Correndo o Risco é o terceiro álbum de estúdio da banda brasileira Camisa de Vênus, gravado em agosto e setembro de 1986, no Estúdio RAC, em São Paulo, e lançado pela gravadora WEA, em 7 de novembro de 1986, com distribuição pela RCA Victor.

Correndo o Risco
Correndo o Risco
Álbum de estúdio de Camisa de Vênus
Lançamento 7 de novembro de 1986 (1986-11-07)
Gravação Em agosto e setembro de 1986
Estúdio(s) Estúdio RAC, em São Paulo
Gênero(s)
Duração 37:10
Idioma(s) Português
Formato(s)
Gravadora(s) WEA
Produção Pena Schmidt
Cronologia de álbuns de estúdio por Camisa de Vênus
Batalhões de Estranhos
(1985)
Duplo Sentido
(1987)
Singles de Correndo o Risco
  1. "Simca Chambord"
    Lançamento: novembro de 1986 (1986-11)
  2. "Só o Fim"
    Lançamento: novembro de 1986 (1986-11)
  3. "Deus me Dê Grana"
    Lançamento: 1987 (1987)

Antecedentes

editar

O lançamento do primeiro álbum ao vivo da banda - Viva - havia sido resultado de um acordo entre a banda, a gravadora deles na época - a RGE, e a nova gravadora deles - a WEA. Como a banda devia mais um álbum à RGE por força de contrato, ficou acordado o lançamento de um álbum ao vivo, considerado o meio mais rápido de cumprir tal acordo. O álbum foi um sucesso, vendendo 180 mil cópias no ano do seu lançamento e ajudando a estabelecer a imagem da banda entre público e crítica.[1][2][3]

Gravação e produção

editar

A produção transcorreu nos meses de agosto e outubro de 1986, sendo o álbum gravado e mixado no Estúdio RAC, em São Paulo, com o comando de Pena Schmidt: a banda inaugurou a nova aparelhagem de 24 canais do estúdio.[4] As gravações contaram com diversas participações de músicos, como: Armando Ferrante Júnior, nos Teclados; Sérgio Kaffa e Constant Papineanu, no piano; Manito, no Saxofone e no órgão Hammond; Mica, na harmônica; Papete, na Tumbadora; Ricardo Henrique, na guitarra elétrica; e Álvaro Gonçalves, na guitarra e, também, no violão. Além desses músicos, a banda resolveu arranjar para orquestra uma de suas músicas: "A Ferro e Fogo" contou com arranjos e regência de Armando Ferrante Junior, e com uma pequena orquestra de mais de 30 músicos.[5][6]

Resenha musical

editar

O álbum abre com "Simca Chambord", um dos grandes sucessos desse disco, que é um "rock autêntico", tendo como tema a deterioração da classe média durante os anos de ditadura militar no Brasil.[4][7] Em seguida, "Mão Católica" fala sobre a culpa cristã, ecoando a experiência de Marcelo Nova em semi-internato, quando novo. Então, temos a bem-humorada "Deus me Dê Grana", que foi outra dos grandes sucessos do disco.[8] O primeiro lado fecha com uma versão punk rock de "Ouro de Tolo", de Raul Seixas, que foi considerada absolutamente atual na época do seu lançamento, do que é demonstração a atualização mínima feita pela banda na letra: "Corcel 73", por "Monza 86"; "tobogã", por "videogame"; "cidade maravilhosa", por "cidade marabichosa"; etc.[4][8]

O lado B inicia com "Só o Fim" - mais um dos sucessos do álbum - que tem a letra elogiada, falando do apocalipse,[4] e cujo refrão faz menção à canção dos The Rolling Stones, "Gimme Shelter".[3] Em seguida, temos a direta "O que É que Eu Tenho de Fazer?", na qual a banda brinca com Reagan, os punks e os críticos musicais. Por fim, o disco termina com o canto épico "A Ferro e Fogo", que conta com uma orquestra tocando o arranjo do maestro Armando Ferrante Júnior.[4]

Recepção

editar

Lançamento

editar

O álbum foi lançado pela gravadora WEA em 07 de novembro de 1986, com distribuição pela RCA Victor.[6] Antes do seu lançamento, o disco já tinha 200 mil cópias encomendadas e, com a forte divulgação da gravadora, o álbum acabaria vendendo mais de 300 mil cópias, rendendo um disco de platina para a banda.[9] Para a promoção do disco, foi feita uma festa de lançamento em um prostíbulo, que continuou funcionando enquanto a festa ocorria, com a banda tocando entre as garotas de programa que subiam para fazer performances - como "pole dance", por exemplo - no palco.[10] Além disso, foram lançados 3 singles do disco: Simca Chambord e Só o Fim, em novembro de 1986; e Deus me Dê Grana, em 1987.[11] Essas 3 canções também geraram videoclipes para veiculação nas estações de TV.[12][13][14] Apesar disso, o álbum sofreu com a proibição da execução radiofônica de "Mâo Católica", pelo Departamento de Censura.[4]

Fortuna crítica

editar
Críticas profissionais
Avaliações da crítica
Fonte Avaliação
Estado de S. Paulo (1986) Favorável[4]
O Globo (1986) Favorável[8]
Veja (1986) Favorável[7]

