Usuário:DAR7/Testes/História do Brasil/Ciclo do Ouro

Ciclo do Ouro
DAR7/Testes/História do Brasil/Ciclo do Ouro
Praça Tiradentes, em Ouro Preto
Outros nomes Ciclo da Mineração
Corrida do Ouro
Participantes Bandeirantes, escravos e portugueses
Localização Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, no Brasil
Data século XVIII
Resultado . Revolução Industrial na Inglaterra[1]
. transferência da capital da colônia para o Rio de Janeiro
. ocupação portuguesa do interior do Brasil
. substituição da língua tupi antiga pelo português como idioma principal do Brasil[2]
. Guerra dos Emboabas
. Inconfidência Mineira

O Ciclo do Ouro, também conhecido como corrida do ouro e ciclo da mineração, se refere à época da história brasileira em que a dinâmica econômica do Brasil colonial foi dominada pela exportação do ouro e extração.[1] O ciclo tinha vigorado fortemente nos primeiros sessenta anos do século XVIII, durante o início da queda da produção de ouro em consequência de que foram esgotadas progressivamente as minas das regiões que se exploraram nas capitanias de GO, MG e MT.[3]

Apesar de não haver um Jack London para torná-la eterna em seis obras-primas literárias, tampouco uma indústria que nem a de Hollywood a transformar em uma lenda mundial, a verdade é que o Brasil não somente possuía a sua corrida do ouro. Esta tinha sido, pelo menos, tão perigosa, rápida e lucrativa como essa a qual, no ano de 1848, decidiu que a Califórnia fosse ocupada. Essa, após cem anos, tinha exportado para o Alasca todas as dificuldades da civilização. À medida que em suas correspondentes norte-americanas, a colônia foi revolucionada pela febre do ouro que cuidou do Brasil, no entardecer do século XVII, de quaisquer das formas aceitáveis. Foi provocado um grande e desorganizado êxodo demográfico o qual desocupou as cidades. Foi causado um relevante crescimento no valor dos cativos, das manadas e dos alimentos. Foram forçadas mudanças governamentais de importância. Foram levados milhões de nativos à morte e abertos novas rotas de entrada a incorporar áreas até, naquela época, desabitadas e desconhecidas. O ciclo do ouro tinha feito mais: auxiliou no enfraquecimento da era do açúcar, entregando cultivos às ervas daninhas. Apesar da atual nulidade virtual de sua repercussão mundial, o mundo foi revolucionado pela corrida do ouro do Brasil, em seu extremo. Quase todo o material, que se arrancou do subsolo das Minas Gerais, passou por Lisboa, somente por pouco tempo. Os recursos do Tratado de Methuen, firmado em 1703, fizeram o mineral do Brasil parar em Inglaterra — e ali ajudar no financiamento da Revolução Industrial do mesmo modo como, um século anteriormente, a prata e o ouro, que foram roubados dos incas e astecas, contribuíram para incentivar a mercantilista.[1]

É difícil contar os resultados do ciclo do ouro de Minas Gerais, porque, a partir do começo, o tráfico se mostrou mais permanente e poderoso que as regras para torná-lo impedido. Mesmo assim, entende-se certamente que, sem demora, o Brasil foi transformado no país que mais produzia ouro no mundo até então pelos descobrimentos de 1693–1694. As estatísticas variam bastante, mas é calculado que se extraíram mais de 840 toneladas do metal — sem ajuda das máquinas — de 1700 até 1799 (havia 270 toneladas de 1752 até 1787; para objetivos de comparação; na década de 1980, 350 toneladas foram produzidas em Serra Pelada). A massa humana que foi para as minas de 1700 até 1720 tinha sido mais de 150 mil almas, das quais cerca de cem mil costumavam ser escravos. No decorrer do século XVIII, mais de 430 mil pessoas de São Paulo, do Rio de Janeiro, da Bahia, de Portugal, dos povos indígenas e africanos de origem guineana e angolana andaram nas picadas pedregosas separando entre a costa do sudeste brasileiro e as serras da riqueza e da desgraça. “Todos os vícios tiveram morada na região das minas. Todas as paixões desencadearam-se ali; ali se cometeram todos os crimes”, havia escrito, um século depois, o viajante de França, Auguste de Saint-Hilaire, para quem tais pessoas que participaram da corrida do ouro costumavam ser o “câncer de Portugal e do Brasil”. Nas minas, costumava-se matar por qualquer coisa ou por nenhuma. Nas minas, foi travada a Guerra dos Emboabas. Em seguida, durante o reino do ouro, descobriram-se diamantes nas minas — e o ciclo foi reiniciado, com tanta alucinação e voracidade quanto antes. Nas minas, surgiu uma pessoa muito talentosa cuja arte tornou eterno — em estátuas, capitéis e altares — o apogeu dum tempo de exageros e expectativa. O trabalho do Aleijadinho constitui uma das pouquíssimas heranças dos dias dourados da então chamada América Portuguesa.[1]

