Córsega e Sardenha

(Redirecionado de Corsica)

Córsega e Sardenha (em latim: Corsica et Sardinia) foi uma província da Roma Antiga localizada no território das ilhas de Córsega e Sardenha.

Provincia Corsica et Sardinia
Província da Córsega e Sardenha
Província do(a) República Romana e Império Romano
 
238 a.C.c. 469


Córsega e Sardenha em 117
Capital Caralis

Período Antiguidade Clássica e Antiguidade Tardia
238 a.C. Anexada pela República Romana
c. 455 Sardenha conquistada pelos vândalos
c. 469 Córsega conquistada pelos vândalos

Período pré-romano

editar

Os fenícios foram os primeiros a criar entrepostos comerciais nas ilhas. Depois vieram os gregos, que fundaram diversas colônias na região também com objetivos comerciais. Os cartagineses (uma colônia fenícia), com a ajuda dos etruscos, conquistaram a colônia grega de Alália, na Córsega, em 535 a.C. e a Sardenha logo depois.[carece de fontes?]

Província romana

editar

Mesmo tendo antes assinado um tratado com Cartago, a República Romana anexou a região à força durante a Primeira Guerra Púnica.[1] Em 238 a.C., os cartagineses, aceitando a derrota na guerra, entregaram a região, que foi organizada numa província,[2] uma das primeiras do Mediterrâneo ocidental. As ilhas seriam governadas pelos romanos por 694 anos.[carece de fontes?]

Relação com Roma

editar

Mesmo os romanos considerando a região como "trivial", a Córsega e a Sardenha acabaram tendo um importante papel nos eventos imperiais. A Sardenha providenciava a maior parte do suprimento de cereais na época da República Romana enquanto a Córsega fornecia cera, o único produto abundante na ilha.[carece de fontes?]

Os ilhéus também contribuíram indiretamente para o fim da República. Caio Mário e Lúcio Cornélio Sula Félix reassentaram seus veteranos na Córsega e utilizaram seu suprimento de cereais para financiar seus esforços de guerra. Júlio César ocupou a ilha com o mesmo objetivo e foi assim que ele alimentou seu exército durante a guerra civil de 49 a.C. Na época do Segundo Triunvirato, Otaviano recebeu as ilhas como parte de seu quinhão, utilizando também os cereais da Sardenha contra Bruto e Cássio.[3]

Reforma de Diocleciano e fim da Córsega e Sardenha

editar

Quando o imperador Diocleciano (r. 284–305) reformou a administração imperial, a província de Córsega e Sardenha foi subordinada à Diocese da Itália Suburbicária, na Prefeitura pretoriana da Itália.

Em 456, os vândalos, um povo de origem germânica conquistaram a Sardenha e governaram a região por 78 anos, até 534, quando tropas bizantinas comandadas pelo general Cirilo retomaram a ilha. Durante este período, a estrutura administrativa romana aparentemente continuou funcionando. O governador ainda era chamado de praeses e continuou a gerir as funções governamentais civis, militares e judiciais seguindo os procedimentos imperiais. Em 469, Geiserico, o rei vândalo, finalmente conseguiu conquistar a ilha da Córsega[4] e os vândalos conseguiram governá-la pelos 65 anos seguintes, período no qual a região tornou-se a principal fornecedora de madeira para a frota pirata vândala.

Período bizantino

editar
Provincia Corsica
Provincia Sardinia
Província da Córsega
Província da Sardenha
Província do(a) Império Bizantino
  
533—Séc. VIII  

 
Império Romano logo depois das conquistas de Justiniano
Líder Praeses

Período Antiguidade Tardia
533 Sardenha conquistada pelo imperador Justiniano
c. 534 Córsega conquistada pelo imperador Justiniano
c. 725 Córsega perdida novamente para os lombardos
Séc. VIII Sardenha perdida em circunstâncias obscuras

Em 530, um golpe de estado em Cartago removeu o rei vândalo Hilderico, um cristão convertido ao credo niceno, e colocou no seu lugar um primo, Gelimero, um ariano como a maior parte dos vândalos e Godas foi enviado para tomar a Sardenha e garantir a lealdade da ilha. Contudo, ele fez exatamente o contrário, declarando sua independência de Cartago e iniciando conversas com o imperador Justiniano, que declarou guerra a Gelimero. Em 533, o novo rei enviou o grosso do seu exército para a Sardenha para subjugar Godas, mas o resultado foi catastrófico, pois seu próprio reino acabou conquistado quando o exército bizantino, comandado por Belisário, aportou na África em sua ausência. O Reino Vândalo deixou de existir e a Sardenha retornou para o controle romano.[5]

Província da Sardenha

editar

O imperador Justiniano restaurou as antigas subdivisões administrativas pré-conquista e elevou o governador-geral de Cartago à posição suprema de prefeito pretoriano, criando a Prefeitura pretoriana da África:

A partir da já mencionada cidade [Cartago], com a ajuda de Deus, sete províncias com seus próprios juízes devem ser controladas, das quais Tingi, Cartago, Bizâncio e Trípoli, anteriormente sob a jurisdição de procônsules, deverão ter governantes consular (consularis); enquanto que as outras, nomeadamente, Numídia, Mauritânia e Sardenha deverão, com a ajuda de Deus, se sujeitar a praeses.
 
