Observação participante

A observação participante é um tipo de coleta de dados tipicamente usado em pesquisa qualitativa e na etnografia. Este tipo de metodologia é empregado em muitas disciplinas, particularmente na antropologia (incluindo antropologia cultural e etnologia europeia), sociologia (incluindo sociologia cultural e sociologia criminal), estudos comunicativos, geografia humana e psicologia social. Seu objetivo é ganhar uma intimidade familiar e próxima com um certo grupo de indivíduos (como religiosos, ocupacionais, subgrupos culturais ou uma comunidade particular) e suas práticas através de um envolvimento intenso com as pessoas em seu espaço cultural, usualmente sob certo período de tempo.

O método se originou com ligações com as viagens europeias e americanas de exploração científica. Durante os anos 1800, um dos percursores do método foi Joseph-Marie de Gérando, o qual já afirmava que "o jeito principal de conhecer o indígenas é se tornar um deles; e é aprendendo sua língua que irá se tornar um de seus membros".[1] Posteriormente, o método se tornaria popular por Bronisław Malinowski e seus estudantes britânicos; os estudantes de Franz Boas nos Estados Unidos; e posteriormente a pesquisa urbana dos estudantes da Escola de Chicago.

História e desenvolvimento

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A observação participante foi usada amplamente por Frank Hamilton Cushing durante o estudo do povo Zuni no fim dos meados do século XIX. Seria seguido por estudos do início do século XX de sociedades não-ocidentais através de pesquisadores como Bronisław Malinowski (1929),[2] E. E. Evans-Pritchard (1940)[3] e Margaret Mead (1928).[4]

A prática surgiu como a principal aproximação da etnografia por pesquisadores antropólogos e se sustentava através das relações pessoais com informantes locais como uma maneira de aprender a cultura, envolvendo tanto a observação e participação na vida social de um grupo. Ao viver com a cultura que estavam estudando, os pesquisadores eram capazes de formular relatos em primeira mão das vidas desses grupos e ganhar novas perspectivas. Este mesmo método de estudo também foi aplicado em grupos da sociedade ocidental e é especialmente bem-sucedida no estudo de subculturas ou grupos que compartilham um forte senso se identidade, onde apenas participando o observador ganha verdadeiro acesso com a convivência dos povos estudados.

Desde da década de 80, alguns antropólogos e outros cientistas sociais começaram a questionar o grau o qual a observação participante pode fornecer insights verídicos na mentalidade das outras pessoas.[5][6] Ao mesmo tempo, um estudo qualitativo mais formal conhecido como teoria fundamentada, iniciada por Barney Glaser e Anselm Strauss,[7] começou a ganhar popularidade na sociologia estadunidense e campos relacionados como saúde pública. Em resposta a esses desafios, alguns etnógrafos refinaram seus métodos, tanto quanto testes-hipotéticos mais receptivos e replicáveis ou quanto analisando suas interpretações de uma maneira epistemológica mais cuidadosa.[8]

O desenvolvimento da observação participante como uma ferramenta de pesquisa e portanto não um processo aleatório, mas ao invés disso envolveu um grande grau de autocriticismo e revisões. Tem então, como resultado, se especializado. A antropologia visual pode ser vista como um subconjunto dos métodos da observação participante, já que as questões centrais nesse campo têm a ver com como "levar uma câmera para o campo", e lidar com questões como o efeito de ser um observador.[9] Questões de introdução da área evoluíram para um subcampo separado. O famoso ensaio de Clifford Geertz em como se aproximar da multifacetada arena de ações humanas a partir de um ponto de vista, como em Interpretation of Cultures, quando ele usa o exemplo de uma singela piscadela entre humanos, percebidas em um contexto cultural longe daquele familiarizado.[5]

