A Primeira Tentação de Cristo

filme de comédia brasileiro

A Primeira Tentação de Cristo (oficialmente Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo) é um filme de comédia brasileiro do diretor Rodrigo Van Der Put em parceira com o grupo Porta dos Fundos e a empresa americana de streaming Netflix.[1][2] Conta com as atuações de Gregório Duvivier, Fábio Porchat e Antônio Tablet, nos papéis principais.

A Primeira Tentação de Cristo
A Primeira Tentação de Cristo
Pôster promocional
 Brasil
2019 •  cor •  46 min 
Gênero comédia
Direção Rodrigo Van Der Put
Produção Tereza Gonzales
Produção executiva Niara D'Ávila
Roteiro Fábio Porchat
Gustavo Martins
Elenco Gregório Duvivier
Fábio Porchat
Antônio Tabet
Música Heaven Loops
Ilan Becker
Lucas Cassano
Ariel Donato
Diretor de fotografia Rodrigo Graciosa
Direção de arte Diego Zimermann
Figurino Macela Domingos
Edição Aruan Lotar
Companhia(s) produtora(s) Porta dos Fundos
Distribuição Netflix
Lançamento
  • 3 de dezembro de 2019 (2019-12-03) (Netflix)
Idioma português

O filme estreou pela plataforma de vídeos Netflix no dia 3 de dezembro de 2019.[3]

Enredo editar

Ao regressar de uma viagem de 40 dias pelo deserto, Jesus é surpreendido com uma festa de aniversário para celebrar seus 30 anos. A certa altura, Maria e José, os pais do aniversariante, fazem uma revelação: ele foi adotado por José e seu verdadeiro pai é Deus.

Elenco editar

Compõem o elenco do filme:[4][5]

Ator Personagem
Gregório Duvivier Jesus Cristo
Fábio Porchat Orlando / Lúcifer
Antonio Tabet Deus
Evelyn Castro Maria
Rafael Portugal José
Thati Lopes Thelma
Robson Nunes Baltasar
João Vicente de Castro Belchior
Estevam Nabote Gaspar
Karina Ramil Do Carmo
Sura Berditchevsky Lupita
Fabio de Luca Lázaro
Gabriel Totoro Buda
Pedroca Monteiro Shiva
Pedro Benevides Jah

Recepção da crítica editar

Aléxis Perri, do portal UOL, anotou que: "Tudo isso para dizer que o Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo da Netflix é uma produção de acertos e erros. Algumas coisas são engraçadas – e bem pensadas – , já outras nem tanto ou nada. Felizmente, existem mais momentos certeiros ao longo dos 46 minutos de duração deste especial, do que deslizes".[6]

Críticas editar

Em poucos dias de exibição, teve diversas repercussões negativas, levando à publicação de uma nota de repúdio ao filme pela Associação Nacional de Juristas Islâmicos (ANAJI).[7] Um juiz federal anunciou que iria processar a produtora pela distribuição do filme.[8] Um abaixo assinado requerendo a retirada do conteúdo do catálogo da plataforma e uma retratação pública foi realizada no site Change.org foi criada e registrou a marca de 2,3 milhões de assinaturas.[9]

Diversos grupos de religiosos, tanto cristãos quanto islâmicos, pregaram boicote ao filme e à Netflix.[10] O bispo católico alagoano, Dom Henrique Soares da Costa recomendou o cancelamento de contas.[11] No dia 8 de janeiro de 2020, houve a emissão de uma liminar por parte da Justiça do Rio de Janeiro determinando a retirada do filme do ar.[12] A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em nota, afirmou que o vídeo "agride profundamente a fé cristã". Além de evangélicos e católicos, também se manifestaram contra o vídeo representantes de outros movimentos de inspiração cristã, espíritas, humanistas, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o Instituto Brasileiro de Direito e Religião e a Federação Islâmica Brasileira (Fambras).[13] Em setembro de 2020 o Pai de Santo Babalorixá Alexandre Montecrrath conseguiu a primeira vitória no processo que moveu contra a produtora Porta dos Fundos e a Netflix, por causa do especial de Natal. A Justiça determinou a isenção de custas processuais para o centro de umbanda Ilê Asé Ofá de Prata em favor de seu representante - no caso, Alexandre Montecrrath. O processo é de R$ 1 bilhão por causa da produção que, de acordo com a ação, é “infame e satiriza símbolos sagrados do cristianismo”. Ele também exige que o programa seja retirado do ar.

