Usuário:Maikê/Marinha do Brasil na Guerra do Paraguai

A atuação da Marinha do Brasil, ou Armada Imperial Brasileira, na Guerra do Paraguai se deu desde o início quando o vapor brasileiro Marquês de Olinda, que passava em território paraguaio, foi aprisionado pelos mesmos, desencadeando o início do conflito. Os combates navais entre o Brasil e o Paraguai se deram em sua grande maioria nos rios da Argentina e do próprio Paraguai. Após os avanços iniciais dos paraguaios ao norte, no Mato Grosso, e ao sul, em Corrientes e Rio Grande do Sul, os brasileiros deflagaram um duro golpe em sua marinha após destruírem-na na Batalha do Riachuelo, onde a frota imperial sob o comando do Almirante Barroso afundou mais da metade da frota do Comodoro Meza. A partir daquele dia, o Paraguai nunca mais tomou a iniciativa em seus ataques navais, além de perder o acesso ao mar impossibilitando a vinda de ajuda e provisões do exterior.

As batalhas navais após esse evento se limitaram, em sua grande maioria, pelo enfrentamento das embarcações imperiais contras as baterias costeiras estrategicamente posicionadas em fortes ao longo dos rios Paraná e Paraguai e seus afluentes, e em tentativas de abordagem das embarcações pelos paraguaios a canoas munidos de facões e lanças, que geralmente terminava em tragédia para os mesmos. Em poucas ocasiões os navios brasileiros enfrentaram outros navios paraguaios. No início do conflito o Império do Brasil dispunha de apenas navios de madeira para enfrentar a Marinha Paraguaia. Após 1866 o Brasil construiu diversos outros navios de ferro incluindo um classe inteira de seis monitores encouraçados, além de outros requisitados na Europa. A classe Pará de monitores fluviais se mostrou adequada para o teatro de operações em que estavam, não se perdendo nenhum de seus navios. Durante algumas batalhas os monitores eram presos aos encouraçados maiores para evitar que encalhassem caso um dos motores fossem atingidos. Isso dava-lhes mais segurança e força para arrebentar as cadeias que bloqueavam os rios.

Durante o avanço para interior do Paraguai a Armada Imperial tivera que forçar a passagem de muitos fortes como Mercedes e Cuevas no rio Paraná; Curupaiti, Humaitá, Timbó e Angostura no Paraguai, e diversas baterias artilhadas no Rio Tibecuarí. Tais arriscadas batalhas geraram grandes conflitos internos entre o alto comando naval brasileiro e o alto comando dos aliados que até aquela ocasião estava sob a liderança do general argentino Bartolomé Mitre. O almirantado brasileiro argumentava que Mitre desejava arriscar a marinha brasileira numa tentativa de enfraquecê-la a ponto de os argentinos se aproveitarem dessa situação. Aliado a esses desentendimentos a marinha tivera de enfrentar outros problemas como inúmeras peças de artilharia posicionadas em pontos estratégicos do rio, aliado a presença de torpedos, ou minas, e de barreiras em forma de cadeias que impediam o avanço dos navios e se tornavam alvos fáceis dos artilheiros. Por exemplo, na passagem de Humaitá os seis encouraçados e monitores enfrentaram mais de 100 peças de artilharia além de três cadeias que atravessam o rio infestado de minas. A Armada Imperial tinha de abrir caminho pelos rios para que os aliados pudessem alcançar a capital paraguaia Assunção. A partir de meados de 1868, Assunção passou a ser bombardeada sistematicamente pela armada até ser abandonada em novembro do mesmo ano e ser completamente ocupada em 1 de janeiro de 1869. Após a tomada da capital, a atuação da armada se deu no abastecimento do exército aliado e de algumas escaramuças no rio Manduvirá, onde o que restara da marinha paraguaia fora completamente aniquilada.

Antecedentes editar

 Ver artigo principal: Guerra do Uruguai
 
Fracisco Solano López, presidente do Paraguai.

