Relações exteriores editar

 
Pol Pot e Khieu Samphan recebem o presidente romeno Nicolae Ceaușescu, em visita oficial ao Campucheia Democrático junto de sua esposa Elena em março de 1978.

Embora o discurso dos líderes do país defendesse a autarquia e a independência nacional completa, o país não se fechou totalmente para o mundo exterior: várias embaixadas foram preservadas ou reabertas em Phnom Penh e o Campucheia Democrático continuou nescessitando de ajuda extrangeira, principalmente da chinesa.[1] A maioria dos países com os quais as relações diplomáticas foram mantidas eram Estados comunistas que denotavam a posição do Campucheia de independência em relação à União Soviética ou as suas ligações estreitas com Pequim.[2] Somente Albânia, Birmânia, República Popular da China, Coreia do Norte, Cuba, Egito, Laos, Vietnã, Romênia e Iugoslávia possuíam embaixada em Phnom Penh.[3]

A partir do final de 1977, quando o conflito com o Vietnã já mostrava-se inevitável, o Campucheia busca apoio no exterior. Ne Win, homem-forte do regime birmanês, é o primeiro chefe de Estado a efetuar uma visita oficial ao país, realizada entre 26 e 29 de novembro de 1977. Já nos dias 28 a 30 de março de 1978, foi a vez do presidente romeno Nicolae Ceaușescu e de sua esposa Elena Ceauşescu. No mesmo ano, várias organizações maoístas, representantes de associações de amizade e jornalistas ocidentais cuja simpatia pelo regime era notória foram convidados a conhecerem o Campucheia.[4]

O Campucheia também tentou aproximar-se do Japão a fim de estabelecer relações diplomáticas, mas o projeto não obteve êxito, apesar do anúncio oficial da parte cambojana.[2]

República Popular da China editar

Conforme as relações do Campucheia com o Vietnã foram deteriorando-se, as relações com a República Popular da China foram estreitando-se. Porém, no decurso de 1976, a ajuda chinesa foi praticamente inexistente, em reflexo à turbulência política interna que se seguiu às mortes de Mao Tsé-Tung e de Zhou Enlai. No entanto, a interrupção seria de curta duração e já em jullho de 1977, Pol Pot visitou secretamente a China, onde encontrou-se com os novos dirigentes da República Popular. Khieu Samphan visita Pequim em agosto do mesmo ano e firma um acordo comum, por meio do qual o governo chinês comunicava oficialmente um auxílio de até US$ 20 milhões. O apoio político da China contribuiu para a marginalixação do Camboja, mesmo entre os Estados comunistas; mesmo os chineses, após a queda do radical Grupo dos Quatro, apresentaram sinais de incômodo com as medidas revolucionárias fundamentalistas aplicadas pelo aliado Khmer Vermelho.[5]

Coreia do Norte editar

As relações com a Coreia do Norte deviam-se muito aos laços de amizade tecidos a partir de meados da década de 1960 entre Norodom Sihanouk e Kim Il-sung, numa época em que a República Democrática Popular da Coreia era reconhecida por uma minoria de países. Após a deposição de Sihanouk em 1970, o ditador norte-coreano deu à este apoio incondicional et lui avait même fait construire un palais proche de sa capitale. Na sequência da queda da República Khmer e do retorno de Sihanouk ao posto de chefe de Estado, a Coreia socialista tornou-se o segundo parceiro mais importante do país, na sequência da China. Conselheiros foram enviados ao Camboja para supervisionarem a construção da barragem de Baphuon, na província de Prey Veng, e a oficina de concerto de tratores Tœuk Thla, em Phnom Penh.[6]