O vice-primeiro-ministro da Polônia, Jaroslaw Gowin, usou as redes sociais para pedir à Netflix que removesse o especial de Natal. Em seu perfil no Twitter, o político polonês de direita citou o CEO e co-fundador da Netflix, Reed Hastings, e anexou uma petição online do país, que somou mais de 1,4 milhões de assinaturas, pedindo a retirada do filme do streaming.[14] O texto do abaixo-assinado diz que "a série de comédia do grupo brasileiro Porta dos Fundos, que retrata Jesus Cristo como homossexual, apóstolos como alcoólatras e a Virgem Maria como mulher promíscua, é um escândalo inimaginável" e que o filme "visa atacar cristãos e o cristianismo com um único objetivo: a blasfêmia".[14]

O longa recebeu críticas de diversos líderes evangélicos. Dentre eles, o pastor Silas Malafaia que comentou que “Eles cometeram crime. A imprensa se cala e o Ministério Público também. A imprensa se cala porque é apoiadora de lixo moral. Tudo que é lixo moral eles apoiam. Fala alguma coisa de gay. “É homofóbico”, e aí vem o MP e a imprensa. Proteja a criança de erotismo. Aí vem o Ministério Público e a imprensa.”[15][16] A deputada federal, Flordelis (PSD), também criticou o filme chamando o filme de "afronta a fé cristã."[17] O também político e pastor, Marco Feliciano (PODE), criticou o longa em sua conta no Twitter, "cristãos e não cristãos me cobram atuação contra os irresponsáveis do Porta dos Fundos. Em anos anteriores já os processei, mas a “Justiça” diz que é liberdade de expressão. Está na hora de uma ação conjunta das igrejas e pessoas de bem para dar um basta nisso. Unidos somos fortes!"[18]

Ataque à sede da produtora Porta dos Fundos editar

Em 24 de dezembro de 2019, na véspera de Natal, a sede da produtora Porta dos Fundos foi alvo de um ataque com coquetéis molotov.[13] O ataque ocorreu em Humaitá, na Zona Sul do Rio de Janeiro, às 4 horas da manhã, dias depois do lançamento do filme.[13] Dois coquetéis molotov foram lançados contra a fachada da sede, o fogo foi contido por um segurança que estava no prédio. O caso foi registrado como crime de explosão.[13] Em uma entrevista para o Globo, Fábio Porchat, um dos sócios da produtora e ator/roteirista do filme, disse que o caso foi de "homofobia nítida" uma vez que o ataque ocorreu após o Porta dos Fundos retratar Jesus Cristo como gay.[13]

Um dia depois do atentado, um vídeo com integrantes mascarados foi divulgado no YouTube por um suposto grupo integralista que se identificou como "Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira", assumindo a autoria do ataque com um manifesto enquanto imagens do ataque eram exibidas.[19][20] O grupo também criticou a Netflix e rotulou A Primeira Tentação de Cristo como blasfêmia.[21]

No entanto, em nota, a Frente Integralista Brasileira (FIB), a principal organização de defesa do integralismo nos dias atuais, divulgou uma nota afirmando que o grupo apresentado no vídeo era desconhecido da organização, repudiando ainda qualquer tentativa de associar a entidade ao atentado: "O grupo em questão é desconhecido pela FIB e não possuímos com ele qualquer relação. Não temos certeza sobre a autenticidade do vídeo, e por isso não descartamos a possibilidade de ter sido um material forjado com o fim de incriminar os integralistas", informou a direção do movimento, que se apresenta como organização sem vínculo com partidos políticos ou empresas e que atua em defesa de "valores morais, patrióticos e religiosos".[22][20]

Um vídeo gravado por uma câmera de segurança identificou a placa da caminhonete onde estava parte dos criminosos encapuzados que atacaram a sede da Porta dos Fundos. Apareceram três suspeitos, e um deles estava com o rosto descoberto, o que facilitou a identificação.[13] Em coletiva de imprensa, um delegado disse que a Polícia Civil disse que monitorou os veículos usados no ataque. Ele afirmou que, na fuga, "um homem identificado como Eduardo Fauzi Richard Cerquise saiu do carro e pegou um táxi".[23] Segundo a polícia, Fauzi era o único membro do grupo que não usava capuz no momento do ataque, o que permitiu sua identificação. Foi expedido um mandado de prisão temporária de 30 dias contra ele.[24] Fauzi se refugiu em Moscou, no fim de dezembro, dias após o ataque, na véspera de Natal.[25][26] Em 8 de janeiro, a Polícia Federal pediu à Interpol para prender Eduardo Fauzi, com um alerta internacional (difusão vermelha) incluindo Fauzi entre as pessoas procuradas pela justiça criminal de seus países que fugiram para outras nações.[27]

