Casa das Máquinas (álbum)
Casa das Máquinas é o álbum de estreia da banda brasileira Casa das Máquinas, lançado pela gravadora Som Livre, em julho de 1974, e gravado no primeiro semestre do mesmo ano. Neste disco, o grupo ainda procura uma direção sonora e, por isso, o álbum é bem diversificado musicalmente, com o estilo indo desde rocks ingênuos à moda da Jovem Guarda, hard rock e rock psicodélico, até baladas e músicas próximas à MPB. Na parte lírica, as canções abordam temas como religiosidade e espiritualidade, bem como temas contraculturais, como o desejo de libertação. Em 2006, o álbum foi relançado em CD como parte da coleção Som Livre Masters.
Casa das Máquinas | |||||
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Álbum de estúdio de Casa das Máquinas | |||||
Lançamento | julho de 1974 | ||||
Gravação | Primeiro semestre de 1974 | ||||
Gênero(s) | |||||
Duração | 32:14 | ||||
Idioma(s) | Português | ||||
Formato(s) | |||||
Gravadora(s) | Som Livre | ||||
Produção | Eustáquio Sena | ||||
Cronologia de Álbuns de estúdio por Casa das Máquinas | |||||
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Antecedentes editar
A banda foi formada em 1973 por Netinho. Após o fim de Os Incríveis, em 1972, devido às pressões de imprensa, empresários e gravadora resultante do sucesso da canção "Eu Te Amo, Meu Brasil", o baterista comprou toda a estrutura de ensaio e apresentações de sua antiga banda e juntou uma nova para realizar uma turnê pelo país tocando clássicos do rock, como Elvis Presley, Paul Anka e Neil Sedaka. Inicialmente batizada de Os Novos Incríveis, o grupo teve que trocar de nome quando Mingo, Nenê e Risonho resolveram retomar Os Incríveis - sem Netinho e sem Manito - apoiados por uma banda de músicos de estúdio. Assim, a banda adotou o novo nome de Casa das Máquinas e, após conseguir um contrato com a gravadora Som Livre, entrou em estúdio para gravar seu álbum de estreia.[1][2][3]
Resenha musical editar
Os temas que dominam as canções do álbum são aqueles afeitos à contracultura e ao movimento hippie, como a busca da paz e o desejo de libertação.[4] Além disso, há a expressão de um desejo tipicamente romântico do retorno à natureza, também característico destes movimentos.[5] O álbum abre com a canção "A Natureza" que é instrumentalmente centrada em um impactante riff de guitarra,[6] apresentando uma sonoridade hard rock, enquanto a letra faz uma exaltação à natureza e uma denúncia às atrocidades cometidas pelo homem moderno contra a natureza.[7] Em seguida, vem "Tudo Porque Eu Te Amo", uma canção cantada por Netinho - contando com discurso feito também pelo baterista - em que é abordado o conflito geracional com as posições típicas de pai e filho sendo invertidas: é o filho que traz o saber, que tem o conhecimento do princípio da realidade contra as formas obsoletas do pai.[5] Alguns, ainda, leem aqui uma metáfora para o conflito com o autoritarismo da ditadura militar.[4] Após, temos a balada "Mundo de Paz" e a canção "Quero Que Você Me Diga", que une os temas do movimento contracultural a uma abordagem religiosa e mística. O lado fecha com "Canto Livre", versão da banda para uma canção de Lucio Battisti que trata sobre a visão que um músico tem da liberdade.[4][5]
O lado B abre com "Trem da Verdade" mais um momento de hard rock do disco, com a letra falando sobre contato com o astral e habitantes extraterrenos, com vocais imitando o apitar de um trem e sonorizações que buscam lembrar uma viagem espacial.[4][6] "Preciso Lhe Ouvir" surge também de forma mística, mas trazendo uma mensagem antiguerra que se refere tanto à Guerra do Vietnã, quanto às guerrilhas havidas no território nacional, como a recém encerrada Guerrilha do Araguaia.[4] Em seguida, temos "Cantem esse Som com a Gente" mantém o tema de viagem espacial, mas com o rock sendo o catalisador para trazer alegria e conectar as pessoas com essas viagens. "Domingo à Tarde", então, fala sobre o encontro da banda com um disco voador. Finalizando o álbum, "Sanduíche de Queijo" é mais ingênua: um típico rock jovem guardista que tem como tema namoro e curtição típicos da juventude.[5]
