Carlos Sampaio Garrido

diplomata português

Carlos de Almeida Fonseca Sampaio Garrido (5 de abril de 1883, Portugal – † abril de 1960) Embaixador de Portugal em Budapeste em 1944, recebeu, a título póstumo, a medalha de “Justo entre as Nações” pela sua acção de protecção e salvamento de judeus húngaros. A distinção foi decidida em 2 de Fevereiro de 2010, pelo Yad Vashem - Autoridade Nacional para a Memória dos Mártires e Heróis do Holocausto criada em 1953 pelo Estado de Israel.[1]

Carlos Sampaio Garrido
Carlos Sampaio Garrido
Nascimento 5 de abril de 1883
Morte abril de 1960 (77 anos)
Nacionalidade Portugal português
Ocupação Embaixador
Placa Comemorativa dos feitos de Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho, (Budapest, District XIII, Újpesti Quay Nr 5).

Vida editar

Licenciado em Ciências Económicas e Financeira iniciou a sua carreira diplomática com adido de legação, em 24 de Dezembro de 1901; em Serviço na Direcção Geral dos Negócios Comerciais e Consulares. Em 27 de Julho de 1939 é enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em Budapeste.

Em 1944 as tropas alemãs ocupam a Hungria e instalam um novo governo, mais subserviente, chefiado por Dome Sztojay. As perseguições ao judeus intensificam-se dando-se início a confisco de bens, uso obrigatório da estrela amarela, etc. encerramento em guetos etc.

No dia 23 de Abril de 1944, respondendo a um pedido dos aliados para reduzir o nível de representação diplomática em Budapeste, Oliveira Salazar chama Sampaio Garrido deixando no seu lugar o Encarregado de Negócios, Teixeira Branquinho.[2] Passados 5 dias, a 28 de Abril de 1944, às 5h da manhã, a residência oficial de Portugal em Galgagyörk é assaltada pela Gestapo húngara: os hóspedes foram presos e levados para o posto da polícia central de Budapeste. Garrido faz questão de também ser preso com o intuito de poder vir a ajudar os seus hóspedes. Sem se intimidar, o diplomata resistiu corajosamente à acção da polícia e exigiu de imediato a libertação dos detidos alegando o conceito de extraterritorialidade da residência de embaixador.

Sampaio Garrido partiu para Berna a 5 de Junho, levando consigo a sua secretária judia e onde continuou a orientar o encarregado de negócios, Teixeira Branquinho, no apoio aos judeus, nomeadamente enviando-lhe listas com nomes para os quais pedia assistência e asilo na legação de Portugal. Sempre em relação com Garrido, Branquinho obteve de Salazar a autorização para atribuir passaportes portugueses a judeus húngaros, na condição de estes terem uma relação familiar, cultural ou económica com Portugal ou com o Brasil (país que Portugal representava diplomaticamente). Ao todo, com autorização de Salazar, foram concedidos por Portugal cerca de 1000 documentos de protecção, dos quais 700 passaportes provisórios sem indicação de nacionalidade portuguesa, conforme exigência de Salazar para que, mais tarde, a não pudessem reclamar.[3]

Entre os hóspedes ajudados por Garrido encontravam-se cinco elementos da famosa família Gabor[4] incluindo Magda Gabor, actriz e socialite, que terá sido amante de Sampaio Garrido bem como as suas irmãs, estrelas de Hollywood, Eva Gabor e Zsa Zsa Gabor.[5][6][7]

Em 1945, Sampaio Garrido foi enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em Estocolmo.

A 2 de Fevereiro de 2010, a Comissão para a Nomeação dos Justos, criada pelo Yad Vashem concedeu-lhe a medalha dos Justos entre as Nações.

Em 2012, a Câmara Municipal de Lisboa - por iniciativa da Junta de Freguesia dos Anjos (actual Freguesia de Arroios) - atribuiu o nome de Sampaio Garrido à Escola Básica nº 26, que integra o Agrupamento de Escolas Nuno Gonçalves.

Condecorações[8] editar

Bibliografia editar

Fontes Primárias editar

Fontes Secundárias Académicas editar

  • Meneses, Filipe Ribeiro (2010). Salazar , Biografia Política 1 ed. Portugal: Dom Quixote. 324 páginas. ISBN 9789722040051 
  • Milgram, Avraham (1999). «Portugal, the Consuls, and the Jewish Refugees, 1938-1941» (PDF) (em inglês). Shoah Resource Center, The International School for Holocaust Studies. Consultado em 14 de Abril de 2014 
  • Milgram, Avraham (2011). Portugal, Salazar, and the Jews (em inglês) 1 ed. Israel: Yad Vashem Publications. 324 páginas. ISBN 9653083872 
  • Pimentel, Irene Flunser (2006). Judeus em Portugal Durante a II Guerra Mundial 1 ed. Portugal: Esfera dos Livros. 432 páginas. ISBN 9896260133 
  • Pimentel, Irene Flunser; Ninhos,Cláudia (2013). Salazar, Portugal e o Holocausto 1 ed. Portugal: Temas e Debates. 908 páginas. ISBN 9789896442217 

Fontes Secundárias, Outras editar

Referências

  1. «Carlos Sampaio Garrido». db.yadvashem.org  em Yad Vashem (em inglês)
  2. Milgram 2011, pp. 264.
  3. Pimentel 2006, pp. 343-350.
  4. Milgram 2011, pp. 263.
  5. Relationship with Dr. Carlos Almeida Afonseca de Sampayo Garrido em «"The Most Wives Club" article in Palm Springs Life (1996)». www.palmspringslife.com 
  6. Relationship with Dr. Carlo de Sampayo Garrido em «Vanity Fair». www.vanityfair.com 
  7. Zsa Zsa Gábor: my story, written for me by Gerold Frank (World Publishing Co., 1960), p. 161.
  8. «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Carlos de Almeida Afonseca Sampayo Garrido". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 15 de agosto de 2020