Carlos Roma Machado de Faria e Maia

engenheiro militar e escritor português

Carlos Bento Roma Machado de Faria e Maia (Lisboa, 6 de junho de 1861Estoril, 21 de agosto de 1953), também conhecido por Roma Machado, foi um oficial de Engenharia do Exército Português, onde passou à reserva no posto de coronel, que exerceu, entre 1897 e 1929, diversas funções técnicas na área da topografia e da cartografia em Angola e Moçambique, com destaque para os trabalhos preparatórios de instalação do Caminho de Ferro de Benguela, os trabalhos de delimitação da fronteira sul de Angola ao longo do rio Cunene, que incluiu a participação num convénio internacional na Cidade do Cabo, tendo feito viagens por via fluvial e terrestre para avaliar a navegabilidade e curso dos rios e as possibilidades de construir estradas.[1] É autor de várias obras de temática africana.[2] Foi secretário-geral da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Carlos Roma Machado de Faria e Maia
Carlos Roma Machado de Faria e Maia
Nascimento 6 de junho de 1861
Lisboa
Morte 21 de agosto de 1953 (92 anos)
Estoril
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação engenheiro, oficial, escritor

Biografia editar

Oriundo de uma importante família aristocrática da ilha de São Miguel, Açores, nasceu em Lisboa, filho do micaelense José Inácio Machado de Faria e Maia (1830-1882), meio-irmão do 1.º visconde de Faria e Maia, e de Paulina Roma. O pai era licenciado em Direito e magistrado.

Após ter realizado estudos primários e secundários em Lisboa, assentou praça como voluntário no Regimento de Artilharia n.º 1, a 27 de outubro de 1889. Concluiu o curso preparatório na Escola Politécnica de Lisboa, inscrevendo-se de seguida no curso de Engenharia Militar sa Escola do Exército, que concluiu em 1885. Iniciou então uma carreira como oficial da arma de Engenharia do Exército, sendo promovido a alferes em 1886, a tenente em 1888, a capitão em 1889, ingressando nesse ano no estado-maior da arma de Engenharia, a major em 1910, a tenente-coronel em 1913 e a coronel em 1915.[2]

A sua carreira militar desenvolveu-se maioritariamente nas colónias portuguesas de África, com uma longos permanências na África Oriental Portuguesa e em Angola. Permaneceu naqueles territórios em sucessivas comissões de serviço que se prolongaram desde a década de 1890 até 1917.[2] Para além das funções estritamente militares, integrando o Conselho de Guerra durante as campanhas de pacificação e as operação de fronteira durante a Primeira Guerra Mundial, também chefiou a comissão de delimitação de fronteiras com o Sudoeste Africano Alemão ao longo do rio Cunene, no sul de Angola. Também no ultramar exerceu os cargos de director de obras públicas e director da emprese do Caminho de Ferro de Benguela. Trabalhou na Companhia de Moçambique.

Visitou a ilha de S. Miguel, com sua mãe, em 1878, e em 1890, já no posto de capitão, integrou a brigada de reconhecimento militar das Ilhas Adjacentes, tendo percorrido sistematicamente a maior parte dos arquipélagos dos Açores e Madeia. Dessa viagem resultaram diversas publicações sobre geomorfologia e geodinâmica destes arquipélagos.[3]

É autor de uma vasta bibliografia maioritariamente sobre questões coloniais, com destaque para Angola e Moçambique, incluindo trabalhos de índole geográfica e cartográfica. Contudo, alguns das suas publicações mais importantes são referentes à história dos Descobrimentos Portugueses e sobre a prioridade portuguesa na exploração da costa atlântica da América do Norte. Os estudos que publicou sobre o conhecimento dos Açores e a sua representação na cartografia do século XIV, apoiados em trabalhos do historiador açoriano António Ferreira de Serpa, continuam importantes para a história da Macaronésia. Entre os seus trabalhos sobre geofísica e vulcanologia nos Açores, merece destaque a «memória» que apresentou ao Primeiro Congresso Açoriano, realizado em Lisboa no ano de 1938.[2]

Uma das suas obras mais importantes é um livro de memórias familiares, intitulado Memórias da Vila Roma,[4] na qual fornece importantes elementos para a genealogia e história social da ilha de São Miguel nos finais do século XIX e inícios do século XX.[2]

Ao longo da sua carreira foi condecorado com os graus de cavaleiro (1901) e de grande oficial (126) da Ordem de São Bento de Avis. Também recebeu as medalhas de prata de comportamento exemplar (1886) e a medalha de serviços distintos no Ultramar (1905). Foi várias vezes louvado pela sua acção no ultramar, incluindo um louvor pelo rei D. Carlos I.[2] É recordado na toponímia da cidade da Beira, em Moçambique.

