União da Esquerda para a Democracia Socialista

partido político português

A União da Esquerda para a Democracia Socialista (UEDS)[2], referido também por União de Esquerda Socialista Democrática[3] foi um partido de esquerda português.

União da Esquerda para a Democracia Socialista
Fundaçãojaneiro de 1978
Dissoluçãoabril de 1986
SedePortugal Portugal
IdeologiaAutogestão[1]
Socialismo
Socialismo democrático
Espectro políticoEsquerda
Ala de juventudeJuventude União Esquerda Democracia Socialista
Afiliação nacionalFrente Republicana e Socialista
Partido Socialista
CoresVermelho

Origens

editar

Dissidência ideológica

editar

O caminho para a criação da UEDS iniciou-se em 1976. No 2º congresso do PS a 30 de outubro, as tensões aumentam entre Mário Soares, líder da maioria e o grupo congregado à volta de António Lopes Cardoso.[4] A 3 de novembro este demite-se do cargo de Ministro da Agricultura do Governo PS, em discordância com a política de destruição da reforma agrária. Seria substituído por António Barreto e que levaria à promulgação da famosa "Lei Barreto" em Janeiro de 1977, que substituiria a anterior "Lei da Reforma Agrária" do ministro Fernando Oliveira Baptista durante o IV governo provisório.[4]

A associação Fraternidade Operária

editar

António Lopes Cardoso começa então contactos dentro e fora do PS para criar uma "associação político-cultural com vocação para intervir na vida política e sindical" (p. 221).[4] A nova associação situar-se-ia politicamente à esquerda do PS. Surge então a Fraternidade Operária, designação provavelmente cunhada por Fernando Piteira Santos. A designação tinha antecedentes históricos de 1870s, relevantes para este setor político.[5][6] Realiza o seu 1º Encontro Nacional, em Junho de 1977 no Instituto Superior Técnico.

Rutura e a criação da UEDS

editar

Outros deputados socialistas como José Brás Pinto e Vital Rodrigues juntaram-se a António Lopes Cardoso no voto contra a moção de confiança apresentada por Mário Soares, em Dezembro de 1977, que determinou a queda do Governo. Mais tarde viriam também a integrar a UEDS.

A crise governativa acentuou a necessidade de legalizar o partido e cumprir as formalidades burocráticas, mas que a falta de um "aparelho" complicava.[4]

A UEDS foi fundada em Janeiro de 1978 na Convenção da Esquerda Socialista e Democrática. O partido tem as suas origens na Associação de Cultura Socialista — Fraternidade Operária, uma organização socialista, no Movimento Socialista Unificado (MSU) grupo vindo do MES, na própria LUAR, e em grupos de pessoas independentes ligadas ao Partido Socialista.[3][4]

Protagonistas

editar

Foi seu líder carismático, António Lopes Cardoso.

Do grupo de personalidades ligadas à UEDS, podemos referir Maria de Lurdes Pintassilgo e Fernanda Lopes Cardoso, esposa de Lopes Cardoso e co-fundadora do partido.

César Oliveira nas suas memórias faz o mapeamento dos militantes.[4]

Vindos do Movimento Socialista Unificado: António Vitorino, Joel Hasse Ferreira, Jorge Dias, José Maria Brandão de Brito, Pedro Rodrigues, Rui Namorado.

Vindos da LUAR: Camilo Mortágua, Fernando Pereira Marques, entre outros.

Independentes como: Professores Eduardo Cortesão, Jacinto Prado Coelho e Mário Murteira, jornalista Fernando Alves.

Destaca, particularmente, duas categorias profissionais:

  • Economistas: Acácio Catarino (independente), Américo Ramos dos Santos, José Maria Brandão de Brito, Joaquim Castro Guerra, João Mendes Espada, Mário Murteira, Vítor Martins.
  • Professores: Terá sido o trabalho mediador da Fraternidade Operária a permitir uma lista unitária de esquerda (excluindo o PS) conquistando o Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SGPL). Com três militantes, César Oliveira, Jofre Justino e Maria Vitória Oliveira, conjugando ainda Eduarda Dionísio e João Bonifácio Serra (ex-MES), Rui Canário (UDP), Helena Pato (PCP).

