Alexandre Augusto Martins Rodrigues

professor universitário e pesquisador ativo no Brasil

Alexandre Augusto Martins Rodrigues (São Paulo, SP, 7 de dezembro de 1930[1][2][3]20 de abril de 2018[3]) foi um matemático e professor universitário brasileiro.

Alexandre Augusto Martins Rodrigues
Alexandre Augusto Martins Rodrigues
Alexandre Augusto Martins Rodrigues circa 1960
Nascimento 7 de dezembro de 1930
São Paulo, SP, Brasil
Morte 20 de abril de 2018 (87 anos)
São Paulo, SP, Brasil
Nacionalidade  Brasileiro
Alma mater Universidade de São Paulo, Universidade de Chicago
Prêmios Bolsa Guggenheim
Orientador(es)(as) André Weil, Shiing-Shen Chern
Instituições Universidade de São Paulo
Campo(s) matemática
Tese 1957: Characteristic classes of homogeneous spaces

Biografia editar

Filho do engenheiro Alexandre Martins Rodrigues e de Anna Candida Cunha.[1] Neto de Lúcio Martins Rodrigues,[4] e primo do sociólogo Leôncio Martins Rodrigues.

Estudou na Escola Normal Caetano de Campos[1][3][5] e no Colégio Presidente Roosevelt.[1][3] Em 1949, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo, hoje Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, onde foi aluno, entre outros, de Omar Catunda, sendo o único aluno a bacharelar-se em Matemática no ano de 1952[1][2][3][4][6][7][8] (na mesma turma da FFCL, Fernando Henrique Cardoso bacharelou-se em Ciências Sociais).[9]

Cursou o doutorado na Universidade de Chicago a partir de 1953,[1][2][3][4][6][7][10] como o primeiro bolsista de matemática no exterior do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.[1][2][3][4][10][11] Orientado inicialmente por André Weil[1][2][3][4] e depois por Shiing-Shen Chern,[1][2][3][6][10][11][12][13][14][15] defendeu em 1957 a tese Characteristic classes of homogeneous spaces,[1][2][6][7][10][14][16] publicada no Boletim da Sociedade de Matemática de São Paulo em 1958.[14] De Chern, guardou um conselho: "Se você quiser fazer coisas grandes, comece sempre com as pequenininhas. Depois, parta para um pouquinho maior. Depois, um pouco maior. Nunca comece com as grandes".[11] Foi contemporâneo em Chicago de César Lattes, então pesquisador visitante, que se tornou padrinho de seu primogênito.

A principal instituição a que esteve vinculado foi a Universidade de São Paulo, onde iniciou a carreira docente em 1952, como auxiliar de ensino na FFCL.[1] Voltou à FFCL entre 1957 e 1959, tendo sido contratado por Mário Schenberg, do Departamento de Física.[4][6] Em 1959, assumiu a cátedra de Geometria Analítica e Projetiva da Escola Politécnica,[1][7][17] onde obteve a livre-docência, em 1964, com a dissertação Congruência de subvariedades de um espaço euclidiano.[1][6][10][14][18][19] Nessa escola, introduziu o ensino de geometria analítica a partir da álgebra linear.[2][4][20][21] Participou também da criação do Instituto de Pesquisas Matemáticas, fruto de uma colaboração entre setores da FFCL e da Politécnica, que funcionou como embrião do Instituto de Matemática e Estatística (IME), e nele foi chefe de pesquisa entre 1964 e 1967.[6][17] Em 1967, foi aprovado como professor titular em concurso público para a cátedra Crítica dos Princípios e Complementos de Matemática, da FFCL, com a dissertação Pseudogrupos de Lie infinitos.[1][2][7] Em 1970, quando foi criado o IME, passou a lecionar nesse instituto, onde se aposentou em 2000.[1][3][4][6] Foi chefe do Departamento de Matemática do IME (1978-1980), vice-diretor da Faculdade de Educação (1986-1987)[2][4][6] e membro do Conselho Universitário (2015-2016).[4][22]

No Brasil, lecionou também na Universidade de Brasília (1963-1964 e 1972-1974),[6][23] tendo trocado correspondência com Darcy Ribeiro acerca da implantação do ensino de matemática nessa universidade,[24][25], na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1987),[18] na Universidade Federal da Bahia (2008)[26] e na Universidade Federal do Pará (2012).[27] Foi ainda professor e pesquisador visitante em diversas instituições de ensino superior no exterior: Instituto de Estudos Avançados de Princeton (1960-1961) e Universidade de Princeton (1961-1962), como bolsista da Fundação Guggenheim,[1][2][3][4][6][28][29][30] Universidade Columbia (1962-1963),[1][2][3][4][6] Universidade Harvard (1966-1967),[2][3][4][6][17] Universidade Yale,[2][3][4] Institut des Hautes Études Scientifiques,[2][17] Universidade Joseph Fourier, atual Universidade Grenoble-Alpes (1967-1970 e 1981-1982),[1][2][3][4][6][17] e Universidade Central da Venezuela.[2]

