Berta de Ataíde

poetisa portuguesa

Maria Helena Jervis de Atouguia e Almeida (Funchal, 16 de Setembro de 1847 - Lisboa, Maio de 1928), com o nome artístico de Berta de Ataíde, foi uma poetisa e benemérita portuguesa, natural da Ilha da Madeira.

Berta de Ataíde
Nascimento 16 de setembro de 1847
Funchal
Morte maio de 1928
Lisboa
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Ocupação poetisa, escritora

Biografia editar

Nasceu no Funchal, a 16 de setembro de 1847. Ficou órfã de pai aos nove anos. A mãe decide mudar-se para o Brasil, tendo a futura poetisa voltado à Madeira só trinta anos depois. No seu regresso à Ilha, intitulou a sua primeira composição saudosista "Num Dia Chuvoso".

Pertenceu a uma antiga e distinta família madeirense. Filha de Jacinto Alísio Jervis de Atouguia e de Maria Miquelina Trindade Jervis de Atouguia, teve uma educação primorosa e casou com Cristóvão Guilherme de Almeida, filho de Rodrigo Guilherme de Almeida e de D. Francisca Emília Pereira. Faleceu em Lisboa, em maio de 1928.

Dedicou-se, além da literatura, à caridade, à educação e ao tratamento das vítimas de tuberculose. Com forte vontade benemérita, impulsionou a criação de uma associação de socorros mútuos não governamental para o sexo feminino, a Associação de Proteção e Instrução do Sexo Feminino Funchalense, que teve, logo na sua origem, em 1876, efeitos positivos na educação escolar das crianças. Através dela instaurou o ensino profissional das protegidas e dos seus filhos, garantindo que as mães de crianças menores (de seis a nove anos) mandavam as filhas frequentar o ensino primário. As meninas que tivessem de nove a doze anos deviam fazer estudos na escola profissional da associação.

Carreira editar

 
Capa Mosaicos, 1907

Em 1907, sob o pseudónimo Berta de Ataíde, publicou Mosaicos, um volume de 114 páginas que dedicou a D. Guilhermina de Araújo. Trata-se de uma coleção de poemas, cuja 2.ª edição foi prefaciada pelo escritor P.e Sena Freitas, em Lisboa, a 15 de março de 1907. As ilustrações da obra são da autoria da condessa de Alto Ameirim, Emília Labourdonay Gonçalves Roque, com quem Maria Helena Jervis de Atouguia e Almeida partilhava uma relação de amizade e de interesses sociais profundos, tendo em comum ações sociais e comunitárias. Empenhada em causas justas e sociais, Maria Helena desempenhou funções de secretária da direção central da comissão administrativa do Asilo de Mendicidade e Órfãos do Funchal (1847) e de vogal da Associação de Proteção e Instrução do Sexo Feminino Funchalense (1876).

No prefácio de Mosaicos, o P.e Sena Freitas, seu enorme admirador e amigo, afirmou: “Eu sei quais os preciosos quilates do seu espírito distintíssimo, eu que sei o que entra de ouro do melhor contraste na textura desse seu coração, onde Deus plantou com duas fundas raízes dois sentimentos irredutíveis, um de ódio e outro de amor, de ódio a tudo o que é baixo, torpe, eivado de malevolência, tarado de egoísmo e pelo contrario, de amor a tudo o que é elevado, nobre, ideal e humanitário, traduzindo-se pela compaixão, mas pela compaixão levada até à meiguice ansiedade dos corações das mães, eu sei perfeitamente qual o génesis e a razão de ser deste seu produto literário.”.[1] Nas mesmas páginas, o P.e Sena louva ainda o talento literário da escritora, cujas “estrofes delicadas” foram “segredadas pela musa”.

Em 1917, algumas das suas composições foram publicadas em Poetisas Portuguesas. O autor Nuno Cardoso tece igualmente rasgados elogios à autora: “As impressões que recebeu esta distinta Senhora, ao tornar a ver a aldeia onde passara parte dos primeiros anos de sua mocidade, exprime-as numa linguagem simples e comovente na sua poesia intitulada Num dia chuvoso. Apesar de D. Maria Helena Jervis de Athouguia haver enviuvado e contratempos de vária natureza a terem afastado do convívio das Musas e dos estudos, que sempre foram o seu enlevo e a que com tanta meticulosidade e consciência se aplica, em 1909, apareceu a 2.ª edição do seu livro de versos, Mosaicos, prefaciado por Sena Freitas. O produto da venda desta obra que saiu sob o pseudónimo de Bertha de Athaide, destinava-se a socorrer tuberculosos pobres”.[2] No mesmo comentário, anuncia que a 3.ª edição de Mosaicos, com poesias inéditas, sairia em breve. Berta de Ataíde revela uma escrita madura e sentida, que contribuiu para a literatura insular no feminino, como atestam poemas como “A Lágrima” (“Lá no mundo dos mundos / Cada estrela que nasce / Caminha e resplandece, / Deixa candente o sulco / No pranto magoado / Dum astro que esmorece.”), ou “O Remeiro” (Nasci, criei-me nas ondas, / Por pátria só tenho mar, / Só conheço as harmonias / Das ondinas a cantar. / […] Eis a visão do meu sonho, / A terra e jardins que vi, / Mas não troco a minha pátria / Leito azul onde nasci.”

Obras editar

  • Mosaicos, Lisboa, Bella Africana, 1907.
  • "Sublime perdão, junto à fonte de Juvêncio" in Almanach das Senhoras, 1913.
  • "O meu pinheiro", in Almanach das Senhoras, 1914.

Referências

  1. Ataíde, Berta (1907). Mosaicos. Lisboa: Bella Africana. pp. 10–11 
  2. Cardoso, Nuno (1917). Poetisas Portuguesa. Lisboa: N. C. Cardoso. pp. 37–38 

Bibliografia editar

  • ASSOCIAÇÃO MADEIRENSE PROMOTORA DO BEM PÚBLICO E DE AUXÍLIO MÚTUO, “Actas das Sessões da Comissão Provisória da Associação Madeirense Promotora do Bem Público e de Auxilio Mutuo”, O Districto do Funchal, ago. 1877;
  • BARATA, Carlos Eduardo de Almeida, Catálogo Biográfico, Genealógico e Heráldico do Rio de Janeiro, Relação das Cartas de Brasões passadas aos indivíduos naturais do Rio de Janeiro, ou, cuja família tem raízes no Rio de Janeiro
  • CARDOSO, Nuno Catarino (comp. e pref.), Poetisas Portuguesas, Lisboa, N. C. Cardoso, 1917;
  • COSTA, António da, Associação de Protecção e Instrucção do Sexo Feminino Funchalense, Lisboa, Imprensa Nacional, 1878; MARINO, Luís, Musa Insular: Poetas da Madeira, Funchal, Eco do Funchal, 1959;
  • MACEDO, Laureano de, Da Voz À Pluma: Escritoras e Património Documental de Autoria Feminina de Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde: Guia Biobibliográfico, Ribeira Brava, ed. do Autor, acessível via URL http://hdl.handle.net/10316/44055;
  • SILVA, Fernando Augusto da y MENEZES, Carlos Azevedo, Elucidário Madeirense, vol. 3, ed. facsímile, Funchal, DRAC, 1998;
  • PORTO DA CRUZ, Visconde do, Notas e Comentários para a História Literária da Madeira, Funchal, CMF, 1953;

Ligações externas editar