Urraca Lourenço da Cunha
D. Urraca Lourenço da Cunha (? - Braga, dezembro de 1269) foi alcaidessa do Castelo de Santarém e instituidora de um vínculo no ano de 1269, que perduraria até à extinção dos morgadios em Portugal..
Urraca Lourenço da Cunha | |
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Alcaidessa do Castelo de Santarém | |
Armas da família Cunha, senhores de Tábua | |
Nascimento | ? |
Morte | Dezembro de 1269 |
Braga, Reino de Portugal | |
Pai | D. Lourenço Fernandes da Cunha, senhor de Tábua e de S. Miguel da Cunha |
Mãe | D. Maria Lourenço de Maceira |
Ocupação | Alcaidessa, Morgada, Fidalga |
Biografia
editarEra filha do cavaleiro medieval Lourenço Fernandes da Cunha[1], senhor de Cunha-a-Velha, com D. Maria Lourenço de Maceira, e irmã do senhor de Tábua, tendo pertencido, assim, a uma poderosa família da nobreza medieval, os Cunhas.[2]
Foi casada com Martim Martins Dade,[3] alcaide-mór do Castelo de Santarém que - juntamente com outro irmão de Urraca, Egas Lourenço da Cunha - se destacou como comandante militar na chamada conquista do Algarve, no ano de 1249.[4]
Do seu casamento não ficou geração que subsistisse, pois D. Urraca, no seu testamento, não nomeia nenhum filho.[5]
No final do ano de 1269, instituiu um vínculo para uma capela da Sé de Braga, a de São Bento, que tinha os respectivos bens (propriedades fundiárias) em Santarém e na Golegã e incluía ainda várias casas em Braga; o encargo pio do vínculo era a celebração de uma missa nessa capela, "até o fim dos tempos".
Embora seu pai tenha escrito um dos primeiros documentos em língua portuguesa, a chamada "Notícia de Torto",[6] o testamento de D. Urraca foi redigido em latim, e teve por testamenteiro o seu sobrinho, frei Geraldo Domingues da Cunha, então conselheiro régio e depois bispo do Porto (1300 - 1308), de Placência (1308 - 1314) e de Évora (1314 - 1321). O texto do testamento estipulava que a administração dos rendimentos do vínculo, e o encargo de celebração de missa diária, seriam da responsabilidade do sobrinho Frei Geraldo e de outro irmão (primogênito) da instituidora, D. Gomes Lourenço da Cunha, padrinho do rei D. Dinis.[7] Segundo a cláusula sucessória do vínculo, depois do falecimento do irmão Gomes Lourenço a respectiva administração passaria para o parente mais próximo deste, e assim sucessivamente, sem que nenhuma das propriedades pudesse ser jamais alienada.[5]
O vínculo-capela de D. Urraca (1269 - 1863)
editarNa segunda metade do século XVI, era administrador do vínculo (em sucessão a seu pai) o fidalgo da casa real e morgado de Parada (em Guilhabreu), Vicente Novais da Cunha (Porto, 1504 - Porto, Rua das Flores, 20.06.1596),[5] na sua qualidade de parente mais próximo, na época, de D. Gomes Lourenço da Cunha (o primogénito da linhagem dos Cunhas, no final do século XIII).[5] [7]
Vicente Novais casou, a 11.09.1551, com D. Branca da Silva, da casa dos senhores de Angeja, com geração; e a sucessão no vínculo de D. Urraca passaria para uma das suas filhas, D. Brites da Silva (c. 1552 - 18.12.1620).
D. Brites da Silva viria a casar, em 18.03.1570, com D. Francisco de Ataíde de Azevedo (c. 1550 - 11.05.1619), senhor das honras de Barbosa e Ataíde - e irmão do mártir jesuíta, Beato Inácio de Azevedo e do 20.º vice-rei da Índia, D. Jerónimo de Azevedo.
A administração do vínculo de D. Urraca, e respectivas propriedades, passou em seguida para os descendentes deste casal (família Ataíde Azevedo e Brito Malafaia, senhores de Barbosa e Ataíde) e neles permaneceria até à extinção final dos morgadios, no ano de 1863.
Pelo que este morgadio-capela, instituído no século XIII e representando a linha de sucessão primogénita da linhagem dos Cunhas,[7] perdurou por um total de 594 anos.[5] [8]
Referências
- ↑ Pizarro, José Augusto de Sotto Mayor (1999). Linhagens medievais portuguesas: genealogias e estratégias (1279-1325). Vol. II. Porto: Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família, Universidade Moderna. p. 350. OCLC 1302329140
- ↑ Mattoso, José. (1995). Identificação de um país : ensaio sobre as origens de Portugal, 1096-1325 5a. ed., rev. e actualizada ed. Lisboa: Editorial Estampa. pp. 180–181. OCLC 34193827
- ↑ «Biblioteca Nacional Digital. GAIO, Felgueiras. Nobiliário de famílias de Portugal. Tomo X.». purl.pt. 1938. p. 144. Consultado em 17 de abril de 2022
- ↑ Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra. Livro Primeiro. Robarts - University of Toronto. Coimbra: Coimbra : Imprensa da Universidade. p. 407
- ↑ a b c d e Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (1 de janeiro de 2019). «Vicente Novais, o que veio rico da Índia». Armas e Troféus, Revista de História, Heráldica, Genealogia e Arte: 293-296. Consultado em 17 de abril de 2022
- ↑ Ramos, Rui; Sousa, Bernardo Vasconcelos e; Monteiro, Nuno Gonçalo (29 de julho de 2014). História de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros. p. 176.
Os mais antigos documentos não literários escritos em Português e que chegaram até nós são o testamento de D. Afonso II, de 1214, e a chamada Notícia de Torto, que não apresenta data, mas foi datada criticamente de 1214-1216
- ↑ a b c Anselmo Braamcamp Freire, op. cit., pp. 157 - 158 e p. 158 nota 3: "D. Lourenço Fernandes da Cunha (...) teve primogénito a D. Gomes Lourenço da Cunha. Sucedeu este nos senhorios e padroados possuidos por seu pai (...) '... e foy padrinho delrey dom Dinis' (3)"
- ↑ Gazeta de Lisboa. Supplemento à Gazeta de Lisboa Numero XXI Sexta feira 29 de Maio de 1801. LIsboa: Na officina de Antonio Correa Lemos. 1801. Consultado em 19 de maio de 2024.
O Casal de Azeitada (...) pertencente à casa administrada de D. Luiz Ignacio d'Ataide Azevedo Brito Malafaia
Ligações externas
editar- Vicente Novais, o que veio rico da Índia, por Augusto-Pedro Lopes Cardoso, Armas e Troféus, 2019