Trabalhou com Donald Spencer,[3][4] Masatake Kuranishi,[1][2][3][4] Jean-Louis Koszul,[2][3][4] Charles Ehresmann[2][3][10] e Newton da Costa.[2][6]

Influenciado pelo grupo Bourbaki,[2][8][19][20][31] atuou principalmente na área de geometria diferencial.[3][6][7] Ao lado de Manfredo do Carmo, também orientando de Chern, mas da escola matemática norte-americana, foi "quem mais contribuiu [...] para o desenvolvimento e consolidação da pesquisa em geometria diferencial no Brasil", segundo afirma Clóvis Pereira da Silva em livro sobre a pesquisa brasileira em matemática.[10] Suas contribuições científicas mais importantes estão relacionadas aos sistemas diferenciais exteriores e aos pseudogrupos de Lie.[2][3] No final de sua carreira de pesquisador, desenvolveu interesse pelos fundamentos da matemática e pela teoria dos modelos.[2]

Publicou artigos em periódicos internacionais como Annals of Mathematics, American Journal of Mathematics, Nagoya Mathematical Journal, Annales de l'Institut Fourier, Comptes Rendus de l'Académie des Sciences de Paris, Studia Logica e Reports on Mathematical Logic.[2]

Orientou mestres e doutores na Universidade de São Paulo, na Universidade Joseph Fourier e na Universidade Central da Venezuela.[2][6][32] Entre seus alunos se incluem Waldir Muniz Oliva, reitor da USP entre 1978 e 1982, Antonio Vitezlav Walter Kumpera, professor titular da Universidade Estadual de Campinas, e José Miguel Martins Veloso, professor titular da Universidade Federal do Pará.[4][6][12]

Participou da organização dos dois primeiros Colóquios de Matemática no Brasil, realizados em Poços de Caldas em 1957 e 1959,[1][3][7][33] colaborou com o Movimento da Matemática Moderna, responsável pela renovação do ensino de matemática no Brasil, ministrando cursos para professores de ensino primário e secundário,[34] integrou o Conselho Deliberativo da Sociedade de Matemática de São Paulo,[35] fechada em 1968 para a criação da Sociedade Brasileira de Matemática, foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências em 1964[2][3][4][36] e exerceu o cargo de diretor da Revista de Ensino de Ciências, editada pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino e Ciência (FUNBEC), de 1984 até sua extinção.[1]

Por ocasião de seus 80 anos, em 2010, foi organizado um seminário em sua homenagem no IME.[2]

Casou-se em 1955 com Maria Lizema Gomes,[4] com quem teve quatro filhos: Lucio, Luiz Augusto, Ana Candida (professora titular de engenharia de materiais da Universidade Federal de São Carlos) e Alexandre.[37]