O mapa da mina editar

Em duzentos anos, mais que uma obcecação, tanto o ouro — como a falta dele — tivera sido uma desgraça aos lusitanos os quais moravam no Brasil. Em oposição ao que ocorria nos territórios que Espanha havia conquistado, nem sequer parecia existir, na terra do pau-Brasil, “coisa de metal nenhum” como tivera diagnosticado, já no ano de 1502, Américo Vespúcio, de Florença. O padrinho das Américas tivera sido mais incrédulo que primeiro historiador do Brasil. No mês de abril de 1500, quando redigiu sua mensagem a D. Manuel III, Pero Vaz de Caminha costumava revelar tudo o que os descobridores esperavam encontrar o “metal amarelo” na nova terra: a mera circunstância dum indígena olhar ao colar dourado ornamentando o tórax de Cabral e, depois, ter apontado para os montes, tomou-se como prova indiscutível de que, naquelas serras, poderia existir ouro. A ilusão teria perdurado por dois séculos — e teria reclamado várias vidas antes de ter se tornado uma admirável verdade.[4]

Apesar de certas pepitas terem sido achadas na encosta do pico do Jaraguá, em São Paulo, no ano de 1590, e alguns ribeiros da costa paranaense terem revelado areia aurífera, a verdade é que, antes de 1693, no Brasil, quase nada que brilhava constituía ouro — exceto, é provável, da pedra chamada de “ouro dos tolos”, a pirita. No fim do século XVII, no entanto, Brasil e Portugal estavam em uma crise econômica muito grande que, no ano de 1674, o verdadeiro regente Pedro II (que se coroou monarca em 1683) resolvera escrever aos “homens bons” da vila de São Paulo tendo-os encorajado a sair para o interior à procura de metais. Não tivera dito, em 1519, o capitão Hernán Cortez para o chefe asteca Montezuma que os espanhóis costumavam sofrer duma “enfermidade da qual somente o ouro deve livrar”. Um século e meio depois, Brasil e Portugal se encontravam, de tal modo, doentes que apenas poderiam ser salvos por um Eldorado. Porque ele havia e depois seria achado — apesar de trazer com ele demais doenças.[4]

Certos historiógrafos consideram que não devem desconsiderar-se “os efeitos comportamentais” que as mensagens de Pedro II exerceriam sobre 11 bandeirantes que as tinham recebido. Entretanto, a verdade é que para os sertanistas paulistas, não sobrava outro modo de ter mantido suas vidas itinerantes a não ser procurando ouro: seus “currais” de índios se encontravam gastos. Para o monarca igualmente nem sequer restava outra alternativa: janeiros anteriores, quando a União Ibérica continuava existindo, autoridades em mineração tinham sido mandadas da Corte para pesquisar os potenciais minerais brasileiros. Borba Gato, cujo sogro era Fernão Dias, depois que veio à mina a qual “o caçador de esmeraldas” descobrira, assassinou o único deles que sobreviveu às dificuldades sertanejas — o espanhol Rodrigo de Castelo Branco. Após este crime sem pena, quem não tivesse sido sertanista e paulista não teria se arriscado a andar pelos lugares desabitados do Brasil. Para os paulistas, competia o feito heroico de ter encontrado a mais extensa jazida de ouro que já se descobriu no mundo. No entanto, não teriam sido eles que enriqueceriam com ela.[4]

