O ALAC (Arma Leve Anticarro) ou Canhão Sem Recuo Descartável 84 mm[1] é um canhão sem recuo antitanque 84 mm de ombro projetado para uso individual no combate anticarro aproximado, produzido pelo Centro Tecnológico do Exército Brasileiro (CTEx) em parceria com a Gespi Aeronáutica, empresa especializada em manutenção e reparo de turbinas aeronáuticas e industriais. Foi planejado como parte da Estratégia Nacional de Defesa, que pretende, entre outros objetivos, avançar o crescimento tecnológico do Exército Brasileiro.

Arma Leve Anticarro

O ALAC em exposição.
Tipo Arma anticarro
Local de origem  Brasil
História operacional
Em serviço 2014–presente
Histórico de produção
Fabricante Gespi Aeronáutica e IMBEL
Especificações
Peso 7,2 kg
Comprimento 1,00 m
Calibre 84 mm (3,31 in)
Velocidade de saída 210 m/s
Alcance efetivo 300 m
Alcance máximo 500 m
Mira Mira de ferro retrátil

É um análogo do AT-4, uma das armas antitanques mais vendidas no mundo, com modificações no funcionamento.

Desenvolvimento editar

O Alac foi construído a partir do AT-4, sendo produzido por dez anos pela Gespi Aeronáutica, em parceria com o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) no Brasil.[2]

Entre 1992 e 1994, o Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento (IPD) e o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) elaboraram os primeiros Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) e as propostas de Objetivos Operacionais Básicos (OBO) e Requisitos Técnicos Básicos (RTB) para uma arma anticarro, além de realizarem os primeiros desenhos e especificações de matéria prima. Selecionaram também os primeiros prestadores de serviços terceirizados. De 1992 a 2000, o IPD desenvolveu o projeto da munição, com a execução dos desenhos de engenharia de produto, especificação de matéria prima, planejamento e execução de testes laboratoriais e de campo. Foram levantados, em testes de laboratório, os parâmetros técnicos que permitiram estabelecer as especificações necessárias ao projeto do tubo lançador.

No período 1998 e 1999, foram elaboradas versões do Memorial Descritivo e dos Requisitos Técnicos Básicos, além das versões iniciais das Normas de Especificação do "Tiro 84 mm S/Rc AEAC" (Tiro 84 mm Sem Recuo, Alto Explosivo, Anticarro), do tubo lançador, do sistema completo integrado (tubo + munição) e de montagem da munição.

Até meados de 2000, algumas empresas foram contratadas para fabricar certos componentes do tiro completo, como a IMEP-RJ (usinagem de alguns elementos da granada e do estojo), a ENGEPRON - Fábrica Almirante Jurandir (carregamento de Octol na cabeça de guerra), COPESP - Marinha do Brasil (usinagem do cone de carga oca), GP Metalizações (metalização do cone de cobre), IMBEL - Indústria de Material Bélico do Brasil (fornecimento do cristal piezoelétrico e desenvolvimento do propelente - pólvora BD-617 - com especificações do IPD) e GESPI Aeronáutica (importação da espoleta M509A2, fornecimento do fio de aço condutor, usinagem de componentes metálicos da granada e de dispositivos de sujeição mecânico). A empresa Gespi Aeronáutica, de São José dos Campos, SP, projetou e fabricou os primeiros provetes para medidas de pressão, desenvolveu o primeiro sistema informatizado de medição de impulsão do recuo por célula de carga e, também, um novo dispositivo de sujeição para testes de pressão e sobrepressão.

Após o término do desenvolvimento da munição, foi tomada a decisão do IPD de que a fabricação de todos os componentes fosse concentrada num único fornecedor, sendo escolhida, então, a Fábrica de Juiz de Fora da IMBEL. A montagem da munição e todos os testes de campo continuaram continuaram sendo feitos pelo IPD e, posteriormente, no CTEx, quando da extinção daquele Instituto.

O projeto, desenvolvimento e fabricação do tubo lançador do ALAC foram realizados pela Gespi Aeronáutica, que hoje detém toda a tecnologia necessária.[1] A Gespi investiu R$ 15 milhões em recursos próprios no desenvolvimento do projeto no Brasil.[2]

Coube ao CTEx a execução dos estudos teóricos de balística externa para o levantamento de trajetórias necessárias ao ajustamento do aparelho de pontaria. Os estudos de modelagem da granada e levantamento de coeficientes de arrasto também foram feitos por engenheiros militares do CTEx, utilizando o programa PRODAS, existente no Instituto Militar de Engenharia (IME). A Gespi também foi responsável pelo projeto, desenvolvimento e fabricação do Simulador Redutor de Calibre, com seu cartucho gerador de gás, e da embalagem operacional, contando com o indispensável apoio do Centro Tecnológico do Exército nos testes de desenvolvimento.

De 1996 até 2006, o sistema completo foi desenvolvido, testado e maturado. Ao longo de 2007 e até setembro de 2008, o ALAC foi submetida às Avaliações Técnica e Operacional pelo Centro de Avaliações do Exército (CAEx) em seu campo de avaliações na Restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro,[1] realizando mais de 250 tiros para testar o sistema.[2] Sua subsequente aprovação foi homologada pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) em novembro de 2008.[1]

Em 2012, a Rafael Sistemas Avançados de Armamento, segunda maior empresa de defesa de Israel, adquiriu 40% das ações da Gespi, prevendo o desenvolvimento de novas tecnologias na área de sistemas de defesa e mísseis no Brasil. Em 2014, foi fechado um outro acordo com a alemã Dynamite Nobel Defence (DND), controlada pela Rafael. Essa parceria viabiliza a evolução tecnológica do projeto e contempla a cooperação industrial e a transferência de tecnologia para a Gespi e a Imbel.