Método e prática

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Tais estudos envolvem uma gama de métodos bem definidos, embora variáveis: entrevistas informais, observação direta, participação na vida do grupo, discussões coletivas, análises de documentos pessoais produzidos dentro do grupo, autoanálise, estudos online ou offline e histórias de vida. Embora o método seja visto como pesquisa qualitativa, pode (e geralmente se segue) incluir pesquisa quantitativa. Tradicionalmente a observação participante é levada sob um certo período de tempo, que pode incluir alguns meses até vários anos, e até gerações. Uma pesquisa por um período prolongado significa que o pesquisador é capaz de obter informações mais detalhadas e precisas sobre os indivíduos, comunidade, e/ou população de estudo. Detalhes observacionais (como o dia a dia) ou detalhes mais obscuros (como comportamentos de tabu) são mais facilmente observáveis e interpretados sob um longo período de tempo. A força de uma interação e observação por longos períodos é o que leva os pesquisadores a descobrirem discrepâncias entre o que os participantes dizem e o que acreditam que deveria acontecer (o sistema formal) e o que realmente acontece, ou as diferenças entre os aspectos do sistema formal; em contraste, uma pesquisa de um só período entre pessoas respondendo um questionário pode levar a questões consistentes, mas é menos provável em mostrar os diferentes conflitos e aspectos do sistema social ou entre representação consciente e comportamento.[8]

Fases do método da observação participante segundo Howell

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Na observação participante, há disciplina de pesquisa baseado no interesse e comprometimentos moldados em quais eventos em que ele ou ela consideram importante para o inquérito da pesquisa.[10] De acordo com Howell (1972), os quatro estágios da maioria das observações participantes e seus estudos são se estabelecer relacionamentos ou ficar conhecido entre as pessoas, mergulhar você mesmo no campo de estudo, recolher os dados e observações, e consolidar a informação coletada.[11]

Essas fases são as seguintes:[11]:392–403

  • Estabelecer relações: ficar conhecido entre os membros, visitar a cena antes do estudo. Howell[11] afirma que é importante criar laços de amizade, ou ao menos ser aceito na comunidade, em ordem de obter dados de qualidade.
  • Em campo (fazer o que os locais fazem). É importante para o pesquisador mostrar uma conexão com a população em ordem de ser aceito como membro da comunidade. É essencial, como mostra DeWalt & DeWalt (2011),[12][11]:392–396 ter comprometimentos de relacionamento para "chamar para a conversa". Também mencionando Howell, DeWalt & DeWalt afirma que o pesquisador deve se encaixar na população de estudo através de aprendizado do idioma e de sua participação.[8] Isso prepara o palco para o pesquisador se misturar no campo de estudo e melhorar a qualidade dos eventos observados que ele ou ela experiência.
  • Recolher observações e dados: Através de notas de campo e entrevistas, pesquisadores são encorajados em recolher seus pensamentos e sentimentos sobre o o objeto de estudo através de anotações de reflexividade. Os pesquisadores são engajados em pensar como suas experiências, etnia, raça, gênero, sexo, orientação sexual e outros fatores que podem influenciar na pesquisa, neste caso o que o pesquisador decidir relatar e observar. Pesquisadores devem estar atentos para o viés e entrar no estudo sem qualquer preconceito e subjetividades no processo de coleta de dados.[13][8][13][14]
  • Analisar os dados
    • Análise temática: organizar os dados de acordo como os temas recorrentes achados em entrevistas e outros tipos de dados qualitativos.
    • Análise narrativa: categorizar as informações juntando elas em entrevistas, achando temas em comum, e construir uma história coerente a partir dos dados.

Tipos de observação participante

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A observação participante não é simplesmente aparecer em um campo de estudos e começar a escrever relatórios. Pelo contrário, a observação participante é um método complexo e tem muitos componentes. Uma das primeiras coisas que um pesquisador ou indivíduo deve fazer ao conduzir a observação participante para ganhar dados é decidir que tipo de participante ele ou ela devem ser. Spradley[15] fornece cinco tipos diferentes de tipos de observação participante na tabela seguinte:

