Doryanthaceae

(Redirecionado de Doryanthes)

Doryanthaceae é uma família monotípica de plantas com flor monocotiledóneas da ordem Asparagales, cujo único género é Doryanthes, com apenas duas espécies consideradas válidas, ambas endemismos do leste da Austrália,[3] nas províncias de Queensland e New South Wales. Ambas as espécies são utilizadas como plantas ornamentais.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaDoryanthaceae
Doryanthes
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Asparagales
Família: Doryanthaceae
R.Dahlgren & Clifford[1]
Género: Doryanthes
Corrêa, 1802[2]
Distribuição geográfica
Distribuição da família Doryanthaceae (a azul).
Distribuição da família Doryanthaceae (a azul).
Espécies
inflorescência de Doryanthes excelsa (ilustração de Morren).
Hábito de Doryanthes palmeri.

Descrição editar

Doryanthes é o único género da família Doryanthaceae. O género agrupa apenas duas espécies, Doryanthes excelsa (conhecida na Austrália por «gymea lily») e Doryanthes palmeri (conhecida por «giant spear lily»), ambas endemismo da região costeira do leste da Austrália.[3]

As plantas desta família são herbáceas perenes, de grandes dimensões, que crescem em forma de roseta basal, florescendo somente após mais de 10 anos de crescimento. Formam tubérculos como órgãos de persistência. As folhas são sésseis, simples, lineares e com nervação paralelinérvea. As folhas apresentam margens inteiras, mas ao envelhecerem desfazem-se em fibras até ao ápice.

As flores agrupam-se em inflorescências sub-umbeladas, ramificadas, com múltiplas brácteas, inseridas no topo de longos escapos florais. Por vezes, formam-se tubérculos de propagação nas inflorescências. As flores são grandes, hermafroditas, mais ou menos zigomorfas, trímeras, com 10 a 15 cm de comprimento, de coloração vermelho brilhante. As seis tépalas idênticas não são fundidas. As flores apresentam seis estames. Os três carpelos fundem-se num ovário ínfero.

As espécies desta família são polinizadas por aves (ornitofilia) e, como é usual nas plantas polinizadas por aves, produzem muito néctar (em Doryanthes palmeri, até 10 ml por dia). Para além disso, os escapos florais e as inflorescências fornecem às aves áreas de pouso e de descanso, pelo que tais espécies são ecologicamente designadas por «flores de pouso de pássaros». Os frutos são cápsulas com três câmaras. As sementes podem ser aladas.

Preferem habitats com clima quente, solo rico e com abundância de água durante a época mais quente do ano.[3] A floração em massa é observada após incêndios florestais, aos quais estas espécies sobrevivem ilesas graças aos seus tubérculos enterrados.

Filogenia e sistemática editar

O sistema APG IV, de 2016, reconhece esta família e coloca-a na ordem Asparagales, situação que se mantém sem alterações desde o sistema APG II, de 2003.[4][5] Esta família é monotípica, com apenas 2 espécies,[6] nativas do leste da Austrália.

Na presente circunscrição das Asparagales, é possível estabelecer uma árvore filogenética que, incluindo os grupos que embora reduzidos à categoria de subfamília foram até recentemente amplamente tratados como famílias, assinale a posição filogenética das Doryanthaceae:[7][8]

Asparagales

Orchidaceae

Boryaceae

Hypoxidaceae s.l.

Blandfordiaceae

Lanariaceae

Asteliaceae

Hypoxidaceae s.s.

Ixiolirionaceae

Tecophilaeaceae

Doryanthaceae

Iridaceae

Xeronemataceae

Asphodelaceae

Hemerocallidoideae (= Hemerocallidaceae)

Xanthorrhoeoideae (= Xanthorrhoeaceae s.s.)

Asphodeloideae (= Asphodelaceae)

Asparagales 'nucleares' 
Amaryllidaceae s.l.

Agapanthoideae (= Agapanthaceae)

Allioideae (= Alliaceae s.s.)

Amaryllidoideae (= Amaryllidaceae s.s.)

Asparagaceae s.l.

Aphyllanthoideae (= Aphyllanthaceae)

Brodiaeoideae (= Themidaceae)

Scilloideae (= Hyacinthaceae)

Agavoideae (= Agavaceae)

Lomandroideae (= Laxmanniaceae)

Asparagoideae (= Asparagaceae s.s.)

Nolinoideae (= Ruscaceae)

A relações filogenéticas da família Doryanthaceae com as restantes famílias da ordem Asparagales que a rodeiam nas análises filogenéticas continuam pouco claras, tanto nas análises morfológicas como nas análises moleculares. Chase et al. (2006[9]) considerou a família próxima do clado Ixioliriaceae + Iridaceae, mas não foi essa a topologia adoptada pelo APWeb, onde a topologia é (Ixioliriaceae + Tecophilaeaceae) (Doryanthaceae (Iridaceae, etc.)). Para essa topologia há apoio moderado em Fay et al. (2000[10]), e um apoio de 92 % em Graham et al. (2006[11]). Rudall (2003[12]) encontra uma relação morfológica próxima entre as Doryanthaceae e as Iridaceae.

