Sargento Getúlio

romance de João Ubaldo Ribeiro de 1971

Sargento Getúlio é um romance de autoria do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, publicado em 1971. Trata-se de uma obra regionalista, que tem como tema o banditismo no sertão e que usa uma linguagem coloquial e repleta de regionalismos, alguns termos sendo criação do próprio autor.

Sargento Getúlio
Sargento Getúlio
Sargento Getúlio
Autor(es) João Ubaldo Ribeiro
Idioma português
País  Brasil
Gênero Romance regionalista
Editora Artenova
Lançamento 1971
Páginas 115
ISBN 85-602-8127-4, 978-856-028-127-5
Cronologia
Setembro não tem sentido
Vencecavalo e o outro povo

Segundo livro de João Ubaldo, que por causa dele recebeu o Prêmio Jabuti de 1972 como autor-revelação, é considerado uma obra prima, já tendo sido traduzida para diversos idiomas e tendo recebido elogios de escritores como Érico Veríssimo e Fernando Sabino. Em entrevista, o autor declarou:

Sargento Getúlio é um romance engajado — persegui esta espécie de autobiografia fantasmagórica, mas com maior distância. É, de certa forma, um retorno à minha infância, ao universo de Sergipe, com sua brutalidade, seu primitivismo ao qual dei uma dimensão mais ampla — ética e política. [1]

A narrativa está centrada num monólogo, quebrado por alguns diálogos, do sargento da polícia militar de Sergipe Getúlio Santos Bezerra. Ele recebera, como última incumbência antes da aposentadoria, a ordem de prender um adversário de um importante chefe político e levá-lo de Paulo Afonso para Aracaju. A data parece ser a década de 1950, devido às alusões a políticos brasileiros da época.[1]

Inicialmente, o monólogo se dirige ao prisioneiro, mas em seguida torna-se monólogo interior e, mais tarde, fluxo de consciência de Getúlio, que expõe não apenas os acontecimentos presentes, mas também seu passado, suas impressões e fantasias de macho. Outras técnicas sofisticadas utilizadas pelo autor são a não-linearidade temporal dos episódios, o emprego de redundâncias, neologismos, regionalismos, frases incompletas e retorcidas que buscam reproduzir a linguagem oral, além de elementos da sátira menipeia e do dialogismo. Assim, apesar do enredo dessa obra ser simples, trata-se de leitura sutil e complexa.[2]

Na epígrafe do livro, João Ubaldo escreve que se trata de "uma história de aretê". A menção à deusa Areté (virtude) justifica-se porque Getúlio faz da execução da tarefa uma questão de honra pessoal, persistindo nela apesar de todas as dificuldades. Antônio Cândido compara o personagem a Antígona, por aferrar-se a um código de honra que perdeu o sentido com a modernização. Ainda segundo Cândido, a obra se insere no que ele chama de "a terceira fase da consciência do atraso da América Latina", que corresponderia ao super-regionalismo, em que são utilizados elementos mágicos, fantásticos, para retratar um espaço primitivo, feudal, em confronto com a civilização urbana brasileira; João Guimarães Rosa seria o primeiro nome dessa corrente.[3]

Enredo editar

Através de suas reminiscências o leitor fica sabendo que ele era de origem pobre, que trabalhara como engraxate e feirante, que havia assassinado a mulher que o traía, que buscara a proteção do político Acrísio Nunes e que, por sua lealdade ao chefe, tinha sido contemplado com as divisas de sargento.

Para levar o preso até o seu destino, Getúlio enfrenta, com violência e crueldade, não apenas a resistência deste, mas também a dos seus correligionários, a da polícia e, ao final, a dos jagunços subordinados ao mesmo chefe político que ele, uma vez que a ordem original é revogada após algum tempo. Uma vez que a revogação não foi ouvida da boca do próprio chefe, mas através de um mensageiro, Getúlio acredita que deve ignorá-la. Assim, encaminha-se para a ruína, arrastado ao mesmo tempo pela incompreensão do funcionamento da política local quanto pelas suas qualidades inegáveis de coragem e dedicação. O romance termina abruptamente, com a morte do personagem-título em confronto com os correligionários de Acrísio Nunes.

Ao realçar as virtudes do grosseiro e violento jagunço, o autor eleva-o moralmente acima dos chefes políticos locais, que passam a ser, assim, o verdadeiro alvo da crítica social presente no livro. Ao mesmo tempo, faz com que o drama vivido por Getúlio se torne universal: aqui, um homem aferra-se a um código de honra semi-feudal, que não é válido no mundo corrupto onde vive, e desgraça-se por isso.[1]

Filme editar

Em 1983, Hermanno Penna dirigiu o filme Sargento Getúlio, baseado no livro de João Ubaldo Ribeiro, que também foi um dos autores do roteiro.

Precedido por
Olga Savary
  Prêmio Jabuti - Autor revelação - Literatura adulta
1972
Sucedido por
Ana Maria Martins

Referências

  1. a b c «Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro». PasseiWeb. Consultado em 31 de dezembro de 2010 
  2. Maria Raimunda Gomes e Simone Almeida Alves Athayde. «A Menipéia e o dialogismo no romance Sargento Getúlio» (PDF). Consultado em 1 de janeiro de 2011. Arquivado do original (PDF) em 24 de fevereiro de 2014 
  3. Antônio Cândido. A literatura e a formação do homem, pág. 86, apud Marcelo Frizon. «Morte e vida severina e o super-regionalismo». Consultado em 31 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 15 de fevereiro de 2012 
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