Código de Justiniano, I.XXVII.

Deve-se assumir que Mauritânia Tingitana, tradicionalmente parte da Diocese da Hispânia (na época sob o controle dos visigodos), foi temporariamente extinta enquanto província separada no esquema de Justiniano e fundida com a Mauritânia Cesariense para formar a província governada a partir de Tingi, e que "Mauritânia" se refere a Mauritânia Sitifense. É importante também notar que a Sardenha foi formalmente retirada do controle italiano e anexada pela África.[6]

Os bizantinos comandaram a Sardenha pelos próximos 300 anos,[7] com exceção de um breve período no qual ela foi invadida pelos ostrogodos em 551.

As datas e circunstâncias do fim do comando bizantino na Sardenha são desconhecidas. O controle de Constantinopla se manteve pelo menos até c. 650 e, depois disso, legados locais passaram a reinar de forma semi-autônoma por conta da revolta de Gregório, o Patrício, o exarca da África, e também da primeira invasão dos omíadas no norte da África. Existem algumas evidências de que a administração sênior bizantina do Exarcado da África fugiu para Cagliari depois da queda de Cartago para os árabes em 697.[8] A perda do controle imperial sobre a África aumentou muito a quantidade de raides mouros e berberes à Sardenha a partir de 705, forçando a província a ser cada vez mais independente.[9] A comunicação com o governo central foi ficando cada vez mais perigosa até tornar-se praticamente impossível depois da conquista muçulmana da Sicília entre 827 e 902. Uma carta do papa Nicolau I já em 864 menciona "juízes sardenhos" e não faz referência ao império; uma outra, do papa João VIII (872–882), chama-os de principes ("príncipes"). Finalmente, quando Sobre a Administração Imperial foi concluído, em 952, as autoridades bizantinas já não mais listavam a Sardinia como uma província imperial, o que sugere que ela já era considerada como perdida na época.[8]

Província da Córsega

editar

Depois da conquista de Belisário, Cirilo conquistou a Córsega em 534 e a ilha foi colocada sob o comando do Prefeitura pretoriana da África.[10] Porém, o governo de Cartago não conseguiu proteger a ilha dos ataques ostrogodos e lombardos, que avançaram pela Itália a partir do norte em 568 Depois que a África foi perdida para os omíadas em 709, o poder imperial no ocidente se deteriorou. Os sarracenos começaram a atacar a Córsega e Liuprando, o Lombardo, invadiu em 725 para impedi-los,[11] encerrando definitivamente o controle romano na região.

Opinião romana sobre a província

editar

Por todo o período, Roma manteve uma relação muito objetiva com a província. As regiões costeiras de ambas foram colonizadas por romanos e adotaram a língua e cultura latinas. Porém, no interior a resistência à romanização era grande e uma variedade de revoltas e insurreições irromperam, mas, como o interior era coberto por densas florestes, os romanos simplesmente evitavam a região, chamado-a de "terra dos bárbaros"[3]

De maneira geral, Córsega e Sardenha eram triviais quando comparadas às demais conquistas do Império Romano do Oriente na época de Justiniano. De Córsega os romanos não conseguiram muitos espólios, nem prisioneiros dispostos a se curvar a monarcas estrangeiro e nem ninguém disposto a aprender os costumes romanos. Dizia-se que "...quem comprou um corso se arrepende pelo desperdício de dinheiro".[3] Além disso, os romanos consideravam a ilha e seu povo como atrasados e anti-higiênicos.

Foi em Córsega e Sardenha que se exilou Caio Cássio Longino, o advogado acusado de conspiração por Nerto e também Anicentus, o assassino de Vipsânia Agripina. Na época de Tibério, os judeus foram enviados para lá.[3]

Referências

  1. Caven, Brian (1980). The Punic Wars. New York: St. Martin’s Press 
  2. Bagnall, Nigel (1990). The Punic Wars: Rome, Carthage, and the Struggle for the Mediterranean. New York: St. Martin’s Press 
  3. a b c d Chapot, Victor (2004). The Roman World. London: Kegan Paul. pp. 140–150 
  4. Tabacco, 52.
  5. The Vandals by Andy Merrills and Richard Miles, published by John Wiley & Sons, 2010, p. 136. [1] Retrieved 12 October 2010
  6. Julien (1931, v.1, p.260-61)
  7. Province of Cagliari, Province of the Sun
  8. a b P. Grierson & L.Travaini, Medieval European Coinage, Cambridge University Press, 1998, p. 287.
  9. Cosentino, Salvatore (2004). Byzantine Sardinia between East and West. Berlin, New York: Millennium. pp. 329–367 
  10. Tabacco, 74.
  11. Tabacco, 91.