O debate acadêmico a respeito de qual foi o primeiro ouro, que se achou nas Gerais, é tão grande que não sobram dúvidas de que os encontrados tinham sido paralelos, o que revela igualmente que existiam diversas expedições que percorreram a serra da Mantiqueira e os vales dos rios das Mortes e da Velha à procura do metal. Borba Gato seria o primeiro que achou o ouro, apesar disso, depois do crime de lesa-majestade que tivera cometido, tivera sido forçado a ter se escondido em florestas distantes. No ano de 1693, por seu turno, vinha para o Espírito Santo o paulista Antônio Ruiz de Arzão “com mais de cinquenta indivíduos, dentre caucasianos e carijós empregados de seu gerenciamento, totalmente pelados e maltrapilhos, sem chumbo ou pólvora”: chegavam do interior mineiro, em que, durante a captura dos escravos, os cataguás os atacaram de maneira dura.[4]

A expedição, todavia, foi gloriosa: dentre os farrapos que o revestiam, Arzão tinha trazido dez gramas de ouro. Sem poder retornar para o interior, concedeu o mapa da mina ao cunhado, Bartolomeu Bueno de Siqueira (o qual, pouco anteriormente, tivera perdido seu legado inteiro no jogo). Siqueira saiu no caminho mostrado e no mês de janeiro de 1695 se obrigou a dar informações para o governador do Rio de Janeiro, Castro e Caldas, que o ouro não constituía mais uma mentira: as “grandes lavras” e as “minas férteis” eram verdadeiras. No final do ano de 1696, já eram contados aos milhões os paulistas que partiam de Taubaté (ponto de saída de Arzão e Siqueira) a caminho do “sertão de Cataguases”, do lado contrário da Mantiqueira.[4]

O tempo de duração da viagem em direção para as minas era de dois meses e meio e o de condução do caminho entre Taubaté e Lorena (através de Guaratinguetá). Desde o vale do Paraíba, atravessava-se a serra da Mantiqueira por intermédio da garganta do Embaú alcançando-se, na época, os três polos mineiros mais importantes: o local onde nasce o rio das Mortes, cujo centro era São João del Rei; na área de Mariana e Ouro Preto, na serrania do Tripuí; e em Caetité e seu vizinho Sabará. No ano de 1699, Garcia Rodrigues Pais (cujo pai foi Fernão Dias) construiu uma rota muito mais estreita (atualmente convertida em estrada de rodagem), através da qual o caminho, que ia do Rio de Janeiro até as minas, devia ser trilhado em somente catorze dias.[4]

Naquele tempo, todos os aventureiros já povoavam a região: multidões de peregrinos que saíram de quaisquer das regiões brasileiras, “os mais miseráveis deles somente com seus indivíduos e o seu pequeno comboio atrás”. Segundo um historiador, costumavam ser “indivíduos loucos os quais, provenientes de distantes trinta ou quarenta dias de viagem, saíam sem direito nenhum — dessa forma, pelo percurso, vários irremediavelmente morriam de fome e houve quem tivesse matado o amigo para lhe roubar uma pipoca de milho”. De 1697 até 1698, as minas foram assoladas por uma enorme epidemia de inanição. Diversos mineradores, com as bolsas repletas de ouro, faleceram sem que encontrassem um pedaço de mandioca, por meio do qual teriam dado uma pepita. Entretanto, as dificuldades da desnutrição teriam sido somente os primeiros que acometeram o agitado sertão dos Cataguases e as brilhantes “minas de Taubaté”. Novas maldições estavam se fermentando.[4]

A Guerra dos Emboabas editar

Embora a desnutrição que arrasou Minas de 1696 até 1698 tenha sido aterrorizante, uma crise de desabastecimento ainda mais assoladora caiu sobre a região no ano de 1700. Três anos após se descobrirem as primeiras minas, mais de seis mil indivíduos chegaram às jazidas. No início do século XVIII, essa quantidade teria quintuplicado: trinta mil mineradores tinham perambulado na região. Só não tinha do que se alimentar: todo animal ou planta que pudesse se consumir já o fora. “Veio a demanda a tal excesso que tiraram proveito dos animais nojentos, e, tendo-lhes faltado estes a poderem nutrir a existência humana, tinham largado as jazidas e decidiram fugir para as florestas para se alimentarem de raízes e cascas”, contou o governador Artur de Sá à Corte, no ano de 1701. Devoraram-se batráquios, serpentes, saúvas e “animais bem brancos produzidos em madeiras inferiores, cujo modo de ingerir de vez em quando costumava ser perigoso para os que tiveram fome”. Formigas fritas tornaram-se uma comida que se compara à “mais bem-sucedida manteiga flamenga”. Os custos de todo o alimento, que vinha para a região, aumentaram: no momento em que os baianos construíram a estrada a qual, na beira do rio São Francisco, levava para o polo mineiro, um gado bovino, o qual, em Salvador custava quatro mil-réis, era comercializado nas Minas por 96 mil-réis. No Caetê, uma galinha era comprada pelo preço de 14 gramas de ouro.[5]