Havia uma discordância entre o Brasil e o Paraguai, ainda que de maneira pacífica, sobre a navegação dos rios e quais eram os limites territoriais dos dois países. Para o Brasil era de suma importância a livre navegação do rio Paraguai, uma vez que era o meio mais prático de se atingir a longínqua província de Mato Grosso. Navegando pelo rio demorava-se 15 dias para alcançar a província; por terra, do Rio de Janeiro, apesar de mais perto levava cerca de 3 meses. O Paraguai estava ciente disso e usava tal situação para levantar litígios sobre questões limítrofes em relação a um território situado à margem esquerda do Rio Paraguai, entre os Rios Apa e Branco, ocupado por brasileiros. Mesmo tendo tais desentendimentos nunca houvera consequências graves ou qualquer conflito. O governo brasileiro tinha como prioridade a não união paraguaia com a Confederação Argentina que lhes causavam muitos problemas devida a sua grande instabilidade política.[1]

Tal período de discordância pacífica entre os brasileiros e paraguaios terminou com a morte do presidente Carlos López. Em seu lugar assumiu a presidência seu filho Francisco Solano López que logo ampliou a política externa do país. Iniciou conversações com o General Justo José de Urquiza, que liderava a Província argentina de Entre Rios,[1] e com o Partido Blanco do Uruguai. Tais conversações, se bem sucedidas, facilitariam o acesso ao mar pelo Paraguai.[2] Após o ultimato brasileiro ao Uruguai de que os mesmo deveriam garantir chegar rapidamente a um acordo que resolvesse as reivindicações do Brasil e garantisse a segurança dos cidadãos brasileiros no país, o que não ocorreu, o Império inicia a intervenção em 1864.[3][4] Tal notícia chegou a López como se o Paraguai também tivesse sido agredido. Imediatamente López envia um ultimato ao Brasil que é ignorado.[5] As relações entre o Brasil e o Paraguai continuam normais até o dia 11 de novembro do mesmo ano quando os paraguaios, a ordem de López, aprisionam o vapor brasileiro Marquês de Olinda com o presidente da Província de Mato Grosso junto. Os paraguaios já estavam se mobilizando militarmente desde meados de 1864 e logo iniciaram as primeiras ofensivas dando início a guerra.[6]

Esquadra brasileira editar

 
Fragata Amazonas, navio capitânia do Brasil na Batalha Naval do Riachuelo.

Logo após o inicio da guerra é formada no dia 1 de maio de 1865 a chamada Tríplice Aliança entre Argentina, Brasil e Uruguai. Porém as forças navais eram quase que exclusivas dos brasileiros uma vez que Uruguai e Argentina pouco proveram de suas armadas. Os argentinos tinha até 1866 a seguinte frota: Guardia Nacional; Chacabuco; Libertad; Pavón; Buenos Aires; Gualeguaychú; Itapirú. A maioria tivera papel de navios transportes, a exceção do Guadia Nacional que teve brilhante desenvoltura na Batalha de Paso de Mercedes.[7] A Armada Brasileira consistia de 45 navios sendo 33 navios de propulsão mista, a vela e a vapor, e 12 dependiam exclusivamente do vento.[8] Durante a Batalha do Riachuelo foram mobilizados nove navios de guerra que eram: o Amazonas, Parnaíba, Mearim, Araguari, Iguatemi, Jequitinhonha, Belmonte, Beberibe e Ipiranga.[9]

Algumas embarcações foram construídas no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro para a navegação em alto mar e eram inadequadas para o teatro de operações que consistia em navegar por rios desconhecidos do Paraguai. Além disso os navios eram construídos com casco de madeira o que os deixavam vulneráveis a artilharia de terra posicionada ao longo dos rios. Em meados do século XIX o arsenal passa por modernizações e partir de então começa a se construir navios couraçados mais adequados ao ambiente em que se encontrava os combates.[8] A partir de 1866 inicia-se a construção da classe Pará (Alagoas, Ceará, Pará, Piauí, Rio Grande e Santa Catarina) que consistia em seis pequenos monitores encouraçados para suprir a carência da Armada por navios de calado raso capazes de suportar grandes incêndios, além de solucionar um problemas que navios brasileiros tinham em suas torretas quando engajavam-se com outras embarcações ou fortificações inimigas. O arsenal construiu outros navios nos quase seis anos de guerra como o Taquary, Tamandaré e Barroso em 1865; Forte de Coimbra, Rio de Janeiro e Pedro Affonso em 1866; Vital de Oliveira, Pará, Rio Grande, Alagoas e Piauí em 1867; Ceará e Santa Catarina em 1868; Lamego em 1869.[10]

Esquadra paraguaia editar

 
Vapor Anhambaí preservado no Parque Nacional Vapor Cué.

