União de Lublin
A União de Lublin (lituano: Liublino unija; ucraniano: Лю́блінська у́нія; bielorrusso: Лю́блінская ву́нія; polonês: Unia lubelska) foi um ato político, assinado em 1 de julho de 1569, em Lublin, Polônia, que transformou o Reino da Polônia e o Grão-Ducado da Lituânia em um único estado, a República das Duas Nações. A República foi governada por um único monarca eleito que continuou com as funções de Rei polonês e Grão-duque da Lituânia governando juntamente com o Senado e o parlamento (a Sejm). A União foi um estágio evolutivo da aliança polaco-lituana e união pessoal, necessária devido a perigosa posição da Lituânia nas guerras com a Rússia.[1]
Constituindo um evento crucial na história de diversas nações, a União de Lublin tem sido vista de forma bem diferente por diversos historiadores. Historiadores poloneses concentraram-se no seu aspecto positivo, enfatizando a sua criação pacífica, voluntária e o seu papel na propagação da cultura polonesa. Historiadores lituanos são mais críticos em relação à união, apontando que ela foi dominada pela Polônia. Historiadores russos e especialmente os bielorrussos e ucranianos enfatizam que apesar de seu interesse pela nobreza, a República nada fez além de oprimir seus camponeses (embora a situação dos camponeses na República não tenha sido pior daquela dos camponeses na Moscóvia).
História
editarPreliminares
editarHouve grandes discussões antes do tratado ser assinado, como as dos magnatas lituanos que temiam perder muitos de seus poderes, uma vez que a união traria, perante a lei, um tratamento de igualdade com relação à numerosa nobreza mais baixa. Porém a Lituânia enfrentava a ameaça de uma derrota total na guerra livoniana contra a Rússia e sua incorporação pela Rússia moscovita, e a nobreza polonesa estava relutante em oferecer ajuda a Lituânia sem receber nada em troca. Além disso, a nobreza polonesa (a szlachta), Zygmunt II August, Rei da Polônia e Grão-duque da Lituânia, também pressionavam para que a união acontecesse.
Sejm de 1567
editarQuando a Sejm se reuniu em janeiro de 1567 perto da cidade polonesa de Lublin o rei viu que os magnatas lituanos poderiam não assinar a união, então ordenou a incorporação das terras controladas ao sul da Lituânia (Podláquia, Volhynia, Podolia e Kiev) pela Polônia. Estas históricas terras Rus' compõem mais da metade da atual Ucrânia e eram naquele tempo, uma parte significativa do território lituano. Em 28 de junho as últimas objeções foram superadas e o ato foi assinado pelo rei em 4 de julho.
Conseqüências
editarMilitares
editarA Polônia forneceu ajuda militar para a Lituânia, naquela guerra contra a Rússia, depois da união das duas entidades, mas não devolveu os territórios anteriormente anexados. A Lituânia teve que reconhecer a incorporação pela Polônia das regiões da Podlachia, Volhynia, Podolia e Kiev.
Políticas
editarA União de Lublin foi a maior realização e também o maior fracasso de Zygmunt. Embora tivesse criado o maior estado na Europa daqueles tempos, que perduraria por mais 200 anos, Zygmunt falhou na aplicação das reformas que criariam um sistema político viável. Ele esperava estender a monarquia com o suporte da nobreza mais baixa e equilibrar as forças entre esta e os magnatas. Contudo, embora toda a nobreza fosse teoricamente igual perante a lei, a força política dos magnatas não enfraqueceu significativamente e ao final de tudo eles puderam freqüentemente tanto subornar quanto coagir seus inferiores irmãos de classe. Além disso, o poder real continuaria a diminuir, enquanto que o de seus estados vizinhos continuaria a evoluir e a se fortalecer centralizado nas monarquias absolutistas. A República levaria sua Liberdade dourada até se chegar a uma quase anarquia política que lhe custaria a existência.
A união de Lublin provocou a fusão dos dois estados, embora eles continuassem a manter importantes graus de autonomia, cada um tendo seu próprio exército, suas finanças, leis e administração. Embora os dois países fossem iguais na teoria, a Polônia se tornaria o parceiro mais dominante por sua maior influência cultural. Devido as diferenças demográficas entre os dois países, a representação nas Sejm dos deputados poloneses em relação aos lituanos era de 3 para 1.
Cultural
editarDepois da união, os nobres lituanos tiveram os mesmos direitos legais que os nobres poloneses tinham com relação às suas terras e propriedades. Contudo, os avanços políticos no domínio católico da República, teve aspectos diferenciados.
Na vida cultural e social, contudo, tanto o idioma polonês quanto o Catolicismo tornaram-se dominantes para a nobreza rutena, cuja maioria falava inicialmente o idioma ruteno e professavam a religião Ortodoxa Oriental. Contudo os cidadãos comuns, especialmente os camponeses, que habitavam os antigos territórios rutenos colonizados pela Szlachta, continuaram a falar o seu idioma próprio e a manter a sua religião Ortodoxa, o que veio causar uma divisão entre a classe social mais baixa da população e a nobreza nas áreas lituanas e rutenas da República. Alguns magnatas rutenos tentaram resistiram à chamada "polonização" se convertendo ao Cristianismo Ortodoxo e contribuindo com donativos para a manutenção de escolas e igrejas ortodoxas rutenas. Contudo, a pressão da polonização foi mais forte para que pudessem resistir às gerações subseqüentes e gradativamente quase a totalidade da nobreza rutena foi polonizada.
A União de Lublin foi substituída pela Constituição de 3 de Maio a partir de 1791, quando a federativa República se transformou em um estado único pelo Rei Stanisław August Poniatowski. Contudo a constituição não foi totalmente implementada.
As revoltas dos Cossacos e intervenções estrangeiras conduziram às Partições da Polônia pela Rússia, Prússia e Áustria-Hungria em 1795. A União de Lublin esteve também temporariamente suspensa no período em que vigorou a União de Kėdainiai.
A União de Lublin criou o maior estado da história da Europa (se for levado em consideração apenas os estados localizados exclusivamente na Europa, sem contar os Impérios russo e romano), antes da chegada da União Europeia no século XX. Muitos historiadores consideram também que a União de Lublin teria criado ainda um estado semelhante à atual União Europeia. Porém, o anterior criou um estado de países unidos mais fortemente do que a atual União Europeia.
Ver também
editarReferências
- ↑ «União de Lublin». Encyclopædia Britannica Online (em inglês). Consultado em 26 de agosto de 2020
Ligações externas
editar- «Texto completo da União» (em polaco)