Com os acordos, foi possível tecnologia para a incorporação de uma munição termobárica que vai garantir alta performance e poder de fogo para o armamento.[2]

Em fevereiro de 2015, foi concluída a Avaliação do Lote-Piloto da ALAC, estando o referido material em conformidade com os requisitos estabelecidos pelo Exército Brasileiro.[3]

Características editar

 
Combatente da caatinga em uso do Alac.

O Alac é de baixo custo e usa o conceito da plataforma do AT-4, um dos mais vendidos no mundo, com modificações. A Gespi Aeronáutica desenvolveu o tubo lançador em fibra de vidro e carbono, mais resistente que o do AT-4.[2] Possui alça e massa de mira retráteis, que podem ser abertas apenas no momento da utilização. O mecanismo de disparo é totalmente mecânico e possui três dispositivos de segurança que impedem o acionamento da arma.[2] O tubo lançador aloja um tiro completo, encartuchado e engastado, composto de estojo de alumínio, carga de projeção, ignitor, granada com carga oca e espoleta de impacto, sendo estabilizada em voo por aletas retráteis.[3]

O alcance efetivo do Alac a um alvo certo com ogiva HEAT é de 300 m, com penetração de 250 a 300 mm em blindagens, capacidade de destruir munições a uma temperatura de até 1000ºC[4] e um tempo máximo de 2 segundos de voo do projétil.[5] Com a munição termobárica, sua performance é adaptada para fins antiestrutura e a perfuração chega a 900 mm.[2] Seus Requisitos Operacionais Conjuntos (ROC) estabelecem que o ALAC deve "possuir munição que, no disparo, não gere emissão de rastro, chama ou fumaça".[6]

Sendo projetada para uso individual, por ombro, a arma é leve e portável,[5] mas pode ser adaptada em carros leves.[2] Sua rusticidade lhe permite ser operado e manutenido sob quaisquer condições climáticas e em qualquer ambiente operacional. É passível de uso em ambientes com elevados níveis de salinidade, de umidade ou de poeiras, bem como a exposição a névoa salina, de acordo com norma MIL-STD-810-E Método 509. Pode resistir aos choques decorrentes do seu manuseio ou do transporte e sofrer quedas em lançamentos aeroterrestres sem perder suas características técnicas. A arma tem uma vida útil mínima de 10 anos, quando armazenada em condições adequadas. Além disso, admite a integração de dispositivos de visão noturna.[6]

Após o tiro, o Alac é descartado.[5] Como uma arma leve, seu tubo é construído para suportar o stress de apenas um tiro, não sendo reutilizável e nem podendo ser recarregado.

Está disponível uma variante para treinamento prático, com uma listra azul e granada com cabeça de parte azul,[7] consistindo em um simulador redutor de calibre que utiliza um cartucho gerador de gases e munição 9 mm.[8]

Operadores editar

Negociações editar

  •   México: Foram solicitadas 1200 unidades.[9]
  •   Iraque: Estão sendo consideradas 2000 unidades.[9]

Até 2014, estavam sendo negociadas exportações para dois países do Oriente Médio, um da África e um da Ásia (não se sabe se seria o Azerbaijão ou algum outro). Alguns países da América Latina, como o Chile, Equador, Peru e Argentina, também demonstraram interesse em adquirir o sistema Alac. A demanda estimada entre 2014 e 2015 foi de entre 3 mil a 4 mil unidades.[2] Em 2016, foi divulgado que estão iniciando discussões preliminares com países como Indonésia e Portugal.[9]

Referências

  1. a b c d Olive, Ronaldo. «Programa ALAC (Resgatado via WayBack Machine)». Tecnodefesa. Consultado em 9 de outubro de 2016 
  2. a b c d e f g h i Silveira, Virgínia (13 de outubro de 2014). «Brasil vai exportar nova arma antitanques». Exército Brasileiro. Consultado em 21 de julho de 2016 
  3. a b «CTEx CONCLUI A P&D DA ARMA LEVE ANTICARRO». Informativo do Centro Tecnológico do Exército (Nº 25). 04 páginas. 2014. Consultado em 9 de outubro de 2016 
  4. Gomide, Raphael (12 de maio de 2011). «Com apenas R$ 20 mi anuais, professores Pardais criam Exército do futuro». iG - Último Segundo. Consultado em 21 de julho de 2016 
  5. a b c «Arma Leve Anticarro (ALAC)». Centro Tecnológico do Exército. Consultado em 21 de julho de 2016. Arquivado do original em 20 de junho de 2016 
  6. a b «Diário Oficial da União». 19 de setembro de 2012. 10 páginas. Consultado em 9 de outubro de 2016 
  7. Padilha, Luiz (23 de março de 2015). «Azerbaijão pretende produzir RPG brasileiro ALAC». Defesa Aérea & Naval. Consultado em 29 de julho de 2016 
  8. «ALAC». Gespi Aeronáutica e Defesa Militar. Consultado em 29 de outubro de 2016 
  9. a b c d Barreira, Victor (11 de outubro de 2016). «Brazil seeking exports sales for ALAC anti-armour weapon» [Brasil busca vendas em exportação de armas anti-blindagem ALAC] (em inglês). IHS Jane's 360. Consultado em 12 de outubro de 2016. Arquivado do original em 11 de outubro de 2016 
  10. Caiafa, Roberto (24 de outubro de 2016). «Gespi fecha contrato para fornecer 150 Armas Leve Anticarro ALAC». Noticias Infodefensa América. Consultado em 29 de outubro de 2016