Masterização de áudio

forma de pós-produção de áudio
 Nota: Não confundir com remasterização.

Masterização de áudio é o processo de preparar e transferir o áudio gravado em uma mídia que contém a mixagem final de um fonograma ou conjunto de fonogramas para outro dispositivo de armazenamento de dados, destinado a ser a matriz de todas as cópias a serem feitas daquele trabalho. Desse modo, a gravação matriz (do inglês "master recording") é a fonte - mediata ou imediata - a partir da qual todas as cópias serão produzidas. De um processo puramente mecânico, a masterização tornou-se em um trabalho artístico e intelectual com o passar do tempo, já que as tecnologias associadas à produção dos fonogramas continuamente aumentaram o poder de produtores e engenheiros de som na formatação do produto final. A partir da década de 1980, as matrizes digitais tornaram-se comuns, embora matrizes analógicas - como fitas magnéticas - ainda estejam sendo utilizadas pela indústria, particularmente por alguns engenheiros especializados em masterização analógica.

História

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Cilindro e Disco de 78 rotações

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 Ver artigos principais: Cilindro fonográfico e Disco de 78 rotações

Com o surgimento dos primeiros aparelhos que possibilitaram a gravação de som - como o fonógrafo, em 1877, e o gramofone, em 1888 - um novo mercado começou a se abrir: ao invés da venda de partituras pelas editoras musicais, agora possibilitava-se a venda de fonogramas por gravadoras. No início desse mercado, eram diversas as técnicas de gravação, bem como as características dos meios que as continham. A partir da segunda década do século XX, o disco feito de goma-laca reproduzido a 78 RPM começou a suplantar o cilindro como meio por excelência para a comercialização de fonogramas. Entre a década de 1920 e a Segunda Guerra Mundial, o disco sofreu diversas alterações tecnológicas que lhe deram sobrevida - como a adoção das gravações eletromecânicas e pequenas mudanças nos processos de gravação e produção que permitiram ganhos sonoros e redução do ruído.[1] Entretanto, com a emergência daquele conflito armado de grandes proporções, o fornecimento de matéria prima para a fabricação das chapas - a goma-laca - sofreu com as batalhas no teatro asiático, principal produtor. Isto levou a ampliação dos esforços para a invenção de uma chapa que utilizasse material sintético de fácil produção, o que acabou na adoção do vinil como material para a fabricação de discos.[2]

Nesta primeira fase das gravações - ainda apenas mecânica - a masterização era um processo puramente mecânico de fabricação de uma gravação matriz que pudesse ser copiada tantas vezes quantas fossem necessárias: não haviam considerações artísticas ou ajustes a ser feitos. No início, diversos materiais foram testados, tanto para os discos como para as matrizes. Chegou-se à conclusão, no início do século, que as matrizes de cera e os discos de goma-laca eram os melhores materiais para ser utilizados. Assim, nesta época, a gravação era feita diretamente em um disco de cera que servia de matriz. Após a pulverização de pó de grafite - para torná-la condutora de eletricidade e reduzir o ruído que surgia no processo - a matriz passava por um processo de galvanoplastia para a produção de cópias negativas de cobre, que eram chamadas de "carimbos". Estes negativos de cobre eram utilizados para produzir discos em massa através da pressão - carimbagem - que abria sulcos nos discos virgens de goma-laca - amolecida pela ação do vapor. Isto durou até 1925.[1][3]

Numa segunda fase - com a invenção do microfone e dos amplificadores das gravação elétricas - o processo passa a ser eletromecânico. Ainda assim, era uma tarefa puramente técnica e que não envolvia a possibilidade de ajustes e modificações nas gravações. Agora, as matrizes de cera passavam por um processo de pulverização de pó de ouro, o que reduzia enormemente o ruído. Em seguida, produziam-se os negativos através da galvanoplastia. Entretanto, passou-se a utilizar esses negativos não para a produção do disco final, mas para a produção de novas matrizes de metal, chamadas de "mother" (mãe, em inglês). Dessas matrizes, produziam-se negativos finais, chamados de "father" (pai, em inglês). Agora, era a partir desses últimos carimbos que se produzia os discos em massa, pelo mesmo processo de prensagem. A adição desta nova fase permitiu conservar melhor as matrizes de cera, que não precisavam passar por tantos processos de galvanoplastia.[1][4][5]

Após o advento do Disco de vinil

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Fitas magnéticas foram largamente utilizadas como matrizes a partir dos anos 1940.