Tipos de observação participante
Tipo Nível de envolvimento Limitações
Não-participativa Sem contato com a população ou campo de estudo Incapaz em relatar ou perguntar questões quando novas informações aparecem.[8][16]
Participação passiva O pesquisador fica apenas no papel de espectador Limita as possibilidades em estabelecer um relatório e aprofundar no campo de estudo.[8][15][16]
Participação moderada O pesquisador mantêm uma balança entre estar "dentro" e "fora" nos papéis de estudo Isso requer uma boa habilidade de se destacar o suficiente para se permanecer objetivo.[8][16]
Participação ativa O pesquisador se torna um membro do grupo ao abraçar completamente as habilidades e costumes do população para atingir uma compreensão completa Este método permite o pesquisador a ficar mais envolvido com a população. Existe um risco de "virar um nativo" enquanto o pesquisador se esforça para uma compreensão profunda da população estudada.[8][15][16]
Participação completa O pesquisador está completamente integrado com a população de estudo (isto é, já é membro da população estudada em específico). Existe um risco de perder todos os níveis de objetividade, e portanto o que analisado e apresentado para o público.[8][15][16]

Referências

  1. Degérando, Joseph-Marie (2013) [1800]. Considérations sur les diverses méthodes à suivre dans l'observation des peuples sauvages. Department of Philosophy, History, Human Sciences (em francês). [S.l.]: National Library of France and Société des observateurs de l'homme 
  2. Malinowski, Bronisław. 1929. The Sexual Life of Savages in North-Western Melanesia. New York: Halcyon House.
  3. Evans-Pritchard, E. E. 1940. The Nuer: A Description of the Modes of Livelihood and Political Institutions of a Nilotic People. Oxford: Clarendon Press.
  4. Mead, Margaret. 1928. Coming of age in Samoa: A Psychological Study of Primitive Youth for Western Civilisation. New York: William Morrow & Co.
  5. a b Geertz, Clifford. 1984. "From the Native’s Point of View: On the Nature of Anthropological Understanding." Pp. 123–36 in Culture Theory: Essays on Mind, Self, and Emotion, edited by R. A. Shweder and R. LeVine. New York: Cambridge University Press.
  6. Rosaldo, Renato. 1986. "From the Door of His Tent: The Fieldworker and the Inquisitor." Writing Culture: The Poetics and Politics of Ethnography, edited by J. Clifford and G. E. Marcus. Berkeley, Calif.: University of California Press.
  7. Glaser, Barney G., and Anselm L. Strauss. 1967. The Discovery of Grounded Theory: Strategies for Qualitative Research. Chicago: Aldine Press.
  8. a b c d e f g h i DeWalt, K. M., B. R. DeWalt, and C. B. Wayland. 1998. "Participant Observation." Pp. 259–99 in Handbook of Methods in Cultural Anthropology, edited by H. R. Bernard. Walnut Creek, Calif.: AltaMira Press.
  9. Collier, John, and Malcolm Collier. 1986. Visual Anthropology: Photography as a Research Method.
  10. Emerson, R. M., Fretz, R. I., & Shaw, L. L. (2001). "Participant Observation and Fieldnotes." In Paul Atkinson, Amanda Coffey, Sara Delamont, John Lofland, & Lyn Lofland (Eds.), Handbook of Ethnography. pp: 356-357. Thousand Oaks, CA: Sage Publications.
  11. a b c d Howell, Joseph T. (1972). Hard Living on Clay Street: Portraits of Blue Collar Families. Prospect Heights, IL: Waveland Press, Inc. ISBN 0881335266 
  12. DeWalt, DeWalt, K.M, B.R. (2011). Participant Observation. Walnut Creek, CA: AltaMira Press. pp. 47–61 
  13. a b Ambert, A.; Adler, P. A.; Adler, P.; Detzner, D. F. (1995). «Understanding and evaluating qualitative research». Journal of Marriage and the Family (57): 879–93 
  14. Richardson, L. 2000. "Writing: A Method of Inquiry." Handbook of Qualitative Research (2nd ed.), edited by N. Denzin & Y. Lincoln. Thousand Oaks: Sage Publications.
  15. a b c d Spradley, James P. (1980). Participant Observation. Orlando, Florida: Harcourt College Publishers. pp. 58–62. ISBN 0-03-044501-9 
  16. a b c d e Schwartz, M. S.; Green, C. Schwartz (1955). «Problems in participant observation». American Journal of Sociology. 60 (4). doi:10.1086/221566