Xavantes

povo indígena Xavante
 Nota: Para outros significados, veja Xavantes (desambiguação).

O povo indígena brasileiro xavante, autodenominado A'uwē ("gente")[2] ou A'uwẽ Uptabi ("pessoas verdadeiras"),[3][4] são um povo original do Brasil, pertence linguisticamente à família linguística , a qual, por sua vez, pertence ao tronco linguístico macro-jê. A população xavante soma, atualmente, cerca de 18 214 indivíduos distribuídos em 12 terras indígenas - todas elas localizadas no leste do estado de Mato Grosso. São elas:

Xavante
População total

18 214 (Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena/Secretaria Especial de Saúde Indígena, 2014)[1][2]

Regiões com população significativa
Mato Grosso[1], no Brasil[3]
Línguas
xavante (aquém)
língua portuguesa
Religiões

Oito delas estão homologadas e registradas; duas encontram-se em processo de identificação; uma está reservada e registrada e uma está identificada e aprovada mas sujeita a contestação.[5][6]

Atualmente, a população xavante no Brasil está em crescimento. Em 2009, era de aproximadamente 10 000 pessoas.[7] Em 2010, segundo a Fundação Nacional de Saúde, era de 15 315 pessoas.[8] Tinham, como atividade predominante até a segunda metade do século XX, a caça, a pesca e a coleta de frutos e palmeiras. Formam, junto com os nativos xerentes, um conjunto etnolinguístico conhecido na literatura antropológica como acuen ou aquém, pertencente à família linguística , do tronco macro-jê.[9]

Pintam-se com jenipapo, carvão e urucum, tiram as sobrancelhas e os cílios, usam cordinhas nos pulsos e pernas e a gravata cerimonial de algodão. O corte de cabelo e os adornos e pinturas são marcadores de diferença dos xavantes em relação aos outros, transmitida através dos cantos pelos ancestrais e partilhados com todo o povo da aldeia.

História editar

No século XVIII, com a descoberta de ouro na capitania de Goiás, ocorreram conflitos entre a população xavante local e os garimpeiros, bandeirantes, colonos e missionários que chegaram. Alguns xavantes reagiram ao violentamente, outros procuraram se integrar, e outros optaram por migrar. Os que migraram para o oeste cruzaram o rio Araguaia em algum ponto entre o final do século XVIII e o início do século XIX, enquanto os que ficaram passaram a ser conhecidos por xerentes. Mitos xavantes descrevem esse evento com a figura de um enorme boto que teria surgido no meio do rio Araguaia, assustando e separando para sempre xavantes e xerentes. Outro mito diz que os xavantes teriam sido transportados por botos, conseguindo assim atravessar as agitadas águas do rio Araguaia. A designação "xavante" teria sido, então, criada pelos não nativos para diferenciar os xavantes dos xerentes que ficaram no atual estado de Tocantins.[1]

No atual estado do Mato Grosso, viveram sem serem intensivamente assediados até a década de 1930. Em 1982, o cacique xavante Mário Juruna tornou-se o primeiro nativo brasileiro a se eleger deputado federal no país. No final da década de 1980, os xavantes sofreram com a falta de caça. Uma investigação do governo mostrou que a caça intensiva em torno das aldeias exterminou as espécies animais que viviam na área. Para superar essa situação, os Xavantes aceitaram um plano de três pontos proposto pelo governo federal do Brasil. Primeiro, proteger um terço da reserva por um período de 3 a 5 anos, para permitir a regeneração. Então, promover o desenvolvimento da agricultura e uma rotação de atividades de caça, incluindo a pesca durante a estação seca. Por último, organizar patrulhas na reserva para impedir que caçadores de fora entrem na reserva.

Na década de 1990, os xavantes tiveram várias experiências novas com os "estrangeiros", como: um intercâmbio realizado com a Alemanha; a implementação de um projeto de educação bilíngue; e uma parceria musical com a banda de heavy metal Sepultura em seu álbum "Roots".[10]

Hoje, os Xavantes vivem nas reservas distribuídas a oeste do Rio Araguaia, na Serra do Roncador e a leste do Rio das Mortes. As aldeias agora têm cerca de 10 000 habitantes. A reserva Rio das Mortes, cuja superfície é de 2 390 quilômetros quadrados, inclui 850 Xavantes distribuídos em 4 aldeias. Os Xavantes tiveram que desistir de certas práticas, como a de atravessar um vasto território em busca de comida. Sua rota de caça está agora limitada a 20 quilômetros ao redor de sua aldeia. Sua técnica é cercar uma área para incendiar e abater animais em fuga com flechas ou armas de fogo. A carne pode ser cozida e comida no mesmo dia ou defumada para ser comida em outro dia.

Distribuição editar

A região onde vivem hoje tem grande rede hidrográfica formada pelas bacias dos afluentes dos rios Culuene, Xingu, das Mortes e Araguaia. É dessa região de floresta tropical, mato e savana, com árvores baixas e altas, que os nativos retiram o alimento e os materiais para seus artesanatos, armas, instrumentos musicais e as ocas, dispostas em forma circular. Ali, também buscam caças, frutos, palmeiras e pescados.