Toda a frota paraguaia era adequada para a navegação fluvial, porém eram poucos os navios verdadeiramente de guerra. O país possuía 32 navios, sendo que 24 eram navios de propulsão mista a vapor e vela e oito eram navios exclusivamente à vela. A frota também incluía navios que os paraguaios haviam capturado da Argentina e do Brasil.[8] Contabilizava-se também seis chatas com um canhão de 8 polegadas. As chatas eram embarcações pequenas e rebocadas, visto que não tinham propulsão, com borda baixa próximo ao nível da água o que reduzia a chance de ser atingido uma vez que via-se apenas o canhão acima do nível do rio.[11][8] Alguns dos navios eram: Tacuary (único navio de guerra), Anhambaí, Paraguarí, Ygurey, Yporá, Marquês de Olinda, Jejuí, Salto Oriental, Piraberé, Yberá, 25 de Mayo e Gualeguay.[11] A artilharia de terra era grande, contando com cerca de 400 peças de artilharia de vários tamanhos e espalhadas entre o exército atacante e defensivo. Para suprir a necessidade de armas o Paraguai tinha uma fundição em Ybicuí, posteriormente relocada em Caacupé.[12]

Operações editar

1864-1865 editar

Captura do Marquês de Olinda editar

 
O vapor Marquês de Olinda em Assunção, da coleção Museu Histórico Nacional.

A notícia da invasão brasileira da banda oriental, em 14 de outubro de 1864, chegou somente alguns dias depois a Assunção e nenhuma ação por parte dos paraguaios ocorrera de imediato. Nada poderia sugerir alguma interrupção no relacionamento entre os dois países. Em 9 de novembro o vapor brasileiro Marquês de Olinda navegava no rio Paraguai, se aproximando do Forte de Humaitá, em sua viagem regular para a província de Mato Grosso.[13] Despreocupado de perigo algum e após as saudações de praxe ao forte, o navio brasileiro reiniciou sua viagem para Corumbá. Ninguém esperava que o Paraguai pudesse tomar alguma ação que levasse a guerra entre as duas nações. Pelo contrário, na troca de correspondências entre os ministros brasileiros acreditados em Assunção e Buenos Aires e outras que chegavam ao Paraguai, escritas pós-ocupação do Uruguai, não faziam alusão à mudança de relacionamento entre os dois governos. No dia 11 de novembro, o Marquês de Olinda atracou no porto de Assunção e iniciou os procedimentos de rotina, como rápida distribuição dos correios e a necessária reposição do carvão. Às treze horas do mesmo dia, o vapor retomou viagem para Mato Grosso.[14]

Neste dia, o mariscal Solano López encontrava-se no acampamento de Cerro León, cerca de 56 quilômetros da capital. Ele havia sido informado, em carta entregue na manhã deste dia, por um agente uruguaio a serviço do Paraguai, que o Marquês de Olinda e o Amazonas transportavam o novo presidente da província de Mato Grosso, junto com um importante engenheiro militar, e muitas armas e uma carga valiosa respectivamente, e este o aconselhou a apoderar-se dos dois navios. Por alguma razão, o Amazonas não participou desta viagem, tendo o Marquês de Olinda que navegar sozinho.[15]

Após receber a informação, López enviou a ordem, por trem, para que o Tacuarí partisse em direção do navio brasileiro com instruções de capturá-lo a força se necessário. Por ser mais rápido, o Tacuarí alcançou o Marquês de Olinda no dia seguinte, antes de atravessar a fronteira paraguaia e na noite seguinte os dois navios se encontravam atracados de volta a Assunção. Ninguém a bordo teve permissão de se comunicar com qualquer pessoa em terra. O ministro brasileiro acreditado em Assunção, ao ficar ciente do ocorrido, solicitou explicações ao governo paraguaio, pelo que recebeu a resposta junto com uma nota do diplomata paraguaio José Berges, que formalmente declarava que as relações diplomáticas entre os dois países haviam cessado, pelo fato do império ter invadido o Uruguai.[16] Entre os tripulantes se achava o recém nomeado presidente da província de Mato Grosso Frederico Carneiro de Campos e um engenheiro militar. Todos, incluindo a tripulação brasileira do navio, foram mantidos prisioneiros e nunca mais retornariam ao Brasil. Pouco se sabe sobre o destino final destes, a exceção dos engenheiros estrangeiros que foram libertados. Após aprisionarem o navio, os paraguaios enviaram os prisioneiros para barracas montadas próxima do rio Paraguai e depois os enviaram para o interior do país. Provavelmente morreram vítimas de tortura e fome.[17]