Gravação, arte e lançamentos editar
Lançamento e promoção editar
O álbum foi gravado no primeiro semestre de 1974 e teve seu lançamento realizado pela gravadora Som Livre, em julho de 1974. Para promover o álbum, a gravadora lançou um compacto duplo - dividido com dois artistas internacionais e com o Azymuth - contendo a canção "Tudo Porque Eu Te Amo", que chegou a vender mais de 60 mil cópias. Além disso, até novembro de 1975, o disco tinha vendido mais de 16 mil cópias.[8]
Arte gráfica editar
Para a capa do disco, os membros da banda utilizaram maquiagem, fazendo referência a duas importantes bandas daquele período: aos Secos & Molhados, primeira banda de rock brasileira a vender mais de 1 milhão de cópias de um lançamento - com o seu álbum de estreia; e a Alice Cooper, que havia feito um dos primeiros shows internacionais no Brasil - no Anhembi, em São Paulo - em 30 de abril de 1974.[9] Na contracapa, há um poema de Aroldo que deixa claro que, apesar de Netinho ser o líder da banda, Aroldo era a cabeça pensante e quem trazia os temas de religiosidade e contracultura para as letras do álbum.[4]
Relançamentos editar
O álbum foi relançado em CD em 2006 como parte da série Som Livre Masters, com som remasterizado e produção coordenada por Charles Gavin.[10][6]
Faixas editar
Lado A | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "A Natureza" | Aroldo Santarosa / Cargê / Piska | 4:05 | |||||||
2. | "Tudo Porque Eu Te Amo" | Aroldo Santarosa / Cargê | 3:06 | |||||||
3. | "Mundo de Paz" | Cargê | 4:03 | |||||||
4. | "Quero Que Você Me Diga" | Cargê | 3:04 | |||||||
5. | "Canto Livre" | Lucio Battisti / Versão: Aroldo Santarosa / Cargê / Netinho / Pique Riverte | 4:19 |
Lado B | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "Trem da Verdade" | Aroldo Santarosa / Netinho / Piska | 3:00 | |||||||
2. | "Preciso Lhe Ouvir" | Cargê | 2:57 | |||||||
3. | "Cantem esse Som com a Gente" | Aroldo Santarosa / Cargê | 3:27 | |||||||
4. | "Domingo à Tarde" | Cargê | 2:32 | |||||||
5. | "Sanduíche de Queijo" | Aroldo Santarosa / Netinho | 1:41 | |||||||
Duração total: |
32:14 |
Créditos editar
Músicos editar
- Aroldo Santarosa: vocal, guitarra e violão
- Piska: vocal, guitarra e violão
- Pique Riverte: piano, órgão, saxofone e flauta
- Cargê: vocal e baixo
- Netinho: bateria, percussão e voz falada
Ficha técnica editar
- Coordenação geral: João Araújo
- Produção: Eustáquio Sena
- Direção de estúdio: Netinho
- Fotos: Cerri e Norminha
- Arte: Istvan
Referências
- ↑ Souto Maior & Schott 2014, pp. 146-147
- ↑ Saggiorato 2008, p. 118
- ↑ Resende 2018, pp. 94-95
- ↑ a b c d e f Saggiorato 2008, pp. 118-121
- ↑ a b c d Resende 2018, pp. 94-97
- ↑ a b c Ricardo Seelig (18 de maio de 2020). «Casa das Máquinas: discografia comentada da lenda do rock brasileiro». Whiplash.net. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ Resende 2018, pp. 160-161
- ↑ Revista Pop 1975a
- ↑ José Teles (18 de maio de 2020). «Alice Cooper influenciando o incipiente rock nacional em 1974». Jornal do Commércio de Pernambuco. Consultado em 18 de maio de 2020
- ↑ Luiz Fernando Vianna (27 de outubro de 2006). «Caixa recupera música dos anos 70». Folha de S.Paulo. Consultado em 28 de agosto de 2012
- ↑ «Casa das Máquinas - Casa das Máquinas». Discogs. N.d. Consultado em 28 de agosto de 2012
Bibliografia editar
- Revista Pop (1975a). Casa das Máquinas: um grupo a todo vapor. São Paulo: Revista Pop, novembro de 1975, pp. 62-63.
- Resende, Vítor Henrique de (2018). Rock brasileiro e romantismo contracultural no Brasil: campo, cidade, música e modernidade nos anos 1970 Tese de doutorado ed. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais
- Saggiorato, Alexandre (2008). Anos de chumbo: rock e repressão durante o AI-5 Dissertação de mestrado ed. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo
- Souto Maior, Leandro; Schott, Ricardo (2014). Heróis da guitarra brasileira: Literatura musical. São Paulo: Irmãos Vitale