Livros editar

  • Teoria das superfícies de Riemann, Rio de Janeiro, 1963, 270 p.
  • Álgebra linear e geometria euclidiana, São Paulo, 1968, 80 p.[38]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u Calábria, Angelica Raiz (2010). Primeiro Colóquio Brasileiro de Matemática: identificação de um registro e pequenas biografias de seus participantes (PDF) (Dissertação de Mestrado). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista. Consultado em 10 de março de 2021 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo - Seminário em homenagem aos 80 anos do Professor Alexandre Augusto Martins Rodrigues
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w Sociedade Brasileira de Matemática - Nota de falecimento - Alexandre Augusto Martins Rodrigues (1930-2018)
  4. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u Alumni USP - Alumni em destaque: Professor Alexandre Rodrigues
  5. Caetanistas 78 - Alexandre A. Martins Rodrigues - Entrevista concedida a Patrícia Golombek em outubro de 2011
  6. a b c d e f g h i j k l m n o p q r Currículo Lattes de Alexandre Augusto Martins Rodrigues
  7. a b c d e f g Marafon, Adriana Cesar de Mattos (2001). Vocação matemática como reconhecimento acadêmico (PDF) (Tese de Doutorado). Campinas: Universidade Estadual de Campinas. Consultado em 10 de março de 2021 
  8. a b Santos, Eduardo Gonçalves dos (novembro de 2018). «A disciplina álgebra linear no Brasil antes de 1960: entre textos e memórias». Anais do IV Encontro Nacional de Pesquisa em História da Educação Matemática (Enaphem). Consultado em 20 de março de 2021 
  9. Formandos em 1952 da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), Universidade de São Paulo
  10. a b c d e f g SILVA, Clóvis Pereira da (2009). Aspectos históricos do desenvolvimento da pesquisa matemática no Brasil. São Paulo: Livraria da Física/SBHMat. p. 49. ISBN 978-85-7861-015-9 
  11. a b c «Sentenças indecidíveis: então, ou é completo ou consistente». Empiricus Independent Research (58): 12-18. 29 de janeiro de 2010. Consultado em 28 de março de 2021 
  12. a b Alexandre Rodrigues no Mathematics Genealogy Project
  13. Shiing-Shen Chern's Students
  14. a b c d Carmo, Manfredo Perdigão do (junho de 1999). «Pesquisa em geometria diferencial no Brasil» (PDF). Matemática Universitária (26/27): 1-27. Consultado em 28 de março de 2021 
  15. Wolf, Joseph A. (2018). «Some recollections of a visit to São Paulo in 1966». São Paulo Journal of Mathematical Sciences (em inglês). 12: 172–173. ISSN 2316-9028. doi:10.1007/s40863-018-0102-3. Consultado em 10 de março de 2021 
  16. Rodrigues, A. A. Characteristic classes of homogeneous spaces John Crerar Library. University of Chicago
  17. a b c d e Bádue, Gabriel Soares (2018). A institucionalização da matemática aplicada na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1940-1970) (PDF) (Tese de Doutorado). Salvador: Universidade Federal da Bahia/Universidade Estadual de Feira de Santana. Consultado em 22 de março de 2021 
  18. a b Ziccardi, Lydia Rossana Nocchi (2009). O curso de Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: uma história de sua construção/desenvolvimento/legitimação (PDF) (Tese de Doutorado). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Consultado em 25 de março de 2021 
  19. a b Pires, Rute da Cunha (2006). A presença de Nicolas Bourbaki na Universidade de São Paulo (PDF) (Tese de Doutorado). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Consultado em 23 de março de 2021 
  20. a b Lima, Gabriel Loureiro de; Gomes, Eloiza (dezembro de 2018). «A inserção da álgebra linear no currículo da primeira universidade brasileira» (PDF). Bolema. 32 (62): 927-945. ISSN 1980-4415. doi:10.1590/1980-4415v32n62a09. Consultado em 10 de março de 2021 
  21. Dias, Andre Luis Mattedi (2002). Engenheiros, mulheres, matemáticos: interesses e disputas na profissionalização da matemática na Bahia (1896-1968) (PDF) (Tese de Doutorado). São Paulo: Universidade de São Paulo. Consultado em 10 de março de 2021 
  22. Eleito representante dos antigos alunos da USP no Conselho Universitário
  23. Souza, Mônica Menezes de (2015). Uma história do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília – UnB: 1962-1972 (PDF) (Tese de Doutorado). São Paulo: Universidade Anhanguera de São Paulo. Consultado em 22 de março de 2021 
  24. Carta de Darcy Ribeiro para Alexandre Augusto Martins Rodrigues (1962)
  25. Bomeny, Helena (2016). «Universidade de Brasília: filha da utopia de reparação» (PDF). Sociedade e Estado. 31 (especial): 1003-1028. ISSN 1980-5462. doi:10.1590/s0102-69922016.0spe0009. Consultado em 10 de março de 2021 
  26. Diário Oficial da União, 13/8/2008 Contratação de Alexandre Augusto Martins Rodrigues pela Universidade Federal da Bahia como professor visitante.
  27. Universidade Federal do Pará - Programa de Pós-Graduação em Matemática - Docentes visitantes
  28. John Simon Guggenheim Memorial Foundation - Alexandre Augusto Martins Rodrigues
  29. List of Guggenheim Fellowships awarded in 1960
  30. Trivizoli, Lucieli M. (2015). «Intercâmbios acadêmicos matemáticos entre EUA e Brasil por meio de bolsas de estudos». Revista Brasileira de História da Matemática. 15 (30): 49-60. ISSN 1519-955X. doi:10.47976/RBHM2015v15n3049-60. Consultado em 10 de março de 2021 
  31. Cavalari, Mariana Feiteiro (agosto de 2012). «Um histórico do curso de matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP)». Revista Brasileira de História da Matemática. 12 (25): 15-30. ISSN 1519-955X. doi:10.47976/RBHM2012v12n2515-30. Consultado em 10 de março de 2021 
  32. Silva, Clóvis Pereira da; Azevedo, Alberto Carvalho Peixoto. Mestrados e doutorados em Matemática obtidos no Brasil a partir de 1942
  33. Garnica, Antonio Vicente Marafioti; Toledo, José do Carmo (julho de 2008). «Resgatando oralidades para a história da matemática e da educação matemática brasileiras: o primeiro Colóquio Brasileiro de Matemática». Perspectivas da Educação Matemática. 1 (2): 39-78. Consultado em 19 de março de 2021 
  34. Duarte, Aparecida Rodrigues Silva (2007). Matemática e educação matemática: a dinâmica de suas relações ao tempo do Movimento da Matemática Moderna no Brasil (PDF) (Tese de Doutorado). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Consultado em 22 de março de 2021 
  35. Trivizoli, Lucieli M. (2008). Sociedade de Matemática de São Paulo: um estudo histórico-institucional (PDF) (Dissertação de Mestrado). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista. Consultado em 19 de março de 2021 
  36. Academia Brasileira de Ciências - Alexandre Augusto Martins Rodrigues
  37. Family Search - Alexandre Augusto Martins Rodrigues (site de acesso gratuito, mas que requer cadastro)
  38. Alexandre Augusto Martins Rodrigues - Álgebra linear e geometria euclidiana (capa)