Obras editar

Entre outras, é autor das seguintes publicações:[5]

  • Apontamentos para um novo indice cronologico das primeiras viagens, descobrimentos e conquistas dos portugueses (com prefácio de António Ferreira de Serpa). Lisboa, Of. Fernandes, 1937.
  • Memórias da Villa Roma : e das famílias que com a família Roma tiveram mais relações de parentesco ou de amisade : memórias e resumos genealógicos das famílias Teles de Meneses e Matos, da Ilha da Madeira. Lisboa, Ed. do autor, 1940.
  • Memória sobre manifestações geofísica de carácter vulcanológico nos arquipélagos da Madeira e Açores apresentada ao Congresso Açoriano em Lisboa (1938) (separata da revista Terra). Lisboa, Of. Fernandes, 1942.
  • Prioridade dos portugueses no descobrimento da América do Norte, América Central e América do Sul. Coimbra, Coimbra Ed. Lda., 1945.
  • Nostalgia africana : veridicas narrativas
  • Guerra anglo-boer de 1899-1902 na fronteira de Lourenço Marques e de Gaza
  • Colonização do planalto de Huila e Mossamedes : seu desenvolvimento agrícola e industrial
  • Reconhecimento militar da fronteira portugueza entre os districtos de Lourenço Marques e Gaza, o Transvaal e a Swazilandia : estabelecimento e abastecimento de postos de policia no tempo da Guerra Anglo-Boer
  • A cidade do Huambo, primeira cidade portugueza no planalto de Benguela
  • O Sul de Angola e as aguas do Rio Cunene
  • Prioridade dos portugueses no descobrimento da America do Norte e ilhas da America Central : considerações sobre um grande livro americano : justificação da comemoração dos Corte-Reaes. Tip. e Papelaria Carmona, Lisboa, 1931.
  • Recordações de Africa
  • Alguns projectos e obras executados na Provincia de Moçambique nos ultimos nove annos
  • Os melhores locais de Angola e Moçambique para a vida das famílias portuguêsas com residência perpétua e para estadia de 10 anos no máximo
  • Organisação defensiva da cidade e districto de Lourenço Marques
  • Na fronteira sul de Angola
  • A nacionalidade portuguesa e o nome de Cristobal Colon. Conferéncia feita na Sala dos Capelos da Universidade
  • Baía dos Tigres, grande centro piscatório, e o seu abastecimento por agua do Rio Cunene
  • Os melhores locais de Angola e Moçambique para a vida das famílias portuguesas : memória apresentada ao Congresso de Geografia de Holanda em 1938
  • Fronteira do Uruguai com o Brasil, sua evolução histórico-geográfia
  • Bibliographie d'histoire coloniale (1900-1930) : Portugal
  • Colonisac̦ão da roc̦a branca portuguesa em Angola : urgencia da sua efectivac̦ão para a nossa preponderancia e autonomia na mesma colonia

Notas

  1. Acervo ferroviário de antigas colónias.
  2. a b c d e f Nota biográfica na Enciclopédia Açoriana.
  3. «Açores e Madeira - regiões vulcânicas» in Revista Ínsula, n.º 7/8 (julho e agosto de 1932), pp. 62-64.
  4. Memórias da Villa Roma : e das famílias que com a família Roma tiveram mais relações de parentesco ou de amisade : memórias e resumos genealógicos das famílias Teles de Meneses e Matos, da Ilha da Madeira. Lisboa, Ed. do autor, 1940 (reimpresso em 2000).
  5. Bibliografia de Roma Machado.