Fraternidade Operária

editar

Outros protagonistas na Fraternidade Operária incluíram: Eduardo Lourenço, Eduardo Prado Coelho, Kalidás Barreto, Miriam Halpern Pereira, Paulo Quintela, Rui Polónio Sampaio, Tomaz Leiria Pinto. No seu 1º Encontro Nacional, em Junho de 1977 no Instituto Superior Técnico, juntaram-se ainda: Abílio Soares (Viana do Castelo), Agostinho Chaves (Funchal), Albano Pimentel (Ponta Delgada), Álvaro Mendes (Aveiro), Joaquim Leonardo Martins (Castelo Branco), José Luis Gaspar (sindicalista), José Penedos (Coimbra), Luis Almeida Henriques (Viseu), Manuel Castela (Santarém), Raul Pinto Rodrigues (Sesimbra). Incluíam ainda sindicalistas do setor dos seguros, escritórios, lanifícios e vestuário, função pública, eletricistas, hotelaria, etc.[4]

Participações eleitorais

editar

O partido participou nas eleições legislativas de 1980 em coligação com o Partido Socialista (PS) e a Acção Social Democrata Independente (ASDI), sob a denominação de Frente Republicana e Socialista (FRS), tendo elegido quatro deputados.[7] No ano anterior já tinha concorrido sozinha às eleições intercalares, tendo obtido menos de um por cento da votação.

Nas eleições seguintes de 1983, os membros do partido integraram as listas do Partido Socialista, tendo elegido de novo quatro deputados que formaram um grupo parlamentar.[7] O seu manifesto eleitoral foi televisionado e é disponibilizado pela RTP.

Para além de António Lopes Cardoso também foram eleitos deputados por este partido, António Vitorino, César de Oliveira[8], Dorilo Inácio[9], Francisco Pessegueiro[10], João Oliveira[11], Joel Hasse Ferreira[12], Octávio Cunha[13] e Teresa Santa Clara Gomes[14].

Nas eleições presidenciais de 1986 os membros do partido separaram-se, uma parte apoiando Mário Soares e a outra Maria de Lurdes Pintasilgo. Na segunda volta, os votos conjugaram-se em Mário Soares, contra a candidatura de Freitas do Amaral.[15]

Encerramento

editar

O partido foi desactivado em 1986 embora o seu cancelamento só tenha ocorrido em 1997. Alguns dos seus membros mais destacados inscreveram-se no Partido Socialista.[3] Outros, como Carlos Prazeres Ferreira e Álvaro Arranja, participaram na fundação do Bloco de Esquerda.

Encontros

editar
  • (Junho de 1977, 1º Encontro Nacional da Fraternidade Operária, no Instituto Superior Técnico, Lisboa)
  • Janeiro de 1978, 1ª Convenção fundadora, Pavilhão dos Desportos, Lisboa
  • 1ª Festa da Fraternidade, Campo de Ourique

Resultados Eleitorais

editar

Eleições legislativas

editar
Data Líder Cl. Votos % Deputados +/- Status Notas
1979 António Lopes Cardoso 7.º 43 325
0,7 / 100,0
0 / 250
Extra-parlamentar
1980 António Lopes Cardoso Frente Republicana e Socialista
4 / 250
 4 Oposição
1983 António Lopes Cardoso Nas listas do Partido Socialista
4 / 250
  Governo

Ver também

editar

Referências

  1. Namorado, Rui (fevereiro de 1986). «Em defesa de um projecto autogestionário (cinco teses sobre o controlo da produção dez anos depois de Abril)» (PDF). Revista Crítica de Ciência Sociais (18/19/20). Consultado em 24 de fevereiro de 2015 
  2. «Glossário de Siglas Partidárias». Assembleia da República. Consultado em 31 de maio de 2025 
  3. a b c «União de Esquerda Socialista Democrática». Comissão Nacional de Eleições. Consultado em 7 de julho de 2025. Cópia arquivada em 31 de março de 2025 
  4. a b c d e f g Oliveira, César (1993). Os anos decisivos. Portugal 1962-1985. Um testemunho. [S.l.]: Editorial Presença 
  5. «1871-1872: O Grupo do Cenáculo e a Associação Fraternidade Operária | Partido Socialista». Site oficial do PS - Partido Socialista. 5 de fevereiro de 2018. Consultado em 4 de maio de 2025 
  6. Tavares, Júlia M. (3 de junho de 2022). «Nas ruas da cidade de Lisboa existe uma história da classe operária que é preciso recordar». PÚBLICO. Consultado em 4 de maio de 2025 
  7. a b «Resultados Eleitorais». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009. Arquivado do original em 16 de julho de 2012 
  8. «César de Oliveira». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009 
  9. «Dorilo Inácio». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009 
  10. «Francisco Pessegueiro». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009 
  11. «João Oliveira». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009 
  12. «Joel Hasse Ferreira». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009 
  13. «Octávio Cunha». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009 
  14. «Teresa Santa Clara Gomes». Assembleia da República. Consultado em 9 de maio de 2009 
  15. «CD25A». www.cd25a.uc.pt. Consultado em 4 de maio de 2025 
  Este artigo sobre política ou um(a) cientista político(a) é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.