O ataque gerou bastante repercussão e controvérsias nas redes sociais, com pessoas, de um lado, condenando esse evento, alegando extremismo religioso e desrespeito à liberdade de expressão e, do outro, lembrando do histórico de polêmicas e processos do grupo Porta dos Fundos em relação a crenças religiosas, especialmente cristãs, flertando com a intolerância religiosa e o discurso de ódio.[28]

O bispo-auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antonio Augusto Dias Duarte, condenou o ataque. Para ele, "Jesus Cristo não veio promover os ataques e a violência entre pessoas, mas sim a paz e a harmonia".[13]

Problemas jurídicos editar

O desembargador Benedicto Abicair, da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu aceitar um pedido feito pelo grupo católico Centro Dom Bosco de Fé e Cultura que pedia a proibição do filme pela Netflix.[29]

A Netflix recorreu no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão.[30] Por liminar, o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, deicidiu por liminar derrubar a decisão de Abicair e escreveu em nota, "Não se descuida da relevância do respeito à fé cristã (assim como de todas as demais crenças religiosas ou a ausência dela). Não é de se supor, contudo, que uma sátira humorística tenha o condão de abalar valores da fé cristã, cuja existência retrocede há mais de 2 (dois) mil anos, estando insculpida na crença da maioria dos cidadãos brasileiros".[31] O ministro também ressaltou que, em decisões anteriores, considerou a liberdade de expressão como "condição inerente à racionalidade humana, como direito fundamental do indivíduo e corolário do regime democrático".[32]

A Netflix afirmou que "a decisão proferida pelo TJ-RJ tem efeito equivalente ao da bomba utilizada no atentado terrorista à sede do Porta dos Fundos: silencia por meio do medo e da intimidação". A empresa classificou a suspensão como censura.[33] "A verdade é que a censura, quando aplicada, gera prejuízos e danos irreparáveis. Ela inibe. Embaraça. Silencia e esfria a produção artística", acrescentou.[33]

No Twitter, a conta oficial da Netflix Brasil afirmou que "apoia fortemente a expressão artística e irá lutar para defender esse importante princípio, que é o coração de grandes histórias".[34]