O mais ruim estava para acontecer. “Morreram muitas pessoas naquela época, de enfermidade e pobreza e demais que os costumavam matar para os sequestrar, no retorno, os que cogitavam levar ouro (…) habituavam exterminar todos pelo desejo de terem ficado com ele, da mesma forma que ocorreu em diversas situações”, comentou quem viu. No ano de 1707, o prenunciável ocorreu: explodiu o conflito nas Minas Gerais. Dum lado, os de São Paulo, do contrário, os “forasteiros”, denominados de emboabas.[5]

A Guerra dos Emboabas se estendeu por mais de três janeiros e matou mais de cem pessoas. Seus acontecimentos costumam ser caóticos e envolvem contradições e os partidários, que era duma bandeira ou de outra, redigiram as narrações daquele tempo. Em breve, a resenha da guerra e suas continuidades:[5]

Guerra dos Emboabas
Definição[5] Tempo de duração[5] Circunstâncias[5] Etimologia[5] Efeitos e resultados[5]
A Guerra dos Emboabas tinha sido o conflito de paulistas — os quais descobriram as jazidas e os percursos que conduziam em direção a elas — com “forasteiros” (principalmente lusitanos), os quais vieram em seguida e se apropriaram (pelo poder do dinheiro ou das armas) de certas das mais bem-sucedidas lavouras. Os de São Paulo desejavam ser exclusivos na mineração. O mais antigo conflito ocorreu no mês de maio de 1707, na época em que um lusitano proprietário duma estalagem em Ponta do Morro (povoado perto de São João del Rei) foi morto por um de São Paulo. O mais recente confronto aconteceu em 22 de novembro de 1709, no momento em que, após oito dias de combate, os paulistas tinham desistido de uma tentativa de invadir o arraial em que os emboabas estavam fortificados. Após o acontecimento em Ponta do Morro, três incidentes parecidos aconteceram em menos de seis meses. Em todos eles, um emboaba era morto devido a razões fúteis por um de São Paulo. Liderados por Manoel Nunes Viana — um importante mercador e mineiro, chegara da Bahia — os emboabas resolveram reagir, tacando fogo em Sabará e mandando embora maior parte dos paulistas da região das jazidas. Na época, no ano de 1708, o mesmo Nunes Viana foi nomeado “governador” da região das jazidas, sendo empossado depois do paulista Borba Gato. Reza a história que, quando chegaram em casa vencidos, os paulistas tinham sido obrigados por suas esposas que retornassem ao campo de batalha. Embora tenham exterminado oitenta emboabas quando o Arraial Velho foi sitiado, não conseguiram vencer. Há mais de dez explanações para a sua etimologia, no entanto, a mais verdadeira palavra vem do tupi amô-abá, que significa “estrangeiro” ou “pessoa de outro país”. Praticamente, o controle das jazidas foi perdido pelos paulistas, entretanto, no ano de 1710, São Paulo se tornaria uma capitania autônoma.