O género Doryanthes foi descrito em 1802 pelo sacerdote, estadista, filósofo e botânico português José Francisco Corrêa da Serra (1751-1823), um amigo próximo de Joseph Banks. A espécie D. excelsa ou lírio-gimea, endémica na região ao sul de Sydney e Illawarra, inspirou o nome de Doryanthes, o jornal de história e património do sul de Sydney fundado pelo historiador dharawal Les Bursill.

A família Doryanthaceae, colocada na ordem Asparagales das monocotiledóneas, apenas recentemente foi reconhecida pelos taxonomistas.[1] Anteriormente o género Doryanthes era geralmente colocado na família Agavaceae,[13] agora a subfamília Agavoideae da família Asparagaceae.

No Angiosperm Phylogeny Website, esta família tem apenas em género, Doryanthes, com apenas 2 espécies:[14]

São sinónimos de Doryanthes palmeri: Doryanthes guilfoylei e Doryanthes larkinii.

Referências editar

  1. a b Angiosperm Phylogeny Group III (2009), «An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III», Botanical Journal of the Linnean Society, 161 (2): 105–121, doi:10.1111/j.1095-8339.2009.00996.x 
  2. a b c Search for "Doryanthes", World Checklist of Selected Plant Families, Royal Botanic Gardens, Kew, consultado em 1 de junho de 2012 
  3. a b c Botanica : The Illustrated A–Z of over 10,000 garden plants and how to cultivate them, ISBN 978-3-8331-1253-9, Köln: Köneman, 2004 , p. 312
  4. Angiosperm Phylogeny Group (2003). An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG II. Botanical Journal of the Linnean Society 141(4): 399-436. doi: 10.1046/j.1095-8339.2003.t01-1-00158.x
  5. Angiosperm Phylogeny Group (2009). An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society 161: 105-121.
  6. Christenhusz, M. J. M.; Byng, J. W. (2016). «The number of known plants species in the world and its annual increase». Magnolia Press. Phytotaxa. 261 (3): 201–217. doi:10.11646/phytotaxa.261.3.1 
  7. Chase et al 2009
  8. Stevens 2016, Asparagales
  9. Chase, M. W.; Fay, M. F.; Devey, D. S.; Maurin, O; Rønsted, N; Davies, T. J; Pillon, Y; Petersen, G; Seberg, O; Tamura, M. N.; Lange, Conny Bruun Asmussen (Faggruppe Botanik); Hilu, K; Borsch, T; Davis, J. I; Stevenson, D. W.; Pires, J. C.; Givnish, T. J.; Sytsma, K. J.; McPherson, M. A.; Graham, S. W.; Rai, H. S. (2006). «Multigene analyses of monocot relationships : a summary» (pdf). Aliso (22): 63-75. ISSN: 00656275. Consultado em 25 de fevereiro de 2008 
  10. Fay, M. F. (2000). «Phylogenetic studies of Asparagales based on four plastid DNA regions.». In: K. L. Wilson y D. A. Morrison. Monocots: Systematics and evolution. Royal Botanic Gardens ed. Kollingwood, Australia: CSIRO. pp. 360–371 
  11. Graham, S. W.; Zgurski, J. M., McPherson, M. A., Cherniawsky, D. M., Saarela, J. M., Horne, E. S. C., Smith, S. Y., Wong, W. A., O'Brien, H. E., Biron, V. L., Pires, J. C., Olmstead, R. G., Chase, M. W., y Rai, H. S. (2006). «Robust inference of monocot deep phylogeny using an expanded multigene plastid data set.» (pdf). Aliso (22): 3-21. Consultado em 25 de fevereiro de 2008 
  12. Rudall, P. J. (2003). «Unique floral structures and iterative evolutionary themes in Asparagales: Insights from a morphological cladistic analysis.». Bot. Review. 68: 488-509 
  13. Blunden, G.; Yi, Yi; Jewers, K. (1973), «The comparative leaf anatomy of Agave, Beschorneria, Doryanthes and Furcraea species (Agavaceae: Agaveae)», Botanical Journal of the Linnean Society, 66 (2): 157–179, doi:10.1111/j.1095-8339.1973.tb02167.x 
  14. Stevens, P. F. (2001 onwards). Angiosperm Phylogeny Website. Version 12, July 2012 [and more or less continuously updated since]. http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/

Bibliografia editar

  • Stevens, P. F. (2001). «Doryanthaceae». Angiosperm Phylogeny Website (Versão 9, junho de 2008, actualizado desde então) (em inglês). Consultado em 15 de janeiro de 2009 
  • Soltis, D. E.; Soltis, P. F., Endress, P. K., y Chase, M. W. (2005). «Asparagales». Phylogeny and evolution of angiosperms. Sunderland, MA: Sinauer Associates. pp. 104-109 

Galeria editar

Ligações externas editar

 
Wikispecies
O Wikispecies tem informações sobre: Doryanthaceae
 
Wikispecies
O Wikispecies tem informações sobre: Doryanthaceae
 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Doryanthaceae