Referências

  1. «"A Primeira Tentação de Cristo". Já chegou o especial de Natal da Porta dos Fundos». Wort.lu. 3 de dezembro de 2019. Consultado em 11 de dezembro de 2019 
  2. «Stream It Or Skip It: 'The First Temptation of Christ' on Netflix, Porta dos Fundos' Gleefully Blasphemous New Christmas Special». Decider (em inglês). 9 de dezembro de 2019. Consultado em 11 de dezembro de 2019 
  3. «Estreia do especial de Natal do "Porta dos Fundos" e mais dicas para curtir nesta terça». GaúchaZH. 3 de dezembro de 2019. Consultado em 11 de dezembro de 2019 
  4. AdoroCinema, Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo, consultado em 11 de dezembro de 2019 
  5. The First Temptation of Christ, consultado em 11 de dezembro de 2019 
  6. Perri, Aléxis. «Crítica | Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo». Observatório do Cinema. Consultado em 19 de dezembro de 2019 
  7. «Nota de Repúdio ao Canal Porta dos Fundos e Netflix.». Associação Nacional dos Juristas Islâmicos. 9 de dezembro de 2019. Consultado em 8 de janeiro de 2020 
  8. «Juiz federal quer processar Netflix por filme do Porta dos Fundos». Metrópoles. 16 de dezembro de 2019. Consultado em 12 de janeiro de 2020 
  9. «Petição contra Porta dos Fundos passa 2 milhões de assinaturas». Metrópoles. 18 de dezembro de 2019. Consultado em 24 de dezembro de 2019 
  10. «Porta dos Fundos: especial de Natal da Netflix revolta grupos religiosos». VEJA.com. Consultado em 11 de dezembro de 2019 
  11. «Por especial de Natal do Porta dos Fundos, bispo pede que fiéis cancelem Netflix». Extra Online. Consultado em 11 de dezembro de 2019 
  12. «Justiça do RJ determina que Especial de Natal do Porta dos Fundos seja retirado do ar». G1. Consultado em 8 de janeiro de 2020 
  13. a b c d e f g «Entenda o ataque à sede da produtora Porta dos Fundos na véspera do Natal». O Globo. 27 de dezembro de 2019. Consultado em 10 de janeiro de 2020 
  14. a b «Governo polonês pede que Netflix exclua filme do Porta dos Fundos». VEJA. Consultado em 10 de janeiro de 2020 
  15. Dias, Surenã (30 de dezembro de 2019). «Silas Malafaia se revolta com Jesus Gay e afirma que Porta dos Fundos cometeu crime». Observatório G. Consultado em 12 de dezembro de 2020 
  16. «Malafaia desafia Porta dos Fundos a 'fazer vídeo com Maomé gay'». Época. 30 de dezembro de 2019. Consultado em 12 de dezembro de 2020 
  17. «Rolling Stone · Fábio Porchat provoca Flordelis por críticas ao Porta dos Fundos». Rolling Stone. 26 de agosto de 2020. Consultado em 12 de dezembro de 2020 
  18. «Porta dos Fundos: especial de Natal da Netflix revolta grupos religiosos». VEJA. 10 de dezembro de 2019. Consultado em 12 de dezembro de 2020 
  19. «Ataque ao Porta dos Fundos: 7 pontos para entender a polêmica». Gazeta do Povo. Consultado em 10 de janeiro de 2020 
  20. a b «Frente Integralista Brasileira nega relação com grupo que assumiu atentado à sede do Porta dos Fundos». O Globo. 26 de dezembro de 2019. Consultado em 10 de janeiro de 2020 
  21. «Police probe attack on 'gay Jesus' film office» (em inglês). 26 de dezembro de 2019. Consultado em 12 de janeiro de 2020 
  22. «Frente Integralista expulsa suspeito de ataque ao Porta dos Fundos no RJ». noticias.uol.com.br. Consultado em 10 de janeiro de 2020 
  23. Fellet, João (31 de dezembro de 2019). «O que se sabe sobre o suspeito de atacar a sede do Porta dos Fundos» (em inglês). Consultado em 13 de janeiro de 2020 
  24. «Polícia faz operação para prender suspeito de ataque ao Porta dos Fundos». Gazeta do Povo. Consultado em 13 de janeiro de 2020 
  25. «Suspeito de ataque ao Porta dos Fundos foi para a Rússia antes de mandado de prisão – Jovem Pan». Suspeito de ataque ao Porta dos Fundos foi para a Rússia antes de mandado de prisão – Jovem Pan. 2 de janeiro de 2020. Consultado em 15 de fevereiro de 2020 
  26. «Suspeito de atacar Porta dos Fundos diz à Justiça que chega dia 30 de Moscou». br.noticias.yahoo.com. Consultado em 13 de janeiro de 2020 
  27. «PF pede ajuda da Interpol para deter suspeito de atacar Porta dos Fundos». EXAME. Consultado em 13 de janeiro de 2020 
  28. «O ataque à sede do Porta dos Fundos – Jovem Pan». Jovem Pan. 26 de dezembro de 2019. Consultado em 8 de janeiro de 2020 
  29. «Justiça do RJ determina que Especial de Natal do Porta dos Fundos seja retirado do ar». G1. Consultado em 9 de janeiro de 2020 
  30. «Netflix recorre ao STF para suspender decisão que barrou especial de Natal do Porta dos Fundos». Época Negócios. Consultado em 9 de janeiro de 2020 
  31. «Toffoli concede liminar e autoriza Netflix a exibir Especial de Natal do Porta dos Fundos». G1. Consultado em 9 de janeiro de 2020 
  32. «Notícias STF :: STF - Supremo Tribunal Federal». www.stf.jus.br. Consultado em 12 de janeiro de 2020 
  33. a b «Netflix pede ao STF para anular decisão que proibiu Especial de Natal do Porta dos Fundos». G1. Consultado em 10 de janeiro de 2020 
  34. «Sobre o especial do Porta dos Fundos [...]». Netflix Brasil. 9 de janeiro de 2020. Consultado em 10 de janeiro de 2020 

Ligações externas editar