A partir do surgimento de chapas feitas de vinil - como o LP, em 1948; e o compacto simples, em 1949 - o processo de gravação e de masterização mudou completamente. Isto porque, ao mesmo tempo, foram introduzidas as matrizes feitas de fitas magnéticas, o que aumentava a durabilidade das matrizes, já que elas eram copiadas para uma outra matriz de acetato que era a qual seria utilizada no processo de extração de negativos e prensagem dos discos. Além disso, a utilização de matrizes de fita magnética trouxe um papel artístico ao engenheiro de masterização que não mais realizaria um trabalho puramente mecânico - em um torno ou em uma prensa. Desse modo, tarefas que eram realizadas no processo de gravação, passaram a ser realizadas em etapas posteriores, como a edição, a mixagem e a masterização. Agora, podia-se selecionar diferentes trechos de diversos "takes" para construir um fonograma melhor. Também, permitia-se o overdubbing que permite gravar um material novo por cima de outro material já gravado. Finalmente, em conjunto com a invenção posterior da gravação multicanal, permitia a gravação de cada instrumento separadamente. Tudo isto tornava maleável o processo de produção e pós-produção e arrancava os processos de pós-produção da simples produção mecânica de produtos em massa, para as considerações artísticas sobre os fonogramas gravados, mudando o papel dos engenheiro de som na indústria fonográfica.[6]

Matrizes digitais

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Imagem mostrando níveis de volume de um som em decibéis, típico de uma DAW.

Com a emergência do CD em 1982, a masterização tornou-se ainda mais um trabalho artístico, intelectual; não sobrando nenhum aspecto relacionado ao trabalho mecânico de prensar discos. Com o CD, não apenas o meio final passou a ser digital: todo o processo de gravação e pós-produção tornou-se digital. Assim, as fitas magnéticas passaram a ser trocadas por matrizes digitais. O trabalho de masterização passou a ser o momento onde o trabalho final tomava forma, em oposição à mixagem na era anterior. A masterização passou a funcionar como uma mixagem do produto completo, não fixando-se em uma faixa, mas em várias faixas que deveriam compor um único trabalho.[7][8]

Controvérsias associadas à masterização

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 Ver artigo principal: Loudness war
 
Um processador de masterização comum para realizar compressão de áudio.

A introdução de processos digitais para a produção de fonogramas trouxe uma revolução à música, aumentando incrivelmente o poder de engenheiros e produtores em relação ao produto final. Ferramentas como compressão, equalização e normalização ampliaram o papel da masterização e a sua capacidade de afetar o som do produto final. Um dos problemas que isto acabou gerando ficou conhecido como "Loudness war": a confiança no volume médio de um fonograma como forma de impressionar o ouvinte, em detrimento da dinâmica na execução da música, o que compromete a alta-fidelidade sonora.[9] Assim, utiliza-se a equalização para conseguir um som o mais homogêneo o possível - ou com acentuação nos graves; após, alterna-se entre compressão e normalização - repetidas vezes - para eliminar-se sons individuais muito altos enquanto aumenta-se o volume médio da peça inteira.[8][10][11]

Ver também

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Referências

  1. a b c «The Gramophone». Library of Congress. N.d. Consultado em 28 de maio de 2020 
  2. Piccino 2003, pp. 20
  3. Abreu 2009, p. 110
  4. Valentim 2016, p. 25
  5. Sberni Júnior 2007, pp. 27-28
  6. Barbosa Macedo 2007, pp. 1-2
  7. Barbosa Macedo 2007, p. 4
  8. a b Robert Auld (2004). «Mastering then and now: the history of mastering and whether we should pursue it ourselves». Recording Magazine. Consultado em 26 de maio de 2020. Arquivado do original em 24 de novembro de 2017 
  9. Bezerra Viana 2013, pp. 48-52
  10. Moita Carvalho 2013, pp. 20-21
  11. Sousa Pereira 2015, pp. 12-13

Bibliografia

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  • Abreu, Paula (2009). «A indústria fonográfica e o mercado da música gravada – histórias de um longo desentendimento». Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Revista Crítica de Ciências Sociais (85) 
  • Barbosa Macedo, Frederico Alberto (setembro de 2007). «O processo de produção musical na indústria fonográfica: questões técnicas e musicais envolvidas no processo de produção musical em estúdio» (PDF). Revista eletrônica de musicologia (XI). Consultado em 26 de maio de 2020 
  • Bezerra Viana, Alexandre (2013). Profissionais de estúdios de gravação musical de Natal-RN: um estudo sobre formação e atuação no mundo do trabalho (PDF). [S.l.]: UNIRIO - Tese de doutorado. Consultado em 26 de maio de 2020 
  • Moita Carvalho, Jorge Manuel (2013). Masterização M/S: uma técnica criativa (PDF). [S.l.]: Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa - Dissertação de mestrado. Consultado em 26 de maio de 2020 
  • Piccino, Evaldo (2003). «Um breve histórico dos suportes sonoros analógicos». Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas. Revista Sonora. 1 (2) 
  • Sberni Júnior, Cléber (2007). «O álbum na indústria fonográfica: contracultura e o Clube da Esquina em 1972». UNESP. Dissertação de mestrado 
  • Sousa Pereira, Diogo Octávio Saraiva de (2015). «Loudness: faz sentido aplicar uma norma de regularização na masterização musical». Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. Dissertação de mestrado 
  • Valentim, Victor Hugo Soares (2016). «Projeção mapeada interativa em discos de vinil: diálogos multissensoriais tecnológicos». UNB. Dissertação de mestrado