A fim de dar uma aparência de regularidade à captura do Marquês de Olinda, uma Corte do almirantado foi improvisada para decidir sobre a legalidade da ação. Os trabalhos da corte nunca foram publicados, e acredita-se que os membros dela não faziam ideia do que representava esta corte. Nem mesmo a parte prejudicada teve algum representante, seja oficial, tripulante ou passageiro.[17]

Batalha Naval do Riachuelo editar

 Ver artigo principal: Batalha Naval do Riachuelo
 
Batalha do Riachuelo. Obra de Oscar Pereira da Silva.

Em abril de 1865 as tropas paraguaias invadem a provincia de Corrientes tomando a capital com uma soma extra de 3 000 soldados sob o comando de Robles, depois destes terem capturado dois vapores argentinos no trajeto, juntando-se a poderosa força de 27.000 homens que lá estavam estacionados. Ao mesmo tempo duas esquadras da Armada Imperial partem pelo rio Paraná em direção de Bela Vista. Logo em seguida o inimigo ameaça penetrar o território brasileiro, por Itapuá sob ordens do tenente coronel Estigarribia. A coluna principal avança sem dificuldades pelo interior do Rio Grande do sul alcançando São Borja, Itaqui e Uruguaiana. Uma segunda coluna avança pelo leito do outro lado do rio até chegar a Riachuelo, fortificando-a. Porém a coluna estacionada em Corrientes é derrotada pelo ataque aliado liderado pelo general argentino Paunero em conjunto com as forças navais sob o comando do Almirante Barroso no dia 25 de maio.[18]

Diante desses acontecimentos, dia 8 de junho, López embarca precipitadamente no vapor Taquary e inspeciona pessoalmente os preparativos de sua frota para o ataque a frota brasileira que ele supunha estar desprevenida e desguarnecida, escolhendo a data para o feito no dia 11. Aparentemente calmo, López organiza diversas atividades com o intuito de distrair os homens que estavam abatidos devido ao revés ocorrido em Corrientes, como jogar a culpa pela derrota a seus comandados, levando a execução de um deles. López estava confiante em um ousado plano de combate naval, que lhe daria vantagens sobre os aliados, do seu subordinado, o general Diaz. Tal confiança era tanta que o mesmo enviou o Coronel de Artilharia Bruguez que deveria fundar uma bateria de 32 canhões na margem direita da embocadura do Riachuelo, em auxílio da frota guarani. Este último aumentou o contingente militar na região por colocar um grupo de infantaria destinada não apenas ao auxílio nas abordagens dos navios brasileiros, mas também no fogo de fuzilaria. No local estavam escondidos cerca de 3.000 soldados paraguaios.[18]

As forças navais imperiais naquela altura somavam 2.287 combatentes sendo 1.113 imperiais marinheiros e 1.174 soldados do exército distribuídos entre os vapores Belmonte, Mearim, Beberibe, Ipiranga, Amazonas, Jequitinhonha, Parnaíba, Iguatemi e Araguari, com cerca de 50 bocas de canhão somados, esquadra comandada pelo Chefe de Divisão Francisco Manuel Barroso da Silva.[19] A frota imperial achava-se abaixo de Corrientes cerca de duas léguas de distância.[20] A esquadra paraguaia preparada para ação eram: Tacuary, Igurey, Marquez de Olinda, Salto, Paraguary, Iporá, Jujuy e Iberá, nesta ordem, sob o comando de Pedro Inácio Meza.[19] Tal esquadra parte de Humaitá a meia-noite do dia 11 de junho, porém um desarranjo nas máquinas do Iberá atrasa por um tempo o ataque.[18] Se os planos de López se concretizassem significaria o apoderamento dos navios brasileiros e a incorporação dos mesmo a sua esquadra. Isso permitiria uma possível expansão territorial do Paraguai dentro do Brasil, concretizando as pretensões de López de ter uma saída para o mar.[20]