A febre do ouro editar

Mesmo que as obras literárias e os filmes utilizassem menos a corrida do ouro de Minas Gerais como matéria-prima para histórias ou produções cinematográficas, o jesuíta italiano Antônio Andreoni descreveu de maneira admirável em sua tradicional Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, publicado sob o heterônimo André João Antonil, a auri sacra fames (ou “febre do ouro”) a qual estimulou as almas. Apesar de não tratar somente das jazidas (as quais somente abrangem um quarto da publicação e onde Antonil nunca tinha estado), a obra as descreve mais vivamente. Escrita no dia 6 de março de 1711, foi censurada dez dias após ser lançada e destruiu-se sua edição mais antiga. A publicação somente tornou a ser lançada novamente em 1898, após ele descobrir Andreoni e Antonil (que nasceu em Luca em 1649 e morreu em 1716) serem o mesmo indivíduo. Durante a publicação original de Cultura e opulência do Brasil, os especialistas entenderam que o conteúdo aumentaria o movimento de migrações, que já era impossível de ser controlado. Por causa do que ele redigiu, Andreoni entendia disso:[6]

“A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos, como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do mínimo das pessoas que atualmente lá estão. (…) Dizem que mais de 30 mil almas se ocupam, umas em catar, outras em mandar catar nos ribeiros do ouro; outras em negociar, vendendo e comprando o que se há mister não só para a vida, mas para regalo, mais que nos portos de mar. Cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e estrangeiros. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, padres e clérigos.”

Devido ao conto de Antonil/Andreoni, se conhece também como se exploravam e distribuíam as jazidas. O ouro encontrado se achava, a sério, no subsolo — foi aproveitado, em sua boa parte, em terrenos aluviais, arenosos e cascalheiras fluviais “em uma legítima cata, a qual somente precisava de membros superiores de pessoas humanas, sem excelente capacidade intelectual ou argúcia ensinada”. A legislação real determinava que para os que descobriram cada mina competiam duas jazidas (terrenos auríferos pouco extensos às margens dos rios) de novecentas braças (4 356 m²). Um filão de igual dimensão seria restrito ao Reino de Portugal. Outras catas (do mesmo tamanho) teriam sido distribuídas entre os mineiros que tivessem, no mínimo, 12 escravos. Para os mineradores com menos escravos seriam confiados minas de 25 braças por cativo.[6]

Determinações seguintes determinavam sobre o privilégio jurídico dos mineiros à derrubada de árvore e à divisão das águas. Durante o início da exploração, os percursos fluviais eram alterados, limitando-se extensões de seus leitos por uma ensacadeira. Almocafre e cavadeira constituíam as ferramentas mais usadas para soltar o cascalho, no entanto, não foram as gamelas, as bateias e os pratos os utensílios finais para “apurar” o ouro. No começo, muitos escravos conduzidos para as jazidas costumavam ser indígenas “caseiros” aprisionados pelos paulistas. Depois eles morreram. No mês de março de 1709, um alvará, que “franqueou” o comércio de escravos para o paulistas (até àquela época restrito a duzentos anualmente), foi assinado por D. João V. No ano de 1738, 101 477 cativos trabalhavam nas jazidas. Registrou o historiador Afonso Taunay:[6]

“O trabalho da bateia e do carumbé, do almocafre e da pá foram operações que converteram o Brasil das minas em um superinferno de negros, perto do qual o dos engenhos e fornalhas de açúcar, por Antonil apontado, não passou de indulgente purgatório”.

O ouro na balança, cobiça e contrabando editar

Uma vez que teria acontecido um século depois na Califórnia e, mais tarde, na África do Sul e no Alasca, a região das Minas Gerais, logo depois que o ouro foi descoberto, “era uma república em que o desrespeito predominava carregado de armas e o privilégio jurídico costumava viver desarmado”. A ordem e a lei demoraram seis janeiros para se normalizarem no mundo da cobiça. Naquela época — entre 1694 e 1700 —, “homens de qualquer classe social e de quaisquer dos lugares, pessoas de posses e aventureiros sem dinheiro, em grande quantidade, ultrapassavam os limites do desenvolvimento no Brasil: os primeiros, prepotentes e arrogantes, juntos de espingardeiros, arrebatados, rancorosos, brincalhões e corruptos”. “Os outros, geralmente, vagabundos e bandidos incorrigíveis, traiçoeiros e matadores de pessoas também costumavam ultrapassar os limites do progresso em solo brasileiro”.[7]

Quando o regime estabelecido finalmente se instalou nas “minas de Taubaté”, a personalidade eleita para ser seu representante não poderia ter sido péssima. Artur de Sá e Meneses, que era ex-capitão-general do Maranhão, fora investido como governador do Rio de Janeiro no mês de abril de 1697. Em outubro de igual ano, partiu para São Paulo (inflamada por um conflito armado civil dentre ambos os clãs inimigos). Aí, além de desculpar Manuel de Borba Gato do homicídio de Rodrigo Castelo Branco, indicou-o guarda-mor dos sertões mineiros (a indicação somente se oficializou após três janeiros) e incentivou os outros moradores da urbe a “dar todo o calor ao trabalho das jazidas”.[7]

