Fortificações de Porto Seguro

As fortificações de Porto Seguro localizavam-se possívelmente sobre a praia de Curuípe (do tupi "curuípe", sapo de boca grande), na antiga vila de Santa Cruz, atual Porto Seguro, no litoral do estado da Bahia, no Brasil.

Fortificações de Porto Seguro
Construção (Século XVI)
Conservação Mau
Aberto ao público Sim

História editar

Alguns autores, baseados em Manuel Aires de Casal (Corografia Brasílica, 1817), atribuem a primitiva fortificação do local a Cristóvão Jaques, que, em 1503, teria erguido uma feitoria (Feitoria de Santa Cruz, Reduto de Santa Cruz) nas imediações da baía Cabrália. Essa informação, entretanto, parece estar truncada com a Feitoria de Igaraçu, na costa de Pernambuco:

"Ao tempo de Diogo Leite [comandante das caravelas Rosa e Princeza, da expedição de Martim Afonso de Sousa, 1530-1532], já existiria uma feitoria portuguesa no rio Igaraçu ou no de Santa Cruz assim batizado por D. João III, feitoria que fora fundada por Cristovão Jaques. A barlavento dessa entrada ficava a ilha de Itamaracá (...) em latitude média de 7º e 46' 30" ao Sul. Foi esta extensa ilha nomeada Ascensão por Alonso de Santa Cruz ["Islario general de todas las islas del mundo"] e Caboto, e por ilha de Pernambuco, no roteiro desse litoral de 1540 existente no Museu Britânico." (CASTRO, 1940:54)

Admite-se, entretanto, que Cristóvão Jaques mandou erguer a Igreja da Misericórdia, em Porto Seguro, em 1526, o que somente se justificaria no contexto da existência de um núcleo de povoamento.

A informação mais segura sobre a situação da defesa daquele trecho do litoral, integrante da Capitania de Porto Seguro, no início do século XVII, é a de Diogo de Campos Moreno:

"Na povoação de Porto Seguro, fol. ..., no ponto A, onde se mostra a povoação, há duas peças de ferro coado, de quatorze quintais cada uma, com todo o serviço, as quais mandou o governador [da repartição do Brasil] D. Diogo de Menezes [Siqueira (1609-1613)], em lugar de certos falcões de bronze, que sem câmaras nem rabichos andavam lançadas pelo mato; assim mandou as ditas peças para defesa da barra, no lugar onde se desenhou um forte de taipa de pilão, que não chegou a acabar-se, sendo importante para a defesa daqueles moradores contra os índios da terra [os Aimorés] e os corsários do mar.
Tem as ditas peças a pólvora e munições necessárias; toda a gente está armada de mosquetes e arcabuzes que se lhe deram no ano de [mil] seiscentos e dez, no qual tempo mandou o dito governador que houvesse naquela povoação uma esquadra de dez soldados de presídio e um cabo pagos da Fazenda de Sua Majestade, para que como gente obrigada acompanhasse o capitão da capitania, assim na guarda da costa como na vigia do pau-brasil daqueles rios; (...) e também para que não acabassem de despovoar os moradores, que cada dia fugiam;" (Livro que dá Razão do Estado do Brazil, c. 1616. Biblioteca Pública Municipal do Porto. p. 127-128)

O historiador Hélio Vianna, crítico dessa edição, entende que as peças de bronze danificadas e abandonadas, deveriam provir da fortificação do primitivo donatário, Pero de Campos Tourinho, erguida a partir de 1535.

De acordo com BARRETTO (1958), uma estrutura denominada como Bateria ou Fortim da Costa, teve como função a defesa da enseada de Porto Seguro e o seu ancoradouro. Estava guarnecida por um Capitão, e artilhada com cinco peças de ferro de calibre 5 libras (op. cit., p. 187).

Em que pesem as controvérsias historiográficas, desde 1968 encontra-se tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o "acervo paisagístico do Município de Porto Seguro, específicamente (...) o conjunto arquitetônico e paisagístico da Cidade Alta [de Porto Seguro], bem como (...) as ruínas do Fortim, Reduto ou bateria da Costa, juntamente com as duas velhas peças de artilharia ali existentes e o antigo canhão que jaz perto da praia (...)" (SOUZA, 1983:111).

Atualmente no local, a título de mirante municipal, podem se observar pequenos trechos de muralha, e seis antigas peças de artilharia antecarga, de alma lisa, desmontadas, em condições precárias de conservação. O conjunto histórico da Cidade Alta, em Porto Seguro, é considerado monumento nacional desde 1973. O mesmo autor refere ainda que fazem parte desse acervo o "Reduto de Santa Cruz, com sua respectiva fortaleza, de onde Gonçalo Coelho combateu a invasão francesa de 20 de janeiro de 1506." (op. cit., p. 134).

Bibliografia editar

  • BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
  • CASTRO, Eugênio de (Cmte.). Diário da Navegação de Pero Lopes de Sousa (1530-1532): estudo crítico (2 vol., 2ª. ed.). Rio de Janeiro: Comissão Brasileira dos Centenários Portugueses de 1940, 1940.
  • GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
  • MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão do Estado do Brasil - 1612. Recife: Comissão organizadora e executiva das comemorações do tricentenário da Restauração Pernambucana / Arquivo Público Estadual, 1955.
  • MORENO, Diogo de Campos. Razão do Estado do Brazil, c. 1616 (Códice 216 da Biblioteca Pública Municipal do Porto). Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1999.
  • SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

Ver também editar

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