As 9:00 horas da manhã, marinheiros imperiais avistam sinais de fumaça dos navios da esquadra paraguaia. Imediatamente ouve-se vozes do tipo Navio á proa! Em seguida, Esquadra inimiga á vista. Logo o almirante Barroso envia o sinal para sua frota: Preparar para combate! Rapidamente a tripulação dos navios apressam-se em preparação do combate, com municiadores indo em vindo do interior das embarcações com as balas dos canhões, cujo atiradores já estavam preparados. A esquadra paraguaia aponta a vista da esquadra imperial liderando o Paraguary, seguido de Igurey e depois Iporá, Salto, Pirabebé, Jujuy, Márques de Olinda e Tacuary. A missão era de abordar violentamente um ou mais vapores brasileiros sem medir sacrifícios, se necessário. O almirante Barroso que estava a bordo do Mearim, embarca na nau capitânia Amazonas que logo emite o seguinte sinal: O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever e, em seguida, este outro: Bater o inimigo que estiver mais próximo. A frota de Meza inicia o avanço em direção dos brasileiros, iniciando a batalha.[18]

 
Vapor brasileiro Parnaíba. Durante a Batalha do Riachuelo resistiu a tentativa de abordagem de três navios inimigos, assim como o Jequitinhonha.

Ao passar, havendo troca de tiros entre as frotas, os navios paraguaios rumam em direção do arroio Riachuelo, abrigando-se sob a proteção da artilharia costeira ali instalada. Em seguida os navios brasileiros iniciam a perseguição dos mesmos. O Jequitinhonha, ao se aproximar, é recebido com intenso tiroteio vindo das embarcações paraguaias e dos artilheiros de Bruguez fixados no alto do barranco do arroio, e encalha num banco de areia. Logo três navios paraguaios tentam dar abordagem do navio, sendo repelidos a muito custo pelos tripulantes, além de estarem sob constante fogo de artilharia da costa. Partes do vaso de guerra são reduzidos a estilhaços. No embate caem imediatamente 17 praças incluindo o comandante Lima Barros.[18]

Em seguida desce o Parnaíba que sofre abordagem pelos inimigos a bordo de três navios, assim como o Jequitinhonha. Este último é cercado a bombordo e estibordo depois de disparar contra o Paraguary obrigando-o a recuar do embate. Inicia-se um combate corpo a corpo no convés do Parnaíba, após o Marquês de Olinda vir em auxílio dos seus e abordá-lo com centenas de soldados paraguaios experientes, armados de sabres, machadinhas e revolveres. Diante da terrível carnificina em que se transformou o convés, vários oficiais deram a vida na tentativa de impedir a abordagem. Destaca-se Greenhalgh que consegue derrubar um oponente que tentava arriar o pavilhão, perdendo a vida logo em seguida. Pedro Affonso e Maia, defendendo-se, caem mutilados; Marcilio Dias mata dois de seus adversários, sendo morto a golpes de machadinha. Os paraguaios logram êxito inicial após um hora de combate, tomando o convés até o mastro grande. Os artilheiros, protegidos pelas próprias peças de artilharia, fuzilam-os incessantemente, apoiados pelo Mearim e Belmonte. Ao primeiro tiro dos navios os abordantes abandonam seus companheiros que haviam galgado o Parnaíba. Num certo momento da batalha o comandante Garcindo percebe que uma derrota é possível devido as constantes levas de reforços que incessantemente agridem o navio. Garcindo chega a sugerir a seu imediato Felippe Rodrigues Chaves atear fogo ao paiol, para fazer voar o navio em estilhaços junto com o inimigo, o que de fato iniciou a fazer. O escrivão Correa da Silva se voluntariou para tal tarefa, quando acendeu seu charuto. Porém o plano não se concretizou uma vez que a tripulação, reanimando-se, investiu contra os atacantes que em vertiginoso delírio se batiam á louca, aos gritos de - mata! degola!, enchendo o chão com seus cadáveres. Tentando ajudar seus companheiros, o Marquês de Olinda se aproxima do combate, porém é impedido pelo Amazonas, anteriormente bombardeando a artilharia costeira de Bruguez, que investe diretamente contra o mesmo, afundando-o. O mesmo acontece com o Tacuary que tentara fugir da nau capitânia, em vão, sofrendo o mesmo destino do Marquês de Olinda.[18]

