácil, Como Tocar Ukulele, Faladeira de Domingueira, e vários outros.

Grafia editar

A grafia exótica do nome do instrumento pode gerar confusões. Já foram registradas diversas variações, sendo a mais comum ukelele. Alguns dicionários de língua portuguesa registram uculele[31][32] ou uquelele.[33][34][35] A rigor, a palavra, na língua havaiana, é escrita ʻukulele', com a letra ʻokina' (oclusiva glotal) no início. No entanto, na língua portuguesa, seguindo a grafia americana, na prática convencionou-se escrever sem.

Pronúncia editar

Na pronunciação na língua havaiana, a palavra é paroxítona,[36][37] com /E/ abertos[38][39], ou seja: Ú-ku-LÉ-lé (AFI: [ˈʔukuˈlɛlɛ], X-SAMPA: /"?uku"lElE/). No Brasil, costuma-se pronunciar ukulele como uma palavra oxítona, devido a analogia com palavras de origem africana, como maculelê, não relacionada ao instrumento.

Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  2. http://www.unirio.br/ppgm/arquivos/dissertacoes/vinicius-vivas - VIVAS, Vinicius. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro, UNIRIO, 2015. Seção "Origens, significados, pronúncia e disseminação", p.9.
  3. http://www.nalu-music.com/?p=98 - KING, John. How I Learned to Play the ‘Ukulele.
  4. The History behind the ‘Ūkēkē: The Indigenous Stringed Instrument of Hawai‘i. Consultado em 22 de abril de 2018.
  5. http://www.jsbach.org/kingpartitano3forunaccompaniedukuleleandotherbaroquemasterpieces.html
  6. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/110648/000795959.pdf?sequence=1 - (Seção 1.3.1, p.29)
  7. http://www.psgoodrich.com/ukulele/Ukulele-MyDogHasFleas-SpiritofAlohaAlohaAir.pdf - John King: “How I Learned to Play ʻUkulele”
  8. http://evols.library.manoa.hawaii.edu/bitstream/handle/10524/382/JL37007.pdf?sequence=2 - KING, John & TRANQUADA, Jim. A New History of the Origins and Development of the ʻUkulele, 1838—1915. In The Hawaiian Journal of History, vol. 37. 2003.
  9. http://nalu-music.com/?cat=4 - Textos em inglês sobre história do ukulele, por John King.
  10. https://www.jakeshimabukuro.com/home/
  11. https://semanadoukulele.com.br/8-cantores-brasileiros-que-tocam-ukulele-os-mais-famosos/
  12. http://www.unirio.br/ppgm/arquivos/dissertacoes/vinicius-vivas - VIVAS, Vinicius de Moura. O uso do ukulele na aprendizagem de acompanhamentos harmônicos no processo de musicalização: Estudo de caso com alunos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro, UNIRIO, 2015.
  13. Tostes, João. «Toca Ukulele - O maior conteúdo brasileiro de ukulele». Toca Ukulele. Consultado em 25 de março de 2020 
  14. a b «João Tostes: o ukulele instrumental brasileiro ao vivo pelo mundo em 4 anos de história» 
  15. a b «MÚSICOS BARBACENENSES REPRESENTAM O BRASIL PELA 1ª VEZ EM FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA». 14 de julho de 2017 
  16. Tô Indo 18/08: Luthier mostra à Mário instrumentos que fabrica com recicláveis - TV Integração - Tô Indo - Catálogo de Vídeos, consultado em 25 de março de 2020 
  17. «Czech Ukulele Festival míří opět do pivovaru» (em checo). 27 de julho de 2017 
  18. «ABOUT US - O NÁS :: Ukulele-institute» (em checo) 
  19. «Aquila Ukulele Festival 2018, dal 13 al 15 luglio al Teatro Astra di Vicenza » End Of a Century» (em italiano). 30 de abril de 2018 
  20. 기자|, 김순희 (22 de agosto de 2018). «제13회 서울국제알로하우쿨렐레페스티벌 25일 개최 -» (em coreano) 
  21. «Invasione dell'Ukulele a Vicenza: al via lo storico festival dal mood hawaiano» (em italiano) 
  22. Braziliense, Correio; Braziliense, Correio (26 de junho de 2018). «Músico mineiro João Tostes lança álbum de ukulele» 
  23. Kennedy, Anne (6 de fevereiro de 2020). «51 Best Ukulele Players of All Time» (em inglês) 
  24. «João Tostes - The Master Of Ukulele» (em inglês). 15 de março de 2020 
  25. «João Tostes präsentiert sein originelles Album 'Live Ukulele Here, There & Everywhere' (+Audio) [Unplugged / Acoustic Rock]» (em inglês). 19 de março de 2020 
  26. «João Tostes - Clube de Autores» 
  27. «João Tostes | Ukulele sem fronteiras - Livros publicados» 
  28. 3º Festival Brasileiro de Ukulele 3º Festival Brasileiro de Ukulele, 3º Festival Brasileiro de Ukulele, 25 de março de 2020.
  29. «BARBACENENSE ORGANIZA FESTIVAL NACIONAL DE UKULELE NA USP, EM SÃO PAULO». 30 de abril de 2018 
  30. https://ukuleleintheclassroom.com/making-sense-of-ukulele-tunings - Making Sense of Ukulele Tunings
  31. https://en.wiktionary.org/wiki/uculele
  32. BORBA, Tomás & GRAÇA, Fernando Lopes. Dicionário de música (ilustrado). Lisboa: Edições Cosmos, 1963. 2.º tomo: I-Z, p.157. (Verbete Machete).
  33. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, quinta edição, 2009. http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario - uquelele (Consultado em 21 de abril de 2018).
  34. https://www.dicio.com.br/uquelele/ - Dicio, Dicionário Online de Português. Consultado em 21 de abril de 2018.
  35. https://www.priberam.pt/dlpo/uquelele - Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Verbete uquelele. Consultado em 21 de abril de 2018.
  36. Ulukau. Hawaiian Dictionaries. Hwn Dict/Māmaka.
  37. Ulukau. Hawaiian Dictionaries. Parker Dictionary.
  38. To-Hawaii.com. Hawaiian Dictionary: A brief Hawaiian dictionary.
  39. When short /e/ is stressed it is lowered to [ɛ]. In a sequence of two or more syllables with /e/, unstressed /e/ can also be lowered to [ɛ] but it is otherwise [e]. For example, ʻeleʻele ('black') is pronounced [ˈʔɛlɛ.ʔɛlɛ].
    Wikipédia em inglês - Hawaiian phonology: Monophthongs. (Consultado em 22 de abril de 2018).

Ligações externas editar

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