Alberto Villas, escrevendo para O Estado de S. Paulo, vaticina que este é o álbum mais bem produzido do Camisa até o momento do seu lançamento. Elogia muito o disco, escrevendo que a banda lança "um disco para balançar o coreto", indo contra "um mar de água com açúcar" e "contra a maré dos modismos". Assim, é um disco coerente, que mostra que a banda é capaz de tudo, mostrando um rock and roll nervoso e que incomoda muita gente.[4] Mauro Dias, em texto assinado para o diário carioca O Globo, analisa disco e banda, elogiando as qualidades técnicas e as letras instigantes do primeiro, e a performance explosiva no palco da segunda. Em compensação, o jornalista chama a sonoridade de "morna": conclui que "o Camisa de Vênus está sempre no palco, nunca no vinil". Ainda assim, elogia o uso de metáforas para simbolizar o momento em que vivia-se, com a euforia da classe média com o Plano Cruzado.[8] Okky de Souza, escrevendo para a Revista Veja, elogia o álbum dizendo tratar-se do "mais comercial e inteligente" trabalho do grupo até então, no qual tocam um rock básico, em que "a urgência e a espontaneidade compensam a ausência de técnica". Elogia, especialmente, as letras de Marcelo Nova, chamando-as de "mais elaboradas".[7]

Relançamentos

editar

Faixas

editar
Lado A
N.º TítuloCompositor(es) Duração
1. "Simca Chambord"  Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova / Miguel Cordeiro 4:05
2. "Mão Católica"  Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova 3:27
3. "Morte Ao Anoitecer"  Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova 3:15
4. "Deus me Dê Grana"  Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova 4:10
5. "Ouro de Tolo"  Raul Seixas 3:20
Lado B
N.º TítuloCompositor(es) Duração
6. "Só o Fim"  Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova 4:27
7. "O que É que Eu Tenho de Fazer?"  Marcelo Nova / Robério Santana 4:00
8. "Tudo ou Nada"  Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova 2:36
9. "A Ferro e Fogo"  Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova 7:50
Duração total:
37:10

Certificações

editar
País Provedor Certificação Vendas
Brasil ABPD   Platina[9][3]  : mais de 300 mil[9][3]


Créditos

editar

Créditos dados pelo Discogs[11] e pelo IMMUB.[15]

Músicos

editar

Camisa de Vênus

editar

Músicos adicionais

editar

Orquestra

editar
  • Violino: Elias Slon (Spalla), Jorge Izquerda, Audina Nunez, Germano, John Spindler, Tânia Camargo, Caetano Domingos, Alberta Jaffé
  • Viola: Newton Servulo, Michel Verebes, Alwin Delsner e Marcelo Jaffé
  • Violoncelo: Robert Svetholz e Julio Ortiz
  • Contrabaixo: Jorge Oscar
  • Flauta: Toninho Carrasqueira e Rogério Zerlotti
  • Clarinete: Nailor Azevedo (Proveta)
  • Oboé: Kátia
  • Trompete: Francês, Donizeti, Azevedo
  • Coral masculino: Clóvis, Paulinho, Rubens, Caio Flávio
  • Coral feminino: Cláudia, Tânia, Cidinha, Vera

Ficha Técnica

editar

Referências

  1. Alexandre, 2017.
  2. Dapieve, 1995, pp. 160-164.
  3. a b c d Barcinski e Nova, 2017.
  4. a b c d e f g h Villas, 1986.
  5. Bahiana, 1986.
  6. a b CAMISA corre o risco e lança um novo disco. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 nov. 1986. Ilustrada, p. 54.
  7. a b c Souza, 1986.
  8. a b c d Dias, 1986.
  9. a b c Thales de Menezes (14 de julho de 2015). «Fora de catálogo, discos do Camisa de Vênus chegam a R$ 950». Folha de S.Paulo. Consultado em 15 de abril de 2019 
  10. Leonardo Rodrigues (23 de outubro de 2017). «Em livro, Marcelo Nova lembra dia em que "salvou" corpo de Raul Seixas». Uol. Consultado em 15 de abril de 2019 
  11. a b «Camisa de Vênus - Correndo o Risco». Discogs. N.d. Consultado em 15 de abril de 2019 
  12. «O Camisa de Vênus está de volta aos palcos hoje em São Carlos». Fala Porto. 26 de maio de 2017. Consultado em 15 de abril de 2019 
  13. «Camisa de Vênus canta "Simca Chambord"». Memória Sindical. 2 de março de 2017. Consultado em 15 de abril de 2019 
  14. Paulo Guilherme (17 de maio de 2008). «'O Simca Chambord simbolizava a esperança', diz Marcelo Nova». G1 
  15. «LP/CD Correndo o Risco». IMMUB. N.d. Consultado em 15 de abril de 2019 

Bibliografia

editar
  • ALEXANDRE, Ricardo. Dias de Luta: O rock e o Brasil dos anos 80. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2017.
  • BAHIANA, Ana Maria. Do front e adjacências. Publicado em O Globo, em 28 de agosto de 1986, p. 3.
  • BARCINSKI, André e NOVA, Marcelo. O galope do tempo: conversas com André Barcinski. São Paulo: Benvirá, 2017.
  • DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. São Paulo: Editora 34, 1995.
  • DIAS, Mauro. Nada escapa ao Camisa de Vênus. Publicado em O Globo, em 17 de novembro de 1986, p.
  • DUMAR, Deborah. O estouro do camisa de vênus. Publicado em O Globo, em 08 de abril de 1987, p. 4. 1.
  • SOUZA, Okky de. Postura radical. Publicado em Revista Veja, edição 951, de 26 de novembro de 1986, p. 146.
  • VILLAS, Alberto. Os filhos de Raul Seixas. Publicado em O Estado de S. Paulo, em 11 de novembro de 1986, p. 1.

CAMISA corre o risco e lança um novo disco. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 nov. 1986. Ilustrada, p. 54.