Em auxílio do Amazonas no bombardeio a Bruguez estava o Ipiranga que avistando o Parnaíba em apuros, parte em socorro do mesmo avistando o Salto e, com tiros certeiros, atingem o costado e as caldeiras, obrigando a tripulação, em desespero, a pular na água, sendo metralhados logo em seguida. Imediatamente parte em perseguição do Paraguaryi deferindo-lhes rombos no casco com seus canhões. O Beberibe avança em perseguição dos navios inimigos. O jovem Gomes dos Santos assume o comando do Iguatemi após a morte do imediato Oliveira Pimentel que havia assumido o comando quando o capitão é levado para o interior após ferimentos em seu braço. Santos contribui na fuzilaria do inimigo. O Ipiranga e o Araguary voltam-se contra os navios que novamente atacavam o Parnaíba que eram auxiliados pelos Tacuary. Este último recua após os tiros do Ipiranga. Após a sangrenta batalha, já com os navios brasileiros despedaçados pelos canhonaços das chatas a lume d'agua, com o perigo de afundarem, avistas-se por entre densas nuvens de fumo, o vulto imponente de Barroso, que é o primeiro a bradar - Vitória![18]

A batalha custou cerca de 3.500 baixas em ambos os lados; o Brasil teve 216 baixas sendo 74 mortes e 142 feridos e o Paraguai 3250 entres mortos, feridos e capturados. A derrota paraguaia significou o impedimento dos mesmos em invadir a província argentina de Entre Rios, além de López passar a defensiva.[18] A esquadra paraguaia estava praticamente aniquilada e sua participação tornou-se irrelevante no decorrer do conflito. Sem o controle deste rio, o Paraguai se viu isolado do resto do mundo, sem acesso ao mar para receber provisões, inclusive os couraçados que já haviam sido requisitados. Também comprometeu as operações das tropas em terra e, posteriormente, levou a guerra a território paraguaio.[21]

1866 editar

1867 editar

1868 editar

Passagem do Timbó editar

Imediatamente a passagem de Humaitá a frota de Delfim de Carvalho encontra uma novo ponto de baterias inimigas denominada Timbó.

1869 editar

1870 editar

Referências

  1. a b Marinha do Brasil 2017, pp. -3-1.
  2. Marinha do Brasil 2017, pp. -3-2.
  3. Raine 1956, pp. 161, 162.
  4. Whigham 2002, pp. 147-151.
  5. Marton 2017.
  6. Borga 2015, pp. 13, 29.
  7. Borga 2015, pp. 31, 32.
  8. a b c d Marinha 2017.
  9. Filho 2015, p. 4.
  10. Lacerda 2016, p. 42.
  11. a b Borga 2015, p. 30.
  12. Borga 2015, p. 29.
  13. Washburn 1871, p. 554.
  14. Washburn 1871, p. 555.
  15. Washburn 1871, pp. 557-558.
  16. Washburn 1871, p. 558.
  17. a b Washburn 1871, p. 559.
  18. a b c d e f g h Almeida.
  19. a b Borga 2015, p. 57.
  20. a b Marinha do Brasil 2017, pp. -3-4.
  21. Marinha do Brasil 2017, p. -3-5.

Fontes editar

Livros editar

  • Borga, Ricardo Nunes (2015). QuestÕes Do Prata - Guerra da Tríplice Aliança, O conflito que mudou a América do Sul 2 ed. Rio de Janeiro: Clube de Autores 
  • Donato, Hernâni (1995). Dicionário das batalhas brasileiras 2a. ed. rev., ampliada e atualizada ed. São Paulo: Instituição Brasileira de Difusão Cultural. ISBN 8534800340. OCLC 36768251 
  • Marinha do Brasil (2017). Apostila História Naval. Vila Velha: Escola de Aprendizes Marinheiros do Espírito Santo 
  • Raine, Philip (1956). Paraguay (em inglês). New Brunswick, Nova Jérsei: Scarecrow Press 
  • Whigham, Thomas L. (2002). The Paraguayan War: Causes and Early Conduct (em inglês). 1. Lincoln, Nebrasca: University of Nebraska Press. ISBN 978-0-8032-4786-4 
  • Washburn, Charles A. (1871). The History of Paraguay: With Notes of Personal Observations, and Reminiscences of Diplomacy Under Difficulties. Boston, New York: Lee & Shepard, Lee, Shepard, and Dillingham. OCLC 297238982 

Teses acadêmicas editar

Websites editar