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Durvalino de Souza é um dos nove filhos de Rosa Amélia de Faria, nascida na Bahia, em Remanso, e do líder camponês José Porfírio de Souza (12 de julho de 1913, Tocantins - Julho de 1973, Goiânia), que ficou conhecido pela liderança na principal revolta camponesa da década de 50, de Trombas e Formoso, no estado de Goiás.[1]

Bandeira do Estado de Goiânia

O estudante é apresentado como um dos desaparecidos da época da Ditadura Militar Brasileira. Seu caso foi investigado pela Comissão Nacional da Verdade, que declarou que as circunstâncias do desaparecimento ainda não estão devidamente esclarecidas e precisas ser melhor investigadas.

Biografia editar

Durvalino de Souza nasceu em Pedro Afonso, Tocantins, no dia 23 de outubro de 1947, e faleceu em Goiás em 1973, mesmo ano que o pai José Porfírio de Souza, que teve uma trajetória política importante e acabou por se filiar ao Partido Comunista. Esse contexto, junto da atuação política incisiva do pai, teria sido o fator impulsionador da perseguição política por parte do estado.

Relatos obtidos por meio da Comissão Nacional da Verdade indicam que a vítima teria enlouquecido na época da Ditadura Militar Brasileira, após sucessivas sessões de tortura. Arão de Souza Gil, camponês e tio de Durvalino, testemunhou o quadro de saúde mental do sobrinho. O jovem era são até os 17 anos, quando iniciaram sucessivas prisões por parte de agentes do estado. A primeira prisão ocorreu em Trombas (GO), de onde foi levado para Balsas (MA). " […]. Ele chegou sadio, era estudante, era novo, 17 anos. Quando chegaram com ele em Balsas, ele já estava louco”.[2]

Após apresentar o quadro de distúrbios mentais, os familiares decidiram internar Durvalino em um hospital psiquiátrico em Goiânia. "[...] Ele ficou uma temporada lá e depois fugiu. Chegou lá em casa, na roça, naquele tempo eu tinha frutas na horta, aí ele pegava uma mexerica daquelas e comia com casca e tudo, louco de tudo. Aí a hora que ele melhorava um pouco, ele me contava assim: 'Tio, você sabe como eles tratam gente no hospício? Eles dão choque e derrubam a gente'. Aí, fomos obrigados a trazer ele e colocar no Adauto Botelho, foi a última vez".[3] A instituição também teria sido responsável pela internação de outros presos políticos. Após a internação, aos 26 anos, no Hospital Adauto Botelha, em Goiânia, Durvalino de Souza foi dado como desaparecido.

Circunstâncias da Morte editar

Com o início das investigações da Comissão Nacional da Verdade a respeito dos desparecidos políticos da Ditadura Militar Brasileira, alguns contatos foram feitos com a ouvidoria do Hospital Adauto Botelha. Os responsáveis alegaram que os documentos sobre os pacientes são arquivos por até vinte anos após o primeiro registro de prontuário. Além disso, também afirmaram que os pacientes geralmente passavam pelo Hospital Wassily Chuc antes de serem dirigidos para o Hospital Adauto Botelho. Sendo assim, há possibilidade de Durvalino de Souza ter passado pelo mesmo procedimento. Por meio dessa investigação, foi identificado que a vítima despareceu, em 1973, do Hospital Adauto Botelho.

Ao prosseguirem com as investigações, a Comissão Nacional da Verdade declarou que as circunstâncias específicas que levaram Durvalino à morte ainda são desconhecidas e sugeriram a continuidade das investigações.

José Porfírio de Souza editar

Conhecido como Zé Porfírio, José foi um líder notório de movimentos camponeses no Brasil. A última informação que se tem a respeito de seu paradeiro, é que ele se dirigiu à rodoviária Plano Piloto, após sair de um quartel em Brasília. Mesmo após as investigações da Comissão Nacional da Verdade sobre o caso, ainda não há conclusões exatas sobre o destino do militante, sendo que não há comprovações de que ele ter embarcado em algum transporte na ocasião. Segundo declaração feita em 2014 por Marcantônio Dela Côrte, que na época representava a Associação dos Anistiados Políticos de Goiás, "os militares tinham muito medo de Porfírio". [4]

Em 1962, Porfírio teve a oportunidade de visitar Cuba e especula-se que, na ocasião, recebeu treinamento político. Após essa etapa, conseguiu ser eleito na Assembléia Legislativa de Goiás e, como não podia representar o Partido Comunista Brasileiro na época, uma vez que este era considerado ilegal, representou uma coalizão PSD-PTB. Entretanto, teve pouco tempo para exercer sua função política, pois foi um dos primeiros alvos a ser perseguido durante a Ditadura Militar Brasileira.