Animado pelo ouro que receberia de Borba Gato, Artur de Sá partiu ele mesmo a Minas em agosto de 1700, ali ficando até junho do janeiro posterior. Em setembro de 1701, passou mais uma dezena de meses na região. Ao retornar ao Rio, no dia 12 de julho de 1702, levava com ele 40 arrobas de ouro (mais de 580 kg) “ofertadas” pelos mineiros.[7]

O artista sem rosto, Aleijadinho, o esplendor do barroco e uma morte misteriosa editar

Não são conhecidas as aparências reais da pessoa a qual elaborou os rostos mais importantes da escultura do Brasil. Embora uma lei municipal decretasse o suposto retrato pós-morte de Aleijadinho, criado por Euclásio Ventura no século XIX, como “oficial” dele, não há provas definitivas da autenticidade da obra. Encontrado em 1916, o retrato não é condizente com detalhamentos realizados bem antes.

Vila Rica não quer dizer Florença, pedra-sabão não significa mármore e Aleijadinho não era Michelangelo. Mesmo assim, a grandeza e o refinamento, as particularidades e o luxo das mais de dez esculturas, pias batismais, tribunas, distintivos, pórticos, fontes e cruzes fazem imaginar que o Brasil possuiu um talento renascentista livre em plena agitação de Minas colonial, gravando e laborando com a alma o brilho e a magnificência dos artistas esclarecidos. A herança de Aleijadinho — tornada eterna na parte de dentro e nas fachadas de seis paróquias mineiras — brilha mais do que os minerais que partiram daqui para fazer a riqueza de países ultramarinos. Praticamente, tinham sido elas — esculturas, lavabos e estátuas — o legado restante para lembrar o Brasil de suas eras de ouro. O trabalho grandioso de Aleijadinho constitui um patrimônio maior que qualquer suntuosidade que possa ser comprada pelo ouro.

Apesar de ser um dos mais importantes artistas brasileiros, da existência de Aleijadinho remanescem somente trechos espalhados por toda a sua biografia, a maior parte deles envolvidos na obscuridade que mitificava as estórias banais. Certas pessoas sabem que era chamado de Antônio Francisco Lisboa e foi herdeiro bastardo do “juiz do ofício de carpinteiro” Manuel Francisco Lisboa com a cativa denominada de Isabel (apesar de nenhuma documentação comprovar). Quando ele veio a nascer? No ano de 1738, duvidosamente, apesar da “data oficial” ser 29 de agosto de 1730. Quem eram seus professores? O genitor e o irmão de seu pai, Antônio Francisco Pombal, não obstante, determinados autores pretenderem relacioná-lo à escola do ilustrador João Gomes Batista e à do ebanista José Coelho de Noronha, lusitanos com “ateliês” em Vila Rica. Quais eram suas fontes inspiradoras? As publicações da biblioteca do poeta Cláudio Manoel da Costa e “desenhos religiosos bizantinos e góticos” da Bíblia Pauperum.

O Distrito Diamantino e a Xica dos diamantes editar

Ver também editar

Notas

Referências

  1. a b c d Bueno 2003, pp. 100–101.
  2. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. 620 p.
  3. Terra Educação. «Ciclo do Ouro no Brasil». Consultado em 8 de abril de 2019 
  4. a b c d e f g Bueno 2003, pp. 102–103.
  5. a b c d e f g h Bueno 2003, pp. 104–105.
  6. a b c Bueno 2003, pp. 105–106.
  7. a b c Bueno 2003, pp. 106–107.

Bibliografi editar

  • Bueno, Eduardo (1997). História do Brasil: os 500 anos do país em uma obra completa, ilustrada e atualizada. São Paulo: Folha de São Paulo 
  • Bueno, Eduardo (2003). Brasil, uma história: a incrível saga de um país. 2ª ed. São Paulo: Ática 
  • Bueno, Eduardo (2012). Brasil, uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya 

Ligações externas editar