Devido à atual ocupação da região pelas culturas da soja e do gado, bem como outras monoculturas agrícolas, o uso de pesticidas e a diminuição das matas, seu modo de vida ligado à caça e à coleta tem mudado bastante. Muitas vezes, a "caça" e a "coleta" são deslocadas da mata para as cidades vizinhas, onde vão adquirir alimento e coisas dos "estrangeiros".

Tradições e rituais editar

Na literatura antropológica, os xavantes são conhecidos principalmente por sua organização social de tipo dualista, ou seja, trata-se de uma sociedade em que a vida e o pensamento de seus membros estão constantemente permeados por um princípio dual, que organiza sua percepção do mundo, da natureza, da sociedade e do próprio cosmos como estando permanentemente divididos em metades opostas e complementares.

Sua tradição tem uma maneira própria de ser transmitida e transformada, através de relatos, rituais e ensinamentos. A escrita é uma necessidade para qual o povo xavante se adaptou, com o intuito de reivindicar seu espaço na sociedade nacional e internacional. Os xavantes têm uma organização supostamente dualista e essa percepção da vida como um todo divide tudo permanentemente em metades opostas e complementares, mas há outras formas de divisão coletiva e organização das relações, como em trios ou quartetos. Esta é a chave da cultura dos xavantes. Existe também a corrida de buriti, denominada de uiwede, uma corrida de revezamento em que duas equipes de gerações diferentes correm cerca de 8 quilômetros, passando um tora de palmeira de buriti de cerca de 80 quilogramas de um ombro para o outro até chegarem ao pátio da aldeia.

Desde pequenos, os meninos formam grupos de idade semelhante. A primeira cerimônia pública de que os meninos participam é o ói'ó, em que os meninos demonstram sua coragem, seus medos, sua fraquezas através da luta com clavas. Quando chega o tempo certo, os mais velhos decidem a entrada dos meninos no (casa tradicional, especialmente construída numa das extremidades do semicírculo da aldeia, para a reclusão dos wapté durante o período de iniciação para a fase adulta), onde os meninos vão viver reclusos por cinco anos. Todo menino xavante, de 10 a 18 anos, passa por esse período de reclusão de cinco anos na casa dos solteiros, onde o jovem permanece sem contato com a tribo. Nesse período, o jovem fica todo o tempo no . Ele só deixa a casa para rituais e para atividades fora da aldeia, como caça e pesca.

O ritual de furo de orelha acontece quando os wapté saem definitivamente do , ou seja, na passagem da adolescência para a vida adulta. Após os cinco anos, acontece, na aldeia, a festa chamada Danhono, onde a orelha dos jovens é furada, sendo o furo preenchido com um cilindro de madeira que os xavantes acreditam ser indutor de sonhos. Atualmente, os xavantes jovens criaram uma analogia entre esses cilindros e as antenas: os cilindros seriam como "antenas" que captam os pensamentos dos ancestrais xavantes durante os sonhos. Após o ritual, os jovens passam a ser considerados adultos e voltam ao convívio social com a tribo.

A alimentação tradicional dos xavantes baseia-se na coleta de raízes silvestres, castanhas e frutos, principalmente pelas mulheres. Complementa-se com a caça e a pesca praticadas pelos homens. Secundariamente, existe o cultivo de milho (principal produto agrícola, muito importante nos mitos xavantes), feijão e abóbora.[1]

Os xavantes falam a língua aquém, porém os homens costumam falar a língua portuguesa quando se relacionam com não xavantes. A maioria das mulheres e crianças e alguns velhos não sabem falar português.[1]

Destaca-se, ultimamente, a grande popularidade da prática do futebol entre os xavantes.[11] Também tem aumentado o número de xavantes cristãos, devido à ação de missionários nas aldeias. Isso tem gerado críticas por parte dos defensores da cultura xavante tradicional.[12]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d e Povos indígenas no Brasil. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Xavante. Acesso em 25 de janeiro de 2019.
  2. a b Povos indígenas no Brasil: ISA. Disponível em http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xavante/1159. Acesso em 29 de julho de 2015.
  3. a b Xavante: nossa história. Disponível em http://www2.uol.com.br/aprendiz/designsocial/xavante/frame_brind.htm. Visitado em 29 de julho de 2015.
  4. Território no mundo A'uwe Xavante. Por Maria Lucia Cereda Gomide. Confins 11 | 2011 : Numero 11.
  5. FUNAI. Povos Indígenas. Etnias Indígenas. "Xavante"[ligação inativa]
  6. Instituto Socioambiental. Pesquisa por Povo. Xavante :: 12 Terras Indígenas
  7. SIL International. Xavantes. Visitado em 24 de maio de 2009.
  8. Xavante - Localização e população atual
  9. Xavante - Nome e língua.
  10. http://whiplash.net. Disponível em http://whiplash.net/materias/news_829/176187-sepultura.html. Acesso em 29 de julho de 2015.
  11. Povos indígenas no Brasil: ISA. Disponível em http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xavante/1164. Acesso em 29 de julho de 2015.
  12. BBC. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-41151841. Acesso em 24 de janeiro de 2019.


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Ligações externas editar

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