Porfírio teve nove filhos e dois deles, Manoel e Durvalino, foram perseguidos por agentes do Estado. Manoel, mais conhecido como Mané Preto, militava ao lado do pai e foi preso em 1973 e permaneceu encarcerado no Rio de Janeiro, no DOI-Codi até 1977, onde foi torturado e ficou paralítico. Já Durvalino passou a ser perseguido e torturado aos 17 anos.

Manoel Porfírio editar

Apesar da passagem pelo DOI-Codi em 1977, Manoel Porfírio de Souza deu uma entrevista, em 1988, para o Jornal Diário da Manhã, que foi publicada em 6 de janeiro. Durante a entrevista, Manoel comenta sobre a atuação política do pai, sobretudo em relação a revolta camponesa de Trombas e Formoso, e disserta a respeito da operação do Partido Comunista Brasileiro.

Além disso, Mané Preto também comentou sobre o desaparecimento do pai. "Eu solicitei que a advogada Elizabeth Diniz Souto conseguisse a prisão preventiva de meu pai. Na medida em que a Justiça assumisse a responsabilidade de sua prisão nós lutaríamos para mantê-lo vivo".[5] Por meio dessa iniciativa, Zé Porfírio foi solto do Pelotão de Investigações Criminais (PIC) e encontrou a advogada Elizabeth, a quem comunicou que iria para rodoviária visitar a família e depois iria para São Paulo. Entretanto, até hoje não há evidências de que ele tenha conseguido completar a viagem.

Homenagens editar

A memória de Durvalino de Souza está presente em uma rua com seu nome, em São Paulo, no bairro do Jardim Guanhembu.

Além disso, em abril de 2019, sob a bandeira "Ditadura nunca mais, democracia sim!", um grupo de manifestantes ocuparam as ruas de Goiânia em memória das vítimas da ditadura. [6]Durante o percurso da manifestação, foram memorados os desaparecidos do Estado de Goias, entre eles estava Durvalino e José Porfírio. A manifestação foi convocada, em resposta à manifestação saudosista à Ditadura Militar Brasileira de Jair Bolsonaro, pela Associação dos Anistiados Políticos e pela Comissão de Direitos Humanos e Liberdade de Imprensa do Sindicato dos(as) Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás (ANIGO). [7]

Há, também, uma estação de transporte público em nome de Zé Porfírio, em São Paulo, que configura mais homenagem a família que soma três desaparecidos políticos.

Ligações Externas editar

Ver também editar

Referências

  1. Dourado, Maiara (5 de fevereiro de 2017). «A luta de Trombas e Formoso: uma ruptura narrativa no contexto da ditadura militar». Campos - Revista de Antropologia. 15 (2). ISSN 2317-6830. doi:10.5380/campos.v15i2.41207 
  2. «Durvalino de Souza». Memórias da ditadura. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  3. «Durvalino de Souza». Memórias da ditadura. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  4. Borges, Rogério (28 de março de 2018). «José Porfírio». Jornal O Popular. Consultado em 23 de novembro de 2019 
  5. disse, Veronica (17 de novembro de 2015). «Filho de José Porfírio diz que União deve ser responsabilizada por seu desaparecimento». Jornal Opção. Consultado em 23 de novembro de 2019 
  6. «Em Goiás, manifestantes gritam "Ditadura nunca mais!"». Jornal A Verdade. 3 de abril de 2019. Consultado em 23 de novembro de 2019 
  7. «O cortejo fúnebre que emocionou Goiânia nos 55 anos do golpe militar - CONDSEF». www.condsef.org.br. Consultado em 23 de novembro de 2019