Iugoslávia editar

As relações entre o regime titoísta e os dirigentes do Campucheia Democrático datam desde antes da tomada do poder por estes. Em primeiro lugar, porque Pol Pot, durante seus estudos em Paris no início da década de 1950, aproveitou suas férias de verão para se juntar às brigadas de trabalho em Zagreb e retornou seduzido por este tipo de mobilização coletiva. A segunda parte desta relação, assim como a com outros "países-irmãos", deriva de laços do Movimento dos Países Não Alinhados, do qual fizeram parte Norodom Sihanouk e Josip Broz Tito. Em 1970, após a deposição de Sihanouk, Belgrado reconheceu o Governo Real da União Nacional do Campucheia (GRUNK), formado por aquele e no qual o Khmer Vermelho adquiriu papel de destaque. Cinco anos mais tarde, quando o GRUNK tomou o poder, a Iugoslávia forneceu ajuda finaceira para reconstruir um país devastado pela guerra civil.[7] As relações estendem-se até 1978, quando um grupo de jornalistas iugoslavos visita o Camboja de 3 a 18 de março e reporta várias realidades da vida cotidiana da população, retratando fatos que excursionaram na imprensa ocidental e que provocaram a cólera dos dirigentes do Angkar.[8]

Cuba editar

Após o golpe de 1970, Cuba foi um dos primeiros países do mundo a conderar o novo regime pró-americano liderado por Lon Nol e a apoiar o GRUNK. Este posicionamento rendeu-lhe cinco anos mais tarde o privilégio de seu o único país pró-soviético a ter uma embaixada em Phnom Penh. No entanto, com o distanciamento diplomático entre o Campucheia e o Vietnã, o mesmo ocorre com o regime de Fidel Castro.[9]

No fim de 1977, quando o conflito na Indochina já mostrava-se como inevitável, a embaixada cubana é fechada. Após o retorno, os funcionários da embaixada relataram suas condições de isolamento: seu único contato com o exterior era através do Ministério das Relações Exteriores em Havana e qualquer saída para as ruas (que estavam praticamente desertas), mesmo a em frente da embaixada, estava sujeita à autorização prévia.[10]

Tailândia editar

Apesar dos acordos comerciais entre os dois países, o Campucheia Democrático mantém a tensão na fronteira com a Tailândia e reinvindica os territórios siameses povoados por khmers. O regime do Angkar apoiou os gerrilheiros do Partido Comunista da Tailândia, e os grupos de comunistas tailandeses do nordeste adotaram para a sua organização a denominação, para uso interno, de Angkar Siem ("Angkar Tailandês"). Ao mesmo tempo, a Tailândia endureceu a sua atitude para com os refugiados cambojanos que cruzavam a fronteira, e alguns destes foram mortos por tropas tailandesas.[11]

Ver também editar

Referências

  1. Locard 2013, pp. 181-182.
  2. a b Kiernan 1998, pp. 151-171.
  3. Kane 2007.
  4. Locard 2013, pp. 182-183.
  5. Bui-Xuân, Quang (2000). La troisième guerre d'Indochine, 1975-1999: sécurité et géopolitique en Asie du Sud-Est. Paris: l'Harmattan. p. 138 
  6. Locard 2013, pp. 187-188.
  7. Kane 2007, pp. 404-406.
  8. Locard 2013, p. 183.
  9. Kane 2007, p. 113.
  10. Cambacérès, Jean-Marie (2013). Norodom Sihanouk, le roi insubmersible. Paris: Le Cherche midi. p. 237. ISBN 9782749131443 
  11. Kiernan 1998, pp. 435-437.

Bibliografia editar

  • Chandler, David; Kiernan, Ben; Boua, Chanthou (1988). Pol Pot plans the future: confidential leadership documents from Democratic Kampuchea, 1976-1977. New Haven: Yale Center for International and Area Studies. 346 páginas 
  • Kane, Solomon (2007). Dictionnaire des Khmers rouges. Bangkok: Institut de recherche sur l'Asie du Sud-Est contemporaine. 460 páginas. ISBN 9782916063270 
  • Kiernan, Ben (1998). Le génocide au Cambodge, 1975-1979: race, idéologie et pouvoir. Paris: Gallimard. 730 páginas. ISBN 9782070747016 
  • Locard, Henri (2013). Pourquoi les Khmers rouges. Paris: Vendémiaire. 352 páginas. ISBN 9782363580528